ANO DE 1962

Se é vil o orgulho de quem quer rebaixar-se, para provocar compaixão, é nobre esse orgulho quando se ergue contra o rebaixamento provocado por outras pessoas. ( 9-1-62)

mais bela virtude  perde o seu valor se em vez de aureolada pela modéstia exibe-se  com requintes de jactância, da mesma forma que lindas pinturas se tornariam desprezíveis se apresentadas em molduras esquisitas, cujas cores e feitios extravagantes fossem uma afronta à delicadeza e ao bom gosto da própria obra. ( 10-1-62)

quando lhe perguntaram se um dia tivesse de sofrer humilhações, desonras, vilipêndios nojentos, o que faria, o pobre homem respondeu: “Eu arriscaria e perderia, se possível mil vezes a vida para defender a vida e um dos meus filhos. Entretanto a salvação da vida de mil filhos não justificaria a perda da minha honra, abaixo da qual coloco a própria vida e acima somente Deus! E o pobre homem assim concluiu o seu ponto de vista sobre a desonra: “Desonra, de fato é praticá-la ou aceitá-la, sem protesto, covardemente. As calúnias podem tentar desonrar uma criatura, mas se transformarão em “coroa de espinhos e de glória” quando desmascaradas pelo futuro ou pela posteridade”. ( 10-1-62)

O homem ( o homem certo, cristão) há de sentir, viver o ambiente que o rodeia ou onde deverá penetrar, emprestando ao tom de voz, ao equilíbrio dos gestos, à firmeza de atitudes, aquela peculiaridade que o despirá de grandeza para evitar constrangimentos e vexames aos seus circundantes, se de condições modestas,e no caso inverso encherá o peito com o santo orgulho da dignidade, evitando que pseudo-super-homens tentem, impunemente, causar-lhe ridicularias e humilhações. ( 14-1-62)

Vencer com honestidade e alegrar-se é próprio do Homem.Ser derrotado, após haver lutado valorosa e meritoriamente e conformar-se é próprio de um Santo. No primeiro caso, o Homem conquistará a admiração de seus semelhantes e no segundo obterá as bênçãos de Deus ( 27-2-62)

quando lhe perguntaram o que pensava do futuro das próximas gerações, o pobre homem respondeu assim: “Precisamos educar, instruir, diplomar nossos descendentes porque num porvir não muito distante os homens terão posição na comunidade de acordo com seus valores pessoais e não mais em função da fama e dos  recursos financeiros seus ou de sua família. ( 3-3-62)

Só os homens que se julgaram semi-deuses é que tiveram crepúsculo. Por isso, o melhor é conservar-se, modestamente, entre seus semelhantes, sem grandes vôos e... sem grandes quedas.
( 22-3-62)

quando lhe disseram que para combater o comunismo o essencial era colocar “gente nossa” nos parlamentos, o pobre homem refletiu assim: “Engano! Isso seria apenas tentar contornar os efeitos. Uma espécie de paliativo, de escassa utilidade, como inútil seria ministrar soro e oxigênio a um moribundo para prolongar-lhe a existência. O ideal seria descobrir e medicar a causa da enfermidade. Portanto a repressão ao comunismo deve ser feita dando aos desamparados alguma esperança, entremeada com assistência efetiva, melhor salário, melhor alimentação, melhor habitação e recursos outros a fim de, com algumas sobras, desfrutar das alegrias proporcionadas pela aquisição razoável de seus móveis e imóveis, privilégio que tem sido reservado à burguesia, não proletária, das cidades e dos campos”. ( 22-3-62)

Muitos motoristas são acusados, pelos seus acompanhantes, de serem descuidados. Mas esses mesmos acompanhantes se esquecem de que são eles próprios disso responsáveis com seus “palpites” sobre o que, comodamente instalados, enxergam, comentam e indagam a todo momento. ( 23-3-62)

que seria bom para o pai, será bom para o filho. Plantemos árvores e boas ações. Os que ficarem ou vierem depois colherão os frutos. ( 13-4-62)

