ANO DE 1961

Como boa norma de organização é conveniente que as firmas expeçam regulamentos internos. Simples avisos verbais ou advertenciais esporádicos não produzem resultados satisfatórios, por desuso, esquecimento ou descaso. Seria o mesmo que possuir-se um pomar aberto, à beira do caminho, e zangar-se porque foi invadido e roubado. O regulamento escrito corresponderia  à “cerca do pomar”. Demarcaria os “direitos” e “deveres” de cada cidadão. A transposição da linha divisória seria usurpação e uma violência, passíveis de severas punições. Mas não havendo regulamentação expressa, os abusos se alastrariam até ao absurdo. A repreensão então seria drástica e chocante. Depois viriam as lamentações: “...sempre fui assim”, “eu pensei...”, “eu não sabia...”. O melhor é precaver. A omissão provoca dissabores e prejuízos. ( 8-1-61)

Administrar não é ser bondoso e estimado, mas justo e compreendido. Por isso que o dirigente deve tornar fácil o entendimento de suas atitudes repressivas. No meio de uma centena de servidores sempre há uma pequena percentagem, resultado da imperfeição humana, que age de modo insatisfatório. Aí a ação tem que ser firme, serena e honesta. Tolerar seria estimular o erro, que prolifera mais rapidamente que a virtude. É possível que tal dirigente, no corre do dia, seja malquisto  pela parcela de rebeldes e imponderados. Se afastar-se mais tarde da função poderá até ser taxado de “carrasco”. Mas sempre haverá os que, possuindo bom senso e inteligência, dirão apenas: “Não! Ele foi justo. Sabia premiar o bem e punir o mal”. ( 12-1-61)

Com a morte a criatura inicia uma nova viagem. Os que forem antes esperarão os seus amigos que irão depois. ( 28-1-61)

Nossos direitos vão a um limite diante do qual temos o dever de respeitar e defender os direitos alheios. ( 12-2-61)

A felicidade é, em primeiro lugar, um estado de alma em que a criatura sente uma espécie de heróico conforto após o cumprimento do dever. Por isso que a saúde, a beleza, o bem estar, a boa forma são apenas complementos. Esses atributos não garantem, sozinhos, a felicidade que, entretanto pode subsistir independente dos mesmos. Basta que a criatura humana, apesar de sofredora, sinta-se tangida por um idealismo sublime para considerar-se eufórica, feliz, na mesma situação em que sorridentes enfrentavam a morte os mártires cristãos, nas arenas romanas. Ao contrário da alegria gargalhante, a felicidade verdadeira não é transitória, porque se funda no estoicismo, na bondade, na justiça e na firme crença em Deus. ( 12-3-61)

Democracia:
I. Direito do povo escolher seus governantes, para períodos certos, no Município, no Estado, na União;
II. Direito de criticar em reuniões públicas ou privadas e pela imprensa e rádio, e solicitar a intervenção da Justiça para coibir abusos e punir os eleitos ou nomeados quando relapsos na execução de suas atribuições  — todas elas voltadas para o bem social e prosperidade da Nação;
III. Direito de, através de seus representantes — executivos e legislativos —, destituir extemporaneamente os administradores que se revelarem incapazes e indignos;
IV. Direito de limitar os lucros percentuais das classes patronais, de cujas rendas líquidas os empregados honestos e eficientes deverão participar no sentido de obterem, dentro da moral cristã, alimentação, vestiário e habitação própria e condigna;
V. Direito de defesa plena, pública, em todas as questões sociais, patronais e familiares, entre os indivíduos, julgadas sempre por juízes idôneos e da confiança da população. ( 18-3-61)

