CARIDADE

Esmola – Os ricos dando bastante, dão pouco, porque despendem uma parcela ínfima do muito que lhes sobra; os pobres dando alguma coisa, dão muito, porque desfalcam os meios de adquirir coisas que muito lhes faltam. Portanto, enquanto os ricos assim procedendo cumprem um dever sagrado, os pobres praticam um ato digno dos maiores louvores. (5-5-50)

Relativamente dão mais esmolas os que não tem posses para faze-lo, do que os que, sendo abastados, tem o dever precípuo de praticar a caridade. (14-5-50)

Por Religião: Deus! Por Doutrina: A Caridade! (7-4-51)

A caridade é o sol da vida. (20-4-51)

Nosso coração será mais feliz se nele existir Piedade; piedade que invoca perdão aos pobres de espírito e caridade aos necessitados de recursos materiais. (30-8-52)

Existem três categorias de homens inatacáveis. Os indiferentes, os virtuosos e os caridosos. Há, porém, uma quarta categoria que é realmente digna de lembrança, a dos abnegados.Senão vejamos: os indiferentes são os que vivem à margem dos fatos, não trabalham, não são a favor nem contra as iniciativas de seus semelhantes. Cumprem seus deveres, nada mais. Os virtuosos são os que, por suas práticas religiosas e sociais bem demonstram seu amor a Deus e seu respeito aos direitos dos cidadãos. Os caridosos são os que, sem serem indiferentes ou apenas virtuosos, praticam o sagrado dever da caridade, auxiliando seus semelhantes a carregarem o pesado fardo da vida. Porém a quarta categoria, além de virtuosos e caridosos, são abnegados e progressistas e acima de seus interesses pessoais colocam o interesse da coletividade, parte integrante que são da mesma coletividade e beneficiários, portanto, de um almejado mundo melhor. (10-11-52)

Maior valor, maior o resguardo! — Assim, se uma pessoa tida e havida como de um comportamento impecável, inatacável, cometer uma pequena falha, virá cair por terra, escandalosamente, todo o castelo de seu conceito. Entre uma irmã de caridade e uma moça popular é grande a diferença: enquanto esta poderá contar piadas, rir alegremente, tomar uns tragos de bebida forte... e continuar “ótima criatura, apesar de pequenos defeitos”, aquela, a santa monja, se cometer um mínimo deslize,  não obstante todo o seu passado de sacrifícios, verá o desprestígio arruinar a sua vida. ( 10-1-54 )

No progresso é inglória a tirania construtora, da mesma forma que a caridade não produz benefício integral se praticada com menosprezo. Em tudo há de existir Justiça, sem violência nem vexames, trabalhar pelo bem comum é obrigação das criaturas humanas. Por isso a esmola não deve ser interpretada como ato generoso ou um favor. Seria um verdadeiro traidor aquele que não cumprisse seus deveres. (16-7-58)

A religião pode ser comparada a uma grande firma internacional, com agências, filiais, sucursais, representantes em todas as praças. O seu poder está na pujança dos ramais partidos do grande tronco — o Vaticano. É uma força poderosa, como as grandes organizações comerciais com a diferença que a Religião “vende” fé, esperança e caridade! (  20-12-59)

