CONSCIÊNCIA

Se um falso amigo nosso, que nos houvesse ofendido e caluniado, viesse um dia, com a consciência iluminada pela bondade de Deus, a praticar um ato meritório, nós esqueceríamos o homem para louvar o ato. Isto porque aprendemos a julgar, colocando o nosso pensamento acima dos nossos próprios ressentimentos. ( 25-5-51)

Política local — Se vencer o nosso adversário político e vier a fazer um bom governo, então teremos de nos convencer de que nós e que estávamos enganados, sendo portanto nosso dever, em benefício de Rio das Pedras, prestigiá-lo estimulando-o a melhor trabalhar. Se porém, vencedor, fizer um mau governo, teremos igualmente de nos conformar porque afinal fôramos nós próprios os culpados pela sua vitória eleitoral; culpados por não termos oferecido ao povo maior soma de realizações e culpados ainda por não termos difundido instrução elevada bastante capaz de conduzir a consciência popular a um julgamento espontâneo e correto. Se para muitos, uma derrota “seria uma ingratidão”, eu penso que representaria o fruto de nossa própria incúria, ou a “voz de Deus” na democrática palavra do povo. ( 26-6-51 )

Que adianta a vida? — Quem, em sã consciência  e espírito de observação, analisar as inúmeras e diferentes situações em que as criaturas humanas se debatem — uns labutando para ganhar o pão de cada dia,outros esforçando-se para aumentar as suas fortunas, muitos desperdiçando as suas forças físicas em ociosidade e vícios, e outros ainda se mortificando para recuperar a saúde combalida — concluirá, talvez, que nenhuma justificativa existe para isso tudo! E perguntamos? Existe uma recompensa para os bons? E um castigo para os maus? Os milhões de habitantes do mundo que se apagaram na morte, há séculos e séculos, obtiveram em suas épocas o tratamento, bom ou mau, que mereceram? Os milhares de maus que iludiram, declarada ou subrepticialmente, o povo e ficaram impunes, e outros tantos bons, cujos méritos permaneceram desconhecidos ou subestimados, e ainda as vítimas das injustiças do mundo, foram todos julgados, um por um, pelos seus contemporâneos ou pela posteridade? Diante dessas conjeturas, terríveis e insondáveis, é forçoso acreditar-se em Deus, Suprema Vontade, que tudo dirige da melhor maneira, ou... não crendo em coisa alguma precipitar o pensamento no turbilhão da dúvida, do caos, do nada! Eu prefiro crer em Deus! ( 30-10-51)

Elevar-se é se transformar em alvo! Assim o homem que, por seus méritos, conseguir destacar-se de seus semelhantes, logo será olhado com despeito e inveja pelos maus e apenas os poucos justos o poderão louvar. O mesmo acontece com os que ocupam lugar de juiz, chefe, patrão, etc.; muitos em sua volta pleitearão favores e beneplácitos e os que não puderem ser atendidos formarão o grupo dos descontentes  caluniadores. Uma leve censura dirigida a um mau elemento provocará um gesto de revolta e aquele que pretendeu fazer justiça logo será acoimado de carrasco. E isso só poderá deixar de acontecer quando as luzes da instrução e da honestidade, iluminando as consciências, conseguirem estabelecer uma recíproca compreensão entre os homens. (20-6-52)

A maior parte  dos homens prefere agradar a maioria poderosa! Se Pilatos, que dispunha do poderio, quisesse ter sido honesto, teria impedido a morte de Jesus. E assim, pelo contrário, deveria ter ordenado que o povo seguisse o Mestre, seus ensinamentos de paz, amor e perdão! Mas, é que a populaça, cúmplice dos despeitados sacerdotes, estava possuída da volúpia do mal e ao governador da Judéia interessou mais a sua posição política perante os homens, do que  a sua consciência perante a verdade, perante Deus! ( 10-9-52 )

Um homem sozinho tem um pensamento: o da sua consciência. Dois poderão pensar antagonicamente. Muitos, fazendo intrigas dentro dos próprios pensamentos, terminarão provocando uma revolução. (18-3-53)

Recompensas — Quem rouba vai preso, seja porque furtou uma nota de cem cruzeiros ou porque se apossou de uma galinha alheia. Se descoberto é condenado. Pela justiça e pela opinião pública. Quem nega um auxílio a quem lhe solicita também é acusado pela consciência daquele que não foi atendido. Entretanto os que dão esmolas generosas ou mandam auxílios espontâneos aos necessitados, quase sempre ficam ignorados. Os primeiros, ladrões, pagam em vida seus crimes; os outros, os benfeitores, só depois de mortos tem seus gestos reconhecidos. ( 28-4-57)

Como as cicatrizes do corpo recordam sempre as lesões que as causaram, as cicatrizes da alma — visíveis aos olhos da consciência — não nos deixam esquecer as afrontas recebidas. Embora tenhamos perdoado, continuará em nossa recordação o vestígio-cicatriz do fato ( 10-9-59)

Palavras que certos pais dizem a filhos quando é necessário contrariá-los em seus intentos:

·        Quando tem menos de 18 anos: “Não quero!