Ainda sobre a imitação — O pensador expõe suas teorias, tendo, às vezes, sem o perceber, por base as idéias de outras criaturas humanas, cujos pontos de vista conhecera por leitura ou “ouvir dizer”. Não só na vida espiritual como no mundo material: o arquiteto que cria novas estruturas, tem como ponto de partida as proporções e  dimensões  ensinadas pelos mestres em que estudou. O pintor nem mesmo fabrica as tintas deslumbrantes que usa; apenas as mistura e nisso, continua ou copia trabalhos de outros semelhantes, vivos ou mortos. Para produzir, o homem precisa de luz — primeiro a de Deus, que fornece gratuitamente do sol, e depois das lâmpadas construídas pelos homens. Mas quem fabrica as lâmpadas não fornece o azeite ou a eletricidade e vice-versa. Por isso se compreende bem o “nada de novo sobre  a face da terra” , certo que ninguém constrói nada sozinho material ou intelectualmente. ( 29-4-61)

Somos colhedores — Tudo o que sentimos, possuímos, é fruto, colheita de nossos atos passados. “Igual gera igual”. Mas quando sofremos uma ingratidão, ai existe a sagrada vontade de Deus que nos escolheu para exemplo de nossos semelhantes, aos quais devemos estimular a caminharem pela estrada espinhosa da resignação, da virtude, da bondade , da justiça, em suma, da Verdade. ( 30-4-1961)

Palavras que certos pais dizem a filhos quando é necessário contrariá-los em seus intentos:
· Quando tem menos de 10 anos: “Não Pode!”
· Quando tem menos de 14 anos: “Não deixo!”
· Quando tem menos de 18 anos: “Não quero!”
· Quando já são antecipados: “Não gosto...”
No primeiro caso, a força da imposição, imobiliza; no segundo caso, a força da autoridade, reprime; no terceiro caso, a força do dever, dificulta e no último caso, a força da consciência, orienta. Felizes os pais que podem conduzir seus filhos no caminho do bem com singelas palavras ou apenas com significativos olhares. ( 7-5-61)

A verdade é a síntese de todas as virtudes. ( 12-5-61)

A propósito dos massacres praticados por certas tribos africanas contra brancos — A liberdade deve ser consciente. Não se pode dar liberdade a uma criança de um ano e ir, vir e fazer. Seria uma temeridade e dos desastres e crimes conseqüentes não seríamos apenas cúmplices, mas autores. E não há consciência onde há fanatismo e  ignorância. Por isso não pode e não deveria ser livre um povo que apóia a política do massacre ou do “paredon” contra os seus semelhantes. Antes da liberdade é necessária a instrução cristã, mesmo que essa instrução seja ministrada coercitivamente. ( 27-5-61)

Coisas desagradáveis:
a) Ingratidão de parente;
b) Chacotas impertinentes de amigos;
c) “Pouco caso” de empregados;
d) Discussão com ignorante teimoso;
e) Provocação para debate em assuntos em somos leigos;
f) Comprar coisa à prestação e verificar que fez mau negócio;
g) Não desfrutar do sossego devido, por causa de exageradas etiquetas sociais;
h) Sentir que os outros pensam que a gente pode tudo e não o faz;
i) Não aceitar elogios e ser acusado de falsa modéstia. ( 30-5-61)

Soneto
Bendita Democracia! Oh! Santa Liberdade
que reconhece ao homem o direito de pensar,
o direito de reunir, o direito de falar
com a franqueza magnífica da Verdade.

Bendita Democracia! Regime de Igualdade
que garante às criaturas direito d’esperar
o prometido “mundo melhor” e nele desfrutar
todas alegrias da mais pura Eternidade.

Bendita Democracia! Que abomina a opressão
e que estabelece ao governo e aos governados
leis que correspondem aos anseios da população.

Bendita Democracia! Sustentáculo da luz
que há de conseguir com que os homens irmanados,
sigam os excelsos ensinamentos de Jesus! ( 1-6-61)

