ANO DE 1971

 

É uma felicidade para uma árvore ser frondosa e bela. Mas não será essa felicidade completa, se, além disso, não for boa e útil, assim reconhecida pelos  viandantes  que procuram  sua sombra amena para brigar-se  do sol, às vezes inclemente, e se, também, em sua ramagem amiga os passarinhos não vierem saltitar, cantarolar e fazer seus ninhos. ( 6-1-71)

 

Os negócios são realmente bons negócios se, além de bons, forem bonitos, isto é, que não tragam em seu bojo, má fé, fraude, sujeira por parte do ganhador... e que para o perdedor não represente, depois, também motivos de vexames e humilhações... ( 28-1-71)

 

Nesta época em que tanto se fala em comunicação quem quiser “dar o recado”, verbalmente, que fale com clareza e, conforme os ruídos ambientes, com voz alta e firme! Resmungos pelas costas do interlocutor, nada resolvem... ( 30-1-71)

 

Soneto

Afinal, o pobre homem descansa em paz;

Ei-lo, agora, mãos cruzadas sobre o peito,

Como quem, estendido em seu leito,

Invoca a última oração de que é capaz.

 

Que restam dos sonhos dos tempos de rapaz?

Das esperanças de quando homem feito?

Ele que almejou, quem sabe, ser perfeito,

Deixa seus humildes enganos para trás...

 

Incompreendido às vezes, mas nos instantes

Em que caminhou em sua austera trilha

Quis provar serem estes os anseios seus:

 

Bem querer e respeitar seus semelhantes,

Amparar e defender a sua família,

Ser justo com todos, no santo amor de Deus!

(14-2-71)

 

Para promover-se é preciso à criatura humana realizar cotidianamente acima de suas  obrigações rotineiras...mesmo que isso lhe custe espírito de sacrifício. As máquinas é que cumprem apenas  o que lhe é exigido... ( 7-3-71)

 

Existem três maneiras de apresentarmos defesa em face de acusações feitas por aqueles que analisam as nossas pretensas negligências: a) Razões: que definem honestamente os acontecimentos; b) Argumentos: que tentam justificar os fatos de maneira subjetiva; c) Subterfúgios: que buscam, com evasivas, deturpar a verdadeira feição da ocorrência ( 14-3-71)

Não deve ser vedada a permanência dos “hippies” nas praças públicas, como vendedores de bugigangas...Em todas as proibições discutíveis existem os que se arvoram em “defensores dos oprimidos”, atribuindo-lhes, em suas argumentações, virtudes nitidamente sofismáticas... O melhor é deixa-los perambularem por aí. Sempre existiu, no mundo, controvérsia sobre o bem e o mal... Há os que acreditam que determinados fins, são causadores de vícios e depravações ¾ verdadeiras lições ¾ e que alguns males trazem benefícios redentores... Entrementes, o alcoólatra, o toxicômano, o vagabundo, etc., entendem que, no seu “modus faciendi” é que são felizes... Maltrata-los, estupidamente, apenas agravaria o problema! O certo seria reeducá-los, recuperá-los, mas... Portanto, a presença dos “hippies” nas ruas e praças, também como espetáculo, teria talvez a probabilidade de por em brios a consciência dos chefes de famílias, que tratariam de bem procederem e melhor dialogarem com seus filhos e adolescentes, evitando que, por desajustes no lar, na escola, na sociedade, os  mesmos venham a preferir enveredar por incógnitos caminhos... ( 8-4-71)

 

Assim pensava o pobre homem: “Quero apenas ser justo! Se alguém afinal de contas, disser que também fui bondoso, algumas vezes, por causa disso agradecerei, de joelhos, ao Bom Deus, que quis conceder-me essa glória imerecida”. ( 22-5-71)

 

Devemos prestar atenção nas verdades nuas que as crianças dizem através de suas perguntas inocentes. Muitas vezes os adultos ocultam, por delicadeza e bondade, as nossas deficiências intelectuais e físicas e comentam depois, à boca pequena, tais anormalidades... Mas, as crianças, que tudo observam, com as suas indagações ingênuas, costumam, à queima roupa, desvendar segredos... e nisso fazem concorrência às pessoas chamadas “pobres de espírito”. ( 26-5-71)

 

Como o pêndulo de um relógio, que oscila para a frente e depois retrocede, em igual ângulo, para trás, assim deve ser também o homem que se valoriza em riquezas e posições sociais: conforme cresce em importância e evidência, deve curvar-se, com humildade, em atenções em favor dos que vão ficando do lado oposto... senão poderá perder-se na euforia da glória e da cegueira. ( 6-6-71)

 

