DEUS

 

Vida

Mortal, feliz ou magoado, dize ao mundo,

A esse punhado de tolos, amigos teus,

Que pintam céus, infernos e o próprio Deus,

Dize de coração aberto e profundo:

 

A vida é um sonho de eternidade:

Quando o eterno dorme, o sonho se realiza,

Desponta num’alma que se concretiza

Num corpo crescente  a luz da falsidade!

 

Sonhando, o corpo vivo lentamente cresce:

Aprende o que não sabe, o que supõe ensina...

Realismo!... A fantasia se extermina

Na desilusão que aos poucos aparece.

 

O eterno dorme, e o sonho escorre...

Quando a alma se desliga da matéria

Para gozar o bem ou curtir a miséria,

O eterno acorda e a vida morre. ( 13-8-1931)

 

Soneto

Jovem e belo, ainda no verdor dos anos

O pobre monge era o símbolo da paciência;

Não chorava, mas o mistério da sua existência

Fazia supô-lo vítima de desenganos.

 

É que uma vez sentira no peito os arcanos

Do amor na sua esplendorosa essência!

Mas o amor que julgara igual à providência

Fora-lhe o calvário dos martírios mais insanos.

 

E enclausurado naquele austero convento

Procurara em vão minorar seu sofrimento...

E, um dia, ajoelhado aos pés do leito

 

Rezou, desesperado, esta lúgubre oração:

“Arrancai-me oh! Deus, este amor do coração,

Ou, louco, arrancarei o coração do peito!( 10-12-31)

 

 

Tudo na vida é como um sonho! Noutro dia, em minhas andanças, visitando o nosso cemitério, deparei num túmulo aberto com os restos de um esqueleto e lendo a inscrição na lápide deslocada verifiquei que a pessoa havia falecido antes do meu nascimento. E pensei: essa criatura viveu? Sentiu? Sonhou? Amou? Sofreu? Compreendeu? Que resta de  sua existência? Sei apenas que na tumba constava um nome e dentro dela restavam ossos que pertenceram a alguém...A vida é assim para todos. Um sonho que termina no pó dos nossos ossos desfeitos pelo tempo... Deixemos pois a vida correr a vontade do Criador Todo Poderoso, e enquanto vivermos façamos todos os bens possíveis, nos conformemos com os males que nos ferirem. Dos bens terrenos que nos fiquem, enquanto vivermos, a saúde do corpo e do espírito e uma fé em Deus, para que, trabalhando ganhemos mais para os nossos do que para nós, o pão de cada dia, com coragem, altruísmo e honestidade (13-11-50)

 

Por Religião: Deus! Por Doutrina: A Caridade! (7-4-51)

 

A personalidade do homem está no tom de sua voz, na firmeza e ponderação de suas palavras. Ai de quem, neste mundo de Deus, não souber defender-se pela palavra. (5-5-51)

 

Se um falso amigo nosso, que nos houvesse ofendido e caluniado, viesse um dia, com a consciência iluminada pela bondade de Deus, a praticar um ato meritório, nós esqueceríamos o homem para louvar o ato. Isto porque aprendemos a julgar, colocando o nosso pensamento acima dos nossos próprios ressentimentos. ( 25-5-51)

 

O pouco que eu, com as graças de Deus, tiver feito de bom na vida, será uma prova da estima que devotei ao meu torrão natal — Rio das Pedras — e representará, para mim, na hora derradeira:

  1. Um agradecimento aos meus pais;
  2. Um exemplo a meus filhos;
  3. Uma homenagem a Vitor Hugo. ( 13-6-51)

 

