ANO DE 1960

“Os últimos são os primeiros” — Eis o trinômio: Deus-Pátria-Família. A Família estando em último lugar é a primeira colocada em nossos anseios, em nossas preocupações. É a nossa amizade, nosso porvir, na palpitação de cada momento de nossa vida presente. Sem família, isto é, sem passado, sem futuro, a criatura humana se iguala a míseros irracionais, sem afeto, sem um nome. Depois vem a Pátria, que os “políticos” roubam, os capitalistas ludibriam, os burgueses criticam e os proletários amaldiçoam. Pobre Pátria! Por último “Deus” que por ser o primeiro, d’Ele só nos lembramos na hora do perigo, da amargura, da morte. O Criador, nos recônditos mistérios do infinito, nos há de perdoar e abençoar, se tivermos sido na vida terrena, pelo menos, justos. ( 20-1-60)

Confessar honestamente estarmos errados e retroceder é “cair de pé”. Certeza de erro só se tem mediante prova concreta ou confissão sincera. Prova concreta ainda há quem queira discutir. A confissão, entretanto, confirma e convence. Portanto é nobre quem reconhece o erro, para interrompe-lo e não repeti-lo. É também atitude própria das grandes almas. ( 23-1-60)

Muitas pessoas não sabem executar obras semelhantes  às expostas, mas podem ter competência para criticá-las. Assim ocorre com a música: sem ser compositor ou músico qualquer mortal pode apreciar a boa melodia ou enfadar-se com a sua monotonia ou desafinação. Podemos, por isso, emitir opiniões sobre muitas artes e ofícios sem entretanto nos animar a o menor desejo de realizarmos uma ínfima parte do que estamos criticando ( 23-1-60)

Quantas vezes nos assomam ao cérebro pensamentos confortantes, e, às vezes, humildemente filosóficos, e... depois se esvaem, sem que possamos transferi-los para esta pobre caderneta de anotações. Quantas vezes, também, viajando descortinam-se diante de nossos olhos lindas paisagens, quadros maravilhosos da natureza sem que possamos depois descrevê-los, embora houvessem encantado, por alguns instantes, a nossa retina... ( 23-1-60)

As Quatro Colunas — A coletividade humana vive como que num planalto, que chamaríamos de “planalto de moral”, onde todas as  criaturas, por princípios éticos, religiosos ou psicopatológicos, procuram justificar, cada um de per si, suas diferentes maneiras de proceder. Por terem sido criados à semelhança de Deus — portanto superiores aos animais irracionais — os homens, desde os extremados conservadorismos até aos insolentes existencialistas, esforçam-se em provar que suas atitudes são as mais justas, certas e convenientes possíveis. Esse “planalto” é sustentado por quatro colunas mestras constituídas por cidadãos que, por suas teorias, competências, procedimentos ou missões, devem afastar-se da turba para poder reflexivamente orientá-la, classificá-la, ensiná-la, ampará-la. As quatro colunas são: os Filósofos, os Juízes, os Professores e os Sacerdotes, cuja linha de conduta, salvo pequenas e inevitáveis exceções, tem sido e continuará sendo exemplo de pureza, clarividência, sabedoria a abnegação. São quatro categorias de indivíduos que, pelo desassombro de suas elevadas faculdades, não se envolvem em transações escusas ou conchavos indignos. Altruístas, são capazes de todos os sacrifícios e desprendimentos, não permitindo que a desonra manche a alvíssima vestimenta das sua concepções ideológicas. Eis que, sobre o grande planalto, todos querem ter razão: os que erram e depois são punidos julgam-se injustiçados, vítimas da maldade humana; os viciosos dizem que não tem forças para reagir; os que não trabalham alegam que não tem disposição para isso; os que não pagam as suas dívidas afirmam que ganham pouco, ou sofreram afrontosas cobranças; os que não cumprem seus compromissos  justificam-se com “motivos de força maior”; os que se exasperam com facilidade e ofendem os que estão em derredor defendem-se com alegações de que “ficaram cegos de raiva” e quando isso acontece “perdem o controle”. E assim todos querem ter razão... Entretanto se as quatro colunas fraquejam, não resistindo ao impacto da corrupção, então virá abaixo o edifício da sociedade humana. É verdade que existem, entre a coletividade humana, criaturas que, embora sem nenhuma instrução, manifestam idéias realmente sábias e estóicas; há os que, sem conhecimento dos códigos e das leis, demonstram critério e bom senso próprios de juízes; ainda os que, não possuindo cátedra, vivem a distribuir ensinamentos aos que o cercam; e finalmente, os que, sem ter recebido ordenação religiosa, são verdadeiros apóstolos, tal a sagrada missão que desempenham, amando seus semelhantes, na prática da caridade, da bem-querença e do perdão! Estas anônimas “boas almas” compensam, certamente com sobras, os possíveis desfalques que os responsáveis pelas quatro colunas sofrem, às vezes em suas hostes, por deserção de uns ou decadências de outros. Mas, como nas lutas santas, apesar das baixas, a resistência continua e continuará sempre! E que seria da humanidade sem Filosofia, Sem Justiça, sem Ensino, sem Deus? ( 25-1-60)