No primeiro caso, a força da imposição, imobiliza; no segundo caso, a força da autoridade, reprime; no terceiro caso, a força do dever, dificulta e no último caso, a força da consciência, orienta. Felizes os pais que podem conduzir seus filhos no caminho do bem com singelas palavras ou apenas com significativos olhares. ( 7-5-61)

A propósito dos massacres praticados por certas tribos africanas contra brancos — A liberdade deve ser consciente. Não se pode dar liberdade a uma criança de um ano e ir, vir e fazer. Seria uma temeridade e dos desastres e crimes conseqüentes não seríamos apenas cúmplices, mas autores. E não há consciência onde há fanatismo e  ignorância. Por isso não pode e não deveria ser livre um povo que apóia a política do massacre ou do “paredon” contra os seus semelhantes. Antes da liberdade é necessária a instrução cristã, mesmo que essa instrução seja ministrada coercitivamente. ( 27-5-61)

E quando diziam ao pobre homem que o objeto que lhe desaparecera havia sido, talvez, furtado por algum peregrino ou estranho, ele respondia: O maior prejudicado é o próprio malandro, que levará um peso a mais na consciência. E quem sabe se, tendo família ou sendo ele próprio um necessitado não desfrutará, em parte, dos benefícios que, se os solicitasse, poderia receber em maior quantidade?” ( 17-9-61)

“De médico e de louco todos temos um pouco” — Médico: qualidade positiva — virtude. Louco: qualidade negativa — defeito. Portanto, as pessoas tidas como “normais” que não tiveram uma também não possuem a outra qualidade. Ipso facto são apáticas e ineficientes.  Quanto maior o volume de uma qualidade tanto maior será a contra-partida, o volume da outra qualidade, podendo ambas co-existirem por se sucederem. A presença sempre, de modo absoluto, em uma criatura humana, de uma só dessas qualidades é impossível, porque não seria normal. Seria genial, isto é, sobrenatural. Por isso vemos muitas pessoas serem  admiradas por um grupo de pessoas e, simultaneamente malquistas por outro grupo, conforme a faceta em apreciação. Quantas vezes, o mesmo grupo muda de idéia quando observa que “tal pessoa” mudou de comportamento. Como a tendência da humanidade é civilizar-se, é maior,  em quase todos os indivíduos, a existência ou presença da primeira qualidade, ou seja, a virtude. Na consciência de cada um existe uma balança de dois pratos: toda vez que um erro é reconhecido vem logo o consolo: “acontece que no meu passado, no presente, no futuro...” e vão surgindo as mais variadas justificativas, em forma de recordações, de relatos, de promessas... Ninguém quer convencer-se de estar ou declarar-se errado, definitivamente. A propósito vale lembrar o axioma: “Até o demônio depois de velho se faz ermitão”. ( 1-11-61)

Pesadelo II — Havia estourado nova revolta popular. O terror imperava na cidade. As autoridades todas haviam sido fuziladas, pisoteadas. A turba, sedenta de sangue, proclamava que só pouparia  os proletários do campo e da cidade. Os outros, ou pelo menos uma pessoa  de cada família, seriam “justiçados”. Era o tributo com que pagariam as passadas alegrias em seus lares, onde nunca faltou pão. O pelotão de fuzilamento achava-se em frente de sua casa. A algazarra da rua era ensurdecedora. Os soldados com os uniformes em desalinho, olhares flamejantes de ódio, apontavam os fusis, com as baionetas caladas, para todos os lados. Pedradas faziam as portas e janelas se abrirem com estrondos. Móveis eram incendiados assim que atirados à rua, clareando com luz bruxoleante semblantes suarentos. Gritos de histerismo se misturavam com choros de crianças apavoradas, num tumulto indescritível. No céu escuro da cidade fumarenta explodiam focos de luz, como pirilampos ruidosos. Outras bombas mais fortes estouravam iluminando o espaço, depois de levadas ao alto por serpentes faiscantes que se desfaziam como milhares de minúsculas estrelas cadentes. Tudo aquilo dava impressão de uma festa macabra e infernal. Foi quando um homem corpulento, estremecendo-se todo, bradando uma, duas, três vezes, erguendo-se e girando na ponta dos pés: “Silêncio! Silêncio! Silêncio!” . Aos empurrões formou-se em seu redor um vazio e o brutamontes ficou sozinho como que num picadeiro e ameaçando disparar o fusil-metralhadora que portava, foi conclamando: “Agora eu quero silêncio! Vamos subjugar mais um ‘granfino’. Silêncio! O primeiro que atirar mais uma pedra receberá uma rajada de balas”. Já então todos os olhares convergiam para o terraço da casa, onde um homem de meia idade, com os braços abertos, adiantou-se,e com voz firme, falou: “Estou pronto para sofrer a condenação...”. “Não, o candidato a morrer não é você , mas seu filho, que desacatou o nosso regulamento. Em vez de entregar a chave do seu automóvel,  atirou-a fora fazendo com que a mesma se perdesse nos destroços  das sarjetas” . Quem deve morrer sou eu. Sou responsável pela educação e até pelo temperamento do meu filho. Ele tem o meu sangue e a minha alma”. “Mas você tem outros filhos para criar”. “Um irmão criará o outro irmão. Na falta de irmãos, a Sociedade ou o Estado avocará a si a obrigação da defesa das crianças. Ninguém é insubstituível, repito aqui”. “Entretanto, no novo regime, todas as famílias deverão ter um chefe; o governo não manterá nem orfanatos, nem albergues, nem asilos...”. “A chefia, como quaisquer ações, vem em função da necessidade. Um adolescente investido de autoridade cumprirá seus deveres com bravura”. E os seus negócios? Só você os conhece...” . “Os que ficarem ou vierem depois vasculharão livros e consciências e decifrarão todos os mistérios aparentes. Ademais, os moços precisam viver. Eles tem o idealismo no cérebro e o gérmen do progresso nos músculos. Os velhos poderão apenas ministrar ensinamentos. Mas a sabedoria não é patrimônio de ninguém. É um edifício imenso, que vem sendo construído desde a aurora do mundo, com milhões de pequenas pedras — idéias que se renovam em busca da perfeição. E os moços, imbuídos dessas idéias lutarão por um mundo melhor, procurando fazer com que a fraternidade se aposse  de todos os corações e assim...”. Ninguém mais, nem ele próprio, podia ouvir as suas palavras; começou com a impaciência em todos os olhares, depois cochichos, depois acotovelamentos, depois esfregação de pés no asfalto, depois vozerio, depois altos brados uníssonos, simultâneos com gestos cadenciados e o clamor de “morra o velho! Morra o velho!” foi crescendo avassaladoramente como se fosse um furacão. Nesse momento houve como um estremecimento e o pobre homem despertou, sentindo escorrer-lhe pelo corpo o suor frio dos agonizantes enquanto dentro do peito seu coração palpitava com aquela heróica alegria que deve dar sentido aos mártires na hora da morte. ( 19-4-62)