Política local — Se vencer o nosso adversário político e vier a fazer um bom governo, então teremos de nos convencer de que nós e que estávamos enganados, sendo portanto nosso dever, em benefício de Rio das Pedras, prestigia-lo estimulando-o a melhor trabalhar. Se porém, vencedor, fizer um mau governo, teremos igualmente de nos conformar porque afinal fôramos nós próprios os culpados pela sua vitória eleitoral; culpados por não termos oferecido ao povo maior soma de realizações e culpados ainda por não termos difundido instrução elevada bastante capaz de conduzir a consciência popular a um julgamento espontâneo e correto. Se para muitos, uma derrota “seria uma ingratidão”, eu penso que representaria o fruto de nossa própria incúria, ou a “voz de Deus” na democrática palavra do povo. ( 26-6-51 )

 

Perdoar, sim, mas aos fracos, imprevidentes e infelizes, principalmente quando reconhecem seus erros. Jamais aos traidores, aos perversos e velhacos, para os quais o próprio Deus, com sua onipotente sabedoria e bondade, criou o inferno, como castigo. ( 25-8-51)

 

É tudo tão perfeito na natureza, todas as coisas, com suas virtudes ou defeitos, e ta propositadamente presentes que só mesmo uma inteligência sobre-humana poderia tê-las engendrado. Essa inteligência é Deus! (3-9-51)

 

A morte deve ser como um “sono profundo”, apenas por um tempo maior, indeterminado. O espírito ficará inconsciente, como de quem está dormindo, e o corpo, devido a insensibilidade, se irá decompondo. Por trás desse mistério, não há como negar, existe um poder sobre-humano: Deus! Prefiro crer que existirá, segundo a Bíblia, o “Juízo Final” quando todos ressuscitarão, para serem julgados por Deus, tendo como testemunhas, os próprios contemporâneos. Os pensamentos das criaturas, as  recordações do que fizeram quando de passagem pelo mundo, serão visíveis, como são hoje as partes orgânicas do corpo humano. Ou, então, será aplicada, merecida e implacavelmente, a Lei do “Prêmio e Castigo”. ( 27-10-51)

 

Que adianta a vida? — Quem, em sã consciência  e espírito de observação, analisar as inúmeras e diferentes situações em que as criaturas humanas se debatem — uns labutando para ganhar o pão de cada dia,outros esforçando-se para aumentar as suas fortunas, muitos desperdiçando as suas forças físicas em ociosidade e vícios, e outros ainda se mortificando para recuperar a saúde combalida — concluirá, talvez, que nenhuma justificativa existe para isso tudo! E perguntamos? Existe uma recompensa para os bons? E um castigo para os maus? Os milhões de habitantes do mundo que se apagaram na morte, há séculos e séculos, obtiveram em suas épocas o tratamento, bom ou mau, que mereceram? Os milhares de maus que iludiram, declarada ou subrepticialmente, o povo e ficaram impunes, e outros tantos bons, cujos méritos permaneceram desconhecidos ou subestimados, e ainda as vítimas das injustiças do mundo, foram todos julgados, um por um, pelos seus contemporâneos ou pela posteridade? Diante dessas conjeturas, terríveis e insondáveis, é forçoso acreditar-se em Deus, Suprema Vontade, que tudo dirige da melhor maneira, ou... não crendo em coisa alguma precipitar o pensamento no turbilhão da dúvida, do caos, do nada! Eu prefiro crer em Deus! ( 30-10-51)

 

Eu morreria imensamente feliz se, no momento extremo, o Bom Deus me permitisse observar em meus filhos três virtudes preciosas: Saúde — Bondade — Sabedoria.

 

Jesus, que sofreu a maior ingratidão praticada pela humanidade, a defender-se preferiu silenciar, implorando a Deus o perdão aos homens, que “não sabiam o que estavam fazendo”. Com isso fundou a religião das religiões: o cristianismo. Eu que desejo seguir as sagradas lições de Cristo, e um dia for condenado injustamente, deverei defender-me em altos brados, não para  provar a minha inocência ou acusar  meus semelhantes, mas para arrancar do erro e da ignorância pobres criaturas. ( 10-1-52)

 