Os líderes, isto é, os dirigentes de quaisquer entidades ou departamentos, sejam estatais, particulares ou associativas, que, por função de ofício, tem de contrariar, algumas vezes, as pessoas que lhe prestam serviço, colaboração ou assistência, são comumente vítimas de mal-entendidos e até intrigas, suportando depois os gravames e calúnias, pelo que disseram e pelo que não disseram, e pelo que inventaram que aconteceu... ( 27-6-71)

 

Antigamente as criaturas humanas se conheciam melhor, pois através de visitas recíprocas faziam um entrelaçamento de sinceras amizades. E muitas pessoas faziam as suas andanças a pé ou sentavam-se em cadeiras ou bancos colocados em frente de suas casas, onde vizinhos ou conhecidos paravam para “aumentar a roda”. Hoje, por causa dos programas de televisão ninguém visita ninguém; quando alguém sai de casa, o faz de automóvel, e com isso nem os vizinhos da frente ou dos lados recebem o “bom dia” amável, e todos culpam a velocidade dos tempos... ( 5-7-71)

 

Podemos não parar de falar no instante em que, alguém tenta, coincidentemente, falar ao mesmo tempo que nós... Mas, se não quisermos criar contrariedades, devemos, em seguida, assim que possível, fazer um parêntese, solicitando ao nosso interlocutor a gentileza de manifestar-se por completo. ( 22-7-71)

 

Cuidado com os bons! Não os afronteis abusivamente! Por trás da serena aparência de homens bons, tolerantes, estóicos, existem consciências alertas. E com o mesmo vigor, firmeza e impertubabilidade com que estendem as mãos em favor de alguém, poderão, num ranger de músculos, transformá-las em punhos agressivos! E todos sabem que não é fácil acalmar a “ira dos justos”! ( 3-8-71)

 

No mundo conturbado de nossos dias, quando a “revolução industrial” traz aos olhos de todos a situação de disparidade tão grandes, entre pobres e ricos, parece que o “hippies” querem dar o toque de compensação. Geralmente esses pobres moços são filhos de famílias burguesas, bem situados na vida, mas que por influências da escola, do meio social, leituras, observações e meditações próprias, de repente, fazem o “protesto”. E com a cruz de Cristo pendurada em colares exóticos, trajando roupas extravagantes, saem pelas ruas e praças exibindo pobreza, apatia, desmanzelo, num sinal de inócua revolta contra a guerra, contra as desigualdades sociais! Pobres jovens! Pobre mundo! ( 23-8-71)

 

Antes do advento da imprensa, do telégrafo, do telefone, do rádio, da televisão, etc. era a comunicação coletiva praticamente inexistente, precisando as notícias serem levadas através dos arautos das casa reais, ou transmitidas de boca em boca, à guisa de boatos, entre os elementos  do grande povo... Até então, as informações, por dificuldades de propagação, eram obscuras, confusas, gerando nas almas das criaturas, superstições e temores... Os propaladores de notícias contra os senhores do governo eram logo descobertos, presos, espancados, martirizados. Depois que Espinosa, Voltaire, Victor Hugo e outros líderes do humanitarismo ergueram suas vozes em defesa da instrução e da justiça social, os próprios líderes religiosos passaram a sentir que o verdadeiro cristianismo era o pregado pelo Evangelho de Cristo, cujas normas estão hoje, afinal, ao alcance de qualquer criatura, incutindo-lhe na alma o moderno conceito de que “a igreja sou eu”! Vagarosa mas implacavelmente vão se dissipando os preconceitos e superstições, criando-se, entre os homens uma conscientização capaz de, num futuro bem próximo, eliminar, da face da terra, insustentáveis diferenças de classe e de fortuna, que Jesus, há 2.000 anos, combateu dizendo: “Deixai vir a mim os pequeninos”, certo de que estes são os preferidos de meu Pai. (2-9-71)

 

Enquanto que os homens pobres podem dizer que, para sustentar a palavra empenhada, arriscariam a própria vida, os ricos podem se dar ao luxo de dizer, apenas, que preferem perder tudo o que tem, para não passarem por tratantes. ( 26-9-71)

 

Os que dizem que os problemas ( e atos) sexuais deveriam ser tratados com a mesma naturalidade com que são tratados os demais problema da vida animal, se esquecem que os homens são criaturas racionais, isto é, tem inteligência e por isso são diferentes dos demais animais, que nascem, vivem e morrem sem necessidade de higiene, de agasalhos e vestimentas, de alimentação amadurecida ou cozida, e os quais, ao final, insepultos são devorados pelos urubus ( 16-10-71)

 

