ANO DE 1955

Jesus, verdadeiro símbolo, pode associar-se a todos nossos pensamentos, porque houve em seus atos e em suas palavras algo de semelhante com tudo que pode ocorrer com as criaturas humanas. (10-1-55)

Perguntas malucas... Não seriam os seres do reino animal e vegetal existentes uma espécie de elementos da "elite" da Natureza, mas, que na sua formação, obedecem a mesma lei fatalista e inexorável que transforma os alimentos em larvas, as madeiras em pó de carunchos, a podridão em vermes e o monturo em cogumelos? Se a resposta for afirmativa deveríamos concluir que as criaturas humanas são então a parcela "nobre" da Natureza, mas que vingam de acordo com as propriedades do ar que respiram e dos alimentos que ingerem, obedientes, porém, às metamorfoses que a própria natureza impõe às coisas que existem. (10-2-55)

O pote de água filtrada que, durante a noite, gota a gota, se encheu, é, além da economia, uma prova de elogiável bom senso. Portanto, a importância que se dá, na vida, aos pequenos fatos, é, igualmente, uma demonstração de espírito de organização e de controle no âmbito geral. (3-4-55)

Jamais se poderia reconhecer o mérito dos justos e dos bons se não existissem os impuros.
(29-4-55)

E a vida continuará! Desde que o mundo é mundo quantas desgraças tem as criaturas humanas suportado, percebendo após a tormenta, que "tudo passa" e que o tempo, grande médico, professor, mágico, tudo cura, tudo ensina, tudo resolve. "Morrer não é nada; deixar de viver é que é medonho" disse Vitor Hugo. E é verdade. Porque não vivendo deixamos de participar das alegrias e tristezas que cercam a vida dos nossos entes queridos A nossa vida se resume no convívio entre nossos semelhantes. Não vivendo mais, uma falta será sentida pois, mesmo idosos, quando bons e justos, sempre poderíamos ser úteis, aos que nos cercam. Simples conselhos valem muito aos que são moços. E os que morrem deixam de padecer, pois a agonia há de ser um sofrimento, e nem se poderia admitir a morte provocando ânsias de gargalhadas. Portanto, a criatura deixa de sofrer após o desenlace. Mas, e os que ficam no mundo? Chorarão desde logo, chorarão de saudades depois, sofrendo em suma, sem o nosso consolo. E depois, nossos dias virão, o tempo irá passando; novas esperanças, novas tristezas, novas decepções, novas ilusões, e na realidade dos dias que irão passando todos reconhecerão: a vida continuará! (8-5-55)

"O dinheiro não traz felicidade", é verdade. Até pode provocar desgraças. É muito comum saber-se de pessoas ricas que trocariam suas fortunas pelo sossego de espírito. Mas... o dinheiro quando em mãos de criaturas cumpridoras de seus deveres, contribui sempre para o bem estar próprio, de seus familiares e, até, de seus semelhantes. Esta segunda verdade, que a contestem aqueles que, por falta de dinheiro, sofrem, no recesso do lar ou nas estradas da vida, as maiores privações. ( 20-05-55 )

Cumprir nossos deveres de cidadãos e ter paz de espírito, eis o ideal. Do cumprimento dos nossos deveres resultará o nosso sossego do coração: a felicidade de quem cumpre com as suas obrigações. Por que, pois, tanta luta, tanto apego, tantas ilusões e desenganos na vida principalmente para aqueles que agem à revelia dos próprios deveres? ( 19-11-55)

Seara alheia. I) "De todo bem que fizeres, espera em paga, todo mal que não farias". Raul de Leoni (1895-1926). II) "Devemos pedir a Deus força para realizarmos tudo o que for possível e a coragem para reconhecer o que é impossível" (?) ( 26-11-55 )

Conta-se que Disraeli, célebre político inglês de origem judaica, relatava que para vingar-se de seus inimigos escrevia seus versos em pedaços de papel, jogando-os depois no fundo de uma gaveta. Mais tarde, revendo tais pedaços de papel, muitas vezes tivera a satisfação de verificar que alguns desses nomes deviam ser riscados da lista dos vivos. ( 26-11-55 )