ANO DE 1978

 

Perguntas... ¾ Você está sendo, na vida, um homem de pensamento, isto é, escritor, poeta, compositor, jornalista, filósofo?; ou um pintor, desenhista, escultor, músico, cantor, esportista; ou um cientista, descobridor, inventor, incentivador de causas justas e benfazejas?; ou um político de procedimento honesto e abnegado, renunciando às vantagens pessoais?; ou pertence a uma associação de filantropia e é ativo em obras de justiça e bondade?; ou praticou ação altruísta e até heróica em defesa do seu semelhante necessitado ou em perigo?; ou é propagador de normas de sabedoria e humanismo, segundo a moral cristã e de outras crenças puras? Se você respondeu “não” a tudo isso e quejandos, então sua vida, ao final, será considerada inútil e após a sua morte você será logo esquecido... não obstante sua notoriedade e até os títulos nobiliárquicos que, em decorrência de sua posição social ou de fortuna, granjeou ou lhe foram adulatoriamente atribuídos. ( 15-1-78)

 

Para ser bom negociante ou administrador de uma empresa, bastariam bastar três predicados ao candidato: (I) Conhecer a qualidade; (II) Avaliar o preço e (III) Ter certeza dos recursos com que poderá contar. Assim estará prevenido contra a fórmula simplista de comprar barato a coisa de valor inferior ou de não ter meios para cumprir ou desfazer-se de transação que, em princípio, era “ótima”! ( 6-2-75)

 

O valor da, ou a coisa emprestada, você pode pagar ou devolver; mas o favor do empréstimo você pode, no máximo, agradecer. ( 18-2-78)

 

Para um homem que, desde criança, sempre agiu impecavelmente e já na idade madura depara, em seu caminho, com um jovem à beira do abismo ou com uma criatura em desespero, que diferença faria, para o mesmo, ser omisso pela primeira vez ou bondoso como sempre? A omissão seria uma falta grave, ainda que pela vez primeira! Então... Nunca ninguém está só. Sempre haverá mais alguém que, convocado ou não, há de praticar uma boa ação. Simão Cirineu foi intimado pelo centurião romano a ajudar Cristo carregar a sua cruz... e, se o fez com boa vontade, hoje, certamente, continuará no Reino dos Justos! ( 19-3-78)

 

Tem vez em que é bom apareçam nuvens cinzentas, tanto no céu como na vida dos homens, para que estes se lembrem que, acima de tudo e de todos, existe Deus! ( 9-4-78)

 

Governo no indivíduo; Governo na família; Governo na empresa; Governo na sociedade; e Governo no governo. Quando esses cinco governos forem desempenhados com honestidade, trabalho, sabedoria, eficiência, perseverança, tolerância e fraternidade e em que fique comprovado, sobretudo, o desejo de assegurar a própria sobrevivência através da sobrevivência dos demais membros de suas comunidades, então o decantado “mundo melhor” estará, certamente, sendo concretizado. ( 7-5-78)

 

Infelizmente existem pessoas que, quando contrariadas em seus interesses pessoais, muito se assemelham aos que, tendo seu espírito perturbado pela ingestão excessiva de álcool, desnudam sua verdadeira personalidade, não tão nobre e criteriosa como a maioria vinha acreditando... Daí, o conhecido brocardo latino: “In vino veritas”. ( 25-6-78)

 

As pessoas que tem o hábito condenável de criticar a tudo que vêem ou ouvem, bom seria que, pelo menos, às vezes, se fizessem passar por mudas... ( 8-7-78)

 

Existem pessoas que se fazem antipáticas e inacessíveis, por absoluta falta de psicologia e cordialidade; dão até a impressão de que não gostam de ser cumprimentadas. Quando deparam com outras criaturas, não incluídas em suas reconhecidas relações de parentesco e amizade, disfarçam e voltam o rosto, como que imperceptivelmente... É pena! ( 22-8-78)

 

