ANO DE 1983

 

Em qualquer sociedade ─ seja ela doméstica, familiar, empresarial, social ou comunitária ─ entre os seus membros deve imperar o espírito de consulta, atribuindo-se o direito de opinião a todos, embora caiba, ao final, ao líder do grupo o poder de representação, certo que esta deve refletir a vontade, senão da totalidade, pelo menos da maioria do seus componentes. Isso não acontecendo, teremos uma semi-ditadura, ou seja uma sociedade em desarmonia e por isso, assim como está, insustentável. ( 16.01.83)

 

“Se queres a paz, prepara-te para a guerra”  ( “Si vis pacem, parabellum”) ─ Existem dois tipos essenciais de paz: a paz interior, a paz de espírito e a paz social, a paz externa, da qual somos parte também, permanentemente. A paz de espírito, interior, podemos controlar, gozá-la em muitos momentos, alguns até dos mais difíceis. Mas, se não houver paz externa, social, em que nós próprios, nossos familiares, nossos amigos e outras inocentes criaturas são prejudicadas, ofendidas, agredidas, martirizadas, desaparece paulatina ou instantaneamente a nossa paz interior... Por isso que somente poderá existir maior percentagem da paz sobre a face da terra, e isto repetimos sempre: apenas quando os governos, suas forças armadas, quando os homens de todas as raças, das mais diversas condições sociais, quando todos forem justos, honestos, trabalhadores, generosos e usando a inteligência que Deus concedeu a cada um, seguirem os ensinamentos de Cristo Jesus. Paz absoluta, perfeita, integral, nunca existirá entre os homens, porque estes, pela lei da própria natureza, devem desenvolver seus ciclos de vida, entre sofrimentos e alegrias, acertos e fracassos, para um dia deixarem o convívio de seus entes queridos e aí sempre haverá inevitável tristeza nos corações... ( 20-2-83)

 

O homem a quem Deus concedeu, entre os mais variados dons, o do raciocínio, o maior de todos, gostaria, quando idoso, de dizer alguma coisa de bom aos seus familiares, sucessores, amigos, enquanto jovens. Ao avançar em anos percebe que, num futuro não muito distante terá que deixar este “paraíso terrestre”, onde existem as maravilhas da natureza ( flores, regatos, céu azul, noites estreladas, etc...). Mas pouco fala e se consola com a lembrança de Sócrates, Cristo, Tiradentes e milhares de criaturas monumentais, que relativamente pouco deixaram falado e escrito. Portanto, benditos os que puderam deixar mais obras, exemplos do que discursos. A filosofia, a literatura, as artes, as ciências, as descobertas e invenções que hoje existem são frutos de ações deixadas por outros homens, muitos quase anônimos, às gerações futuras, em benefício destas, para serem mantidas, melhoradas e continuadas pelos pósteros de todos os tempos. ( 27-3-83)

 

A morte é um fato material, embora entre as criaturas humanas, interligando estreitamente ao espiritual. Se olharmos ao passado dos tempos e meditarmos há quantos milhões de anos os seres vivos vem habitando o globo terrestre, numa sucessão de vida-morte-vida, então nos conformamos com o fatalismo que porá termo, um a um, aos planos e sonhos de todos os homens, devendo estes legarem às criaturas, que todos os dias despontam para a vida, a continuação do que existe de bom, assim como a elaboração de novos planos e realizações, numa repetição ─ quem sabe? ─ eterna... ( 3-4-83)

 

A morte deve ser encarada como uma viagem; o importante é que, os que ficam nos desejem, do fundo do coração, sejamos felizes nessa fase de deslocamento da vida terrena e que possamos ser bem recebidos ao chegarmos à vida eterna. ( 16-4-83)

 

Motoristas em três tempos de atenção. Um tempo para avançar sinal ou mão de direção; dois tempos para fazer conversão; três tempos para cruzar ou  adentrar via preferencial. Tudo isso em trânsito pelas ruas das cidades. Nas estradas o maior cuidado é com a velocidade, sobretudo nas ultrapassagens onde a visibilidade é limitada. ( 8-5-83)

 

Todos tem, pelo menos, um ideal ─ o da felicidade! Até os bandidos, confinados em uma prisão ou fugindo de déu em déu, ao recordar-se de quando eram crianças e inocentes, podem sentir renascer na alma aquele ideal, infelizmente agora quase por fora do seu alcance. ( 19-6-83

 