Dia virá, graças a Deus e à consciência humana, em que a palavra “pobre” estará tão em desuso entre os homens, como hoje a palavra “escravo”. ( 12-03-64)

A família é sempre a última a saber... das doenças e das traições que a rondam... Mas é quase certo que, pelo menos no caso das doenças, grande parte da responsabilidade disso cabe à própria família. Por medo da desgraça retarda conhecer a dura verdade... e omite-se. Quando o assunto prende-se a estranhos, o cidadão tem até volúpia em saber e propalar os mexericos.. Entretanto, quando lhe toca de perto faz-se de desentendido e passa ao largo... Como o mau pagador, cuja consciência lhe manda mudar de itinerário para evitar o vexame da cobrança... ( 16-10-64)

“Isso é assim mesmo... Será sempre assim... Não tem remédio...” Não! Não! Não! Devem responder os conservadores, os virtuosos, os abnegados! Se a decadência é grande, seria catastrófico se o comodismo, a omissão, a pusilanimidade tornassem apáticos os corações da maioria dos homens. Sentimos nas situações que nos cercam que sempre há alguma coisa de bom, de útil, de nobre a fazer. Se, pelo contrário, calássemos a voz e cruzássemos os braços, num indiferentismo amorfo, logo nossa consciência nos acusaria por termos cooperado para o rebaixamento da vida humana, com reflexo no círculo de nossas amizades, dentro do nosso próprio lar! ( 17-10-64)

Ser... ou não ser... (Shakespeare) ¾  “Ser ou não ser... eis a questão!” Afinal, o que é mais nobre para a alma: a cabeça curvar  ante os golpes da fortuna, ultraje ou tentar resistir-lhe enfrentando em um mar de dor? Melhor seria morrer...talvez dormir...não mais que isso... E pensar que assim dormindo poríamos fim aos males do coração e as mil torturas naturais que são a herança da carne! Quem não almejaria esse desfecho com fervor? Morrer... dormir... dormir? Talvez sonhar!... Sim, nisto é que está a dificuldade: o não sabermos que sonhos advirão do sono da morte, quando nos livrarmos das aperturas da vida terrena... É esta idéia que nos preocupa, diante do infortúnio de nossos dias, e que torna nossa existência tão longa! Quem suportaria as flagelações e os escárnios do mundo... as injustiças dos mais fortes... os maus tratos dos tolos... a humilhação da pobreza... as angústias do amor contrariado... a insolência dos poderosos... as tardanças das leis... as implicâncias dos chefes...cuja inépcia desmerece nosso mérito paciente? Quem suportaria, com efeito, tudo isso se com um simples golpe de punhal, no peito, obtivesse sossego? Quem continuaria, gemendo, a carregar, suado, os pesados fardos da vida?... Só o receio do desconhecido, do além túmulo, região inexplorada donde ninguém voltou, receio que turva a vontade, e torna covarde a consciência... esse receio é capaz de obscurecer os mais límpidos pensamentos e desviar de seu curso os mais enérgicos planos fazendo a ação perder o próprio nome. ( 09-11-64)

Segredo e Enigma ¾ Segredo é muito difícil de ficar muito tempo encoberto, debaixo do sol, quando duas ou mais pessoas o conhecem. Por imprudência de uns e adivinhação gradativa de outros, quilo que se desejava permanecesse oculto, acaba se revelando, e mesmo que negado várias vezes, termina por não resistir à evidência da verdade. Enigma, esse sim, pode permanecer insondável, porque o mistério que envolveu apenas uma pessoa, consciência ou fator, por falta de repetição, confissão ou provas, acaba se perdendo, com o correr dos anos, nas malhas do incógnito. ( 23-07-65)

Pode existir, no mesmo homem, duas espécies de consciência: uma, extremamente pequena, que atua no pobre mortal quando vítima de tentação por vantagens e prazeres inconfessáveis, inclusive de caráter sexual, e  a outra, exageradamente grande, que passa a predominar, na mesma criatura, no momento em que perceber a extensão do perigo em que esteve envolvido, e , se acusado poderá ter a felicidade de querer provar que “as aparências” enganaram, e então procurar fazer crer aos outros a sua altaneira impecabilidade. ( 23-07-65)

Existem duas espécies de “má vontade”: a primeira, a comum, é aquela em que o indivíduo nega cooperação aos seus semelhantes sob os mais diversos e absurdos subterfúgios, e... vai andando, sem nunca mais tomar conhecimento com o desenrolar do caso; a segunda, além de má vontade, propriamente dita, é estupidez: deixando de dar apoio a uma situação de necessidade isolada ou coletiva, somos, em seguida, novamente solicitados e re-examinando o assunto, aí então somos compelidos pelo nosso dever e conveniência a dar a nossa colaboração tardia, sujeito ainda aos comentários dos nossos amigos, que nos responsabilizarão, do fundo das suas consciências, em parte, pelas complicações decorrentes... ( 24-01-66)

