ANO DE 1964

Segundo Luiz  Carlos Prestes, Socialismo é: “a cada um, uma parte segundo sua produção individual”, e Comunismo, “a cada um, uma parte segundo sua necessidade”. Em ambos os casos, os excedentes vão para o Governo. Mas, digamos nós, não havendo democracia (isto é, “governo eleito pelo povo, liberdade de opinião e ação) não é possível a definição do que seja “necessidade”, “mérito” ou “excedente”. Só se o Bom Deus --- em quem os comunistas não creem ---marcasse com estrela na testa os super-homens para governá-los. ( 05-01-64)

Não se deve, de maneira peremptória e irretratável, combater ou destruir  as iniciativas ou obras alheias, ainda que imperfeitas ou incompreendidas salvo as imediatamente nocivas ao bem comum. Tivesse Bizet ( 1828-1875) inutilizado a partitura de “Carmen” --- por 19 anos repudiada e esquecida --- hoje estaria a humanidade despojada da “ópera perfeita”. E quantos ideais se perderam por esse mundo e tempos afora, diante da ingratidão, do despeito e da cegueira dos homens?! ( 05-01-64)

Não se justifica, em hipótese alguma, a Pena de Morte. Não se compreende como, em países onde as leis admitem a abominável punição, livrarem-se da pena capital os alienados, etc., embora bárbaros criminosos. Se os “loucos” são preservados, muito mais lógico seria poupar os “ajuizados”, que poderiam, com o tempo e por inspiração divina, reabilitarem-se. ( 05-01-64)

Criticar, lamentar o que de bom se deixou de fazer ou que de nau se fez, no passado, representa apenas lamúrias inúteis. O certo seria, com otimismo e firmeza, sugerir e por em prática medidas tendentes a melhorar e estabilizar a situação. ( 29-01-64)

Haja o que houver, a vida política e social da humanidade continuará sempre da melhor maneira possível. Também as águas das tempestades, uma tática de auto-determinação e acomodação, procuram as passagens mais adequadas para se escoarem em busca do oceano, onde todas as águas se encontram e se confundem. E as que ficarem empoçadas ou se infiltrarão no solo, ou se evaporarão. ( 29-02-64)

O oceano é a “melhor situação” das águas. ( 29-02-64)

Dia virá, graças a Deus e à consciência humana, em que a palavra “pobre” estará tão em desuso entre os homens, como hoje a palavra “escravo”. ( 12-03-64)

Pobres e ricos --- eis o problema. Os comunistas dizem-se defensores dos pobres. Os democráticos ( ou “imperialistas”) negam-se espoliadores dos proletários. Nos países comunistas todos são iguais, isto é, pobres. Assim neles existem os “pobres” e os “quase pobres” sendo estes os homens do governo. Nas outras nações, onde há o direito de propriedade, existem os “ricos”, os “menos ricos” e os “pobres”. Afinal, se a humanidade tem que marchar para um desses extremos que se escolha o da direita, que tem três alternativas. A do meio ( in medio virtus”, seria  a solução do problema. Ao invés de uma queda --- “pobres e menos pobres” --- conseguir-se-ia uma redução, cabendo, portanto, aos ricos, dentro de um esquema exeqüível, transformarem em “quase ricos” os proletários. Desse modo ficariam de um lado os “pobres e menos pobres”, e do outro lado os “ricos e menos ricos”. ( 21-03-64)

Os irracionais, agindo pelo instinto, assemelham-se a certos cegos que, tateando com suas bengalas, vencem pequenos obstáculos, desfrutando apenas daquilo que encontram pelo caminho. Faltam-lhes a inteligência para aproveitarem-se dos elementos naturais e artificiais, cada vez mais explorados pelos homens, que sabem aguardar o dia de amanhã. Imagine-se o que não seria um “sindicato de feras?! ( 21-03-64)