Acerto de contas — Que a humanidade está dividida em dois mundos ideológicos, ninguém ignora: capitalista e comunista, dois extremos. Como meio termo, o socialismo seria o ideal. Ou melhor: “Democracia socializada”. Mas enquanto o socialismo não consegue harmonizar a situação, a coletividade fica ameaçada agora do predomínio do extremismo vermelho. Ontem, a
o capitalismo dominava 100%. Hoje o comunismo desalojou-o parcialmente ,conquistando muitas de suas antigas posições. Amanhã poderá dominar sozinho, invertendo-se os papéis. Para evitar que isso aconteça, precisa haver um “acerto de contas”. Hoje, os capitalistas, que são donos das fábricas, das casas comerciais, das propriedades agrícolas, dos poços petrolíferos, dos arranha-céus, da imprensa falada e escrita, de alguns hospitais e de muitos automóveis de luxo, esses capitalistas que ganharam  em pouco tempo fortunas nababescas devem agora, para não perder tudo em breve, renunciar a uma parte dos seus bens, tanto dos existentes como parte das rendas futuras. Tudo por culpa da “máquina” que acelerou e facilitou a produção, o transporte, a comunicação e a contabilização. A máquina é uma espécie de alavanca. Quem teve uma e contando sobretudo com o apoio de Deus, da inteligência, do trabalho, ficou rico depressa. Entretanto, muitos homens, quase todos, ficaram pobres, embora fossem inteligentes, trabalhadores e crentes em Deus. Ou não dispunham de uma “alavanca” da industrialização do mundo, ou ficaram para trás por culpa de seu país, de sua cidade, ou da sua família, que, pobre, só poderia produzir em elemento igual. Por isso, agora é tempo de se fazer um “acerto de contas”, e que se resumirá na renúncia de parte de ganhos e lucros excessivos em favor dos menos favorecidos pela fortuna. Assim será entre os homens de um país e entre as nações do mundo. Uns enriqueceram excessivamente porque venderam ou cobraram muito caro daquilo que dispunham e que era disputado pela maioria necessitada. O “acerto de contas” não pode propiciar a igualação de recursos, o que seria impossível. Mas, também não pode, na casa dos pobres, crianças perecerem por falta de leite, e este continuar prodigalizado a cães, gatos e cavalos de corrida dos ricos. Uma organização internacional no mundo, e um governo local em cada nação cobrarão impostos a fim de que os riquíssimos, pelo menos, paralisassem nas suas grandiosidades e com o que os miseráveis sejam arrancados, com urgência, da sub-sociedade em que vivem. Esse acerto será feito pela inteligência e justiça da minoria, sob pena de ser realizado pela ignorância e desespero da quase totalidade. É preciso que a qualidade socorra a quantidade, senão esta, unida, possuirá uma força sobre-humana capaz de destruir inclusive o que, aparentando luxo e beleza, era útil e necessário ao bem comum. ( 19-4-62)

