ANO DE 1979
“Ninguém
é perfeito em tudo, nem durante todo o tempo”, disse-o, já, alguém... Como
criatura de Deus, feito a sua semelhança, nem poderia o homem ser-lhe igual ou
cópia autêntica; senão logo se ergueria como seu concorrente, depois como
possível adversário e inimigo e chegaria, fatalmente, ao paradoxo de pretender
suplantar o próprio Criador. ( 7-1-79)
Força é
força ¾ A revolta popular é, em
verdade, impressionante mas se por trás e depois à frente não houver apoio
militar, progredirá até que os detentores do poder, “explicando” à opinião
pública de que precisaram usar de violência policial, para conter o avanço das
ideologias extremistas, espúrias e subversivas, que visavam, com a ajuda de
“potências estrangeiras”, perturbar os gloriosos destinos da pátria...
Portanto, havendo desmando e corrupção por parte dos governantes da nação, o
“povo” ( pelo “povo”) depois, quando puder contar com o indispensável e
ostensivo apoio da maioria das forças armadas, sairá às ruas e pedirá,
“democraticamente” a derrubada do governo. ( 18-2-79)
Qualquer
pessoa que se preza com ativa e inteligente, sempre poderá fazer “algo mais” em
sua vida. Pelé e Roberto Carlos poderiam ter-se fechado em suas glórias de
campeões, desfrutando apenas dos louvores e homenagens que os seus admiradores,
aos milhares, não se cansam de lhes proporcionar. Pelé, ao marcar o seu
milésimo gol, no estádio do Maracanã superlotado, num momento de supremo
esplendor em sua carreira esportiva, invés de erguer os braços e receber as
ovações da multidão delirante, apenas pegou a bola e beijando-a ( quem viu
jamais esquecerá!) disse chorando que dedicava aquele milésimo tento a todas as
crianças pobres do Brasil! Igualmente, Roberto Carlos há pouco ao patrocinar a
campanha de abertura do “Ano Internacional da Criança” e o “Ano Um da Criança
Brasileira”( 1979) deu um tocante exemplo de “algo mais” que ele, não obstante
sua imensa popularidade, quis fazer em favor de humildes crianças brasileiras,
comandando por 24 horas ininterruptas, a inesquecível programação da “Globo”.
Todos, desfrutando de saúde de espírito e corpo, temos momentos de bem estar ¾ e todo dia é um momento de glória ¾ e assim qualquer criatura está apta a realizar “algo
mais” em benefício de alguém e, afinal, de si próprio. ( 4-3-79)
Se o
homem tiver de lutar e muito para defender a sua honra, é preferível que,
nesses infindáveis embates, venha a perder a própria vida. Porque se deixar de
lutar e depois vier a perder aquilo que tem de mais sagrado ¾ a dignidade ¾ e se
conformar em não retornar à luta, de certo sentirá, mais tarde, quanto
inglórios e vergonhosos foram seus pobres dias na face da terra. ( 15-04-79)
Ainda
que todos se voltem contra nós, mas tendo Deus em nosso coração, teremos no
momento extremo, a consciência bastante tranqüila, para podermos repetir as
palavras do Divino Mestre: “Perdoai-os, Senhor, porque não sabem o que fazem” e
“Em vossas mãos entrego a minha alma”. ( 19-5-79)
Minhas Crenças ¾
I) Creio em Deus II) Creio em dois
Céus: no primeiro, de que nos fala a Bíblia e do qual muitos duvidam; e no segundo, que todos devem respeitar,
constituído pela consciência do Povo, que o concede ou o nega a cada um,
segundo o seu procedimento durante a vida terrena. III) Creio nos milagres do
amor: do amor de todos os amores, do amor sublime entre os homens, criaturas de
Deus; do novo amor, que se inicia quando a jovem mãe sente pulsar em seu seio a
vida do filhinho querido; do amor verdadeiro que sente o pobre velho quando,
nos seus últimos momentos, deseja ter em torno de si todos aqueles a quem
sempre trouxe em seu coração. IV) Creio
nos milagres da Humildade que faz o homem reconhecer no seu próximo um seu
semelhante e, por isso, infunde em seu coração o desejo e o dever de
dispensar-lhe fraterna e até abnegada consideração. Humildade que impõe ao
homem teimar apenas sobre aquilo que sabe; não sonegar aos outros o que sabe e
lhes é útil; confessar sua ignorância e perguntar, inclusive às criaturas mais
simples , sobre o que tem obrigação ou necessidade de saber. V) Creio nos milagres do Trabalho, honrado e
perseverante, que, se antepondo ao desânimo, produz benefício a quem o executa
e, ao mesmo tempo, extensivo aos seus próprios entes queridos, membros da
comunidade universal. VI) Creio nos milagres da Honestidade, que desde os primórdios
da criação do homem, vem sendo exaltada nas páginas da história, quanto aos que
a praticam com nobreza e sinceridade. E há de continuar representando na
existência de cada um, para a própria consciência, supremo conforto, ainda que
as calúnias e as mentiras humanas pareçam deslustra-lhe a reputação. VII) Creio nos milagres da Renúncia, que faz
a pobre criatura tolerar e perdoar as ingratidões humanas, ainda que não as
possa, voluntariamente, esquecer, talvez assim evitando sua maldosa reincidência;
creio na renúncia de que nos o Divino
Mestre: “Ao que lhe disputar a túnica, cede-lhe também a capa’ ( Mateus
5:40). VIII) Creio nos milagres da
Bondade, que começa com um sorriso e termina com uma lágrima, bondade que torna
