ANO DE 1981

 

Guardar dinheiro, a juros, em bancos não tem sido bom negócio. Quem guardou nos últimos 50 anos, que bem me lembro, ganharia muito mais se tivesse adquirido bens de raiz, principalmente terrenos em municípios progressistas. E como a história se repete, hoje ainda, não obstante as altas taxas da caderneta de poupança, etc., continua sendo melhor aplicação a compra de imóveis, nas periferias das cidades. ( 18-01-81)

 

Os homens de negócio, por conta própria, ou diretores de empresa, costumam ter ao seu redor, auxiliares que, possuindo algum estudo, exercem função de verdadeiros administradores, de tal modo que merecem salários acima dos simples funcionários rotineiros. Possuindo bom senso e psicologia comercial, tais colaboradores fariam fortuna se trabalhassem em atividades de exclusivo interesse. Por isso merecem remuneração suficiente para deixar alguma sobra, que poderíamos chamar de lucros, a que fazem jus as criaturas trabalhadoras, cordiais, justas e inteligentes. ( 18-2-81)

 

Era uma vez um menino, de nome Joãozinho, que morava num sítio bem arborizado, perto da cidade. Como qualquer criança residente na zona suburbana, o menino possuía algumas gaiolas com pequenos pássaros. E numa manhã, enquanto Joãozinho tomava café com leite na cozinha de sua casa, estando a janela aberta, ouviu um canto novo de passarinho e, saindo fora, viu um pintassilgo solitário que, num galho alto da laranjeira trinava alegremente, dando bem para ver o seu bico entreabrindo-se enquanto movia a cabecinha para os lados. Nas manhãs seguintes o pintassilgo voltava a cantar na mesma laranjeira e tão lindo eras seu canto que Joãozinho perguntou ao pai como fazer para caçá-lo e assim poder, dando-lhe alpiste e água limpa, nos dias seguintes, ouvir o seu lindo canto, em companhia de seus amiguinhos. E, tendo feito como seu pai lhe ensinou, depois de prender o passarinho no alçapão, transferiu-o para uma gaiola nova, na qual havia colocado antes uma vasilha com alpiste e outra com água limpa. Mas.. o pobre pintassilgo não cantou mais, nem mesmo quando, a conselho do pai, a gaiola era pendurada num galho daquela laranjeira perto da cozinha. Às vezes, antes de recolher a gaiola para dentro da casa, a hora do crepúsculo, Joãozinho tinha a impressão de ouvir seu querido pintassilgo cantar baixinho, sem se mexer, dando a impressão de que estava dormindo... Mas, ao mais leve ruído de sua aproximação, o pássaro estremecia e, a partir daí, só se ouvia nas árvores vizinhas o piar de outros passarinhos que procuram abrigo nas ramagens. Então Joãozinho recolhia a gaiola e na manhã seguinte a recolocava no galho da laranjeira, sempre com esperança de que, ali, o seu passaria voltaria a cantar... Os dias foram passando e numa tarde Joãozinho se esqueceu de recolher a gaiola, e na manhã seguinte, com muito remorso e tristeza em seu coração, verificou que o pássaro havia desaparecido da gaiola e achado até que o malvado gato do vizinho o houvesse devorado... E a gaiola ficou vazia muitos dias até que numa bela manhã escutou novamente, partindo daquela laranjeira o canto de outro pintassilgo, tão afinado e forte como o do que estivera preso por poucos meses. E sentiu em seu coração o desejo de armar de novo o alçapão para caçá-lo, como fizera com o que havia desaparecido, Quando isso aconteceu verificou por uma verruga que possuía na perninha esquerda que era o mesmo pintassilgo e também porque ao ser colocado na gaiola não se debateu, como fazem os pássaros recém capturados. Era igual em tudo, apenas com a cabecinha mais preta, concluindo assim que efetivamente era o mesmo. Mas, infelizmente, não voltou a cantar, como fazia até há poucos dias, quando empoleirado no galho da laranjeira. E o pai, vendo o Joãozinho tão triste com isso, deu-lhe este conselho: “Solte-o, pois a falta de liberdade, ou seja daquilo que deseja, tira-lhe a alegria e a vontade de cantar. Com as criaturas humanas também acontece o mesmo quando lhes falta alguma coisa agradável, com a qual conviveram muito tempo, perdem a inspiração e o desejo de demonstrar alegria”. E o autor dessa humilde história continuava meditando: “Não serão os meus pobres livros , que ficaram em Rio das Pedras, na chácara, uma espécie de arvoredo, onde minhas idéias gostariam de, novamente, beber inspiração e respirar liberdade de meditação?” ( 22-3-81)

