ANO DE 1977

 

Para o pai, com mais de 60 anos, o filho com menos de 20 anos, é ainda um moço inexperiente, quase uma criança, que passa correndo, vivaz, pelos acontecimentos dos dias atuais, sem perceber, sentir, estudar a sua gravidade...Para o filho, o seu pai já vai ficando para trás, no tempo,  detendo-se em preocupações, já agora, sem razão de ser... ( 17-1-77)

 

“Lembrai-vos de mim quando estiverdes no Reino de Deus...”disse São Dimas, o bom ladrão, a Jesus Cruxificado. E o pobre homem pergunta: O que é estar no Reino de Deus? Deve ser, estar a criatura humana com a alma em plena graça. São Dimas foi paciente e devoto quando disse: “Lembrai-vos de mim...”em vez de “salvai-me”, certo que se referia à vida eterna e não mais à vida terrena. Feliz aquele que no momento extremo, puder dizer ou deixar dito aos seus amigos: “Lembrem-se de mim em seus momentos de graça, em suas orações, isto é, quando seus pensamentos estiverem em pleno Reino de Deus”. Apenas isso. E essa seria a maior glória para quem teve longa vida: poder pedir, ao final, alguma paga àqueles em cuja familiaridade conviveu, e aos quais tanto amou. ( 4-2-77)

 

“Comece em sua casa”. Que bom se os filhos começassem a perguntar: “Papai... mamãe... vocês querem conversar comigo? Tem algo a dizer-me?” Isso seria realmente, começar em casa! Nas, infelizmente, o costume é acontecer o contrário: os pais teriam muito que falar, que aconselhar, mas os filhos não tem prazer ou tempo de ouvi-los, a insistência dos “velhos” acaba adquirindo ares de chatice e impertinência,,, ( 25-4-77)

 

Na vida, de previsto e definitivo, só existe a morte. O mais é tudo indeterminado, aleatório, misterioso... Assim, toda a criatura deveria bem refletir e criteriosamente proceder, como quem pretendesse, ao partir para o além insondável, deixar, sobretudo, realizado um sublime ideal: boa reputação entre os justos, seus conterrâneos, ( 8-5-77)

 

Lógica e Ética ¾ “Contra a força não há resistência” porque, conforme a resistência aumenta, a ela se sobrepõe a força... “ O coração tem razões que a própria razão desconhece. Assim, o pensamento do homem ¾ ou seja, o seu coração, a sua consciência, a sua lógica, a sua ética, o seu bom senso, o seu critério, etc., etc. ¾ quando amparado e impulsionado por escusas razões, usa e abusa de argumentos inaceitáveis e incompreendidos pelos seus semelhantes... Restaria , para os que crêem, como nós, na sobrevivência da alma, apenas o seu julgamento pela justiça de Deus. ( 19-6-77)

 

Um dos muitos defeitos do pobre homem e que ocasionava a aquisição de adversários gratuitos ( inimigos, talvez não) era o de logo dizer “não”, quando percebia que deveria dizê-lo depois, ou ainda em oferecer de pronto, apoio a quem estivesse, aparentemente, sendo prejudicado por outras pessoas, nem sempre tidas como bem intencionadas , embora importantes... ( 10-7-77)

 

Parte de nossa contestação deve ser suprimida toda vez que, ao final, o inglório êxito de nossos argumentos vier a significar desmentido ou frustração para a outra parte e nela estiver colocada pessoa de nosso próprio lar e a quem temos o dever de poupar dissabores... ( 14-8-77)

 

Toda criatura humana, ativa e responsável, tem  a sua frente três grupos de pessoas: (I) no centro, o grupo maior, formado pelos desconhecidos e indiferentes; (II) à direita o grupo familiar, social e amigo e (III) à esquerda, o grupo dos que, geralmente, sem motivo, lhes fazem restrições e, evitando diálogos, tentam agredi-la pelo lado do seu coração, porque temem o seu olhar, as suas palavras, o seu braço, o seu ponta-pé! ( 18-9-77)

 

O sorriso ¾ Sorria sempre! Não existe no mundo ninguém, por mais feliz ou infeliz, por mais rico ou mais pobre, que não possa distribuir ou receber um sorriso. “Quando você nasceu todos sorriam; apenas você chorava. Assim, agora procure viver de tal maneira que quando você morrer, invertam-se os fatos: todos seus amigos chorem e só a sua consciência, junto de Deus, tenha motivos para sorrir” ( 10-10-77)

 

Não é justo que o homem seja, simplesmente, bom. Bom mesmo seria se o homem fosse, sobretudo, justo. O primeiro julgamento sobre Jesus, após a sua morte, foi feito por um humilde centurião romano que, vendo-o expirar, disse: “Na verdade, este homem era um Justo” ( Lucas 23, 47) ( 13-11-77)

 

A própria natureza, ou o Bom Deus como cremos nós, vai preparando por meio de pequenos sinais ( reflexo mental retardado, amnésia, surdez, cegueira e outras debilidades físicas) vai preparando, repetimos, a criatura humana a aceitar o fim que se aproxima... e  isso pressentem  os que nos rodeiam, antes mesmo do que nós, através de nossas palavras, de nossos atos, de nossa aparência. ( 18-12-77)