ANO DE 1946

Requerimento de 25-06-1946, ao Instituto do Açúcar e Álcool (I.A.A.) pleiteando autorização para os engenhos que produzem açúcar "batido" passem a fabricar açúcar de melhor qualidade, em apoio à política governamental, então encetada, visando aumento da produção nacional: Exmo. Sr. Dr. Barbosa Lima Sobrinho, DD. Presidente do Instituto do Açúcar e do Álcool, Rio de Janeiro. Barrichello & Sanjuan, abaixo assinados, estabelecidos com fábrica de açúcar bruto ( "batido") e aguardente, no Município de Rio das Pedras, Comarca de Piracicaba, Estado de São Paulo, devidamente inscritos no I.A.A. sob nº 21-198-380-2976, com limite de 800 (oitocentos) sacos de açúcar, pedem vênia a V. Excia. para expor e requerer o seguinte: a) Que pelo Edital publicado no Diário Oficial do dia 11 do corrente, os suplicantes tiveram ciência de que o I.A.A. deseja ver aumentada a produção açucareira de todo o País, dentro das sábias normas de equilíbrio entre a produção e o consumo; b) Que igualmente tiveram conhecimento da Resolução baixada em 16 deste mês pelo Conselho Federal do Comércio Exterior, devidamente aprovada pelo Exmo. Sr. Presidente da República, recomendando o prosseguimento da política adotada pelo I.A.A. no sentido de serem autorizados novos aumentos na produção de açúcar no País; c) Que em vista das significativas circunstâncias acima referidas, os suplicantes desejam igualmente declarar que ¾ como fabricantes de açúcar há mais de 14 anos ¾ sempre procuraram aumentar  a sua produção e se não o conseguiram, em maiores proporções é porque, infelizmente, o açúcar que fabricam não tem a aceitação pela maioria dos consumidores, devido a sua qualidade e por motivos que serão mais adiante esclarecidos; d) Que não tem sido possível até a presente data, aos suplicantes melhorar a qualidade de seu produto, porque a sua fábrica está inscrita como produtora de açúcar "bruto", sem direito portanto à instalação de turbinas ou outros aparelhos beneficiadores desse açúcar; e) Que em idênticas condições às dos suplicantes encontram-se, como é do conhecimento desse colendo Instituto, cerca de 30 (trinta) produtores deste município e cerca de outros 100 (cem) no município de Piracicaba, com uma produção total estimada em mais de 180.000 ( cento e oitenta mil) sacos; f) Que a experiência, entretanto, em demonstrando que apesar da grande boa vontade por parte dos produtores, o açúcar "batido", conforme foi dito acima, não vem obtendo aceitação pelo público consumidor devido o seu rudimentar processo de fabricação não proporcionar ao produto uma necessária durabilidade, chegando mesmo a umidecer e a escorrer facilmente, além d emprestar aos alimentos um gosto bastante desagradável.; g) Que a prova de que o açúcar "batido" não tem aceitação, para qualquer fim, por parte do público consumidor, é o fato de, mesmo agora que falta o produto de usina se faz sentir de maneira presente, ainda existirem consideráveis estoques da safra passada em poder de fabricantes e negociantes do ramo, a espera dos compradores, embora a preços abaixo da tabela em vigor. Aliás, o açúcar "batido" é de qualidade inferior ao "mascavo" do Norte, também do qual existem acumulados e sem procura cerca de 100.000 ( cem mil) sacos só na praça de São Paulo, segundo recentes declarações do Sr. Teófilo Olinto de Arruda, membro da Federação das Indústrias de São Paulo e publicadas há poucos dias num jornal paulistano;  h) Que essas circunstâncias vem causando sérias apreensões aos produtores de açúcar "batido", na totalidade pequenos agricultores, que se acham na contingência de graves prejuízos por falta de consumidor para a sua mercadoria; i) Que, não obstante, todos esses pequenos engenhos poderão produzir, prontamente, açúcar de boa qualidade, de enorme aceitação e baixo custo, bastando apenas que lhes seja permitida a instalação de aparelhos turbinadores, e aparando-se dessa forma, ao mesmo duas classes, quase sempre as mais sacrificadas: Pequenos Produtores e Grande Público Consumidor; j) Que a instalação de turbina nos engenhos hoje produtores de açúcar "batido" atenderia, perfeitamente, com apreciável percentagem, às recentes recomendações do Conselho Federal do Comércio Exterior, pois sendo açúcar turbinado um produto de consumo fácil e garantido e, também, de custo módico, a sua produção poderá ser, a qualquer tempo, rapidamente aumentada; k) Que ainda a instalação de turbinas nos engenhos inscritos no I.A.A. daria aos atuais produtores de açúcar "batido" a louvável oportunidade de melhorarem a qualidade de seus produtos e escusando-os da fabricação de um artigo cujos consumidores, inclusive os próprios produtores, são unânimes em malquerer o seu uso. Diante do exposto, e, em suma, visando duas medidas de grande alcance social e econômico, tantas vezes preconizadas e aprovadas, pelo eminente Chefe da Nação, o Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas, medidas estas: 1) Amparo ao Pequeno Produtor; e 2) Melhoramento da Qualidade, com efeitos, por úteis e necessários, capazes de beneficiar grande parte da população brasileira, os suplicantes pedem permissão para requerer a V.Excia. , se digne autorizá-los a instalar aparelhos turbinadores no engenho de sua propriedade, facultando aos demais produtores a adoção de idênticas providências, e assim confiantes no elevado grau de justiça, critério e patriotismo com que se vem conduzindo na Presidência do Instituto do Açúcar e do Álcool, Pede Deferimento. Rio das Pedras, 25 de Junho de 1946 p.p. Barrichello & Sanjuan. a) Luiz Augusto Barrichello