 

Somente em 1970, mais ou menos em março, depois que adquiri um Dodge-Dart modelo novo, um dos primeiros que foram expostos no salão de vendas de revendedor local ( Piracema). É que comecei a perceber, entre alguns velhos conhecidos,  a atribuição de relativo prestígio pessoal e então fui convidado, pela primeira vez,  depois de quase quinze anos ( 12-01-56) de Lions Club Piracaba-Centro, a ocupar um cargo de Diretoria ( 2º tesoureiro). E percebia que, em verdade, o “Zé-povão” prestava mais atenção em um Dodge-Dart-70 do que em mim próprio e foi a partir daí, associando minha pessoa, meu nome, como “dono do carrão novo”, é que comecei a ser considerado “respeitável”, “importante”, etc.... No ano seguinte fui eleito, surpresa enorme para mim e para minha querida “domadora”, presidente desse prestigioso clube de serviço, cujo cargo desempenhamos com significativas realizações e, ao final do mandato, em junho de 1972, comparecemos à Convenção Internacional na Cidade do México, e, depois de conhecer várias cidades mexicanas, fizemos um tour pelos Estados Unidos, em companhia de um grupo de Leões gaúchos, com os quais mantemos até hoje sincera amizade. Nosso ano leonístico (julho de 71 a junho de 72) foi para nós de muitas alegrias e, porque não dizê-lo, até de orgulho, pois fizemos novas amizades aqui em Piracicaba, mantidas até hoje,com muito carinho. Depois disso tenho sido até convidado a aceitar “honrarias” especiais, títulos nobiliárquicos, desses que, dizem, é possível obter-se pagando alguns milhares de cruzeiros, em troca... Felizmente, sempre recusei tais honorabilidades, mas do “prestígio” que comecei a desfrutar, a partir do “carrão novo”, não tenho podido desvencilhar-me , até hoje, quando me chamam de “doutor” e coisas mais!!! ( 21-04-81)

 

Querendo falar em Democracia, diria que para resolver todos os problemas e dificuldades do povo brasileiro ( sociais, econômicos, políticos e, sobre tudo, humanos) apenas duas mazelas precisariam ser frontal, firme e permanentemente combatidas, com punições, doa a quem doer, e que são: (I) Corrupção: no campo da produção, distribuição, consumo de bens e gêneros de primeira necessidade; (II) Vagabundagem: no campo da administração da coisa pública. Como corrupção temos a ação de empresários ( multinacionais, bancos, grandes produtores intermediários), detentores do poder econômico e            que, por meio da sonegação, sofismas e ganância, aumentam seus lucros, vantagens e privilégios, em detrimento do grane povo assalariado ou não, que cada vez mais, passa dificuldades... Como vagabundagem temos a omissão, a displicência, a má intenção, da maioria dos que compõem as leis, não trabalham, fogem das responsabilidades e que, pelo contrário, se serve, dos seus cargos e funções para defesa de seus interesses particulares... locupletando-se com sinecuras e lucros ilícitos, para si e seus familiares... Sai governo, entra governo e a situação do pobre brasileiro ( ou melhor, brasileiro pobre) continua quase como no tempo do Império: verdadeira escravidão. ( 18-5-81)

 