Ah! O Comodismo! ¾ Quantas vezes, por comodismo, deixamos de retroceder sobre coisas mal acabadas, deixando para depois a sua reparação que, afinal, vai ficar adiada “sine die” e constituindo-se assim num pequeno remorso em nossa consciência ou em uma testemunha muda, diante de nossos olhos, a desafiar-nos durante muito tempo com seu aspecto de suspense... A isso poderíamos chamar de frouxidão diante de um fato discutível e nitidamente reparável, em face do qual é sempre mais fácil e cômodo “deixar como está para ver, depois, como é que fica”. A coragem de tomar uma decisão urgente, enfrentar um problema, “dizer não” quando necessário, “dizer sim” no momento preciso, nem sempre é levada a bom termo, desassanhadamente, e por isso, por essa pusilanimidade, nas épocas, dias ou momentos que se seguem somos assaltados por aquele ma estar íntimo que sofrem os responsáveis pelas realizações inacabadas... ( 28-07-66)

Honorário Presidente da República, etc. ¾ Proporcionalmente a quantidade “três” deve ser considerada a máxima no âmbito da possibilidade e da necessidade de cada cidadão no setor de produção e do consumo. Tomando por base a quantidade normal ¾ que é a apurada em análise honesta ¾ verifica-se quase impossível a uma pessoa ultrapassar e, no campo da produção ou do consumo,  além de três vezes aquela quantidade. Assim, ninguém pode trabalhar  3 vezes o tempo normal ( 3 x 8 = 24 horas) diariamente, bem como não existe ninguém que costumeiramente  possa ingerir 3 almoços , depois 3 jantares, acompanhados de 3 porções de água ou de cerveja. Também se um homem comum pode carregar volumes com peso de 60 quilos ¾ impossível  que outro trabalhador, ao seu lado, possa acompanhá-lo transportando volumes com 180 quilos. Se a média dentro de uma fábrica é a produção em torno de 100 peças por operário, seria um fenômeno aquele que conseguisse o triplo: 300 peças! Assim chega-se a conclusão que são absurdos honorários fixados para o próximo Presidente da República ¾ Cr$ 3.800.000 por mês ¾ cerca de 45 vezes o atual salário mínimo em vigor no Brasil. Igualmente os honorários de deputados e senadores andarão também altos, e considerando que exatamente são eles ¾ presidente, ministros, governadores, congressistas, etc. ¾  os “pais da pátria”, então o pobre brasileiro do nosso sertão fica entristecido... Jamais poderiam, aquelas altas personalidades, nesta hora de reconstrução nacional, admitir e aceitar, para si e para os demais políticos, mais de 4 vezes o máximo de 3 salários mínimos ( total 12 x 84 = 1.008.000) enquanto que fixam só 84.000 na capital de São Paulo e +/- 60.000 no interior do país, como o mínimo suficiente e necessário para uma manutenção da família de um trabalhador brasileiro... Portanto, acima de 12 salários mínimos deveria ser taxado de abuso do poder, principalmente se lembrarmos que esses políticos podem legislar em causa própria, com o que acabam revelando que não tem consciência nem  escrúpulo e também faltando-lhes autoridade moral para se encantarem em tal situação, enquanto que a maioria dos brasileiros, com os seus 70.000 cruzeiros velhos mensais só pode estar passando fome! ( 8-12-66)

“Se nem Deus com seu olhar penetrante e desvendador de consciência, nem Moisés com os Dez Mandamentos, nem Jesus com seus santos evangelhos, conseguiu purificar os costumes do mundo, o recurso é entender que a vida é assim mesmo”, pensava o pobre homem, fazendo voto de paciência, fé e virtude. Caim preferiu, em vez de arrepender-se, fugir, fugir sempre, errantemente... Moisés quebrou as tábuas da lei, diante de tanta ingratidão humana... Jesus, como Homem-irmão terminou seus gloriosos dias pregado na cruz, perdoando e ensinando, ( 2-7-67)

Feliz aquele que, na fatalíssima hora extrema, quando a voz de Deus, que é ao mesmo tempo a voz da própria consciência, penetrando-lhe na pobre alma, fizer a indagação bíblica de: “O que fizeste a teus irmãos?” puder responder: “Procurei tirar-lhes as pedras do caminho e até os ajudar na caminhada, sob os princípios da bondade e da justiça”. ( 17-11-67)

Às vezes os “inocentes” se importam demais com os falatórios e suspeitas contra a sua pessoa e chegam até às lágrimas quando, simultaneamente surgem tênues indícios de sua culpabilidade... Isso acontece porque, é óbvio, no fundo, bem no fundo da sua consciência alguma maroteira existe, e isso o coloca em permanente sobressalto... É o drama de  alma dos hipócritas e dos culpados que zangam quando alguém provoca a sua “dignidade”... Entretanto, quando o cidadão é 100% honesto, costuma manter a sua imperturbável serenidade, devendo meditar, a exemplo de Jesus: “Perdoai os infelizes que não sabem o que fazem...” ( 19-8-68)

Não são os sofrimentos nesta terra nem as boas ações aqui praticadas que, simplesmente, garantem aos homens a sua entrada no reino de Deus. É que o sofredor pode ser um revoltado, blasfemo, e até vingativo, do mesmo modo que o “generoso”  pode ser um hipócrita, demagogo e até velhaco. Assim, só merecerão os Céus – perante Deus e a própria consciência – aqueles que sofrerem estoicamente e praticarem com espírito cristão, sinceras boas ações, possíveis a todas as criaturas, sejam elas ricas ou pobres, felizes ou desventuradas. ( 26-9-68)

A presença da Autoridade – Em tudo o que está sendo feito (“bem feito”, que leva o mesmo tempo que levaria para fazer “mal feito”) é necessária a presença de uma autoridade. Essa autoridade pode ser o “olho do dono” ou de seus delegados, a “ação fiscal” dos governantes ou de seus prepostos, o “ato da presença” de testemunha ocular, presença que pode ser “concreta” se se encontrar “in-loco”, ser “abstrata” se na iminência de surgir a qualquer momento. A essas três presenças de autoridade junta-se a autoridade máxima, a de foro íntimo, a nossa consciência, que nos acusará depois se tivermos feito coisas más ou erradamente, e nos consolará se tivermos agido de modo acertado. ( 10-5-69)