Defendamos: em primeiro lugar a FAMÍLIA; depois o nosso Município, onde vivem as nossas e as famílias de nossos amigos; depois o nosso Estado que reúne os municípios que mais conhecemos; depois a nossa estremecida Pátria... tudo em nome de DEUS, supremo Criador! Ai de quem, principalmente, no seio da família ou dentro do município, não promover a defesa necessária, como seria seu dever! Terá de baixar a cabeça, e qual moderno Caim não sentirá coragem de enfrentar, face a face, o julgamento dos que, desmascarando a indiferença, o descuido e o desmazelo, o responsabilizarem pela situação de angústia em que se achar a coletividade. ( 16-1-52 )

 

“O maior dos ingratos é aquele que jamais sofreu uma ingratidão” — Assim é... Se o Divino Mestre, invés, de crucificado pela ingratidão dos homens, tivesse recebido o justo prêmio de seus méritos e findado seus excelsos dias, glorificado por reis e plebeus, rodeado de homenagens que merecem os heróis e os santos, pessoas essas que fazem o bem até aos seus próprios inimigos, talvez que, hoje, fosse Ele considerado apenas um “herói” ou um “santo homem”. Vítima, porém, da ingratidão humana, foi mais que isso; foi Mártir. Foi herói pelo procedimento, santo pela bondade e seu martírio, agindo a guisa de contraste, realçou, de modo inconfundível e para todo o sempre, a sua figura de Homem-Deus. ( 10-2-52 )

 

A maior parte  dos homens prefere agradar a maioria poderosa! Se Pilatos, que dispunha do poderio, quisesse ter sido honesto, teria impedido a morte de Jesus. E assim, pelo contrário, deveria ter ordenado que o povo seguisse o Mestre, seus ensinamentos de paz, amor e perdão! Mas, é que a populaça, cúmplice dos despeitados sacerdotes, estava possuída da volúpia do mal e ao governador da Judéia interessou mais a sua posição política perante os homens, do que  a sua consciência perante a verdade, perante Deus! ( 10-9-52 )

 

Todos nós temos Direitos e Deveres. Cada dever que cumprimos é um peso colocado num prato de balança de justiça. Mais peso no prato dos Deveres mais alto se elevará o prato dos Direitos. Quem quiser cumprir suas obrigações sociais terá que descer à terra, aos seus semelhantes. E, como uma semeadura generosa, verá brotar do solo a semente germinada e vendo-a crescer para o céu, para Deus, colherá do alto os seus frutos abençoados. (20-9-52)

 

Religiões – Como há imitações de tudo quanto existe, inventaram também várias de Deus e deram-lhe o nome de “religião”. Como qualquer imitação, as do Criador Todo Poderoso revestem-se de todas as virtudes do próprio Deus; assim, qualquer religião é por origem e fundação, boa, mas no fundo não deixa de ser imitação, e não escapa, se estudada atentamente, de ter defeitos congênitos. Por isso não combato nenhuma religião e reconheço que Deus é Deus, suprema perfeição, sabedoria e bondade! E dizer-se que, neste mundo, há homens letrados, que se dizem sábios (pobres sábios) que não crêem em Deus! ( 6-10-52 )

 

Existem três categorias de homens inatacáveis. Os indiferentes, os virtuosos e os caridosos. Há, porém, uma quarta categoria que é realmente digna de lembrança, a dos abnegados.Senão vejamos: os indiferentes são os que vivem à margem dos fatos, não trabalham, não são a favor nem contra as iniciativas de seus semelhantes. Cumprem seus deveres, nada mais. Os virtuosos são os que, por suas práticas religiosas e sociais bem demonstram seu amor a Deus e seu respeito aos direitos dos cidadãos. Os caridosos são os que, sem serem indiferentes ou apenas virtuosos, praticam o sagrado dever da caridade, auxiliando seus semelhantes a carregarem o pesado fardo da vida. Porém a quarta categoria, além de virtuosos e caridosos, são abnegados e progressistas e acima de seus interesses pessoais colocam o interesse da coletividade, parte integrante que são da mesma coletividade e beneficiários, portanto, de um almejado mundo melhor. (10-11-52)