Não é justo nem honesto o costume que certas pessoas tem de dar méritos somente ao que de bem sucedido os estranhos executam ou dizem executar... Acontece que esses censores maldizentes ignoram quantas lutas e fracassos tiveram antes os paradigmas dos hoje exaltados como exemplo de perfeição... Isso, quando, em verdade, tais sucessos não passam de boatos a aureolar efêmeras experiências... ( 3-9-78)

 

Do mesmo modo que os pais não concordam que estranhos batam em seus filhos travessos, ainda quando estes o mereçam em face de ofensas dirigidas à outra parte, também os familiares não aprovam que os atos condenáveis praticados pelos seus membros, embora públicos e notórios, seja propalados por aí. Salvo prisão em flagrante, quando, ainda assim, a polícia será considerada “precipitada e arbitrária”, nas demais hipóteses, a família exige e jamais perdoará se os seus comentários forem levados avante sem a necessária precaução, conforme o recomendado brocardo popular: “Roupa suja se lava em casa...” ( 24-9-78)

 

Agora, já vivendo os primeiros momentos do meu sexagésimo sexto ano, é de meu desejo e dever: (I) Rogar ao Bom Deus proteção, sobretudo, para os meus dias futuros, prometendo-Lhe dedicar o máximo da minha capacidade de trabalho visando o bem estar de minha querida família; (II) Reconhecer que é bom ¾ não obstante a minha razoável disposição física e mental em participar de atividades associativas externas ¾ delas ir-me afastando, poupando assim aos meus amigos a obrigação de, a isso, brevemente me aconselharem ou exigirem; (III) Começar a dar prioridade a atividades em prol de obras filantrópicas, em especial em favor das crianças  e idosos, paralelamente aos meus trabalhos administrativos, os quais ainda são úteis e convenientes a minha saúde e minha manutenção; (IV) Reiterar minha confiança em Deus e em minha família, esperando que suas bênçãos e proteção amparem os meus pobres dias neste final de caminhada terrena. ( 13-10-78)

 

Analisando certas reuniões em que o insignificante comparecimento dos interessados deixa a impressão de um injustificado menosprezo, chega-se finalmente à conclusão de que a responsabilidade por tais insucessos é devida a falta de trabalho de liderança de seus organizadores. Em todos os empreendimentos em que devam participar várias pessoas existe sempre um líder, seja ele chefe, gerente, diretor, comandante ou simples encarregado e este deve, antes da reunião, tenha havido ou não convocação por escrito, fazer chegar ao conhecimento dos demais, novos lembretes, fazendo-os sentir a importância de suas presenças. Senão, depois ficarão as queixas que nada constroem... ( 19-11-78)

 