Segundo Santo Agostinho: “O verdadeiro bem é aquele que nos torna melhores”. Portanto, isso em face da nossa própria consciência e em face da voz do povo, voz de Deus. ( 8-7-70)

Não deve ser vedada a permanência dos “hippies” nas praças públicas, como vendedores de bugigangas...Em todas as proibições discutíveis existem os que se arvoram em “defensores dos oprimidos”, atribuindo-lhes, em suas argumentações, virtudes nitidamente sofismáticas... O melhor é deixa-los perambularem por aí. Sempre existiu, no mundo, controvérsia sobre o bem e o mal... Há os que acreditam que determinados fins, são causadores de vícios e depravações ¾ verdadeiras lições ¾ e que alguns males trazem benefícios redentores... Entrementes, o alcoólatra, o toxicômano, o vagabundo, etc., entendem que, no seu “modus faciendi” é que são felizes... Maltrata-los, estupidamente, apenas agravaria o problema! O certo seria reeducá-los, recuperá-los, mas... Portanto, a presença dos “hippies” nas ruas e praças, também como espetáculo, teria talvez a probabilidade de por em brios a consciência dos chefes de famílias, que tratariam de bem procederem e melhor dialogarem com seus filhos e adolescentes, evitando que, por desajustes no lar, na escola, na sociedade, os  mesmos venham a preferir enveredar por incógnitos caminhos... ( 8-4-71)

Cuidado com os bons! Não os afronteis abusivamente! Por trás da serena aparência de homens bons, tolerantes, estóicos, existem consciências alertas. E com o mesmo vigor, firmeza e impertubabilidade com que estendem as mãos em favor de alguém, poderão, num ranger de músculos, transformá-las em punhos agressivos! E todos sabem que não é fácil acalmar a “ira dos justos”! ( 3-8-71)

Não somos julgadores; somos julgados. Um homem sozinho não pode julgar ninguém, pois se ao fazê-lo, pedir a opinião de outra pessoa, poderá ser taxado de precipitado e errôneo em seu julgamento, com a alternativa  até de, o “réu” passar, desde logo, ser considerado “vítima”... Entretanto o homem sozinho está sempre sendo julgado pelos outros. Esses outros não precisam estar em grupo de dois ou mais. Os outros, um de cada vez, estarão nos julgando, mentalmente, pelo que fizermos de inoportuno, inconveniente, irregular, absurdo, ilegal, condenável. Por isso que no dia a dia, hora a hora, momento a momento de nossa existência, devemos estar bem com nossa consciência para não sermos acusados e condenados, com razão pelos outros... que são os Juízes. ( 6-9-72)

Nossos planos para o futuro? Viver, cristãmente, o dia de hoje a fim de poder receber, no dia de amanhã, o prêmio da consciência tranqüila. O que é muito importante, no entanto, nesse dia a dia, é conseguirmos proporcionar aos nossos filhos educação, instrução e bom senso bastantes , para que possam merecer, dos que os cercam, o indispensável acatamento e respeito. ( 18-9-72)

O que mais entristece uma pessoa idosa é constatar que, com o passar dos tempos, outras pessoas, infelizmente às vezes pertencentes ao seu próprio grupo familiar, começam a tratá-la com irônico descaso... Poderíamos dizer ou escutar dizer que isso, embora não seja muito agradável, é quase lógico, natural! Com o passar dos anos, em idade avançada, os “pobres velhos” começam a sentir e mostrar deficiências físicas e intelectuais, envolvendo-se em situações, ás vezes, entre pitorescas e ridículas, especialmente por falta de memória, audição, visão, além de passar a revelar reflexos mais lentos. Para consolo lembraríamos apenas que o excelso Victor Hugo, com cerca de 80 anos, no crepúsculo do século XIX, disse que ninguém  se arriscava a se aproximar, abusivamente, e fustigar um leão velho e decrépito... Com um simples movimento de suas patas, aquele animal poderia estraçalhar as carnes de quem assim o afrontasse e com seu urro de revolta causar pânico nos circundantes. Da mesma forma, continuou V.H., um olhar severo e penetrante e poucas palavras de repulsa proferidas por um “pobre velho”, ofendido na sua dignidade, poderiam calar, bem fundo, na consciência de quem pensasse que poderia escarnecer, impunemente, daquele que tanto lutou, em tempos passados... ( 9-2-75)

Se a criatura humana que estivesse propensa a praticar um ato considerável indagasse, se sua própria consciência, como a mesma reagiria diante de um evento semelhante, que viesse a ser executado por um seu amigo, pessoa muito amada, de certo que desistiria da idéia, horrorizada! ( 14-11-76)

Lógica e Ética ¾ “Contra a força não há resistência” porque, conforme a resistência aumenta, a ela se sobrepõe a força... O coração tem razões que a própria razão desconhece. Assim, o pensamento do homem ¾ ou seja, o seu coração, a sua consciência, a sua lógica, a sua ética, o seu bom senso, o seu critério, etc., etc. ¾ quando amparado e impulsionado por escusas razões, usa e abusa de argumentos inaceitáveis e incompreendidos pelos seus semelhantes... Restaria , para os que crêem, como nós, na sobrevivência da alma, apenas o seu julgamento pela justiça de Deus. ( 19-6-77)

O sorriso ¾ Sorria sempre! Não existe no mundo ninguém, por mais feliz ou infeliz, por mais rico ou mais pobre, que não possa distribuir ou receber um sorriso. “Quando você nasceu todos sorriam; apenas você chorava. Assim, agora procure viver de tal maneira que quando você morrer, invertam-se os fatos: todos seus amigos chorem e só a sua consciência, junto de Deus, tenha motivos para sorrir” ( 10-10-77)