“A Propriedade é um Roubo” (Proudhon – 1809-1865) ¾ Sim! A propriedade é um roubo, quando: (1) Latifundiários sonegam à produção suas extensas e férteis terras, não aceitando parceria de colonos e se invadidas usam o braço de jagunços para escorraçar dali famílias de trabalhadores que acabam, depois, passando fome por não poderem cultivar e desfrutar uns míseros pés de mandioca, de milho, de arroz, de feijão, etc.; (2) Industriais lucram fortunas todo ano, enquanto pagam relativamente sempre menos aos seus numerosos e infelizes operários, cujo poder aquisitivo se torna cada vez mais insuficiente em face do custo de vida, em alta crescente; (3) Comerciantes roubam no peso, no preço e defraudam na qualidade, elevando sempre os valores dos gêneros de primeira necessidade, acima do razoável, do justo, do admissível, do legal; (4) Senhorios que, possuindo casas destinadas  a arrendamento, que se contam às dezenas, e que, gananciosamente, direta ou por intermediários de impiedosas administradoras, aumentam os seus aluguéis, promovem, por quaisquer motivos, despejos judiciais, mesmo quando os inquilinos são humildes famílias, merecedoras até de misericórdia; (5) Hospitais recusam, por seus responsáveis, sob as mais variadas e falsas argumentações, a internação ou tratamento condigno a enfermos carentes, mesmo em casos de possíveis riscos de vida e, quando internados em estado desesperador trata-os com displicência e, ao final, usam as mais absurdas alegações em face de seu reprovável procedimento; (6) Médicos e dentistas cobram duas, três ou mais vezes que a maioria de seus colegas, agindo como mercenários que amealham, em pouco tempo, altas rendas e as imobilizam em terrenos, prédios, fazendas, e quando constroem suas moradias optam por verdadeiras mansões; (7) Escolas Particulares transformam-se  em casas de negócio, agindo seus responsáveis como autênticos “vendilhões do templo” cobrando taxas e mensalidades exorbitantes, que atrasam os pagamentos, pouco lhes importando os motivos, às vezes, os mais pungentes; (8) Professores são, sobretudo, relapsos e irresponsáveis e que possuindo cargos não executam encargos e assim descumprem o que pregava o Divino Mestre: “Ide e ensinai a toda gente”. Ao contrário, desfrutam das sinecuras e influências de seus altos postos, promovendo apenas gestões em defesa de seus interesses familiares. Logicamente existem honrosas exceções mormente entre beneméritos professores primários; (9) Funcionários públicos, principalmente os mais graduados, na área do próprio governo, das autarquias e estatais, pouco comparecem as suas repartições e escritórios e quando comparecem sendo “chefes”, o fazem acompanhados de figurões, sempre ávidos de obter favorecimentos, infelizmente, às vezes, recíprocos. Com isso os processos fiscais e burocráticos vão se acumulando, sendo que alguns poucos, de interesse de privilegiados, são passados à frente e atendidos, enquanto a quase totalidade fica às calendas, mesmo quando está em jogo o erário do país; Políticos que se dizem “defensores da pátria” (a maioria) mas apenas defendem a si próprios, sejam eles da situação ou da oposição e primam por deturpar a palavra “política” ( ater de bem governar) desservindo e espoliando a nação, em detrimento da grande massa de trabalhadores, aos quais são sonegados os mínimos benefícios que merecem as criaturas humanas. Enquanto esses “padrastos” da pátria não se revestirem de auteridade, de coragem cívica no combate á corrupção de espírito de justiça, de respeito aos direitos dos cidadãos, do propósito da exigência de que todos cumpram os seus deveres conforme a lei ( Ora a lei!...) e ainda enquanto a palavra “”política” não deixar de ser depreciativa, então o nosso querido Brasil ¾ seu sofrido povo, especialmente seus milhões de desamparados e quase desesperados ¾ não caminhará para o seu verdadeiro destino de redenção. ( 13-6-81)

 

Não foram os ricos e sim os pobres que permaneceram na memória do povo e da atuação destes a História está hoje muito enriquecida, desde Sócrates, Jesus Cristo até os grandes homens da atualidade que, modesta e filosoficamente, clamaram e clamam contra as injustiças sociais, contra as guerras, contra a tirania, enfim, contra os poderosos de todos os tempos que, desde a época dos faraós construíram e ainda hoje constroem monumentos de pedra, de cimento, de aço e que serão fatalmente destruídos pelo tempo implacável... Somente as boas ações, as idéias altruísticas não perecerão! ( 18-7-81)

 

Sorria palhaço!