Pesadelo II — Havia estourado nova revolta popular. O terror imperava na cidade. As autoridades todas haviam sido fuziladas, pisoteadas. A turba, sedenta de sangue, proclamava que só pouparia  os proletários do campo e da cidade. Os outros, ou pelo menos uma pessoa  de cada família, seriam “justiçados”. Era o tributo com que pagariam as passadas alegrias em seus lares, onde nunca faltou pão. O pelotão de fuzilamento achava-se em frente de sua casa. A algazarra da rua era ensurdecedora. Os soldados com os uniformes em desalinho, olhares flamejantes de ódio, apontavam os fusis, com as baionetas caladas, para todos os lados. Pedradas faziam as portas e janelas se abrirem com estrondos. Móveis eram incendiados assim que atirados à rua, clareando com luz bruxoleante semblantes suarentos. Gritos de histerismo se misturavam com choros de crianças apavoradas, num tumulto indescritível. No céu escuro da cidade fumarenta explodiam focos de luz, como pirilampos ruidosos. Outras bombas mais fortes estouravam iluminando o espaço, depois de levadas ao alto por serpentes faiscantes que se desfaziam como milhares de minúsculas estrelas cadentes. Tudo aquilo dava impressão de uma festa macabra e infernal. Foi quando um homem corpulento, estremecendo-se todo, bradando uma, duas, três vezes, erguendo-se e girando na ponta dos pés: “Silêncio! Silêncio! Silêncio!” . Aos empurrões formou-se em seu redor um vazio e o brutamontes ficou sozinho como que num picadeiro e ameaçando disparar o fusil-metralhadora que portava, foi conclamando: “Agora eu quero silêncio! Vamos subjugar mais um ‘granfino’. Silêncio! O primeiro que atirar mais uma pedra receberá uma rajada de balas”. Já então todos os olhares convergiam para o terraço da casa, onde um homem de meia idade, com os braços abertos, adiantou-se,e com voz firme, falou: “Estou pronto para sofrer a condenação...”. “Não, o candidato a morrer não é você , mas seu filho, que desacatou o nosso regulamento. Em vez de entregar a chave do seu automóvel,  atirou-a fora fazendo com que a mesma se perdesse nos destroços  das sarjetas” . “ Quem deve morrer sou eu. Sou responsável pela educação e até pelo temperamento do meu filho. Ele tem o meu sangue e a minha alma”. “Mas você tem outros filhos para criar”. “Um irmão criará o outro irmão. Na falta de irmãos, a Sociedade ou o Estado avocará a si a obrigação da defesa das crianças. Ninguém é insubstituível, repito aqui”. “Entretanto, no novo regime, todas as famílias deverão ter um chefe; o governo não manterá nem orfanatos, nem albergues, nem asilos...”. “A chefia, como quaisquer ações, vem em função da necessidade. Um adolescente investido de autoridade cumprirá seus deveres com bravura”. “ E os seus negócios? Só você os conhece...” . “Os que ficarem ou vierem depois vasculharão livros e consciências e decifrarão todos os mistérios aparentes. Ademais, os moços precisam viver. Eles tem o idealismo no cérebro e o gérmen do progresso nos músculos. Os velhos poderão apenas ministrar ensinamentos. Mas a sabedoria não é patrimônio de ninguém. É um edifício imenso, que vem sendo construído desde a aurora do mundo, com milhões de pequenas pedras — idéias que se renovam em busca da perfeição. E os moços, imbuídos dessas idéias lutarão por um mundo melhor, procurando fazer com que a fraternidade se aposse  de todos os corações e assim...”. Ninguém mais, nem ele próprio, podia ouvir as suas palavras; começou com a impaciência em todos os olhares, depois cochichos, depois acotovelamentos, depois esfregação de pés no asfalto, depois vozerio, depois altos brados uníssonos, simultâneos com gestos cadenciados e o clamor de “morra o velho! Morra o velho!” foi crescendo avassaladoramente como se fosse um furacão. Nesse momento houve como um estremecimento e o pobre homem despertou, sentindo escorrer-lhe pelo corpo o suor frio dos agonizantes enquanto dentro do peito seu coração palpitava com aquela heróica alegria que deve dar sentido aos mártires na hora da morte. ( 19-4-62)

Todas associações são úteis. A primeira é da família: marido, mulher e filhos. Vem depois a da amizade, constituída pelas famílias dos parentes, dos vizinhos e dos conhecidos circunstanciais. Depois as instituições beneficentes do bairro. Depois as associações da cidade. Depois as que se entrosam com as congêneres de outros municípios. Mas de todas, as maiores e mais úteis são as de caráter religioso que congregam as pessoas em torno de um ideal elevado, cuja moral, em todos os tempos, é o temor a Deus e a prática do bem. ( 2-6-62)

Negócios novos que devam ser cuidados por aqueles que já os possuem muitos, alguns mal assistidos, são como filhos adotivos em lares pobres, sem recursos suficientes para os seus. Poderão as crianças adotadas, desde logo, trazer alegrias e mais tarde até recompensas, mas de imediato ficarão os tutores sujeitos a críticas e, no futuro, a remorsos se a realidade vier a desdourar a insólita iniciativa. ( 12-6-62)