O mundo progrediu tanto nestas seis décadas do século XX, principalmente em eletrônica e mecânica, que não se pode fazer idéia do que será no fim deste século — quando as crianças de hoje serão “homens feitos”. No campo de relações humanas não precisamos aguardar o fim do século para presenciar profundas modificações. Aliás, o socialismo avança dia a dia, avassalando o regime colonialista e capitalista. Praza aos céus que o mundo do futuro conheça o verdadeiro socialismo cristão e renegue o comunismo ateu, desprezível como quaisquer outras ditaduras. Pode-se prever claramente que no próximo e decantado “mundo melhor” não mais existirão ricos e pobres, ou melhor, “poucos ricos” e “muitos pobres”. Deverão estão existir três categorias: I)alguns bem ricos (herdeiros de fortunas que se irão desgastando e sub-dividindo); II)muitos ricos apenas e III)poucos meio ricos. As leis regularão os lucros e os bens da fortuna, estabelecendo que o excedente de um limite será, a título de impostos e taxas, arrecadado pelo governo, que o aplicará em benefício dos “menos ricos”. Estes, em conseqüência , terão direito de possuir  entre outras regalias, uma “moradia própria”, familiar, com o conforto condigno à criatura humana. Em todas as cidades haverá um departamento de “Assistência Social” mantido pelos impostos  sobre lucros e riquezas, para distribuição de alimentos, remédios, agasalhos, transportes, etc., e com que serão atendidos os raríssimos desprotegidos da sorte, em seus períodos transitórios. E enquanto isso terão melhor colocação entre os seus semelhantes os homens instruídos, portadores de um diploma, que representará nesse  futuro bem próximo, a maior, mais sólida e indiscutível fortuna. ( 2-6-61)

As mulheres dizem coisas, fazendo insinuações, com a mesma irresponsabilidade com que as crianças brincam com jogo. Depois... ( 6-6-61)

Os vícios não são culpa do mundo, mas dos corações de muitos homens que o habitam. ( 8-6-61)

Dentro em breve será um erro ter fábricas e propriedades agrícolas extensas. Mais tarde isso tudo seria repartido pelos homens, no regime socialista, ou tomado pelo governo, no regime comunista...Erra também o comerciante que concentrar sua fortuna ou mercadorias e bens móveis. Tudo faz crer que o melhor mesmo é ir construindo moradias, onde ir acomodando os parentes... e amigos. ( 10-6-61)

No começo os homens mais fortes dominavam os mais fracos. Depois, entre os povos guerreiros, os vencedores escravizavam os vencidos. Mais tarde, com o advento do cristianismo, foram os brancos admitindo que “eram todos irmãos”, mas continuaram explorando os negros. Por fim, as leis oriundas da civilização foram reconhecendo a igualdade entre os homens, sem distinção de cor ou raça. Mas continuou o domínio do “rico contra o pobre”, isto é do capital contra o trabalho. Hoje essas duas forças — patrão e empregados — começam a se tratar como “sócios”. E queira Deus que, numa velocidade desenfreada, não venha a imperar em toda a parte o autoritarismo ateu e ditatorial, em que os homens terão escravizadores a dominá-los como na era pré-histórica até o advento do humanismo cristão dos tempos modernos ( 12-6-61)

As religiões, inspiradoras e inspiradas nos preceitos bíblicos, em cuja amplidão se destacam as doutrinas de Moises e Jesus Cristo, devem orientar-se dentro da Moral, Justiça e Fraternidade. Basta ler o conceito dos “Dez Mandamentos”, “Sinal da Cruz”, “Ave Maria” e “Padre Nosso” para convencer-se disso. ( 15-6-61)

Não merecem agradecimentos aqueles que praticam ações justas e necessárias. A omissão, nesses casos, seria falta ao cumprimento do dever. ( 17-6-61)

Certas pessoas são consideradas “loucas” só porque deixam de pensar e agir como a maioria comodista ( 17-6-61)

Coisas existem que causam má impressão, mas o seu efeito é benfazejo, como certos medicamentos ( 20-6-61)

Ninguém deve ser elogiado por ser honrado, honesto e trabalhador. Qual o pai ou mãe que não arriscaria o seu sossego, a sua fortuna, e até a própria vida para defender a dignidade e a segurança de seu filho? Portanto, aquelas virtudes valem como uma bênção de Deus, dignas dos maiores e mais íntimos agradecimentos do próprio possuidor. Jamais motivos de vanglória, pois o contrário seria uma maldição e uma vergonha. ( 18-7-61)