 

 

“Enquanto houver vida há esperança” – Todas as situações poderão se modificar sob a ação do tempo, o mais milagroso, depois de Deus. Qualquer doença, física ou mental, enquanto houver vida, estará sujeita à cura. Portanto, não se justifica a pena de morte, mesmo quando supomos nos acharmos frente a uma situação sem remédio, pois essa suposição é que começará cometendo um crime: o da desesperança. ( 12-2-53 )

 

 

E então, o que é que existe? — Na dúvida sobre o que sucederá ao homem no além túmulo, preferimos crer que existe, pelo menos a continuação da nossa vida na memória dos nossos parentes e amigos, que exaltarão nossos atos meritórios ou condenarão aquilo que tivermos feito de indigno. O homem, enquanto vivo, se laborioso, justo e bom, é um sustentáculo quando trabalha e produz; é um baluarte quando protege e defende; é uma luz quando ilumina e aquece; esse mesmo homem, depois de morto, continuará vivendo nos soluços dos que assistiram seus últimos momentos, na recordação de seus conhecidos e, muitas vezes, nas histórias que se escreveram a seu respeito. Assim, eu creio hoje, aos 40 anos de idade, que antes e  acima de tudo existe Deus, o criador da perfeição, das coisas que existem. Mas, os seres, as vegetações que sofrem a ação do tempo, o seu destino certo, definido, indiscutível, ninguém pode, de maneira segura, informar... Enquanto isso, deixemos as crianças com seus santos anseios, que tanto bem infundiram em nossas almas, quando, meninos, dávamos os primeiros passos na vida... ( 20-7-54)

 

Seara alheia. I) “De todo  bem que fizeres, espera em paga, todo mal que não farias”. Raul de Leoni (1895-1926). II) “Devemos pedir a Deus força para realizarmos tudo o que for possível e a coragem para reconhecer o que é impossível” (?) ( 26-11-55 )

 

Qualidades essenciais.

I)                   Saúde: vida do corpo (física e mental);

II)                 Amizade: vida do indivíduo (social);

III)              Fé em Deus: vida espiritual.

A (I) é necessária, a (II) é decisiva e a (III) é indispensável. O resto é ilusão e fantasia...

(10-4-56)

 

Oração. Bendito os que oram! E suplicam a Deus a sua proteção. Para si e para os seus! E para todos os que sofrem! Cem vezes bendito os que ao orarem, podem recordar-se de já haver favorecido aos necessitados. Com esmolas, com palavras, com exemplos. Estendendo a mão direita, benfazeja e defensora, por dever e como por acaso. E evitaram que a publicidade tivesse, inclusive, humilhado os que foram ofendidos. Mil vezes bendito os que hoje e agora oram a Deus trabalhando anonimamente a favor dos pobres e necessitados em qualquer parte do mundo. (16-2-57)

 

Feliz o que tendo por bússola a fé, se conduz no caminho de bondade e da virtude, sob a inspiração e proteção do timoneiro supremo: Deus! (28-8-57)

 

Ouro é sempre ouro! Pode ser coberto por toda a lama do mundo; se examinado a qualquer tempo provará que jamais deixou de ser ouro. Assim é a virtude: pode, como o sol, encobrir-se à passagem de uma nuvem ou durante uma noite. Mas depois ressurgirá com o mesmo brilho que lhe é natural, graças a Deus. (10-11-57)

 

A pior coisa que a criatura humana pode possuir, na vida, é o falso amigo.É pior que o ingrato a quem beneficiamos e depois não reconhece; é pior que o caluniador, que nos difama e ofende; pior que o ladrão que nos assalta e despoja; pior que o assaltante que nos ataca e fere. Esses, dia mais, dia menos, serão punidos por seus pecados e crimes. Mas, o falso amigo, tão invejoso e despeitado quanto hipócrita, conhecendo nossa  casa, nossos recursos, nossos pensamentos, nossa alma, será capaz  de nos trair pelas costas ou pela frente, dissimuladamente; e o doloroso é que continuará dizendo-se nosso amigo leal e admirador. Iluminai-nos, oh Deus! Para podermos distinguir e  nos afastar desses abomináveis indivíduos. (12-10-58)