As Quatro Colunas — A coletividade humana vive como que num planalto, que chamaríamos de “planalto de moral”, onde todas as  criaturas, por princípios éticos, religiosos ou psicopatológicos, procuram justificar, cada um de per si, suas diferentes maneiras de proceder. Por terem sido criados à semelhança de Deus — portanto superiores aos animais irracionais — os homens, desde os extremados conservadorismos até aos insolentes existencialistas, esforçam-se em provar que suas atitudes são as mais justas, certas e convenientes possíveis. Esse “planalto” é sustentado por quatro colunas mestras constituídas por cidadãos que, por suas teorias, competências, procedimentos ou missões, devem afastar-se da turba para poder reflexivamente orientá-la, classificá-la, ensiná-la, ampará-la. As quatro colunas são: os Filósofos, os Juízes, os Professores e os Sacerdotes, cuja linha de conduta, salvo pequenas e inevitáveis exceções, tem sido e continuará sendo exemplo de pureza, clarividência, sabedoria a abnegação. São quatro categorias de indivíduos que, pelo desassombro de suas elevadas faculdades, não se envolvem em transações escusas ou conchavos indignos. Altruístas, são capazes de todos os sacrifícios e desprendimentos, não permitindo que a desonra manche a alvíssima vestimenta das sua concepções ideológicas. Eis que, sobre o grande planalto, todos querem ter razão: os que erram e depois são punidos julgam-se injustiçados, vítimas da maldade humana; os viciosos dizem que não tem forças para reagir; os que não trabalham alegam que não tem disposição para isso; os que não pagam as suas dívidas afirmam que ganham pouco, ou sofreram afrontosas cobranças; os que não cumprem seus compromissos  justificam-se com “motivos de força maior”; os que se exasperam com facilidade e ofendem os que estão em derredor defendem-se com alegações de que “ficaram cegos de raiva” e quando isso acontece “perdem o controle”. E assim todos querem ter razão... Entretanto se as quatro colunas fraquejam, não resistindo ao impacto da corrupção, então virá abaixo o edifício da sociedade humana. É verdade que existem, entre a coletividade humana, criaturas que, embora sem nenhuma instrução, manifestam idéias realmente sábias e estóicas; há os que, sem conhecimento dos códigos e das leis, demonstram critério e bom senso próprios de juízes; ainda os que, não possuindo cátedra, vivem a distribuir ensinamentos aos que o cercam; e finalmente, os que, sem ter recebido ordenação religiosa, são verdadeiros apóstolos, tal a sagrada missão que desempenham, amando seus semelhantes, na prática da caridade, da bem-querença e do perdão! Estas anônimas “boas almas” compensam, certamente com sobras, os possíveis desfalques que os responsáveis pelas quatro colunas sofrem, às vezes em suas hostes, por deserção de uns ou decadências de outros. Mas, como nas lutas santas, apesar das baixas, a resistência continua e continuará sempre! E que seria da humanidade sem Filosofia, Sem Justiça, sem Ensino, sem Deus? ( 25-1-60)

Das virtudes isoladas a mais gloriosa — porque é altiva e autônoma e impossível de ser criticada — é a Justiça; naturalmente a Justiça ensinada e recomendada por Jesus. A honestidade, o amor, a fé, o estoicismo, o perdão e até a coragem e a caridade serão insustentáveis se lhes faltar o amparo da Justiça — sentimento ativo e demarcador de qualidade. A Justiça, inspiração divina, tem sobre si apenas a Verdade, que é uma virtude coletiva, reunião de todas as virtudes, inclusive a própria Justiça. Mas, a verdade, sendo um conjunto, exige definições explicativas, enquanto que a Justiça, por ser absoluta, tem de ser acatada, mesmo quando ferir a minoria incontentável. Por isso que se diz que a Justiça é como o sol: pode encobrir-se, tardar,mas ao surgir convencerá plenamente. ( 18-7-61)

Filantropia — Fazer uma pessoa, só no fim de sua vida, testamento deixando parte de seus bens a uma instituição de caridade, e por isso vindo a receber homenagens póstumas, às vezes perpetuadas em bronze, também está errado. Ora, o certo teria sido o “coração magnânimo” do doador ter feito seus donativos cotidianamente, em vez de só ir acumulando fortunas à custa de lucros diários. Se a própria instituição tivesse que esperar 50 a 80 anos para receber essa “generosa” doação teria, por certo, sucumbido.Somando-se pequenas e modestas ajudas recebidas constantemente de anônimas criaturas verificar-se-ia que representariam mais daquilo que se festejou espalhafatosamente, a posterior. Que se agradeça, que se mencione em ata a valor da doação, mas que por isso se erga um monumento, com banda de música e tudo, está errado.

( 12-6-62)

“Caridosos” e caridade ¾ O nome de “caridoso” pode-se adquirir com cruzeiros e deixar de consegui-lo com cem mil. Basta que uma pessoa, não sendo “milionária” distribua modestas quantias a todos os necessitados que lhe pedem ou encontra para que mereça aquele nome. Entretanto, não merecem os que, paralelamente, possuem fortunas ou obtém lucros fabulosos em seus negócios,mas que, secreta ou até publicamente dissipam valores elevados com jogatinas, amantes, etc. Esses não fazem caridade, quando, num gesto de ostentação assinam “Livros de Ouro” com importâncias que, percentualmente, não representam nada em relação às suas enormes rendas...e não permitem depois que os necessitados peçam esmolas a sua porta.. Os que distribuem uns cruzeiros, seguidamente, talvez deixando de comprar mais pão para os seus filhos, praticam mais caridade que os outros ¾ os que “não entrarão no Reino do Céu”, segundo o provérbio bíblico. ( 18-02-65)