Mendigos — É possível que existam falsos mendigos, principalmente nas cidades grandes. Mas, em matéria de injustiça ( dar a quem não merece e negar a quem precisa) é preferível errar noventa e nove vezes dando esmolas, do que uma vez negando-a. Naturalmente, em termos, conforme as posses do solicitado e as aparências dos pedintes, excluídos os embriagados e vadios que, em vez de dinheiro, deverão receber conselhos. A dor, entretanto, que sentiria o faminto que sofresse uma negativa pesaria mais, nos pratos das balanças divinas e humanas, que as noventa e nove vezes que beneficiamos os hipócritas em nossa porta.. ( 12-6-62)

“Os extremos se encontram”... por isso que os velhos e as crianças se entendem bem...
( 12-6-62)

Não convém aos pais deixarem aos filhos grandes fortunas. Interessante seria deixar-lhes algumas economias e pequenas  propriedades, a fim de continuarem trabalhando para a aquisição de novos bens. Enquanto que excessiva herança poderia afastar dos filhos o estímulo ao trabalho, que deve sempre ser considerado prodigioso espantalho a todos os males e o grande predicado  que o Bom Deus impôs a Adão e Eva ao expulsa-los do paraíso. ( 12-6-62)

Deixar uma pessoa de recursos de desfrutar seus bens (casa bonita, carro novo, roupas elegantes, jóias finas) a fim de não provocar falatórios nas rodas sociais não está certo. Afinal, fazendo-o sem ostentação, sem prejuízo de ninguém, nenhum mal pode existir. As críticas até poderiam dar ensejo ao aparecimento da “contra-partida”, em ato de generosidade, ação social e espírito público. O contrário, isto é, possuir fortuna e demonstrar miséria, deixando de ajudar seus semelhantes sob alegação de ausência de recursos, isso sim seria uma hipocrisia e uma burla. ( 12-6-62)

Filantropia — Fazer uma pessoa, só no fim de sua vida, testamento deixando parte de seus bens a uma instituição de caridade, e por isso vindo a receber homenagens póstumas, às vezes perpetuadas em bronze, também está errado. Ora, o certo teria sido o “coração magnânimo” do doador ter feito seus donativos cotidianamente, em vez de só ir acumulando fortunas à custa de lucros diários. Se a própria instituição tivesse que esperar 50 a 80 anos para receber essa “generosa” doação teria, por certo, sucumbido.Somando-se pequenas e modestas ajudas recebidas constantemente de anônimas criaturas verificar-se-ia que representariam mais daquilo que se festejou espalhafatosamente, a posterior. Que se agradeça, que se mencione em ata a valor da doação, mas que por isso se erga um monumento, com banda de música e tudo, está errado.
( 12-6-62)