 

O mentiroso e velhaco são piores que os ladrões e assassinos. Estes podem ter-se tornado criminosos por necessidade ou em momentos de desequilíbrio mental. Mas o mentiroso, quando oculta faltas, será capaz de roubar ou de matar e esconder-se depois sob o manto vistoso da hipocrisia. Existem, porém, pequenas e piedosas mentiras, como as dos médicos, dos amigos, das mães, dos filhos, etc., que evitam transmitir notícias angustiantes... Há ainda os que são vítimas de pequenas falhas e, envergonhando-se, guardam silêncio... Serão capazes de chorar de arrependimento...Em nome da nobreza de espírito, merecem perdão! Mas, o mentiroso contumaz, relapso, trapaceiro, desse livrai-nos Deus! (14-6-59)

 

Pena de Morte — A justiça não pode, a  princípio, perdoar os criminosos. Seu funcionamento há de ser como o de um filtro, que, deixando passar a pureza, separará a maldade. Se os maus obtivessem livramento acabariam desestimulando, pervertendo ou exterminando os bons. Mas nada de pena de morte! “É uma vingança estúpida praticada em nome da justiça”, cuja missão, em verdade, é absolver ou condenar, sem matar ninguém. E perguntamos: será a morte uma condenação? Não seria, para o criminoso, o fim de seus sofrimentos e (...) , em prisão perpétua, mas vivo. Morto, talvez, seja esquecido mais depressa, perdendo-se, inclusive, para sempre, a possibilidade de faze-lo arrepender-se e “trazer aos Céus mais alegrias pela sua conversão do que a perseverança de 99 justos”. Portanto, criminosos verdadeiros são ( ou serão considerados em futuro próximo) os juízes, os sábios, os doutores da lei que demorada e meticulosamente  deliberaram interromper a vida de um semelhante — criatura de Deus! Não! A justiça que sacrificou Jesus, Joana D’Arc, Tiradentes, não era no seu tempo “justiça”!? Não! Neste século XX, em que o homem revelou tanta inteligência, inventando, criando, descobrindo e aperfeiçoando prodigiosas maravilhas em benefício da humanidade, e chega agora ao supremo interesse de sondar se existe vida em outro planeta, não poderia, esse mesmo homem querer, aqui na terra, voluntariamente, matar o seu irmão! ( 16-7-59)

 

“Os últimos são os primeiros” — Eis o trinômio: Deus-Pátria-Família. A Família estando em último lugar é a primeira colocada em nossos anseios, em nossas preocupações. É a nossa amizade, nosso porvir, na palpitação de cada momento de nossa vida presente. Sem família, isto é, sem passado, sem futuro, a criatura humana se iguala a míseros irracionais, sem afeto, sem um nome. Depois vem a Pátria, que os “políticos” roubam, os capitalistas ludibriam, os burgueses criticam e os proletários amaldiçoam. Pobre Pátria! Por último “Deus” que por ser o primeiro, d’Ele só nos lembramos na hora do perigo, da amargura, da morte. O Criador, nos recônditos mistérios do infinito, nos há de perdoar e abençoar, se tivermos sido na vida terrena, pelo menos, justos. ( 20-1-60)

 