O homem nasce,

Vive e envelhece...

E aquele que chegou a envelhecer,

Vivendo sem vegetar,

Sentirá, embora feliz,

Que aos seu derredor,

Muita gente existe

Que tem motivos para chorar,

Não obstante traga nos lábios,

Um sorriso de palhaço...

Sorria palhaço!

Porque se você chorar será muito pior;

Os que acreditam em você

Também acabarão se afastando,

E você chorará sozinho... ( 29-8-81)

 

O pobre homem, morrendo à noite, poderia ter a santa esperança de que a sua alma chegaria ao Céu, mais facilmente, viajando entre as estrelas... ( 7-9-1)

 

Dois sócios experientes e idosos poderão não levar sua empresa a grandes lances de desenvolvimento e progresso, mas se guindados aos seus postos dois jovens reformistas e visionários, poderão estes, realizando negócios sem maior cuidado, critério e vigilância pessoal permanente, levar a firma a uma situação completamente oposta, isto é, de insolvência e derrocada. ( 20-9-81)

 

Sempre ouvimos falar de pessoa que, pobre na sua juventude, hoje é detentora de grande fortuna, dona de prédios, fazendas, indústrias, verdadeiro império financeiro. E surgem indagações: “Em que ano adquiriu a sua primeira propriedade?” Mas, nesse tempo, já existiam outros donos de impérios, que haviam começado pobres 10, 20, 30 anos antes. Portanto, a história se repete. Já os primeiros livros históricos, inclusive os da bíblia, se referem a homens ricos e pobres, que antes não o eram. Assim, hoje qualquer criatura humana pode começar novo ciclo de grande fortuna, sendo certo o ditado: “Nunca é tarde; sempre é tempo”, e, por outro lado, não é procedente a afirmação: “O tempo bom já passou”. E a vida continua... ( 18-10-81)

 

A criatura humana deve conhecer por conta própria, quase que por intuição, os perigos e armadilhas que a vida, no seu dia a dia, oferece. Quando, segundo a mitologia grega, Ícaro, como seu pai Dédalo, construiu asas para voar, foi-lhe recomendado para que não voasse alto, também porque as asas eram ainda  de experiência e assim ligadas ao corpo por uma cola, tipo cera, que, com o calor, poderia derreter-se e, aí, conforme a altura, a queda seria fatal. Não obstante voou alto demais, próximo ao sol e deu-se a tragédia... Quando crianças, primeiro carregam-nos no colo e depois conduzem-nos pelas mãos. Mais tarde, conforme vamos crescendo, apenas avisos. No início as advertências são minuciosas e exemplificadas. Depois só orientação e o adolescente tem que fazer deduções em face da situação, da coisa, do fato, do ato... E começam nos dizendo: “Olha o degrau, olha o fogo, não toque na faca...”. Depois, “olha a rua, não corra, dirija com cuidado, não ande em más companhias, não arrisque a saúde, seja honesto, tenha juízo!”. Depois ficamos quase sozinhos... E a própria vida nos ensinando algo mais... ( 2-11-81)

 

Economize dinheiro. Não economize palavras. O diálogo pode produzir mais vantagens que a própria economia. ( 13-11-81)

 

Pena que, meia ou uma dúzia de bombas atômicas, possam, de um momento para outro, destruir toda essa beleza, todo esse progresso, que o Bom Deus oferece aos homens, através da própria natureza e dos donos do intelecto humano. ( 6-12-81)

 

Livros são catedrais do pensamento humano. ( 20-12-81)

 

O homem na deve temer a morte  se meditar sobre o seguinte dito popular: “Ninguém morre antes do dia que lhe foi fixado por Deus”. Apenas, “o peru morre na véspera...” ( 20-12-81)

 

Não se conhece, na história, nenhum avarento que, em vida, tenha ficado pobre, monetariamente... ( 22-12-81)