Colaboração-Protesto enviada ao jornal "O Estado de São Paulo" e publicada na COLUNA DOS LEITORES em 19 de novembro de 1978 ¾ OS DIREITOS MENOSPREZADOS ¾ Sr. Redator. O Sr. F., Rio de Janeiro, ( o Estado 19/11/78) lembrou que os últimos escândalos financeiros acobertados pelo GOVERNO, custaram 50 bilhões de cruzeiros, mais de duas mil vezes o prêmio da loteca, ganho por um de seus recordistas... Sabe-se que daquela  gigantesca importância, ou 5 milhões de cruzeiros foram desviados na famigerado desfalque do "Adubo-papel", e que respeito aos Direitos Humanos, os nomes dos envolvidos no vultuoso escândalo vem sendo sonegado ao conhecimento da imprensa. Sabendo-se que  também que a grande prejudicada foi a sofrida agricultura brasileira, não podemos deixar de denunciar um fato em que  os "direitos humanos" de um humilde lavrador, autêntico "boia-fria", nosso empregado agrícola, deveriam e não foram acolhidos e respeitados pelo Funrural ou seus prepostos. A empresa agro-industrial  da qual somos diretor recolheu ao Funrural, no trimestre julho/setembro de 1978, mais de um milhão e seiscentos mil cruzeiros, referentes a 2% de taxa fixa e 0,5% de seguro de acidentes do trabalho, sobre o valor dos produtos agrícolas vendidos ou industrializados, o que resulta a média mensal superior a Cr$ 533,00. Repetimos que 20% desse total foram pagos a título de "seguro do trabalhador rural". Vamos ao fato: um nosso trabalhador agrícola foi vítima de uma queda acidental no dia 20/10 e, na mesma sexta feira atendido no hospital de Rio das Pedras e constatada fratura do maxilar inferior foi transportado para o hospital de Rio Claro, distante daqui mais de 50 ( cinquenta) quilômetros. A nossa ambulância, transportando o acidentado, teve de passar pela vizinha cidade de Piracicaba, distante apenas 14 quilômetros ( onde existem uma santa casa, três hospitais e um sanatório) e rodar mais 36 quilômetros para chegar ao hospital de Rio Claro que mantém convênio com o Funrural! Lá chegando, ao em vez de ficar internado sob cuidados médicos enquanto aguardava a intervenção cirúrgica, o pobre lavrador foi mandado de volta, pela mesma ambulância que o levou, com recado para voltar na próxima segunda feira, dia 23, três dias depois, para ser operado. Com uma paciência de santo, o pobre homem aceitou a recomendação e regressou à fazenda onde mora, aí ficando esses três dias sem poder alimentar-se, só ingerindo líquidos, com dificuldade até para falar. Na recomendada segunda feira, nova via-crucis: a ambulância foi buscá-lo na fazenda, passou por Rio das Pedras, por Piracicaba, chegando ao hospital em Rio Claro logo pela manhã... lá ficando pelos corredores até 5 horas da tarde, quando foi finalmente informado de que não mais seria operado, simplesmente porque aquele hospital não possuía em seu corpo clínico um cirurgião especializado para tal intervenção. Foi-lhe então dada uma guia de transferência para outro hospital que também mantinha convênio com o Funrural, agora na vizinha cidade de Piracicaba. E até aí o pobre operário estava sem o mínimo tratamento, nem mesmo uma simples injeção...Sendo já quase noite, voltou a ambulância trazendo o paciente para Rio das Pedras ( novamente 50 quilômetros) para, na manhã seguinte procurar o hospital indicado em Piracicaba. Mas nem desta vez obteve sucesso, porque o cirurgião dentista contratado pelo Funrural em Piracicaba informou que não podia realizar a operação porque estava com viagem marcada a fim de comparecer a um congresso médico em Curitiba. Como solução do problema sugeriu fosse o acidentado procurar um médico particular ( e indicou um nome) e lhe pagasse os honorários... isto caso não pudesse esperar mais seis dias quando voltaria do paraná. Aí então seria dia 30, dez dias após a ocorrência do acidente. E o pobre homem sofrendo dores e sem poder alimentar-se, como já dissemos! Diante de tão absurda e desumana sugestão ( esperar mais seis dias) deliberamos imediatamente autorizar os honorários médicos por conta de nossa empresa, não obstante o acidentado achar-se "amparado" junto ao Funrural por uma apólice de seguro contra acidentes de trabalho. Não podendo conter a nossa justa indignação, enviamos no mesmo dia 24 um memorial em cinco (5) laudas, tamanho ofício, ao diretor do Fundo Rural de Assistência ao Trabalhador Rural ¾ Funfural ¾ lamentando o inacreditável acontecimento e relatando outros fatos de interesse dos lavradores de Rio das Perdas e cujas soluções esperamos sejam encontradas. Em conclusão, perguntamos: os direitos humanos de um pobre lavrador estão assim menosprezados que ¾ ao contrário dos "respeitáveis" envolvidos no escândalo do "Adubo-papel" ¾ mesmo pagando taxas de seguro não devam ser respeitados? L. A. Barrichello - Rio das Pedras.

 

Existe apenas uma eternidade aceita por todas as criaturas humanas, desde as mais sábias às mais ignorantes: a eternidade das artes! ( 17-12-78)