Frases feitas:
· “Pelas pequenas coisas se conhecem os grandes homens”, isto é, pelas pequenas atitudes se conhecem as grandes ações.
· “Quem quer vai, quem não quer, manda”, isto é, quem quer que um serviço seja fielmente executado vai faze-lo pessoalmente ou disso encarrega outras pessoas de reconhecida competência e as assiste permanentemente, pelos meios possíveis.
· “O valor do ouro se conhece pelos seus quilates e não pela sua aparência ou em consideração da pessoa em poder de quem se encontra”, isto é, o valor do homem está em função de seu passado respeitável, das suas realizações nobilitantes e não em razão do nome de sua família ou de seus cargos ou títulos honoríficos atuais.
· “O dinheiro que não tem valor para os outros, nada vale para o seu possuidor”, isto é, a virtude que não beneficiar, em parte, também as pessoas que deram tomaram conhecimento é, ao contrário, puro egoísmo, uma inutilidade, uma impostura! Não há dúvida que todos os predicados pessoais, sejam intelectuais ou morais ou ainda materiais, perdem suas características dignificantes se não irradiarem suas virtudes do centro para a periferia, como a luz, o som e o perfume. ( 18-7-61)

Vontade de Deus: quando um desastre nos atinge, sem culpa nossa;
Castigo de Deus: quando esse desastre advém em virtude de um abuso ou descuido nosso ( 18-7-61)

Das virtudes isoladas a mais gloriosa — porque é altiva e autônoma e impossível de ser criticada — é a Justiça; naturalmente a Justiça ensinada e recomendada por Jesus. A honestidade, o amor, a fé, o estoicismo, o perdão e até a coragem e a caridade serão insustentáveis se lhes faltar o amparo da Justiça — sentimento ativo e demarcador de qualidade. A Justiça, inspiração divina, tem sobre si apenas a Verdade, que é uma virtude coletiva, reunião de todas as virtudes, inclusive a própria Justiça. Mas, a verdade, sendo um conjunto, exige definições explicativas, enquanto que a Justiça, por ser absoluta, tem de ser acatada, mesmo quando ferir a minoria incontentável. Por isso que se diz que a Justiça é como o sol: pode encobrir-se, tardar,mas ao surgir convencerá plenamente. ( 18-7-61)