Falando em política (I) ─ O mais importante no Brasil é acabar com a corrupção, evitando que o fisco e o poder judiciário sejam manietados, sob suborno, pela burguesia e pelos poderosos sonegadores de impostos e infratores da leis, em se querendo, as velhas e existentes já são sobremodo suficientes. Dessa maneira, o candidato a candidato a presidente da república, Paulo Salim Maluf, até que poderia ser um bom chefe do futuro governo brasileiro, isto depois de completa moralização da política nacional, em todos os campos e sentidos. Trata-se de um cidadão que se hoje é um dos homens mais ricos do país, a sua fortuna, na maior parte, é fruto de heranças e do seu próprio trabalho como administrador inteligente e denodado. Trabalha diariamente muito mais, em tempo e pontualidade, do que a maioria dos brasileiros. E sendo rico, pouco se lhe aproveitará, nos seus futuros vinte, trinta, quarenta ou cincoenta anos de vida, roubar ainda mais ( se é que tem roubado...) através de falcatruas. Portanto, se tem constas a acertar na justiça, que se compelido a pagar, na forma da lei, o que roubou ou desviou da farta messe a disposição dos que querem se aproveitar do nosso desafortunado e endividado Brasil do momento. Mas que os fiscais apurem e os tribunais imponham, sob pena de prisão imediata, sem  quaisquer mordomias, a quitação de seus débitos. Assim os nossos tribunais , revestidos de austeridade, espírito sadio de brasilidade, que exijam de toda essa cambada de maus políticos, administradores capciosos, bem como todos os negocistas e sonegadores que proliferam por aí, que paguem o que devem ao poder público e ao povo. Depois disso, saneados os costumes, sejam alijados de todo e qualquer cargo ou função administrativa, oficial ou não, aqueles que, comprovadamente, vinham prejudicando os interesses da nação, isto é, da população carente, em sua quase totalidade. Depois disso tudo, se ficar comprovado que o cidadão Paulo Salim Maluf, realmente não roubou nada, até que poderia ser aproveitado no futuro governo, para tentar aproveitar com a sua inteligência e trabalho, reconduzir o Brasil aos seus destinos gloriosos. ( 17-7-83)

 

 

Falando em política (II) ─ Como escreveu Victor Hugo: “Não adianta destruir os abusos; é preciso modificar os costumes”. Pouco ou quase nada adianta punir os atuais culpados pela crise brasileira, ou continuar emprestando mais e mais dólares para tapar os “buracos” abertos, muitos até com más intenções, em visível defesa de interesses pessoais de politiqueiros, maus administradores, civis e militares. O que precisa, além de afastar dos cargos públicos os incompetentes ou preguiçosos, é punir austeramente, doa a quem doer, os corruptos e desonestos fazendo-os devolverem, por si e seus parentes e amigos beneficiários, o que desviaram dos cofres públicos, bastando para isso a aplicação pura e simples das leis fiscais e penais existentes. Assim, num futuro imediato deixará de ser “bom negócio” a prática de sonegações, negociatas e subornos, como tem acontecido, até agora, impunemente nesta nossa querida Pátria Amada, Brasil! (Nestas cogitações não entram os roubos a mão armada, falsificações e outras fraudes rasteiras que consideramos desregramentos abomináveis). (14-8-83)

 

Falando em política (III) ─  Só existe uma saída capaz de salvar o Brasil da crise que o assola e envergonha no momento: trabalhar! Assim, ninguém poderá receber vencimento, salário, pró-labore, ajuda, etc. se não provasse que está trabalhando ou já trabalhou, comprovando “onde”, “como” e “quando”. É óbvio que não mais seriam concedidas as famigeradas “mordomias”, desgraçadamente até agora tanto mais polpudas quanto maiores influências desfrutar o agraciado nas esferas oficiais,e, por isso mesmo, possuindo apenas “cargos” e nenhum encargo! ( 6-9-83)

 

Falando em política (IV) ─  Para abaixar a inflação só existe, na prática, um caminho: aumentar, através do trabalho honesto e organizado, a produção e a oferta de bens de consumo e de uso pessoal, familiar e coletivo: alimentos, vestuário, moradias, meios de transporte, ensino e assistência social e tudo mais de que necessita a criatura humana, para desfrutar de uma vida condigna. Assim, barateando o custo de vida, estaria contido o círculo vicioso em que se delapidam os dois custos: o da mercadoria porque “aumentou os salários” aplicado na produção, e já, em seguida, o do salário para fazer face do produto que foi aumentado de preço... O que é preciso, pois, é maior produção de produtos essenciais, em garantia de preço mínimo e transporte aos centros consumidores, e que seja refreada a ganância e a influência nefasta dos atravessadores. Por último, o tabelamento criterioso de preços, a perseguição severa aos transgressores. Convém ressaltar que é necessário atrelar o preço do produto ao valor do salário e jamais o salário ao preço desordenado dos gêneros de primeira necessidade, como erroneamente tem sido feito até hoje, em nosso querido Brasil! ( 13-9-83)

 

