ANO DE 1954

Maior valor, maior o resguardo! - Assim, se uma pessoa tida e havida como de um comportamento impecável, inatacável, cometer uma pequena falha, virá cair por terra, escandalosamente, todo o castelo de seu conceito. Entre uma irmã de caridade e uma moça popular é grande a diferença: enquanto esta poderá contar piadas, rir alegremente, tomar uns tragos de bebida forte... e continuar "ótima criatura, apesar de pequenos defeitos", aquela, a santa monja, se cometer um mínimo deslize, não obstante todo o seu passado de sacrifícios, verá o desprestígio arruinar a sua vida. ( 10-1-54 )

"A resposta de um tapa é um tiro" e "Quem conta um conto aumenta um ponto". Vai daí a história de que devemos "carregar nas tintas" quando vamos comentar um acontecimento... a fim de impressionar os ouvintes... ( 20-2-54 )

O que seria das crianças sem a esperança do Céu? ( 20-7-54)

E então, o que é que existe? - Na dúvida sobre o que sucederá ao homem no além túmulo, preferimos crer que existe, pelo menos a continuação da nossa vida na memória dos nossos parentes e amigos, que exaltarão nossos atos meritórios ou condenarão aquilo que tivermos feito de indigno. O homem, enquanto vivo, se laborioso, justo e bom, é um sustentáculo quando trabalha e produz; é um baluarte quando protege e defende; é uma luz quando ilumina e aquece; esse mesmo homem, depois de morto, continuará vivendo nos soluços dos que assistiram seus últimos momentos, na recordação de seus conhecidos e, muitas vezes, nas histórias que se escreveram a seu respeito. Assim, eu creio hoje, aos 40 anos de idade, que antes e acima de tudo existe Deus, o criador da perfeição, das coisas que existem. Mas, os seres, as vegetações que sofrem a ação do tempo, o seu destino certo, definido, indiscutível, ninguém pode, de maneira segura, informar... Enquanto isso, deixemos as crianças com seus santos anseios, que tanto bem infundiram em nossas almas, quando, meninos, dávamos os primeiros passos na vida... ( 20-7-54)

Política - Para salvar a situação econômica do País seria preciso que todos os maus brasileiros, e entre eles muitos são políticos, outros negocistas, magnatas do comércio e indústria, funcionários públicos, enfim que todos invés de cooperarem para a grandeza da nação - sugam-lhe os minguados recursos como fazem hoje, sentirem como que em meio de um cataclisma universal e, nada mais podendo esperar da vida, renunciassem a todos os excessos mundanos em benefício daquilo que se resume em: patriotismo, trabalho e fraternidade! ( 20-10-54 )

A questão do Brasil já não mais política. É de produção! Hoje, suba o político que subir, mesmo com espada na mão, ditatorialmente, derramando sangue, não resolverá a situação, porque o País é muito vasto e o número de beneficiários da situação atual é tão grande que não haveria força humana capaz de conter a contra-revolução, que se sucederia ao golpe militar. É melhor, pois que o atual governo, mesmo com seus defeitos e imperfeições, volte suas vistas aos "produtores de fato" e os auxilie a produzirem mercadorias boas, baratas e a guardarem os excessos e freiar, paulatinamente, a onda dos gananciosos que, com subterfúgios de melhor "remunerar" os proletários da lavoura, da indústria, do comércio e do funcionalismo, pleiteiam, para si próprios maiores lucros, além daqueles que já usufruem, como intermediários... ( 10-11-54)