Ainda que todos se voltem contra nós, mas tendo Deus em nosso coração, teremos no momento extremo, a consciência bastante tranqüila, para podermos repetir as palavras do Divino Mestre: “Perdoai-os, Senhor, porque não sabem o que fazem” e “Em vossas mãos entrego a minha alma”. ( 19-5-79)

Minhas  Crenças ¾ I) Creio em Deus  II) Creio em dois Céus: no primeiro, de que nos fala a Bíblia e  do qual muitos duvidam; e no segundo, que todos devem respeitar, constituído pela consciência do Povo, que o concede ou o nega a cada um, segundo o seu procedimento durante a vida terrena. III) Creio nos milagres do amor: do amor de todos os amores, do amor sublime entre os homens, criaturas de Deus; do novo amor, que se inicia quando a jovem mãe sente pulsar em seu seio a vida do filhinho querido; do amor verdadeiro que sente o pobre velho quando, nos seus últimos momentos, deseja ter em torno de si todos aqueles a quem sempre trouxe em seu coração.  IV) Creio nos milagres da Humildade que faz o homem reconhecer no seu próximo um seu semelhante e, por isso, infunde em seu coração o desejo e o dever de dispensar-lhe fraterna e até abnegada consideração. Humildade que impõe ao homem teimar apenas sobre aquilo que sabe; não sonegar aos outros o que sabe e lhes é útil; confessar sua ignorância e perguntar, inclusive às criaturas mais simples , sobre o que tem obrigação ou necessidade de saber. V)  Creio nos milagres do Trabalho, honrado e perseverante, que, se antepondo ao desânimo, produz benefício a quem o executa e, ao mesmo tempo, extensivo aos seus próprios entes queridos, membros da comunidade universal. VI) Creio nos milagres da Honestidade, que desde os primórdios da criação do homem, vem sendo exaltada nas páginas da história, quanto aos que a praticam com nobreza e sinceridade. E há de continuar representando na existência de cada um, para a própria consciência, supremo conforto, ainda que as calúnias e as mentiras humanas pareçam deslustra-lhe a reputação.  VII) Creio nos milagres da Renúncia, que faz a pobre criatura tolerar e perdoar as ingratidões humanas, ainda que não as possa, voluntariamente, esquecer, talvez assim evitando sua maldosa reincidência; creio na renúncia de que nos  o Divino Mestre: “Ao que lhe disputar a túnica, cede-lhe também a capa’ ( Mateus 5:40).  VIII) Creio nos milagres da Bondade, que começa com um sorriso e termina com uma lágrima, bondade que torna melhor o nosso mundo interior e procura levar a possível felicidade ao mundo dos outros; bondade que é luz, calor, amparo, caridade, amor e que, em certos momentos, encherá nosso coração e emoção e nossos olhos de lágrimas, quando a dor, às vezes sem remédio, atingir vidas e coisas criadas por Deus para o bem estar da coletividade terrena.  IX) Creio nos milagres da Justiça, aureolada pela bondade cristã que, em nome da verdade, sem omissão e com honradez, procura exaltar a virtude e condenar o vício, infundido nas criaturas humanas fé e confiança no futuro, assegurando-lhes a proteção necessária e sã liberdade em suas andanças por este “vale de lágrimas”.   X) Creio, de novo, agora e sempre, em Deus, na sobrevivência da alma e na vida eterna, onde estarão juntas as pobres criaturas humanas que tanto se amaram neste mundo. ( 12-6-79)

Homem medroso é aquele que não sente o apoio de sua consciência, não está amparado por medidas de boa organização e, finalmente, não dispões de meios de defesa, própria ou advinda de amigos. ( 24-06-79)

Muitas vezes, quando é levantada uma acusação improcedente contra uma pessoa, esta prefere calar, certa de que, guardando silêncio, depois, tida como “condenada”, terá direito à cessação dos debates... sobre um doloroso assunto, sobre o que a própria consciência não ignora ou ignorou, um instante sequer, tratar-se de uma simples e inglória calúnia, que mais horas ou menos horas, será desfeita, naturalmente, como uma disforme nuvem no espaço...( 16-7-79)

Quando criança achávamos que seríamos  muito felizes se conseguíssemos determinadas coisas ¾ doce, brinquedo, relógio, roupa nova, passeio ¾ de que queríamos desfrutar. Era a felicidade proporcionada por outras pessoas, portanto vinda do mundo exterior, efêmero. Depois, moço e já adulto, sabendo sentir os enlevos do espírito, quando a nossa consciência passou a censurar ou aprovar nossos atos, aí então a felicidade passou a brotar do nosso coração... sentindo-a mesmo nos momentos em que a dor tomava conta da nossa alma, pois, comovidos, constatamos que ainda, nesse transe, poderíamos fazer algo para trazer um pouco de conforto para os que nos rodeavam. ( 26-8-79)

A consciência do homem é como um mini-Deus ( isso, não do homem pecador, farisaico, hipócrita, mas do homem crente) porque acha que Deus é a extensão da própria consciência. Esse homem-consciência, quando comparecer diante de Deus para prestar contas de sua vida terrena, poderá julgar-se feliz se puder afirmar: “Senhor, fui prejudicado mais do que prejudiquei os meus semelhantes, talvez sem querer ou por omissão e não guardei rancor de ninguém. Perdão, Senhor!”. ( 24-04-82)