Falando em política (V) ─  O nosso querido Brasil está se transformando como se fosse uma imensa  área de arrendamento, tipo República Soviética, em que os seus proprietários ou governantes submetem a quase totalidade da população e um regime de semi-escravidão. A exceção é feita aos donos de bancos que escorcham a todos que a eles recorrem e não produzem nem um quilo de nada em benefício do povo... e só compram terrenos caros para estacionamento... Em seguida vem as multinacionais, as estatais e um pequeno número de indústrias privilegiadas, como as de óleo de soja, leite em pó, medicamentos, etc. E enquanto isso, os salários dos trabalhadores são achatados porque a indústria em geral , o comércio e a agricultura são cada vez mais sobrecarregados de impostos, taxas e outros gravames. Entretanto às classes dominantes são atribuídas mordomias, sinecuras deixando impunes até os mais deslavados assaltantes do erário público e da bolsa do povo. Para buscar um pouco de consolo só mesmo recordando o que clamava Castro Alves no século passado: “Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me Vós, Senhor deus, se é loucura...se é verdade... tanto horror perante os céus? ( 20-9-83)

 

Do tanto que li, do pouco que aprendi, tudo estaria perdido se alguma coisa eu não tentasse reproduzir, escrever através de pálidas e inexpressivas palavras, frutos também dos meus pobres pensamentos... À beira de meus setenta anos ─ não me arrependo da coleção de inúmeras obras, algumas poucas comigo há mais de cinqüenta anos. E se, finalmente, alguma obra das que colecionei, alguma coisa que escrevi, puder ser útil a, no mínimo, uma criança, estarei bem pago porque, como diria o poeta “Não deixei a apagar-se em minhas mãos o facho de luz que recebi de tantos e tantos pensadores generosos”. ( 9-10-83)

 

Colaboração-Protesto enviada ao jornal "O Estado de São Paulo" e publicada na COLUNA DOS LEITORES em 28 de outubro de 1983 ¾ República Soviética do Brasil ¾ Sr. O nosso querido Brasil está se transformando como se fosse uma imensa área de arrendamento ¾ tipo República Soviética ¾ em que os governantes ou proprietário submetem a quase totalidade da população a um regime de semi-escravidão. A grande maioria do povo não possui nada e a classe média está descapitalizando o pouco que possui. À exceção feita aos donos dos bancos ¾ que escorcham a todos que a eles recorrem e com seus lucros não produzem nem um quilo de nada em benefício do povo e só compram terrenos centrais e caros para estacionamento "confortável" aos seus exauridos clientes... Em seguida aos bancos, vem as multinacionais, as estatais e um pequeno número de indústrias privilegiadas, como as de óleo de soja, de leite em pó, de medicamentos, etc. Enquanto isso os salários dos trabalhadores são achatados, ao mesmo tempo em que as indústrias de um modo geral, o comércio e a agricultura são cada vez mais sobrecarregados com impostos, taxas e outros gravames. Mas as classes produtoras e o povão não merecem ser condenados a arcar com os ônus da nossa dívida externa, feita, em sua maior parte pelo próprio governo e suas devastadoras estatais. Com isso são asfixiadas as fontes de produção e geradoras de empregos. Se o governo precisa de dinheiro deve diminuir os seus próprios gastos, com usinas nucleares e procurar, isso sim, recuperar as vultuosas importâncias desviadas nos famigerados escândalos ¾ adubo-papel, mandioca, polonetas, Capemi, Coroa-Brastel e quejandos que permanecem impunes. Para buscar um pouco de consolo só mesmo recordando o que clamava Castro Alves no século passado, em face da escravidão negra que imperava no Brasil: "Senhor Deus dos desgraçados,/ Dizei-me vós, senhor Deus,/ Se é loucura...se é verdade? Tanto horror perante os céus?" L. A. Barrichello, Piracicaba-SP

 

“O trabalho não é castigo; é a santificação das criaturas” ( Ruy Barbosa) ─ A própria Natureza comprova ao homem que ele, dentre todos os demais animais, deve trabalhar se quiser alimentar-se, vestir-se, ter uma moradia, desfrutar de amenidades e diletantismos. Enquanto isso, a maioria dos animais tem nas selvas e nos campos, onde sobrevivem, a oferta de frutos, ervas, e, dentro da sua irracionalidade, a caça a outros indefesos animais. Mas, a criatura humana, podendo, tem obrigação de trabalhar, sob pena de perder o direito de comer, como proclamava, há dois mil anos, o apóstolo Paulo. ( 29-10-83)

 