Pesadelo I —  O país havia sofrido profundas modificações em sua estrutura política e social. O povo havia deposto o governo com o apoio das forças armadas. Fora preciso decretar lei marcial para conter o delírio popular em seus saques e depredações aos armazéns, fábricas, escritórios e residências dos chamados “capitalistas”. Todas as suas propriedades foram declaradas pertencentes ao Estado e todos os seus bens confiscados. Passada a tormenta, começaram os ditadores, civis e militares, a procurar disciplinar a vida da nação. E aquele pobre homem despojado de todos os seus bens e haveres, mantinha-se humildemente na extensa fila, aguardando a sua vez de ser ouvido pelo “Comitê Revolucionário”. Todos deveriam apresentar-se para dizer de suas habilidades, como trabalhadores. Perguntado sobre o que sabia fazer, respondera que era guarda-livros, meio datilógrafo e com alguma prática no serviço de cerâmica... “Ótimo!” , lhe dissera intempestivamente aquele sargento inquisidor — “Ótimo! O governo popular precisa de tijolos e o senhor está inscrito como oleiro”. “E os meus filhos?...Eles até hoje não trabalharam em nada. Só sabem estudar. O mais velho estava se preparando para ingressar no curso superior. Dois no ginásio e o menor...”. “Nada disso! De agora em diante só poderão estudar os que eram pobres e, por isso, não estudavam. Os outros, os antigos ricos, que por certo já aprenderam demais, vão ficar nisso e começarão a trabalhar...” . “Senhor, eles são crianças ainda, não tem forças para serviços rudes; além disso, com a inteligência em formação, assimilando e gravando na memória as lições seriam mais tarde úteis à Nação, até mesmo ensinando também. Dissipando-se a ignorância, dissipa-se a miséria e...”. “Velhas histórias que os senhores com os seus recursos apenas exaltavam no seio de suas próprias famílias, enquanto que os outros... mas deixemos de conversas e trabalhemos!”. “Eu trabalharei horas redobradas e farei também a parte dos meus filhos, inexperientes que são...”. “Não pode ser! Ademais a jornada de trabalho baixam para seis horas diárias. Completando a idade de cinqüenta anos o cidadão será aposentado e passará a constituir ônus para o Estado. Por isso todos os moços tem de trabalhar”. “Então permita-me fazer um acordo: em vez de seis, trabalharei dose, quinze ou mais se puder. Renunciarei, expressamente, a aposentadoria aos cinqüenta anos e continuarei até os últimos dias de minha vida. No começo, como agora, trabalharei em quaisquer serviços pesados, sem escolher terrenos. Minhas pernas e braços são vigorosos e tanto trabalharei em lugares altos, como descerei ao fundo das cisternas. Depois, já bem velho, quando as pernas fraquejarem, farei serviços manuais. Mais tarde, se as mãos não puderem fazer serviços úteis, serei porteiro das fábricas, fazendo respeitar os regulamentos e transmitindo avisos e recados. Assim irei trabalhando, trabalhando para compensar o tempo que meus filhos perderam estudando, estudando para ganhar  a maior glória da vida: a sabedoria! E assim continuarei trabalhando e quando a velhice imobilizar os meus membros do corpo, agirei com a voz e com a expressão dos olhos, orientado pelos ouvidos e pelo raciocínio. Depois, não mais falando nem enxergando, continuarei escutando os últimos sons da vida terrestre e as primeiras moradas da morada eterna. Aí permanecerei trabalhando só com o pensamento — vínculo do espírito à matéria — trabalhando com minhas orações ao Todo Poderoso, pela felicidade dos meus filhos, da minha família, dos meus amigos, de todo o povo brasileiro, de todas as nações do mundo, para que os homens sejam, indistintamente, todos justos e bondosos. Assim, os meus pobres filhos, membros de nossa humanidade feliz serão igualmente felizes. Deixai, senhor, que meus queridos filhos continuem estudando... bem vedes que ofereço minha vida...”. Nesse momento, o pobre homem despertou e suspirou aliviado e venturoso,e  mais ainda por recordar-se que, mesmo em sonho, havia preferido os maiores sacrifícios para garantir o futuro de seus filhos e descendentes.
( 12-8-61)

Espaço-Tempo — Se os homens pudessem, para realizar seus planos, contar como elemento “espaço” e “tempo” teriam no primeiro e em suas coisas todos os recursos materiais que estivessem as suas mãos ou ao alcance de seus olhos e no segundo a duração interminável daquele poderio... Por isso que o Bom Deus, enquanto aguarda a perfeição do Mundo, reservou a si essas faculdade, evitando assim que as criaturas destruam a obra do Criador. ( 15-8-61)

Devemos lutar com todo o vigor de nossas forças  para debelarmos os males curáveis... Mas em face do desengano restar-nos-á a conformação que “males sem remédios, remediados estão”.
( 15-9-61)

E quando vieram agradecer-lhe os favores e donativos que havia proporcionado a seus semelhantes, o pobre homem comentou consigo mesmo: “Tolos, não percebem que estão sendo logrados em agradecer-me. Quem age, como eu, por força dos deveres, já é muito feliz pela oportunidade de poder cumpri-los. Do contrário ficaria em falta. Portanto, para não provocar debates, nada lhes digo, mas tenho pena de sua santa ingenuidade”. ( 17-9-61)

E quando diziam ao pobre homem que o objeto que lhe desaparecera havia sido, talvez, furtado por algum peregrino ou estranho, ele respondia: “ O maior prejudicado é o próprio malandro, que levará um peso a mais na consciência. E quem sabe se, tendo família ou sendo ele próprio um necessitado não desfruturá, em parte, dos benefícios que, se os solicitasse, poderia receber em maior quantidade?” ( 17-9-61)

Serei justo! Embora tenha que defrontar com um malandro, impostor ou velhaco. Pelo contrário, em vez de castiga-lo fisicamente, se possível, deverei aliviar-lhe a fome ou curar-lhe as feridas. Por isso sou contra o regime da chibata, a prisão com trabalhos forçados e a pena de morte. ( 28-9-61)