A criatura humana necessita de: 1) AR --- ao nascer receberá palmadinhas da parteira para começar a respirar; 2)ALIMENTOS --- ao primeiro dia de vida, ainda com os olhos fechados, abrirá a boquinha a procura de algo para chupar. Homem feito, ao raiar de cada dia, procurará alimentar-se ou, pelo menos, beber alguma coisa, antes de iniciar suas atividades; 3) PAZ --- deverá constituir família e viver em sociedade, para garantir sua sobrevivência. Precisará dar ou não retirar de seus semelhantes os meios para que também tenham paz. Do contrário haverá conflito, e portanto, cedo ou tarde, vencedores e vencidos, revezadamente... E, adeus ar, alimentos e paz. ( 21-03-64)

Ao analfabeto não pode ser tolhido o direito de voto numa democracia autêntica. O analfabetismo geralmente é produto da herança dos pais, como um atributo negativo. E os culpados por essa situação humilhante, em extensas áreas do Brasil, são os homens do governo, e também, por equidade e tácita indiferença, grande parte da classe burguesa. Não podem, por isso, reclamar os políticos e os temerosos neo-proprietários contra o perigo que o voto do analfabeto poderá representar quanto ao advento do comunismo --- regime odioso --- e que é, infelizmente, fruto do desamparo em que tem vivido essa classe de “desclassificados”. O melhor é atribuir o direito de voto aos “sem escola” e acelerar a alfabetização cristã das massas populares, fazendo-se agora à guisa de “remédio” aquilo que não se fez, até ontem, como “preventivo”. Mas é preciso agir rapidamnete, cabendo ao governo proporcionar instrução e justiça social, e aos homens entre si e principalmente  entre “grandes” e “pequenos” mais consideração e espírito de bondade, em nome de Deus. ( 22-03-64)

Reforma Agrária --- Os ditos: “ou trabalha ou morre”, “ou funciona ou emperra” e “ou consome ou perde” continuam em evidência. Portanto, as extensas áreas de terras férteis mas incultas, devem ser expropriadas em favor de quem deseja fazê-las produzir, com seu próprio trabalho. Os que receiam a desapropriação, que as façam frutificarem e permanecerão incólumes. ( 22-03-64)

Certas reivindicações de empregados --- tidos como incontentáveis e ingratos --- devem ser interpretadas como defesa de seus legítimos interesses. Os patrões --- que também defendem seus interesses  pleiteando e majorando os preços de seus produtos --- erram quando, aborrecidos com os pedidos constantes de revisão salarial, pretendem cortar benefícios, até então concedidos por “mera liberalidade”. Esses benefícios, verdadeiras ninharias se comparados com os ônus dos impostos e taxas pagos anualmente, não deixam de ser pequenos estímulos para que o seu servidor sinta-se como um bom colaborador, como em verdade deveria ser. ( 19-04-64)

Em matéria de “Boa Vontade”, “Solidariedade Humana”, “Desejo de Servir”, “Ser Útil” compreende-se a primeira oferta como um dever de cristão e a repetição do oferecimento como um gesto de nobreza. Lamentável é a omissão que se constata, às vezes, em pessoas que podendo ser, sem nenhum sacrifício, úteis aos seus semelhantes desviam-se deles causando-lhes, com isso, transtornos, padecimentos e até íntima revolta. ( 21-04-64)

Ir periodicamente a uma Casa de Oração produz duplo benefício: aproxima-nos mais de Deus, e, na contemplação daqueles inefáveis momentos, desprendidos dos afazeres e preocupações, podemos meditar sobre a vida. (  03-05-64)

Começamos a compreender que estamos ficando velhos quando formos aos casamentos dos filhos de nossos amigos e nos convencemos daquela dura realidade no momento em que os nossos familiares nos advertirem de que nossa idade nossas pernas não mais nos permitem irmos ao enterro dos nossos próprios amigos de infância... ( 03-05-64)

Comodismo e omissão são responsáveis por muitos erros que se praticam nesta vida. É preciso erguer a voz, alertar, protestar contra os enganos para poder iluminar, desobstruir os caminhos do futuro. São Paulo teve que ouvir a voz de Deus ( entre um relâmpago e um trovão) para retornar do caminho de Damasco! ( 10-05-64)