Colaboração-Protestoenviada à Revista VISÃO, publicada em 13 de julho de 1962. ---CUSTO DE VIDA ---Como leitor assíduo da prestigiosa VISÃO, desejo dizer duas palavras sobre o inveterado problema do CUSTO DE VIDA. Fui vereador durante doze anos ( 1948/59) num dos menores municípios do Estado de São Paulo e acostumei-me, com tristeza, a testemunhar o desamparo em que vive relegado o meu pequeno município, porque "era pobre e não possuía grande número de eleitores". E o problema do custo de vida elevado se resume hoje na falta de assistência aos agricultores, isto é, aos habitantes dos municípios. Já em junho de 1948, a Câmara Municipal de Rio das Pedras mandou um memorial, em quatro laudas, ao Congresso Nacional e, até hoje, quase 14 anos depois, não foi acusado o recebimento daquele ofício, que seguiu em carta registrada. Todos os demais municípios do Estado, aos quais foram enviadas cópias em cartas simples, se solidarizaram conosco. Jornais fizeram extensos comentários de apoio à assistência ao homem do campo. Mas, do Governo mesmo, nenhuma palavra! Hoje se fala em reformas e mais reformas. Reforma Agrária ( que talvez sirva para aumentar a legião dos antigos desamparados) e reforma até da Constituição. O que é preciso é reformar o modo de governar. Não podem os políticos, com objetivos eleiçoeiros, continuar desviando leite me pó das crianças do Nordeste e, por causa dos mesmo objetivos eleiçoeiros, desprezar as necessidades dos pequenos municípios pobres e desassitidos municípios do Brasil! O que acontece depois é isso: um quilo de feijão mais caro que um quilo de azeitonas portuguesas. O que acontece com o arroz, óleo, leite, qualquer dona de casa conhece. Em conseqüência disso, o que se diz é que a nação se acha à beira de um abismo, sobre um vulcão, às vésperas de uma catástrofe. E as reinvindicações salariais continuam e as greves também. Tudo por culpa do custo de vida. Tudo por culpa do Governo. Mas, se a produção vem dos municípios porque estão abandonados pelos mandatários do povo? Em muitos municípios há Casas da Lavoura, mas estas não tem sementes, adubo, inseticida. Na maioria dos casos, nem os agrônomos moram lá. Os financiamentos são feitos aos grandes fazendeiros, que geralmente moram no asfalto. Para o pequeno lavrador--- habitante do município agrícola --- é tudo cheio de papelada, de dificuldade. E depois o Governo quer combater o êxodo rural! O protesto das ligas camponesas no Nordeste não é apenas protesto dos colonos. É o protesto também dos pequenos proprietários, que participam das privações coletivas. Praza os céus, entrementes, que o Governo ao em vez das reformas, faça funcionar, patrioticamente a máquina administrativa! Que instale, junto a todas as prefeituras do interior, no sertão, escritórios do Banco do Brasil e faça seus homens de botas e desengravatados, visitarem os lavradores na roça, não só oferecendo-lhes, mas dando-lhes de fato: dinheiro, mecanização, sementes, adubos e a garantia efetiva de preços mínimos. Não apenas promessas, com tem sido até hoje. Só assim poderíamos pensar no barateamento do custo de vida e na solução da crise fantasmagórica que ameaça o nosso querido Brasil. Rio das Pedras, 02 de julho de 1962. a) L.A. Barrichello

marcha da socialização da humanidade ( direito de participação por todos dos bens da riqueza relativa ) é tão imperiosa e irrefreável como a marcha da ciência. Se avança sabedoria do homem, desvanecendo a ignorância, o mistério e o deslumbramento, no campo material, não podem prevalecer entre as criaturas humanas diferenças tão chocantes, a ponto de uma minoria privilegiada ( industriais, capitalistas, governo e funcionários) desfrutar de excessivas vantagens em detrimento da maioria sofredora, constituída pelos habitantes das favelas e cortiços das zonas periféricas. ( 15-8-62)

No momento a solução dos problemas sociais do Brasil poderia ser encontrada mediante a adoção de duas providências por parte do governo: honestidade e policiamento. ( 16-8-62)

Saúde, trabalho e inteligência são atributos capazes de proporcionar ao homem honesto alguma fortuna, conforme  as oportunidades e meios com que puder contar — sempre que esteja desenvolvendo suas atividades num país onde exista a verdadeira democracia. Mas, isso jamais se daria numa nação sob regime ditatorial, onde o homem do povo é uma espécie máquina-animal, e assim todos os excedentes, além do “pão e circo” vão para o governo. Aí, nessa pobre nação, os frutos do trabalho humano, os lucros da produção das fábricas, as rendas das colheitas dos campos, os vultosos saldos da balança alfandegária, tudo será canalizado aos cofres governamentais, cujos chefes aplicarão depois essas reservas em material bélico e político destinados a manter o povo debaixo da “bandeira” da opressão e submissão. E, o que é pior, essa “bandeira” será mais tarde conduzida fanaticamente em campanhas da conquista, como faziam as legiões romanas, nazistas e já o fazem agora as bolchevistas. ( 8-10-62)