Felizes os que, ao encontrarem um necessitado, puderem dar-lhe, além do alimento, conselho, meios e recursos, com o que no dia seguinte, possa ganhar o sustento pessoalmente, sem precisar continuar recorrendo à caridade pública. ( 05-03-66)

A primeira atividade voluntária de Jesus, de que se tem notícia é a de ter ido, à revelia de seus pais, ao Templo discutir leis com os doutores. Só mesmo um Deus poderia ter dado tão gloriosa lição: aparecer entre os Juízes e com eles discutir assuntos de interesse do povo. Ensinou mais tarde, aos 33 anos de idade, a Caridade e a Justiça ¾ a Bondade criteriosa enfim. Antes de Jesus, os fortes e poderosos só desejavam escravizar os fracos, e por isso estes odiavam aqueles. Pregou “Amai-vos uns aos outros”, “Somos todos irmãos”, “A César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, “Gloria a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”. (  20-11-66)

O verdadeiro amor cristão deve ser "dinâmico" e não apenas "estático". Damos abaixo alguns sinônimos de amor-dinâmico-cristão que chamamos de Virtudes: 1) Amizade; 2) Lealdade; 3) Caridade; 4) Ensinamento; 5) Vigilância; 6) Inquirição; 7) Defesa; 8) Coragem; 9) Renúncia; 10) Perdão. De “amor-estático” temos apenas 5 sinônimos:  1) Egoísmo; 2) Omissão; 3) Pusilanimidade; 4) Angústia; 5) Intolerância. Sobre o assunto poderiam ser escritas centenas e centenas de páginas, mas daremos apenas dois simples exemplos: 1) Pai, que por estimar demais seu “filho querido”, dá-lhe uma situação acima de suas posses e briga com os outros quando o mesmo faz diabruras na rua; 2) Mãe que prende o seu filho à barra de sua saia para livra-lo dos “perigos das más companhias” despersonalizando-o. ( 4-3-70)

Em matéria de caridade, todos temos nossos “necessitados particulares” muitos dos quais comparecem habitualmente a nossa porta, pedindo roupas usadas, alimentos,e algumas dessas pessoas são até nossas conhecidas antigas, compadres, “parentes longes”... Mas isso não pode, em absoluto, motivo de recusa de colaboração aos necessitados avulsos, ou as campanhas populares que se fazem no Natal, no inverno, bem como aquelas que, ocorrendo uma calamidade pública (enchentes, secas, incêndios, desabamentos) são promovidas para minorar os sofrimentos dos atingidos pelo infortúnio. Em verdade, é uma grande desgraça que os governantes ( federais, estaduais, municipais, etc.) não tomem a si, na maior parte, a obrigação de socorrer aos necessitados em geral, forçando-os então a, humilhados, recorrerem à “generosidade popular”... Entrementes, é uma desventura ainda maior aquela provocada, nessas ocasiões, pela atitude de certos “ricos” ¾ os tais a que se referiu Jesus Cristo no Sermão da Montanha ¾  e que, também por isso, não estarão no Reino dos Céus! (12-4-70)