Não! Jamais entenderemos ou justificaremos a auto-destruição ─ o suicídio... Ainda que a infeliz criatura não tivesse um só parente, um simples amigo, a quem causasse sofrimento em face de seu tresloucado gesto, quem dele depois ─ por força da apuração e da divulgação dos fatos ─ tomasse conhecimento e perguntaria: “Porque, porque?”. O suicídio é uma questão de consciência mais para o que se vai do que para os que ficam... É uma falta de caridade para os que sobrevivem e sofrem diante de sua atitude de desespero e covardia. Todos os males terrenos tem remédio, paliativo, consolação... No momento extremo, de desespero, se alguém pudesse deter a consumação do desvairado ato, certamente que ambos, seriam aplaudidos pela justiça dos homens e pela clemência de Deus. ( 4-11-83)

Advertência a determinados reclamantes ─ Você que está reclamando, o que tem feito além de queixar-se de tudo e de todos? Você reclama do desamor, da fome, da miséria, do desemprego, da violência, dos assaltos, da falta de segurança, da vadiagem, dos viciados, dos tóxicos... Mas, você que está sempre reclamando, reflita bem sobre o que tem feito para diminuir um pouquinho a gravidade dessa situação... Coloque nos dois pratos da balança da sua consciência, de um lado o volume de suas reclamações e de outro lado o valor de suas realizações em favor do decantado “mundo melhor”... ( 17-12-83)

É tudo uma luta... O escritor luta, luta noite adentro, isolando-se do borburinho mundano e escreve boas coisas... O pintor luta, luta isolando-se em clarabóias, em ateliers, em quartinhos de fundo de quintal e executa lindos quadros... O compositor luta, luta a maioria das vezes em recolhimento, buscando em horas mortas a inspiração e produz inolvidáveis peças musicais... O cientista luta, luta em pesquisas e experiências e conforta-se, ao final, constatando que seus esforços representam avanços para o bem da humanidade... O jornalista luta, luta principalmente quando a cidade começa a repousar para que, no dia seguinte, os leitores sejam informados sobre o que aconteceu nas cercanias e no mundo, sendo denunciados, paralelamente, os enganos, as mentiras, e promovida a defesa do bem, da verdade e da justiça... E assim, em centenas de outras atividades, as criaturas humanas procuram, no seu dia a dia, contribuir para que no grande mundo, homens, mulheres, crianças e idosos possam viver num sempre almejado mundo melhor. Mas, no fim ( todos teremos o nosso último momento na face da terra) se, um a um e todos nos deixarem, além dos generosos frutos  dos seus trabalhos e esforços, algo de bom em benefício também dos que não puderam ler os seus livros, admirar as suas pinturas, ouvir as suas músicas, desfrutar dos benefícios da ciência, ser alcançados pelas campanhas vitoriosas da imprensa, enfim usufruir um pouco das muitas coisas boas feitas, exibidas, promovidas por uma minoria de predestinados que, por suas missões, atribuições e funções se constituem numa espécie de elite da comunidade, então, repetimos, se estes não deixarem realizado algo em favor dos deserdados da sorte, que sempre existirão, pouco ou quase nada valeram os seus lindos trabalhos, os seus esforços, os seus suores, os seus sacrifícios, certo que, ao final, ficou esquecida a principal parte, a parte do amor ao próximo, traduzida na mensagem do Divino Mestre, quando recomendou” “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. E os ricos e os milionários, enfim os afortunados da indústria, do comércio, da agropecuária, do capitalismo, da oligarquia, do oportunismo e centenas de profissões autônomas e liberais que aqui não são mencionadas expressamente, em que ponto poderiam ser convocados a cumprirem seus de solidariedade humana? Mas não apenas com as migalhas que lhes caem de suas fartas mesas a que se refere o Evangelho de Cristo. Sinceramente ninguém sabe até onde, quando, como, quanto essa convocação poderia produzir seus resultados... Entretanto, uma coisa é certa: bastaria que a consciência de cada um, na fase crepuscular de sua vida, fosse tocada por uma voz do alto e sentisse como é importante até para os mais descrentes e ateus dos homens fecharem os olhos, na extrema hora,  sentindo  a convicção de que cumpriram, em vida, com os seus deveres  perante os seus  familiares, igualmente perante os seus amigos e conhecidos, inclusive seus semelhantes , criaturas anônimas, neste grande mundo de Deus. ( 16-1-84)

O que é a felicidade? ─ “Um estado de alma”, já escrevi anteriormente. Mas para completar essa felicidade deve ser reconhecida e até propalada pela “voz do povo-voz de Deus” e igualmente estar envolvida, desde logo, por duas circunstâncias essenciais, no campo material: (a) Tranqüilidade quanto à própria saúde e a de todos os seus entes queridos; (b) Tranqüilidade quanto à alimentação, moradia, vestuário, transporte, no seu dia a dia, disponde de recursos suficientes para o seu pleno bem estar, sem precisar preocupar-se com os meios de pagamento para aquisição de quaisquer bens de que precise ou deseje de seu consumo ou uso cotidiano. Paralelamente, no campo espiritual, constatar que: (a) Nada sente pesar na sua consciência, de que deva arrepender-se, nem sofre a angústia de aspirar coisas impossíveis; (b) Sofrendo amarguras entende e aceita terem sido geradas por forças superiores  e inelutáveis e quando provocadas por pessoas amigas, é capaz de suportá-las, perdoando muitas e muitas vezes de acordo com a recomendação do Divino Mestre, em Mateus 18:21. ( 16-9-84)