Coisa muito dolorosa é a ingratidão. Mas, em vez de praticá-la, é mil vezes preferível sofrê-la.
( 7-11-62)

Não existem mestres e discípulos. Somo todos, ao mesmo tempo, as duas coisas. A vida é que é a grande escola, onde, às vezes, procuramos ensinar, mas acabamos aprendendo sempre.
( 7-11-62)

criatura humana vive em torno de ideais. A Esperança é o caminho que conduz  todos os ideais e a Felicidade é o ideal supremo. Todos nossos pensamentos, manifestações e realizações giram em torno de ideais. A saúde, a inteligência, o amor, a beleza, a fortuna, o poder, a consideração de que desfruta uma pessoa, tudo isso é  uma espécie de concretização do ideal de felicidade terrena. As crianças, os jovens, os noivos, os esposos, os pais, os avós, os velhos, todos tem um ideal a palpitar-lhes n’alma. Diferente na época, mas igual no objetivo: Felicidade! Praza o Bom Deus que possamos todos os homens realizar os seus ideais. ( 23-11-62)

“O materialismo está dominando todos os setores da vida humana...” --- meditava o pobre homem, desconsoladamente. “Ningém tem tempo para nada. É tudo feito em alta velocidade; os que viajavam de trem, agora preferem automóveis. Muitos possuem avião particular. Outros vão em aeroplanos a jato, rapidíssimos. Logo pretenderão utilizar-se de foguetes estratosféricos, desses que desenvolvem mais de 40.000 quilômetros horários”. “Por outro lado, tais criaturas, quando procuradas para reuniões de cunho altruístico, vão logo dizendo: “Estou cheio de serviço!”. “Não dou conta!” e vão se desculpando de pequenas subscrições que fazem em “Livros de Ouro” porque todos os dias são procurados por promotores de campanhas, concursos, festas de formatura, etc., etc. A  cooperação então é dada ou prometida sem apreciar o mérito das campanhas, correspondendo no mesmo pé de igualdade, sejam os beneficiários crianças órfãs ou integrantes do time de futebol. Se deveriam comparecer a reuniões sociais omitem-se, quase sempre, com ou sem justificativa. Depois, o pobre homem, refletindo melhor, ponderou: “Mas, desde que a criatura humana apareceu na face da terra, a vida tem sido assim mesmo: a ambição pessoal sobrepondo-se ao interesse da coletividade. Caim sacrificando Abel; os descendentes de Noé querendo galgar o céu através da Torre de Babel; Moisés quebrando as Tábuas  da Lei diante do seu povo que, esquecido de Deus, materializava-se na adoração do Bezerro de Ouro; César, Napoleão, Hitler, invadindo terras de outros povos... tudo isso é demonstração e confirmação de que “materialismo não é novidade”. E benditos, pois,  são os homens que acreditam e fazem com que os outros acreditem na sobrevivência eterna do lado oposto: espiritualismo de Bondade, de Justiça, de Amor. ( 08-12-62)

O “mundo melhor” só virá quando a Honestidade, a Bondade  e a Justiça forem, não apenas virtudes, mas obrigações. De sorte que quem não as praticasse seria punido, na forma da lei. Nada de sonegação, nada de suborno, nada de enriquecimento ilícito, nada de protecionismo, nada de sinecura, nada de ociosidade, nada de logro, nada de falta aos compromissos, nada de descaso aos fracos, nada de indiferença aos necessitados. O governo arrecadando bastante e aplicando bem, faria sobrar recursos para toda a espécie de assistência, desde a criança ao velho, desde o analfabeto ao letrado, desde ao enfermo ao vigoroso, desde o consumidor ao produtor. E cadeia e vexame aos faltosos! ( 30-12-62)

Lamentações nada resolvem, mesmo quando feitas em estilo filosófico, por grandes inteligências. Mais certo seria propor ou executar medidas saneadoras. ( 30-12-62)