Minhas  Crenças ¾ I) Creio em Deus  II) Creio em dois Céus: no primeiro, de que nos fala a Bíblia e  do qual muitos duvidam; e no segundo, que todos devem respeitar, constituído pela consciência do Povo, que o concede ou o nega a cada um, segundo o seu procedimento durante a vida terrena. III) Creio nos milagres do amor: do amor de todos os amores, do amor sublime entre os homens, criaturas de Deus; do novo amor, que se inicia quando a jovem mãe sente pulsar em seu seio a vida do filhinho querido; do amor verdadeiro que sente o pobre velho quando, nos seus últimos momentos, deseja ter em torno de si todos aqueles a quem sempre trouxe em seu coração.  IV) Creio nos milagres da Humildade que faz o homem reconhecer no seu próximo um seu semelhante e, por isso, infunde em seu coração o desejo e o dever de dispensar-lhe fraterna e até abnegada consideração. Humildade que impõe ao homem teimar apenas sobre aquilo que sabe; não sonegar aos outros o que sabe e lhes é útil; confessar sua ignorância e perguntar, inclusive às criaturas mais simples , sobre o que tem obrigação ou necessidade de saber. V)  Creio nos milagres do Trabalho, honrado e perseverante, que, se antepondo ao desânimo, produz benefício a quem o executa e, ao mesmo tempo, extensivo aos seus próprios entes queridos, membros da comunidade universal. VI) Creio nos milagres da Honestidade, que desde os primórdios da criação do homem, vem sendo exaltada nas páginas da história, quanto aos que a praticam com nobreza e sinceridade. E há de continuar representando na existência de cada um, para a própria consciência, supremo conforto, ainda que as calúnias e as mentiras humanas pareçam deslustra-lhe a reputação.  VII) Creio nos milagres da Renúncia, que faz a pobre criatura tolerar e perdoar as ingratidões humanas, ainda que não as possa, voluntariamente, esquecer, talvez assim evitando sua maldosa reincidência; creio na renúncia de que nos  o Divino Mestre: “Ao que lhe disputar a túnica, cede-lhe também a capa’ ( Mateus 5:40).  VIII) Creio nos milagres da Bondade, que começa com um sorriso e termina com uma lágrima, bondade que torna melhor o nosso mundo interior e procura levar a possível felicidade ao mundo dos outros; bondade que é luz, calor, amparo, caridade, amor e que, em certos momentos, encherá nosso coração e emoção e nossos olhos de lágrimas, quando a dor, às vezes sem remédio, atingir vidas e coisas criadas por Deus para o bem estar da coletividade terrena.  IX) Creio nos milagres da Justiça, aureolada pela bondade cristã que, em nome da verdade, sem omissão e com honradez, procura exaltar a virtude e condenar o vício, infundido nas criaturas humanas fé e confiança no futuro, assegurando-lhes a proteção necessária e sã liberdade em suas andanças por este “vale de lágrimas”.   X) Creio, de novo, agora e sempre, em Deus, na sobrevivência da alma e na vida eterna, onde estarão juntas as pobres criaturas humanas que tanto se amaram neste mundo. ( 12-6-79)

Se as pessoas que possuem recursos financeiros suficientes para a própria manutenção e de sua família, em nível elevado ou, pelo menos, bem acima da média regional e que por isso se dão ao luxo de promover, periodicamente, dispendiosas reuniões entre amigos e parentes, sentissem, vez ou outra, por motivos acidentais, o estômago vazio se remoendo em contrações de fome, quando as reservas alimentares se esgotassem ¾ não obstante as riquezas pecuniárias e materiais lhes estejam sobrando ¾ esses felizardos, assim que superada a situação angustiante,de certo sentiriam em seus corações  um pouco mais de caridade em favor daqueles  seus irmãos que, vegetando ou perambulando  pelos desvãos das favelas, cortiços e demais refúgios inóspitos, trazem, nas feições macilentas e nos olhares tristes, a aparência própria  dos famintos e desventurados. ( 12-10-80)

Não! Jamais entenderemos ou justificaremos a auto-destruição ─ o suicídio... Ainda que a infeliz criatura não tivesse um só parente, um simples amigo, a quem causasse sofrimento em face de seu tresloucado gesto, quem dele depois ─ por força da apuração e da divulgação dos fatos ─ tomasse conhecimento e perguntaria: “Porque, porque?”. O suicídio é uma questão de consciência mais para o que se vai do que para os que ficam... É uma falta de caridade para os que sobrevivem e sofrem diante de sua atitude de desespero e covardia. Todos os males terrenos tem remédio, paliativo, consolação... No momento extremo, de desespero, se alguém pudesse deter a consumação do desvairado ato, certamente que ambos, seriam aplaudidos pela justiça dos homens e pela clemência de Deus. ( 4-11-83)

Poderão, alguns dos que lerem as ponderações contidas nestas quatro pobres cadernetas, afirmar que são idéias inconseqüentes, apenas bem intencionadas... Seja! Mas ainda assim, é preferível a nada pensar, nada dizer, nada fazer. Se é “tempo perdido”, que o seja com propósitos otimistas!... “Desde que o mundo é mundo, existe dor, existe fome, existe guerra, existe o mal”, dirão e “assim será sempre!” Não! Não! Não! Pois se isso fosse verdade, verdade cruel e irremediável, melhor seria então destruir tudo o que foi feito de bom pelo homem, pondo abaixo todas as doutrinas de moral, de virtude, de bondade, de justiça. “Nada de artes, nada de ciência, nada de música, nada de poesia, nada de beleza, nada de ternura com as crianças, nada de respeito com os velhos! Morte para os famintos e infelizes! Rua para os enfermos! Para a infância, o desamparo e para a juventude, a corrupção!” Deus bondoso, perdoai tanta falta de caridade! Não! Mil vezes, não! Benditos os visionários que crêem e  lutam por um mundo melhor. (30-4-85)