As más interpretações, incompreensões dos atos de quem quer orientar, para salvar, chegam ao paradoxo do pobre “herói” se condenado como o foi Tiradentes, que no seu tempo foi considerado, embora hipocritamente, “um escandaloso, um vilão, um traidor”. Jesus, como orientador, foi condenado à morte, e, ao milagre de descer da cruz, preferiu morrer como  homem, para que outros homens soubessem perdoar. Se, como Deus, ficasse incólume, seu feito seria hoje considerado como simples “mágica”, discutível. Mas, sacrificando-se como um homem ( “eles não sabem o que fazem”) fundou a religião cristã, eterna em todo o mundo, por todo o sempre. Quando da cruxificação de Jesus houve omissão, até sadismo, por grande parte do povo, que sabendo-o Deus, queria que Ele fizesse o seu próprio milagre, descendo espetacularmente da cruz. Mas Jesus, naquele momento, era homem, apenas filho de Deus, como todos os homens. ( 10-05-64)

A vida se divide em três tempos: Nascimento – Casamento – Morte.
O primeiro e o último, como extremos, independem, via de regra, da vontade dos indivíduos. O do centro, sendo o principal --- porque sobre ele deve-se meditar profundamente ---  é o ato mais importante que a criatura, expontaneamente, pratica na própria vida.
O casamento bom é a garantia das gerações futuras, um mundo melhor! O casamento sendo assim a regra, tem a confirma-lo o celibato e os padres e as freiras, que concretizam o seu matrimônio com um ideal sublime de renúncias e abnegações. ( 20-5-64)

Assim é a coisa. É só um pobre mortal ir a um médico e sair com recomendação para fazer exames gerais, para comentarem em tom de mistério: “... O homem deve ter uma doença muito grave!”. Se os exames incluírem o sistema nervoso, então dirão: “... deve estar ruim da cachola!”. Donde se infere que é preciso ter cuidado com os reflexos dos atos de que participamos, por vontade própria ou não. ( 16-07-64)

A importância e o mérito de uma pessoa não se mede pela sua fortuna, nem pelo seu saber, nem pelas suas andanças pelo mundo. Mede-se, isso sim, pelo que realizou em benefício de seus semelhantes, com os recursos de sua fortuna, do seu saber ou dos seus conhecimentos de viajor. Se não se expandir, a luz nada vale. Seria com a luz de certos pirilampos que, vagando pelo espaço, perde a luminosidade tão logo pouse alhures ou sinta a aproximação de alguém. Os egoístas são como caracóis que vivem só para si, quase sempre recolhidos dentro de suas próprias conchas... ( 20-09-64)

Os interesses e as necessidades dos homens é que os tornam submissos e covardes. ( 12-10-64)

Pode o assassino, arrependido, derramar rios de lágrimas e a família do morto mandar celebrar quantas missas quiser... a morte física está consumada! ( 12-10-64)

A miséria dói como o frio intenso... é uma espécie de gelo que dissolve a alma... ( 14-10-64)

A família é sempre a última a saber... das doenças e das traições que a rondam... Mas é quase certo que, pelo menos no caso das doenças, grande parte da responsabilidade disso cabe à própria família. Por medo da desgraça retarda conhecer a dura verdade... e omite-se. Quando o assunto prende-se a estranhos, o cidadão tem até volúpia em saber e propalar os mexericos.. Entretanto, quando lhe toca de perto faz-se de desentendido e passa ao largo... Como o mau pagador, cuja consciência lhe manda mudar de itinerário para evitar o vexame da cobrança... ( 16-10-64)

“Isso é assim mesmo... Será sempre assim... Não tem remédio...” Não! Não! Não! Devem responder os conservadores, os virtuosos, os abnegados! Se a decadência é grande, seria catastrófico se o comodismo, a omissão, a pusilanimidade tornassem apáticos os corações da maioria dos homens. Sentimos nas situações que nos cercam que sempre há alguma coisa de bom, de útil, de nobre a fazer. Se, pelo contrário, calássemos a voz e cruzássemos os braços, num indiferentismo amorfo, logo nossa consciência nos acusaria por termos cooperado para o rebaixamento da vida humana, com reflexo no círculo de nossas amizades, dentro do nosso próprio lar! ( 17-10-64)