Ao falar de sexo com o filho ou a filha adolescente e de outras questões do comportamento, usando e abusando da moderna fórmula de diálogo, os pais deveriam iniciar esse diálogo com três perguntas: 1) O que você acha da função animal do sexo? 2) O que você sabe existir de divino na ligação entre um homem e uma mulher através do sexo? 3) O que você sabe dos perigos do sexo? Em torno do assunto, a conversa deve ser mantida em lugar reservado, onde o diálogo possa prolongar-se pelo tempo necessário às conclusões, e num clima onde reine a máxima franqueza e lealdade. É que os costumes evoluem e, logicamente, o que era avançado para os pais, em matéria de procedimento dos casais de namorados, hoje, 20 ou 30 anos depois, aquele procedimento é considerado ingênuo e superado. Atualmente existe uma facilidade enorme para os jovens tomarem conhecimento das coisas, através dos livros, revistas, rádio, televisão, namoricos e bate-papos descontraídos,e ainda, em conseqüência do meio ambiente dos salões sociais e de espetáculos, passeios em automóveis  e andanças não-vigiadas... E quando os pais, ao tentarem, pela primeira vez, falar com os filhos sobre sexo, invés de darem orientação, recebem destes, muitas vezes, informações e relatos “prafrentex” que os deixam boquiabertos, diante de tanta surpresa e “perdição do mundo moderno”... Hoje existem métodos e recursos para tudo. E, na verdade, os filhos e filhas, na atualidade, sabem muito mais que os velhos pais em matéria de sexo... E daí? O mais prudente é começar o diálogo com perguntas complementares assim: “Por que?”, “Quando?”, “Como?”, “Onde?”... Só depois que os filhos se abrirem totalmente, em plena exposição sobre o que sabem, do que pensam e do que querem ainda saber, é que os pais devem começar a conversar dissimuladamente. Dizer logo no início; “isso não pode...isso não deve... isso não convém...isso não permitirei...”, não é diálogo, é apenas dar recados, fazer imposições. Jamais comunicabilidade entre criaturas humanas, entre semelhantes, pais e filhos. Pode até ocorrer que os pobres pais, do fundo de sua boa fé, simplicidade e alheiamento aos problemas do mundo moderno, venham ser taxados de ignorantes!... E para evitar que nesse tipo de diálogo, feito antes de um passeio ou depois de uma viagem em que o filho participou, haja estremecimento, é melhor primeiro conversarem sobre o assunto os pais e depois, os três em conjunto, fazerem a entrevista, tipo mesa redonda, e desse diálogo muita orientação útil poderá advir evitando-se assim os traumas, as incompatibilidades e desajustes, com reflexos negativos tanto no lar, como na sociedade, onde os jovens, isso sim, deveriam desfrutar de uma vida tranqüila e feliz. ( 16-10-71)

 

Refletindo sobre as ingratidões humanas... Não direi como Carrier, terrorista francês por cuja crueldade fora condenado à guilhotina, quando, vendo-se diante da máquina sinistra e no momento em que era apupado pela população, pronunciara este terrível desabafo: “Oh! Povo ingrato e vil, quanto me arrependo de vos ter servido!”. Não. Não cabe a comparação, mas lembrar-me-ei apenas do Divino mestre, que depois de doar todo o seu amor e sua vida em favor da humanidade, fora crucificado pelo seu próprio povo, apesar da opinião contrária do procurador romano, Pôncio Pilatos. Pedirei ao Rei dos Judeus, ao excelso Cristo que me dê estoicismo para raciocinar assim: Em vez de queixas, agradecerei ao Bom Deus por haver destinado a mim tão altos cargos e dar-me também a oportunidade de tentar ser útil aos meus semelhantes. ( 23-10-71)

 

Pouco adianta a um homem querer abraçar o mundo; o importante é que o tente com amor. ( 7-11-71)

 

Pessoas há que, estando ao lado de outras pessoas, após observarem uma situação ou participarem de um acontecimento, vão logo dando satisfações do que pensam sobre o problema, seu interesse, sua participação ou inserção de culpa, pouco se importando se o caso é de caráter público ou particular... Muitos afirmam que tal procedimento é próprio das pessoas ingênuas ou “pobres de espírito!”... ( 19-11-71)

 

Coincidência ou fatalidade... o fato é que muitas pessoas, exatamente quando anunciavam que, com a realização daquilo que consideravam um “quase sonho” dar-se-iam por felizes... logo em seguida são vítimas de uma frustração... Isso aconteceu com Moisés, quando do alto do monte Nebo, prestes a atingir o fim da jornada, sentiu manifestar-se contra si a vontade divina, impedindo-o de chegar a Terra da Promissão, a tão desejada Terra Prometida. ( 4-14-71)

 

“Contra a força não há resistência”, pelo menos de imediato, principalmente em se tratando de relação entre criaturas humanas: poderosos versus humildes. O que pode ocorrer é a força tirânica ir criando mágoas, focos de reação, aqui e ali, e a resistência em potencial começar a manifestar-se e, congregando-se, formar uma força ainda maior... Desse modo a reação-força poderá suplantar a antiga força já então decadente em valor e expressão. ( 12-12-71)