ANO DE 1990
Meditando sobre a afirmação “cogito,
ergo sum ─ penso, logo existo”, de
Descartes ( 1596-1650) concluímos que é positiva, em muitos casos, a presença
da dúvida. A exceção é necessária para a confirmação da regra. Por isso só se
compreende a democracia que abomina as ditaduras, com as suas violências, a
maior de todas a supressão da liberdade, sob pena de prisão, etc. Sem liberdade
não existem duas opções e apenas uma imposição. ( 14-1-90)
Hoje, em que os brasileiros se
encontram a menos de 30 dias da posse do novo presidente da república ─
Fernando Collor de Mello ─ escolhido por votação direta, em dois turnos,
depois de quase 30 anos sem eleições legítimas, alteiam-se para a maioria dos
brasileiros novas esperanças. Novas esperanças, porque o atual governo ─
Sarney ─ encontra-se em melancólico final, depois de cinco anos de
corrupção, sinecuras e impunidades. Por isso, neste momento, gostaria de
recordar que há mais de quarenta anos, quando era vereador em Rio das Pedras,
liderei a elaboração de uma mensagem ao Congresso Nacional e que foi remetida
em 12 de junho de 1948, em cinco extensas laudas. Quatorze anos depois, em 13
de julho de 1962, a revista Visão publicou na sua 4ª página, uma carta em que,
inclusive, fiz referência ao fato do Congresso nacional, até então, não haver
dado a mínima resposta à aquela mensagem. Nessa carta
à Visão, é óbvio, novos apelos foram feitos, mas que
se perderam no vazio do descaso e do impatriotismo.
Enfim, no próximo dia 15 novas esperanças começarão a acalentar, mais uma vez,
os corações sofredores da maioria dos brasileiros, e permita Deus que as
frustrações anteriores não se repitam. Entrementes, o Congresso nacional, de
acordo com a nova constituição, promulgada em 5 de outubro de 1988, tem poderes
amplos para aprovar as leis, decretos e medidas provisórias emanadas do chefe
do governo, atendendo aos interesses do povo, exclusivamente. Basta que os
senhores senadores e deputados federais, que, na sua maioria, até aqui, só tem
defendido seus interesses particulares, basta que eles, agora, tenham mais pudor
para, pelo menos, darem quorum nas votações dos projetos e proposições que
visem retirar a nação do caos em que tem vivido nos últimos anos. Quanto ao
presidente Collor ─ o mais jovem dos que já governaram, de mal a pior, a
nação até hoje ─ o povo confia que não lhe faltará a proteção divina para
acertar, como ele próprio tem vaticinado. Desassombro e virtudes pessoais, o
futuro presidente as possui, bem como, e sobretudo,
tradição de família. Seu avô paterno Lindolfo Leopoldo B. Collor, jornalista
gaúcho, descendente de alemães, estivera exilado três vezes (
1932, 1937 e 1942) por defender os ideais democráticos do povo
brasileiro. Seu pai, senador alagoano, Arnon Afonso de Farias Mello, também
jornalista, revelou muita coragem ao comparecer ao senado, depois de jurado de
morte por outro senador alagoano, Péricles Góis Monteiro, e na iminência de ser
atingido, atirou primeiro, enquanto o agressor se agachava acovardado, indo a
bala perdida vitimar outro senador, que se lhe achava atrás. Fernando Collor,
que também é jornalista, como seus ascendentes, possui suficiente experiência
política-administrativa para resgatar e comandar a nau dos brasileiros ao seu
verdadeiro destino de justiça, austeridade, honradez, trabalho e de progresso.
De minha parte ─ enquanto são aguardados novos métodos na política
governamental, que venham garantir dias
melhores para toda a nação, e de modo especial a favor da grande maioria de
deserdados da pátria ─ irei fazendo revisão, com inclusão de novos
pensamentos aos já por mim selecionados, a fim de, futuramente, mandar editar
um LIVRO DE PENSAMENTOS, como é um antigo desejo meu. Trata-se de uma coletânea
por mim iniciada há mais de cinqüenta anos, destinando-se oportunamente, o
resultado da venda dos livros a favor do fundo pró-construção
do Lar de Velhinhos de Rio das Pedras, sob os auspícios da Conferência do
Senhor Bom Jesus de Rio das Pedras da benemérita Sociedade São Vicente de
Paulo. Ao Bom Deus, em Quem desde minhas primeiras reflexões do tempo de
menino, sempre confiei e devotei minhas esperanças e estoicismo, rogo e espero
apenas, as suas bênçãos, a fim de que possa, inclusive, com a ajuda de minha
querida família, levar a bom termo aquele ideal. ( 16-2-90)
Reflexões
Agora que a dor e a incerteza
Fazem sombra sobre o meu futuro,
Vejo-me como um pobre barco
A navegar pelo mar da vida,
Sem saber como a penosa viagem
Se conduzirá até o fim.
A madeira foi envelhecendo;
Já não pode sofrer impactos...
Até o sol que antigamente
Dourava suas graciosas linhas
Agora representa perigo
De acelerar sua deterioração.
Também a chuva e o orvalho
Que antes refrescavam seu lenho,
Hoje provocam danoso bolor
Que, a pouco e pouco, ameaça
Reduzir sua capacidade
De ir, de vir, resistir e viver...
Mas a vida da criatura
É quase igual para a maioria:
Passa a infância e a juventude,
Com uma rapidez sem conta,
E quando a maturidade chega
Os cuidados se tornam constantes.
É pena que boa parte não chega
À velhice consagradora,
E perece em plena caminhada,
Quando muitos dos seus lindos sonhos
Ainda não se haviam realizado...
Paciência! Deus nos consolará!
Um grande poeta brasileiro
Disse: “A perfeição é a morte” ( Olavo
Bilac)
Outro grande poeta francês
Já havia anteriormente
Proclamado: “Morrer é nada;
Não viver é que é medonho” ( Victor
Hugo)
Resta-nos, assim, a certeza
De que somente Deus é a salvação.
Pois a morte não poupará ninguém.
Deixando aqui apenas lembranças
Do que foi possível realizar,
Com amor, justiça e nobreza. ( 20-8-90)
Amigo ─ Deve ser
considerado amigo: o nosso confidente habitual, desde tempos passados; o sócio,
co-diretor numa empresa, numa sociedade, ativa e harmoniosa, em que o colega
presta serviços com empenho, boa vontade, sinceridade permanentes; o
companheiro assíduo em uma organização, em que, entre ambos, os encargos são
distribuídos e desempenhados com, até, abnegação. Sócio, em tais
circunstâncias, além de amigo deve ser considerado irmão. Muitas
particularidades, segredos pessoais que, algumas vezes, omitidos aos nossos
pais, irmãos, filhos, são confidenciados, a esse “irmão”, a fim de,
reciprocamente, recebermos orientação ou podermos fornecê-la. O amigo-irmão
vive o nosso dia a dia, nossas preocupações atualíssimas e, por isso, com
lhaneza, espírito cristão,
saberá compreender e ajudar a enfrentar os problemas vitais de cada um (
4-11-90)