Todo acontecimento, toda situação da vida humana é um degrau. Portanto, por mais dolorosa que seja essa situação é sempre um ponto de escala. Essa posição, que pode causar momentâneo desespero, deve ser encarada como intermediária e transitória, sendo possível, no futuro, advir novo fato capaz de modificar o gravame anterior, para pior ou melhor. Por isso são condenáveis as lamentações de alguns sofredores que se julgam vítimas do destino e que chegam ao extremo de clamar contra Deus. Não! Mesmo a morte que é o último degrau, deve encontrar de parte dos vivos, conformação nas orações, nas saudades, nas homenagens que merece quem teve uma existência útil, honesta e justa. Mesmo aquele que nada fez e apenas sofreu na vida deve ter a sua memória aureolada com a coroa atribuída aos mártires, pelos seus amigos, sobreviventes. Como não se deve fazer propaganda da própria felicidade --- que também é um degrau --- muito menos se deve fazer alarde da auto-desventura, isso porque o lamentador poderá arrepender-se, mais tarde, quando ainda nova e ainda mais dura provação poderá atingi-lo ou à pessoa se suas relações. Só a morte interromperá a relatividade dos degraus da sorte, e mesmo a morte, no seu fatalismo, poderá ser mais trágica e cruel a uns que a outros... Conformemo-nos, pois...
( 06-11-64)

Ser... ou não ser... (Shakespeare) ---  “Ser ou não ser... eis a questão!” Afinal, o que é mais nobre para a alma: a cabeça curvar  ante os golpes da fortuna, ultraje ou tentar resistir-lhe enfrentando em um mar de dor? Melhor seria morrer...talvez dormir...não mais que isso... E pensar que assim dormindo poríamos fim aos males do coração e as mil torturas naturais que são a herança da carne! Quem não almejaria esse desfecho com fervor? Morrer... dormir... dormir? Talvez sonhar!... Sim, nisto é que está a dificuldade: o não sabermos que sonhos advirão do sono da morte, quando nos livrarmos das aperturas da vida terrena... É esta idéia que nos preocupa, diante do infortúnio de nossos dias, e que torna nossa existência tão longa! Quem suportaria as flagelações e os escárnios do mundo... as injustiças dos mais fortes... os maus tratos dos tolos... a humilhação da pobreza... as angústias do amor contrariado... a insolência dos poderosos... as tardanças das leis... as implicâncias dos chefes...cuja inépcia desmerece nosso mérito paciente? Quem suportaria, com efeito, tudo isso se com um simples golpe de punhal, no peito, obtivesse sossego? Quem continuaria, gemendo, a carregar, suado, os pesados fardos da vida?... Só o receio do desconhecido, do além túmulo, região inexplorada donde ninguém voltou, receio que turva a vontade, e torna covarde a consciência... só esse receio é capaz de obscurecer os mais límpidos pensamentos e desviar de seu curso os mais enérgicos planos fazendo a ação perder o próprio nome. ( 09-11-64)

O que dá certo mesmo, é negócio certo! Coisa errada, só pode sair meio-certa se dela participarem só dois interessados. Intervindo mais gente é como a bilha que vai sempre à fonte: alguém descuida e um dia ela quebra. ( 10-11-64)

Ao “ passar para diante” uma notícia, um boato, devemos mesmo que ligeiramente, analisar o fato, sob pena de cairmos no ridículo, propalando absurdos... ( 05-12-64)

Se podemos ser tolerantes com uma pessoa que, por descuido ou burrice, nos causa prejuízo material, não devemos agir da mesma forma com a que nos furta, ou  ofende nossa dignidade, mesmo em parcela ínfima, sob pena de vermos o precedente frutificar, lamentavelmente para ambas as partes. ( 05-12-64)