As Quatro Colunas — A coletividade humana vive como que num planalto, que chamaríamos de “planalto de moral”, onde todas as  criaturas, por princípios éticos, religiosos ou psicopatológicos, procuram justificar, cada um de per si, suas diferentes maneiras de proceder. Por terem sido criados à semelhança de Deus — portanto superiores aos animais irracionais — os homens, desde os extremados conservadorismos até aos insolentes existencialistas, esforçam-se em provar que suas atitudes são as mais justas, certas e convenientes possíveis. Esse “planalto” é sustentado por quatro colunas mestras constituídas por cidadãos que, por suas teorias, competências, procedimentos ou missões, devem afastar-se da turba para poder reflexivamente orientá-la, classificá-la, ensiná-la, ampará-la. As quatro colunas são: os Filósofos, os Juízes, os Professores e os Sacerdotes, cuja linha de conduta, salvo pequenas e inevitáveis exceções, tem sido e continuará sendo exemplo de pureza, clarividência, sabedoria a abnegação. São quatro categorias de indivíduos que, pelo desassombro de suas elevadas faculdades, não se envolvem em transações escusas ou conchavos indignos. Altruístas, são capazes de todos os sacrifícios e desprendimentos, não permitindo que a desonra manche a alvíssima vestimenta das sua concepções ideológicas. Eis que, sobre o grande planalto, todos querem ter razão: os que erram e depois são punidos julgam-se injustiçados, vítimas da maldade humana; os viciosos dizem que não tem forças para reagir; os que não trabalham alegam que não tem disposição para isso; os que não pagam as suas dívidas afirmam que ganham pouco, ou sofreram afrontosas cobranças; os que não cumprem seus compromissos  justificam-se com “motivos de força maior”; os que se exasperam com facilidade e ofendem os que estão em derredor defendem-se com alegações de que “ficaram cegos de raiva” e quando isso acontece “perdem o controle”. E assim todos querem ter razão... Entretanto se as quatro colunas fraquejam, não resistindo ao impacto da corrupção, então virá abaixo o edifício da sociedade humana. É verdade que existem, entre a coletividade humana, criaturas que, embora sem nenhuma instrução, manifestam idéias realmente sábias e estóicas; há os que, sem conhecimento dos códigos e das leis, demonstram critério e bom senso próprios de juízes; ainda os que, não possuindo cátedra, vivem a distribuir ensinamentos aos que o cercam; e finalmente, os que, sem ter recebido ordenação religiosa, são verdadeiros apóstolos, tal a sagrada missão que desempenham, amando seus semelhantes, na prática da caridade, da bem-querença e do perdão! Estas anônimas “boas almas” compensam, certamente com sobras, os possíveis desfalques que os responsáveis pelas quatro colunas sofrem, às vezes em suas hostes, por deserção de uns ou decadências de outros. Mas, como nas lutas santas, apesar das baixas, a resistência continua e continuará sempre! E que seria da humanidade sem Filosofia, Sem Justiça, sem Ensino, sem Deus? ( 25-1-60)

 

E um dia morremos. Pouco importa deixarmos 10% a mais ou 20% a menos em bens materiais aos nossos herdeiros. A grande fortuna que podemos legar aos nossos filhos é a boa educação, aureolada pela crença em Deus. Portanto, na vida pública ou particular, se não pudermos ser generosos sempre, sejamos pelo menos justos! ( 19-4-60)

 

A felicidade é, em primeiro lugar, um estado de alma em que a criatura sente uma espécie de heróico conforto após o cumprimento do dever. Por isso que a saúde, a beleza, o bem estar, a boa forma são apenas complementos. Esses atributos não garantem, sozinhos, a felicidade que, entretanto pode subsistir independente dos mesmos. Basta que a criatura humana, apesar de sofredora, sinta-se tangida por um idealismo sublime para considerar-se eufórica, feliz, na mesma situação em que sorridentes enfrentavam a morte os mártires cristãos, nas arenas romanas. Ao contrário da alegria gargalhante, a felicidade verdadeira não é transitória, porque se funda no estoicismo, na bondade, na justiça e na firme crença em Deus. ( 12-3-61)

 