Muitos homens importantes disseram, na fora da morte, frases que foram, depois, lembradas e às vezes relembradas, tornando-se até célebres. Qualquer homem pode ser “importante”  para os seus familiares, por isso que são chorados quando se vão desta vida. Bancando importância, o pobre homem deixou três palavras, como últimas, para a suprema meditação e diretriz de seus amigos: “Sabedoria – Justiça – Bondade”. ( 3-10-61)

E quando lhe disseram que não devia desagradar as pessoas e que nenhuma vantagem existia em arranjar inimigos, o pobre homem respondeu: “Possuo duas condições essenciais para perder a estima do povo, isto é, perder amigos: a) Todo ano enriqueço um pouco, em virtude dos lucros das empresas que participo; b) Sou dirigente dessas firmas. Mas “inimigos” quem é que os teve maiores na vida? — Jesus! Tivesse Ele sido hipócrita e usasse evasivas no caso dos tributos a Cezar, ajudasse agravar e apedrejar a mulher adúltera, não fizesse a purificação do Templo, não condenasse os escândalos da corte romana, elogiasse os fariseus e os escribas, não pronunciasse o Sermão da Montanha nem fizesse outras pregações de moral através de santas parábolas, viveria, no mínimo 100% mais, isto é, 66 anos. No entanto os seus inimigos, que puseram em realce a sua Justiça, o fizeram viver até agora cerca de 6.000% mais, e viverá pelos séculos a dentro, numa exaltação crescente, enquanto o mundo existir. Portanto, que posso eu, minúscula criatura, para que o povo me queira sempre bem? Se para manter eventuais amigos é necessário tornar-me hipócrita, prefiro perdê-los”. ( 6-10-61)

“De médico e de louco todos temos um pouco” — Médico: qualidade positiva — virtude. Louco: qualidade negativa — defeito. Portanto, as pessoas tidas como “normais” que não tiveram uma também não possuem a outra qualidade. Ipso facto são apáticas e ineficientes.  Quanto maior o volume de uma qualidade tanto maior será a contra-partida, o volume da outra qualidade, podendo ambas co-existirem por se sucederem. A presença sempre, de modo absoluto, em uma criatura humana, de uma só dessas qualidades é impossível, porque não seria normal. Seria genial, isto é, sobrenatural. Por isso vemos muitas pessoas serem  admiradas por um grupo de pessoas e, simultaneamente malquistas por outro grupo, conforme a faceta em apreciação. Quantas vezes, o mesmo grupo muda de idéia quando observa que “tal pessoa” mudou de comportamento. Como a tendência da humanidade é civilizar-se, é maior,  em quase todos os indivíduos, a existência ou presença da primeira qualidade, ou seja, a virtude. Na consciência de cada um existe uma balança de dois pratos: toda vez que um erro é reconhecido vem logo o consolo: “acontece que no meu passado, no presente, no futuro...” e vão surgindo as mais variadas justificativas, em forma de recordações, de relatos, de promessas... Ninguém quer convencer-se de estar ou declarar-se errado, definitivamente. A propósito vale lembrar o axioma: “Até o demônio depois de velho se faz ermitão”. ( 1-11-61)

“Quem cala consente” , ou nega! — Consente, com o seu silêncio, quando alguém lhe pede permissão para deixá-lo fazer alguma coisa, e na qual o consultado não precisa participar. Mas o silêncio é negativa quando é solicitada a prática de um ato pelo consultado. Portanto o silêncio é permissão quando a ação cabe ao próprio consulente e é negativa quando depende da outra parte uma movimentação qualquer. ( 1-11-61)

A desarmonia retira da criatura humana quatro elementos essenciais à vida: o sono, o apetite, o ânimo e o equilíbrio mental, sem os quais, em vez de progresso haverá decadência. Diante disso tem razão o poeta apaixonado quando disse: “Sem você nem o céu terá beleza e com você irei ao inferno, sorrindo”. ( 12-11-61)