“O tempo é pouco e a vida é curta” ouvimos dizer em diversas vezes. Mas o que nos consola é sabermos que a nossa existência continua na vida de nossos filhos. Façamos pois, o bem, semeando um futuro dignificante para os nossos descendentes, como fizeram os nossos pais.
( 22-3-60)

E um dia morremos. Pouco importa deixarmos 10% a mais ou 20% a menos em bens materiais aos nossos herdeiros. A grande fortuna que podemos legar aos nossos filhos é a boa educação, aureolada pela crença em Deus. Portanto, na vida pública ou particular, se não pudermos ser generosos sempre, sejamos pelo menos justos! ( 19-4-60)

Os Filósofos pensam e definem...
Os Professores acolhem e propagam...
Os juízes apreciam e selecionam...
Os sacerdotes amam e consagram...
O que?
A VERDADE! ( 30-6-60)

Se os avarentos se lembrassem que a sua fortuna — fruto da herança — teria sido repartido pela metade se seus pais tivessem tido o dobro de filhos, talvez não se apegassem tanto à migalhas e sobras, que proporcionariam alguma felicidade aos que nada possuem. ( 12-11-60)

Ninguém morre;  A Vida continua —  O nosso sangue é a continuação da vida de nossos antepassados. Dentro desse conceito, mesmo os “sem filhos” não morrem, certo que na galharada gigantesca de sua multi-milenar árvore genealógica outros ramos hão de continuar produzindo novos rebentos, em cuja composição existem percentagens de células irmãs das que formam o nosso organismo, iguais não só material como espiritualmente. ( 12-11-60)

A Bondade sem Justiça poderá produzir o efeito do relâmpago ou do fogo fátuo, que por falta de consistência iluminam ou aquecem ilusória e instantemente, agravando depois as trevas ou a penúria ambiente. ( 15-11-60)

Homens há que em lutas abertas sofrem impactos tremendos e depois se confraternizam com seu contendor. Esses mesmos homens serão capazes, em dias calmos, de cometer um crime se um “simples pisão de calos”, sub-reptício e aviltante, ferir momentaneamente sua dignidade. ( 30-11-60)

Há pessoas que esquecem o preceito bíblico: “Quem se exalta se humilha” e exorbitam de seus direitos. Censurados ou punidos decaem de prestígio, como os ladrões, que pilhados, além de compelidos a devolverem a coisa furtada, devem provar na justiça, através de advogados, que agiram “impensadamente”, “sem má fé”, etc., etc. ( 30-11-60)

Muitas vezes o menosprezo deve ser relevado, como fruto do esquecimento ou descuido. Entretanto quando é originado pelo espírito de futrica ou hipocrisia é pior que o desaforo declarado e frontal. Afinal, o desaforo pode ser motivado por “mal-entendimento”, o que se pod explicar depois. Jamais uma velhacaria. ( 3-12-60)

Não basta ao homem ser honesto. É preciso, às vezes, comprová-lo. Quem paga mal, paga duas vezes. E, além da queda, o coice dá má fama...( 3-12-60)