ANO DE 1988

 

A Vida... O Mundo...

As nossas mãos e os nosso pés,

Os cotovelos e os joelhos,

Servem-nos para, tateando,

Sabermos para onde vamos,

Dentro da noite desta vida...

 

Nossos olhos, nossos ouvidos,

Nossa lembrança e bom senso,

Devem nos guiar nos perigos

Que, mesmo em plena luz do dia,

Existem em nossos caminhos... ( 13-3-88)

 

Pensando em boas ações. Devemos concluir que cada um faz o que pode. E disso deve dar graças ao Bom Deus. Se existem os que fizeram ou fazem menos ou mais, não deves ser censurados ou elogiados, ruidosamente, isto é, em público e de maneira até constrangedora. Dos dois casos sempre existirão criaturas que verão nesses julgamentos crítica ou ironia. O aconselhável é deixar cada um envolvidos tranqüilos, dentro de sua capacidade de ação, estimulando-os entretanto,  a se esforçarem, singelamente, na busca do almejado mundo melhor, para o qual cada um pode, a seu modo, contribuir. ( 17-4-88)

 

No Brasil, no momento, quem mais ganha dinheiro fácil é o governo... e os seus membros ou beneficiários, debaixo das sombras da omissão, da incompetência e irresponsabilidade. O governo criando e aumentando os impostos, simplisticamente, toda a vez que lhe escasseia o dinheiro disponível; os seus membros, desde os componentes das casas legislativas municipais, estaduais e da federação, quando aumentam, com descarado cinismo, os próprios “honorários, através dos mais variados argumentos e subterfúgios. E, por causa dos seus maus exemplos, proliferam osAnibas Teixeiras  os “Najis Nahas”, os primeiros que se aproveitam dos dinheiros públicos e os outros, seguindo os maus exemplos da “autoridades”, ganham fortunas em agiotagem e especulação, tornando-se cada vez mais ricos num país cuja maior parte da população se afunda em miserabilidade. Isso enquanto no Brasil, espoliado de todas as formas, muitas fábricas se fecham, asfixiadas pelos impostos e juros extorsivos, ocasionando o desemprego e agravando, sempre mais, a difícil sobrevivência do povo sofredor. ( 29-5-88)

 

Todos nossos atos, quando planejados os iniciada a sua execução, partem revestidos de propósitos que assegurem os melhores resultados possíveis. Essa é a norma geral. Mas ,infelizmente, a realidade, depois, não confirma nossas esperanças ( 24-7-88)

 

Um dia a tampa vaza e o mau cheiro do conteúdo se propaga para a circunvizinhança. É o mesmo que acontece com o subconsciente e algumas pessoas: a válvula da hipocrisia não resiste à contínua pressão da força da verdade ou do remorso e aquilo que estava oculto não é mais segredo. ( 14-8-88)

 

Criaturas existem que se mostram como eternas incontentáveis. Não gostam nem mesmo do que possuem e, até, daquilo que acabam de escolher. Por sorte, representam uma reduzida minoria... ( 25-9-88)

 

A febre, a embriagues... Gênios da literatura semearam, pelos caminhos por onde passaram, maravilhas do pensamento humano. A febre, advinda das enfermidades sem remédio ou a embriagues, causada pela ingestão de bebidas alcoólicas e de tóxicos trouxeram-lhes inspiração e mensagens que só as inteligências privilegiadas seriam capazes de captá-las, registrá-las  e transmiti-las aos contemporâneos e gerações futuras. Na galeria dessas extraordinárias criaturas destacamos Castro Alves, Casimiro de Abreu, Edgar Allan Poe e Guy de Maupassant. ( 14-10-88)

 

Aos eleitos ─ no universo da política brasileira, a começar primordialmente, por sua excelência o Senhor Presidente da República, astro rei, rodeado pela constelação dos membros do Senado e da Câmara Federal, Governadores, Assembléias Legislativas Estaduais, até aos Prefeitos e Vereadores dos mais pobres e carentes municípios do país ─ deveria bastar-lhes, em sua maior parte, a honraria de serem os dignatários da nação, eleitos pelo povo, em votação soberana para bem administrarem o patrimônio nacional. Assim, como membros do governo, todos eleitos necessitariam conscientizar-se de que o seu maior dever é o de cumprir suas nobres atribuições, com desprendimento, dando de si sem pensar em si, deixando para planos inferiores os seus interesses e vaidades pessoais, familiares, particulares, certos de que “todo o poder que exercem emana do povo” e que “todos são iguais perante a lei” ( artigo 1º,  parágrafo único e artigo 5º da Constituição Brasileira). Mas, o que vem acontecendo no Brasil dessa Novíssima República é um absurdo, um paradoxo deslavado. Todos os eleito dizem, demagogicamente, que não ignoram a miséria em que vive o povo ─ seus eleitores  enfim ─ de norte a sul, de leste a oeste, mas a ganância quanto aos seus vencimentos, a escandalosa acumulação de cargos e de aposentadorias, as mordomias e sinecuras, as negociatas e os crimes de colarinho branco, continuam numa apoteótica caravana de pouca vergonha, enquanto os pobres “cães ladram”, repetida e infrutiferalmente... ( 12-11-88)

 

Mistérios... Naquele dia o “pobre homem” parou, um pouco, só para pensar... Já vivera três quartos de século, trabalhando e muito, desde criança visando ideais de nobreza para si e para os seus. Hoje, olhando a estrada percorrida e vendo em cada curva do caminho as esperanças e ilusões vividas, parou para recordar e meditar. Perguntou, como todos perguntam: Valeu a pena? Houve hesitação? Omissão, pusilanimidade? Se nós duvidamos, quem julgará? O importante mesmo é saber se, ao nosso derredor ou distante existem pessoas que se queixam de nossos atos ou atitudes... E não havendo reclamações tudo terminaria bem, aí, não fosse a nossa consciência que nos faz perguntar: Camões e Colombo foram felizes, embora morressem na miséria, depois de seus heróicos feitos, somente tarde reconhecidos? E Van Gogh, cuja genial pintura foi menosprezada a ponto de fazê-lo buscar o suicídio, o final de suas mágoas terrenas? E Dante Alighieri, hoje pai da poesia italiana, quando no cárcere e no exílio, foi feliz como bem merecia? E Joana D’Arc e nosso Tiradentes, martirizados de forma tão cruel desfrutaram da felicidade a que fazem jus os bons e nobres? E assim, o “pobre homem” numa meditação sem fim procurava desvendar os mistérios desta vida. ( 30-12-88)