Ainda sobre a imitação — O pensador expõe suas teorias, tendo, às vezes, sem o perceber, por base as idéias de outras criaturas humanas, cujos pontos de vista conhecera por leitura ou “ouvir dizer”. Não só na vida espiritual como no mundo material: o arquiteto que cria novas estruturas, tem como ponto de partida as proporções e  dimensões  ensinadas pelos mestres em que estudou. O pintor nem mesmo fabrica as tintas deslumbrantes que usa; apenas as mistura e nisso, continua ou copia trabalhos de outros semelhantes, vivos ou mortos. Para produzir, o homem precisa de luz — primeiro a de Deus, que fornece gratuitamente do sol, e depois das lâmpadas construídas pelos homens. Mas quem fabrica as lâmpadas não fornece o azeite ou a eletricidade e vice-versa. Por isso se compreende bem o “nada de novo sobre  a face da terra” , certo que ninguém constrói nada sozinho material ou intelectualmente. ( 29-4-61)

 

Somos colhedores — Tudo o que sentimos, possuímos, é fruto, colheita de nossos atos passados. “Igual gera igual”. Mas quando sofremos uma ingratidão, ai existe a sagrada vontade de Deus que nos escolheu para exemplo de nossos semelhantes, aos quais devemos estimular a caminharem pela estrada espinhosa da resignação, da virtude, da bondade , da justiça, em suma, da Verdade. ( 30-4-1961)

 

No começo os homens mais fortes dominavam os mais fracos. Depois, entre os povos guerreiros, os vencedores escravizavam os vencidos. Mais tarde, com o advento do cristianismo, foram os brancos admitindo que “eram todos irmãos”, mas continuaram explorando os negros. Por fim, as leis oriundas da civilização foram reconhecendo a igualdade entre os homens, sem distinção de cor ou raça. Mas continuou o domínio do “rico contra o pobre”, isto é do capital contra o trabalho. Hoje essas duas forças — patrão e empregados — começam a se tratar como “sócios”. E queira Deus que, numa velocidade desenfreada, não venha a imperar em toda a parte o autoritarismo ateu e ditatorial, em que os homens terão escravizadores a dominá-los como na era pré-histórica até o advento do humanismo cristão dos tempos modernos ( 12-6-61)

 

Ninguém deve ser elogiado por ser honrado, honesto e trabalhador. Qual o pai ou mãe que não arriscaria o seu sossego, a sua fortuna, e até a própria vida para defender a dignidade e a segurança de seu filho? Portanto, aquelas virtudes valem como uma bênção de Deus, dignas dos maiores e mais íntimos agradecimentos do próprio possuidor. Jamais motivos de vanglória, pois o contrário seria uma maldição e uma vergonha. ( 18-7-61)

 

Vontade de Deus: quando um desastre nos atinge, sem culpa nossa;

Castigo de Deus: quando esse desastre advém em virtude de um abuso ou descuido nosso ( 18-7-61)

 

Espaço-Tempo — Se os homens pudessem, para realizar seus planos, contar como elemento “espaço” e “tempo” teriam no primeiro e em suas coisas todos os recursos materiais que estivessem as suas mãos ou ao alcance de seus olhos e no segundo a duração interminável daquele poderio... Por isso que o Bom Deus, enquanto aguarda a perfeição do Mundo, reservou a si essas faculdade, evitando assim que as criaturas destruam a obra do Criador. ( 15-8-61)

 

E quando lhe perguntaram se um dia tivesse de sofrer humilhações, desonras, vilipêndios nojentos, o que faria, o pobre homem respondeu: “Eu arriscaria e perderia, se possível mil vezes a vida para defender a vida e um dos meus filhos. Entretanto a salvação da vida de mil filhos não justificaria a perda da minha honra, abaixo da qual coloco a própria vida e acima somente Deus! E o pobre homem assim concluiu o seu ponto de vista sobre a desonra: “Desonra, de fato é praticá-la ou aceitá-la, sem protesto, covardemente. As calúnias podem tentar desonrar uma criatura, mas se transformarão em “coroa de espinhos e de glória” quando desmascaradas pelo futuro ou pela posteridade. ( 10-1-62)

