ANO DE 1989

“To be or not to be” (Shakespeare 1564-1616) ─ O que torna o homem receoso e tímido é o fato de precisar lembrar-se, antes de dizer “verdades” publicamente,  de que seus protestos contra políticos ou homens influentes e poderosos, podem provocar reações incômodas, represálias e até processos judiciais. Não basta saber das falcatruas e abusos praticados, à socapa, por pessoas importantes e ter a seu favor muitas testemunhas ocasionais. O que é necessário mesmo é apresentar, se interpelado, provas concretas e insofismáveis dos fatos denunciados, sob pena de passar de acusador a réu.. Consola apenas, ao pobre homem, lembrar-se que, entrementes, cumprindo seus deveres para com Deus, com a família e a sociedade, estará assegurando para o final de seus dias, um pouco d bem estar espiritual e consciência tranqüila. ( 19-2-89)

 

Nos procedimentos normais e rotineiros, tudo é permitido às crianças e perdoado aos velhos. ( 25-3-89)

 

Todos animais possuem meios peculiares de defesa, para garantir a própria sobrevivência. Os irracionais, se acossados, em perigo, podem reagir com excepcional violência. O homem, possuindo raciocínio, pode arquitetar ou recorrer a recursos de defesa, além da força bruta de que dispõe, no momento em que é agredido. Ao homem sobra ainda, como defesa, a voz e o olhar, que podem traduzir chamada à consciência e condenação ao ofensor. As criaturas humanas têm medo de se aproximar de um animal bravio, mesmo quando velho, enfermo ou sonolento. É que esse animal pode, se provocado, reunir forças e, num bote, estraçalhar o intruso. As palavras de revolta ou o olhar ferino de um homem humilhado e indefeso, podem causar chagas na alma de um malvado, tanto quanto lhe causaria, no corpo, os ataques de um animal feroz. ( 16-4-89)

 

Em muitos momentos da vida, o homem, especialmente quando percebe estar ingressando na velhice, tem impressão de sentir-se só, mesmo vivendo no seio de sua família, no meio de amigos. Entre estranhos, em contato com pessoas que são, talvez reciprocamente indiferentes, a solidão parece aumentar, porque com estas pessoas nada existe sobre o que dialogar, propor, ouvir. Nessas oportunidades a pobre criatura faz um retrospecto da própria existência, do seu passado de esperanças, anseios, de algumas frustrações sofridas e até de duras realidades que teve ou tem de suportar. Mas o homem não poderá sentir-se plenamente só ou abandonado se, crendo em Deus, existir ao seu lado, ao seu alcance, esteja onde estiver, algum meio de comunicação, que lhe faça presumir uma resposta, uma solução, ainda que aleatória. Assim, jamais sentir-se-á só quando, numa suprema devoção ou conformação, voltar o seu pensamento ao Onipotente e, orando, entregar-lhe seus momentos futuros, rogando sempre para que seus entes queridos encontrem as santas alegrias que a vida, enquanto jovens ainda, pode lhes proporcionar. ( 19-5-89)

 

Jesus ( 01-33), Voltaire ( 1694-1778), Comte ( 1798-1867). Victor Hugo ( 1802-1885), Garibaldi ( 1807-1882), Karl Marx ( 1818-1883), Engels ( 1820-1895)... combateram os privilégios e defenderam a igualdade dos direitos e deveres entre os homens. De todos, Jesus e Victor Hugo estavam mais certos: o primeiro mandamento mandando dar a “César o que é de César”, e o segundo reconhecendo o “direito de propriedade” desde que fruto de trabalho honesto, o que não acontece sob regimes comunistas, em que o “capitalismo” é exercido pelo próprio governo-ditador. ( 26-6-89)

 

O ideal da criatura humana é ir realizando, a partir da adolescência, aquilo que chamamos de sonhos e, mais tarde, de planos ou projetos, visando concretizar boas obras para si, para sua família e para a coletividade. Cada etapa é uma obra, uma realização, isto é, um progresso. Pode-se comparar a criatura humana a uma árvore: a sua missão é produzir bons frutos. Árvore velha, és feliz com teus frutos ou ramagem, sob cuja sombra sempre alguém, em trânsito poderá desfrutar momentos de conforto? ( 23-7-89)