melhor o nosso mundo interior e procura levar a possível felicidade ao mundo
dos outros; bondade que é luz, calor, amparo, caridade, amor e que, em certos
momentos, encherá nosso coração e emoção e nossos olhos de lágrimas, quando a
dor, às vezes sem remédio, atingir vidas e coisas criadas por Deus para o bem
estar da coletividade terrena. IX)
Creio nos milagres da Justiça, aureolada pela bondade cristã que, em nome da
verdade, sem omissão e com honradez, procura exaltar a virtude e condenar o
vício, infundido nas criaturas humanas fé e confiança no futuro,
assegurando-lhes a proteção necessária e sã liberdade em suas andanças por este
“vale de lágrimas”. X) Creio, de novo,
agora e sempre, em Deus, na sobrevivência da alma e na vida eterna, onde
estarão juntas as pobres criaturas humanas que tanto se amaram neste mundo. (
12-6-79)
Testemunhos
¾ 1) Passei a considerar-me
um homem totalmente realizado, quando, em 1951, nascia o quarto ( 24.10.51) dos
meus queridos filhos, frutos de um matrimônio abençoado por Deus. Por
coincidência, nesse mesmo ano (
12.10.51), os planos de instalação da “sonhada usina de açúcar” em Rio das
Pedras, começavam a se tornar realidade. 2) Eu me lembro, devia ter então cerca
de 5 anos, que tendo sido acometido de uma erupção de pele, denominada
“cobreiro”. A enfermidade que se iniciara nos pés, já ameaçava atingir o
ventre, certa manhã reuni todos os santinhos que minha irmã Mariquinha me dava
e o que havia ganho nas aulas de catecismo e... quase chorando, beijava todas
aquelas lindas figurinhas de Menino Jesus, Nossa Senhora ( e Aparecida), São
José, Santa Terezinha e outros santos e pedia que não permitissem a minha morte
visto que desejava, quando crescesse, escrever um livro sobre a vida!... E
hoje, aos 65 anos de idade, eu me pergunto: terei cumprido, em inexpressiva e
pequena parte, aquelas promessas de criança inocente, rabiscando ou
transcrevendo estes pobres pensamentos, nestes três cadernos? Queira Deus que o
título “A Vida...O Mundo...”, escrito há 32 anos atrás, não tenha sido muito
desmerecido...Não posso deixar de mencionar aqui e render uma singela homenagem
a “velha Maguarecci” que, com seus benzimentos e tinturas, também colaborou
para deter o avanço daquela enfermidade. ( 13-6-79)
Homem
medroso é aquele que não sente o apoio de sua consciência, não está amparado
por medidas de boa organização e, finalmente, não dispões de meios de defesa,
própria ou advinda de amigos. ( 24-06-79)
Muitas
vezes, quando é levantada uma acusação improcedente contra uma pessoa, esta
prefere calar, certa de que, guardando silêncio, depois, tida como “condenada”,
terá direito à cessação dos debates... sobre um doloroso assunto, sobre o que a
própria consciência não ignora ou ignorou, um instante sequer, tratar-se de uma
simples e inglória calúnia, que mais horas ou menos horas, será desfeita,
naturalmente, como uma disforme nuvem no espaço...( 16-7-79)
Quando
criança achávamos que seríamos muito
felizes se conseguíssemos determinadas coisas ¾
doce, brinquedo, relógio, roupa nova, passeio ¾
de que queríamos desfrutar. Era a felicidade proporcionada por outras pessoas,
portanto vinda do mundo exterior, efêmero. Depois, moço e já adulto, sabendo
sentir os enlevos do espírito, quando a nossa consciência passou a censurar ou
aprovar nossos atos, aí então a felicidade passou a brotar do nosso coração...
sentindo-a mesmo nos momentos em que a dor tomava conta da nossa alma, pois,
comovidos, constatamos que ainda, nesse transe, poderíamos fazer algo para
trazer um pouco de conforto para os que nos rodeavam. ( 26-8-79)
A morte,
para os que, como criaturas de Deus crêem na ressurreição e no reencontro, deve
ser interpretada apenas como um caminho de volta ao Criador. ( 20-9-79)
Viajando
pela Espanha, Itália e Israel, verificamos que esses países, na parte da
agricultura, embora a topografia e o solo sejam, em qualidade, piores que as do
centro-sul do nosso querido Brasil, fazem verdadeiros milagres, através,
principalmente, da mecanização e irrigação. Mas, com relação aos salários e,
por isso, poder aquisitivo dos trabalhadores desses países, a disparidade então
é muito mais gritante: o salário mínimo é 4 a 6 vezes maior que o nosso e não
passam desapercebidos, ao mais humilde observador, o bom gosto e o luxo com que
o povo, na sua quase totalidade, exibe-se nas ruas e praças, em matéria de
roupas e agasalhos. ( 4-11-79)
Ouvimos
tanto e tantas vezes queixas sobre o procedimento de pessoas que só fazem
donativos aos necessitados ¾
adultos e crianças ¾ com
festinhas, brinquedos, agasalhos, mantimentos, etc., por ocasião do Natal...
que chegamos a ter sérias dúvidas sobre a legitimidade ou não de tais
críticas... Mas, depois, chegamos à conclusão, louvado seja Deus, que melhor
seria que tais reclamantes agradecessem, sinceramente, aos que fazem tais
generosidades, pelo menso uma vez ao ano, certo que há os que nada fazem, anos
e anos, e entre estes podem estar, embora poucos, aqueles que só sabem
criticar... ( 30-12-79)