Já escrevi anteriormente que Proudhon muito exagerou quando afirmou: “A propriedade é um roubo”, uma vez que a grande maioria dos homens, principalmente os de bom senso, entende que os bens materiais, frutos do trabalho honesto, de qualquer natureza, ou ainda recebidos por herança, constituem, pelo contrário, direito legítimo de uso e posse, por parte de seus detentores, representando até incentivo para preservá-los e ampliá-los. Roubo seria desviar coisa do verdadeiro dono. Portanto, segundo Proudhon, se o que o proprietário tem foi roubado, entendo que as vítimas do roubo só podem ser os que não trabalharam, não herdaram, faltaram-lhe ou deixaram as oportunidades e, agora, nada possuem... Complicado, não?! Mas, na verdade, roubo é a sonegação, em qualquer parte do mundo, dos impostos devidos e, muito maior ainda, roubo vergonhoso ( criminoso e lamentavelmente no Brasil, e em outras republiquetas, impunes) é o peculato, a corrupção ativa e passiva, o suborno, o desfalque, as negociatas, as sinecuras, as “mordomias” e um sem número de descaminhos de coisas e valores pertencentes à nação, ao povo, não havendo dúvida de que uma centésima parte disso tudo valeria muito, se aplicada, criteriosamente, em socorro da pobreza desvalida. Roubo clamoroso é isso, por falta de consciência, por falta de amor ao próximo, por falta de respeito ao Bom Deus! (15-9-85)

Mistérios... Naquele dia o “pobre homem” parou, um pouco, só para pensar... Já vivera três quartos de século, trabalhando e muito, desde criança visando ideais de nobreza para si e para os seus. Hoje, olhando a estrada percorrida e vendo em cada curva do caminho as esperanças e ilusões vividas, parou para recordar e meditar. Perguntou, como todos perguntam: Valeu a pena? Houve hesitação? Omissão, pusilanimidade? Se nós duvidamos, quem julgará? O importante mesmo é saber se, ao nosso derredor ou distante existem pessoas que se queixam de nossos atos ou atitudes... E não havendo reclamações tudo terminaria bem, aí, não fosse a nossa consciência que nos faz perguntar: Camões e Colombo foram felizes, embora morressem na miséria, depois de seus heróicos feitos, somente tarde reconhecidos? E Van Gogh, cuja genial pintura foi menosprezada a ponto de fazê-lo buscar o suicídio, o final de suas mágoas terrenas? E Dante Alighieri, hoje pai da poesia italiana, quando no cárcere e no exílio, foi feliz como bem merecia? E Joana D’Arc e nosso Tiradentes, martirizados de forma tão cruel desfrutaram da felicidade a que fazem jus os bons e nobres? E assim, o “pobre homem” numa meditação sem fim procurava desvendar os mistérios desta vida. ( 30-12-88)

“To be or not to be(Shakespeare 1564-1616) ─ O que torna o homem receoso e tímido é o fato de precisar lembrar-se, antes de dizer “verdades” publicamente,  de que seus protestos contra políticos ou homens influentes e poderosos, podem provocar reações incômodas, represálias e até processos judiciais. Não basta saber das falcatruas e abusos praticados, à socapa, por pessoas importantes e ter a seu favor muitas testemunhas ocasionais. O que é necessário mesmo é apresentar, se interpelado, provas concretas e insofismáveis dos fatos denunciados, sob pena de passar de acusador a réu.. Consola apenas, ao pobre homem, lembrar-se que, entrementes, cumprindo seus deveres para com Deus, com a família e a sociedade, estará assegurando para o final de seus dias, um pouco d bem estar espiritual e consciência tranqüila. ( 19-2-89)

Todos animais possuem meios peculiares de defesa, para garantir a própria sobrevivência. Os irracionais, se acossados, em perigo, podem reagir com excepcional violência. O homem, possuindo raciocínio, pode arquitetar ou recorrer a recursos de defesa, além da força bruta de que dispõe, no momento em que é agredido. Ao homem sobra ainda, como defesa, a voz e o olhar, que podem traduzir chamada à consciência e condenação ao ofensor. As criaturas humanas têm medo de se aproximar de um animal bravio, mesmo quando velho, enfermo ou sonolento. É que esse animal pode, se provocado, reunir forças e, num bote, estraçalhar o intruso. As palavras de revolta ou o olhar ferino de um homem humilhado e indefeso, podem causar chagas na alma de um malvado, tanto quanto lhe causaria, no corpo, os ataques de um animal feroz. ( 16-4-89)

Brasil, paraíso? Da corrupção? Da sinecura? Da mordomia? Da ganância? Do Favoritismo? Da irresponsabilidade? Da Omissão? Do jeitinho? Da Impunidade? Do Mau exemplo?  De todas essas mazelas que infestam o organismo administrativo brasileiro, a pior mesmo é o mau exemplo, como fermentação maligna, que deteriora até as consciências mais puras e até insuspeitas. “Política”, segundo o Aurélio, “é a arte de bem governar os povos”. Portanto, tratando-se de democracia, os eleitos pelo povo devem praticar a arte do bom governo. Mas aí começa a infelicidade do povo brasileiro: no palanque, nos “santinhos”, etc. são promessas e mias promessas e depois de empossados, salvo nobre exceções, o que se verifica é o “venham a nós as vantagens  do Reino”, e o povo que os escolheu que se lixe. Entretanto o povo que teve o dever e o direito de eleger seus representantes, também lhe caberia tomar conhecimento, julgar e, diretamente destituir de seus cargos aqueles que se enquadrassem em duas ou mais das supracitadas mazelas. Dissemos “duas ou mais mazelas”, porque o mau exemplo, em suma encoraja a proliferação e adeptos e induz às indagações: Por que os políticos, lá em cima tem privilégios, praticam abusos e continuam impunes? “Cinqüenta  a cem salários mínimos, mais mordomias, para um deputado, é muito, enquanto a maioria de seus eleitores vegeta com menos de três mínimos”. Não havendo, por parte dos políticos, desprendimento, honestidade e patriotismo para se constituírem em bons exemplos, a nau dos brasileiros continuará sossobrando no oceano da inflação e da miséria. ( 13-8-89)