Não! Jamais entenderemos ou justificaremos a auto-destruição ─ o suicídio... Ainda que a infeliz criatura não tivesse um só parente, um simples amigo, a quem causasse sofrimento em face de seu tresloucado gesto, quem dele depois ─ por força da apuração e da divulgação dos fatos ─ tomasse conhecimento e perguntaria: “Porque, porque?”. O suicídio é uma questão de consciência mais para o que se vai do que para os que ficam... É uma falta de caridade para os que sobrevivem e sofrem diante de sua atitude de desespero e covardia. Todos os males terrenos tem remédio, paliativo, consolação... No momento extremo, de desespero, se alguém pudesse deter a consumação do desvairado ato, certamente que ambos, seriam aplaudidos pela justiça dos homens e pela clemência de Deus. ( 4-11-83)

 

A luz é o supremo bem! A luz é beleza, é amor! “Fiat lux”, disse Deus, após verificar que o mundo que acabara de criar encontrava-se mergulhado nas trevas. E Deus viu que aluz era boa. Diógenes, desencantado com os homens, seus contemporâneos, saiu em pleno dia, com uma lanterna acesa na mão, a procura de um homem honesto... Sem luz, sem calor, sem amor, nada sobrevive ao tempo implacável... ( 13-11-83)

 

Os bens materiais de quaisquer espécies esses ficarão com os herdeiros ou donatários dos que, em vida, foram chamados de ricos. Não havendo beneficiários, o governo, na forma da lei, fará incorporação de tudo ao seu patrimônio. E daí? Falemos, um pouco, em tese, dos homens ricos falecidos. Nos primeiros meses algumas homenagens, pois é difícil encontrar um milionário comum, tido e afamado com tal, que não tenha feito em vida ou nos últimos tempos, donativos a instituições filantrópicas que, após o evento, são os primeiros a enviar coroa de flores... Para o ricaço foram umas gotas de numerário, mas que para os contemplados representaram milhares de cruzeiros. Na maioria das vezes os familiares do milionário logo mandarão erigir túmulos vistosos, se já não os tiverem... Visitando cemitérios das cidades médias e grandes, constatamos, de pronto, os que ao falecerem eram considerados ricos pelo vulto das sepulturas, algumas do tipo monumento. Mas se quisermos saber, citando os nomes dos epitáfios, quem foram em vida, o que fizeram, o que construíram de bom em favor do seus contemporâneos, a maioria dos passantes diria: “Não sei!” e iria adiante indiferentemente. Isso depois das primeiras décadas do falecimento, nos 50 ou 100 anos ocorridos, se insistirmos em saber quem foi a ilustre personagem no passado, pensarão que não estamos bem do juízo... Diante de um desses túmulos pomposos, às vezes mal conservados, mais parecendo abandonados, certos de que os parentes do falecido desapareceram, mudaram da cidade, e sua descendência já está na quarta ou quinta geração, quem sabe empobrecida, vem-nos ao pensamento a seguinte indagação: “Valeu a pena tanta luta, tanto empenho, tanta ambição, egoísmo, em amealhar fortuna, para ficar depois, quase tudo,menosprezado, ignorado, esquecido, pelas criaturas humanas que o sucederam?”. É pena que dentro dessa regra, bem poucos, serão dignificados, redimidos pelo povo, em face dos ensinamentos do Divino Mestre. ( 11-12-83)

 

Advertência a determinados reclamantes ─ Você que está reclamando, o que tem feito além de queixar-se de tudo e de todos? Você reclama do desamor, da fome, da miséria, do desemprego, da violência, dos assaltos, da falta de segurança, da vadiagem, dos viciados, dos tóxicos... Mas, você que está sempre reclamando, reflita bem sobre o que tem feito para diminuir um pouquinho a gravidade dessa situação... Coloque nos dois pratos da balança da sua consciência, de um lado o volume de suas reclamações e de outro lado o valor de suas realizações em favor do decantado “mundo melhor”... ( 17-12-83)

 

Está na Bíblia: no sétimo dia, Deus descansou. Mas vendo Deus que o homem não era feliz, disse: “Não é bom que o homem esteja só”. E somente depois que Deus criou a mulher, e com ela o amor, é que o homem se sentiu completo... ( 23-12-83)

 

Se o tempo, o  implacável tempo, tudo ameaça, tudo desgasta, tudo corroe, quem pode garantir que, com o passar dos séculos, não serão destruídas todas as coisas, principalmente as edificadas pelos homens sobre a face da terra. Portanto, tudo poderá passar,menos as palavras, como disse o Divino Mestre, certo que os pensamentos e as palavras sempre estarão sendo gravadas ou reproduzidas em livros imortais, verdadeiras catedrais do saber humano. Mil e seiscentos anos depois de Cristo, Shakespeare deixou escrito que o “canto dos poetas sobreviverão ao tempo, que não poupará nem os ricos e sólidos monumentos...” ( 30-12-83)