 

Brasil, paraíso? Da corrupção? Da sinecura? Da mordomia? Da ganância? Do Favoritismo? Da irresponsabilidade? Da Omissão? Do jeitinho? Da Impunidade? Do Mau exemplo?  De todas essas mazelas que infestam o organismo administrativo brasileiro, a pior mesmo é o mau exemplo, como fermentação maligna, que deteriora até as consciências mais puras e até insuspeitas. “Política”, segundo o Aurélio, “é a arte de bem governar os povos”. Portanto, tratando-se de democracia, os eleitos pelo povo devem praticar a arte do bom governo. Mas aí começa a infelicidade do povo brasileiro: no palanque, nos “santinhos”, etc. são promessas e mias promessas e depois de empossados, salvo nobre exceções, o que se verifica é o “venham a nós as vantagens  do Reino”, e o povo que os escolheu que se lixe. Entretanto o povo que teve o dever e o direito de eleger seus representantes, também lhe caberia tomar conhecimento, julgar e, diretamente destituir de seus cargos aqueles que se enquadrassem em duas ou mais das supracitadas mazelas. Dissemos “duas ou mais mazelas”, porque o mau exemplo, em suma encoraja a proliferação e adeptos e induz às indagações: Por que os políticos, lá em cima tem privilégios, praticam abusos e continuam impunes? “Cinqüenta  a cem salários mínimos, mais mordomias, para um deputado, é muito, enquanto a maioria de seus eleitores vegeta com menos de três mínimos”. Não havendo, por parte dos políticos, desprendimento, honestidade e patriotismo para se constituírem em bons exemplos, a nau dos brasileiros continuará sossobrando no oceano da inflação e da miséria. ( 13-8-89)

 

Amor, eterno amor! ─ Lendo romances e histórias de amor vividas e descritas no passado e trazidas ao conhecimento das gerações deste final de século XX, fica-se meditando que o lirismo de antanho não mais existe nestes últimos anos. ( 25-9-89)

 

Em se falando de amor, é importante recordar-se que há cerca de vinte séculos Jesus já definiria bem, como se praticar a verdadeira estima ( Mateus 7:21 e Lucas 6:46). Assim não basta dizer que ama, mas sobretudo é preciso fazer a vontade da pessoa amada. Do contrário não é amor, é puro fingimento. ( 29-10-89)

 

O povão brasileiro na tem culpa alguma quanto à desenfreada especulação financeira agora existente no país. É o próprio governo Sarney o responsável por cerca de 80% da nossa dívida externa ( US$ 120 bilhões) e também da interna ( US$ 180 bilhões). Por causa da dívida interna precisa tomar emprestado dinheiro no mercado local par pagar os seus desmandos e de suas devoradoras estatais. Duplo crime lesa-pátria, ou seja, provoca exagerada alta dos juros no sistema bancário e desvia o dinheiro dos capitalistas, que deveria estimular a produção e a construção de casas populares, canalizando-o para a agiotagem desumana. Desse modo os magnatas das finanças lucram fábulas diariamente, quase nada pagam de impostos ou sonegam tudo, enquanto a maioria do povo não sabe o que fazer para sobreviver. ( 18-11-89)

 

Tem momentos em que gostaríamos de deixar uma pergunta no ar: como serão as cidades e, dentro e em torno delas, a vida das criaturas humanas, quando meus netos caçulas tiverem bisnetos com mais de trinta anos, aptos, portanto, para meditar sobre os problemas existentes no seio da sociedade brasileira? Que bom seria se conseguíssemos guardar, para as gerações vindouras, fotografia, gravações, filmes, como testemunho dos dias atuais no campo de algumas famílias e da fraternidade reinante entre muitas criaturas, verdadeiros cristãos, em busca do decantado “mundo melhor”, que o desamor, o egoísmo, a ganância,a desonestidade e a vagabundagem tentam evitar a sua aproximação. ( 23-12-89)