ANO DE 1956

Qualidades essenciais.
I) Saúde: vida do corpo (física e mental);
II) Amizade: vida do indivíduo (social);
III) Fé em Deus: vida espiritual.
A (I) é necessária, a (II) é decisiva e a (III) é indispensável. O resto é ilusão e fantasia...
(10-4-56)

Comércio - O comércio se define pela compra ( ou produção ) e venda de mercadorias, a preços razoáveis. Gira dentro de dois extremos: oferta e procura. O meio termo representa situação normal ( "In médium virtus" ). Oferta = extremo direito. Procura = extremo esquerdo. Ambas são situações de alarme, capazes de provocar pânico, encarecendo ou desvalorizando o produto. O ideal é estar entre os dois extremos, isto é, situação normal. Não há regra ou tática duradoura capaz de neutralizar as conseqüências das "sobras" ou "faltas" em relação a sua alteração de preços. Salvo medidas também extremas, excecionais, como exportações ou importações maciças, ou ainda limitação drástica da produção. O consumo é regular e proporcional e não pode ser alterado sem risco de conseqüências contra-producentes. Estamos nos referindo a produtos (açúcar) e não marcas (filtrado "União"). Entre usineiros existem os que, em época de aviltamento de preços, pretendem adotar medidas normalizadoras. Entretanto, tais medidas poderiam produzir resultados satisfatórios se fosse possível integral união da classe, justificando-se uma espécie de truste. Sendo cerca de cem usinas no Estado de São Paulo, das mais variadas categorias, não é possível estabelecer-se uma norma comum, havendo mesmo desigualdade de pontos de vista e até de mentalidade. Disso se aproveitam os intermediários para estabelecer confusão, tirando proveitos. Contudo, não condenamos as tentativas "salvamento", isto porque o próprio enfermo desejando sentir-se confortado ( e confortada a própria família) quando lhe são ministradas medicações paliativas e calmantes... que, se não curam, não precipitam o desenlace. E se milagre ocorrer, poderá ser justificado, em parte pela ação dos remédios e da boa intenção dos amigos e parentes. (10-4-56)

As ofensas e as calúnias a nós dirigidas não nos atingirão, não macularão a nossa dignidade, porque o dia de amanhã, dentro da marcha inexorável do tempo, provará nossa inocência, revelando muitas vezes, as verdadeiras qualidades de nossos ofensores. Nesses casos, poderemos perdoar, não esquecer porém. Mas quando as ofensas forem reais ou deixarmos, de qualquer forma, que sobrevivam provas de sua procedência, então estaremos arruinados, nós e nossos descendentes. O nosso silêncio ou a nossa indiferença, no caso, é uma confirmação do crime! Nosso dever é, se culpados, sujeitarmo-nos ao castigo, para, reabilitados, podermos encarar o mundo de frente, com altivez e dignidade. Ou, se acusados injustamente (muito comum na vida humana) devemos rebater valentemente as acusações e a desonra para salvar nossa honorabilidade e o bom nome que devemos legar aos nossos queridos filhos. ( 11-4-56)

Mas se novas ofensas nos ferirem, sem possibilidades de desmascararmos nossos detratores, então devemos reagir, mesmo com risco de nossa vida ou liberdade; no primeiro caso, nos estertores da agonia, bem como no segundo caso, detrás das grades de uma prisão, sentiria nosso pobre coração momentos de conforto com as lembranças de que, amanhã, o sol da verdade, iluminaria o pensamento dos homens, que compreenderão então que nosso gesto representou uma lição aos maus e um exemplo aos bons. ( 11-4-56)

Conta-nos Lucano que, quando perguntavam a Cezar Augusto, o que já havia feito de bom na vida, respondia: "Coisa alguma, desde que reconheço que tenho ainda várias coisas para fazer".
( 19-4-56 )

"Quando o cardeal é eleito papa, muda inclusive de personalidade". ( 20-4-56 )

Assim pensava um João-Bobo: Vida e Morte - Todo dia morremos um pouco; um pouco enquanto dormimos e um pouco enquanto vivemos acordados. "Cada dia é um dia a menos na vida". Só quero no último dia, pela última vez, no último sono, dormir para nunca mais acordar. E como nos sonos sem sonhos, continuaremos não sentindo nada? E a vida dos outros, entrementes, continuará? E outras e outras coisas continuarão vivendo, vivendo e morrendo, morrendo cada um por sua vez, sempre, eternamente... (20-4-56)

Adianta trabalhar, produzir? O joão-de-barro com sua casa, as saúvas com suas panelas, as abelhas com seus favos, tudo, enfim, não se extinguirá no nada? (7-7-56)

"O que é a verdade?" - É o objeto ser 100% igual à qualificação que se lhe dá. Mas, a verdade, pura e simples, há de ser a situação ideal, isto é, a perfeição, sob todos os aspectos. Assim, quando Jesus disse "Eu sou a verdade", afirmou: "Eu sou a justiça, a virtude, a bondade, a coragem, a fortuna, a serviço do bem comum" ( 10-7-56 )

Sem lei não há liberdade. Sem liberdade não existem direito e deveres. Sem direitos e deveres não há respeito humano. Sem respeito humano os homens igualam-se aos irracionais. (30-8-56)

A nossa memória é uma espécie de placa de chumbo, onde vão se marcando os acontecimentos, os mais antigos ilegíveis, os recentes mais visíveis. (20-10-56)

"Quem semeia, colhe" - Os frutos das boas ações geralmente são colhidos pelos descendentes do autor, que depois de morto, tem seu mérito reconhecido. Entretanto os frutos das más ações, e como tais, os da violência, os do crime, os do desleixo, os da maldade, quase sempre são colhidos, em vida, pelo próprio semeador. ( 17-12-56 )