 

Vencer com honestidade e alegrar-se é próprio do Homem.Ser derrotado, após haver lutado valorosa e meritoriamente e conformar-se é próprio de um Santo. No primeiro caso, o Homem conquistará a admiração de seus semelhantes e no segundo obterá as bênçãos de Deus ( 27-2-62)

 

Acerto de contas — Que a humanidade está dividida em dois mundos ideológicos, ninguém ignora: capitalista e comunista, dois extremos. Como meio termo, o socialismo seria o ideal. Ou melhor: “Democracia socializada”. Mas enquanto o socialismo não consegue harmonizar a situação, a coletividade fica ameaçada agora do predomínio do extremismo vermelho. Ontem, a

o capitalismo dominava 100%. Hoje o comunismo desalojou-o parcialmente ,conquistando muitas de suas antigas posições. Amanhã poderá dominar sozinho, invertendo-se os papéis. Para evitar que isso aconteça, precisa haver um “acerto de contas”. Hoje, os capitalistas, que são donos das fábricas, das casas comerciais, das propriedades agrícolas, dos poços petrolíferos, dos arranha-céus, da imprensa falada e escrita, de alguns hospitais e de muitos automóveis de luxo, esses capitalistas que ganharam  em pouco tempo fortunas nababescas devem agora, para não perder tudo em breve, renunciar a uma parte dos seus bens, tanto dos existentes como parte das rendas futuras. Tudo por culpa da “máquina” que acelerou e facilitou a produção, o transporte, a comunicação e a contabilização. A máquina é uma espécie de alavanca. Quem teve uma e contando sobretudo com o apoio de Deus, da inteligência, do trabalho, ficou rico depressa. Entretanto, muitos homens, quase todos, ficaram pobres, embora fossem inteligentes, trabalhadores e crentes em Deus. Ou não dispunham de uma “alavanca” da industrialização do mundo, ou ficaram para trás por culpa de seu país, de sua cidade, ou da sua família, que, pobre, só poderia produzir em elemento igual. Por isso, agora é tempo de se fazer um “acerto de contas”, e que se resumirá na renúncia de parte de ganhos e lucros excessivos em favor dos menos favorecidos pela fortuna. Assim será entre os homens de um país e entre as nações do mundo. Uns enriqueceram excessivamente porque venderam ou cobraram muito caro daquilo que dispunham e que era disputado pela maioria necessitada. O “acerto de contas” não pode propiciar a igualação de recursos, o que seria impossível. Mas, também não pode, na casa dos pobres, crianças perecerem por falta de leite, e este continuar prodigalizado a cães, gatos e cavalos de corrida dos ricos. Uma organização internacional no mundo, e um governo local em cada nação cobrarão impostos a fim de que os riquíssimos, pelo menos, paralisassem nas suas grandiosidades e com o que os miseráveis sejam arrancados, com urgência, da sub-sociedade em que vivem. Esse acerto será feito pela inteligência e justiça da minoria, sob pena de ser realizado pela ignorância e desespero da quase totalidade. É preciso que a qualidade socorra a quantidade, senão esta, unida, possuirá uma força sobre-humana capaz de destruir inclusive o que, aparentando luxo e beleza, era útil e necessário ao bem comum. ( 19-4-62)

 

Todas associações são úteis. A primeira é da família: marido, mulher e filhos. Vem depois a da amizade, constituída pelas famílias dos parentes, dos vizinhos e dos conhecidos circunstanciais. Depois as instituições beneficentes do bairro. Depois as associações da cidade. Depois as que se entrosam com as congêneres de outros municípios. Mas de todas, as maiores e mais úteis são as de caráter religioso que congregam as pessoas em torno de um ideal elevado, cuja moral, em todos os tempos, é o temor a Deus e a prática do bem. ( 2-6-62)

 

Não convém aos pais deixarem aos filhos grandes fortunas. Interessante seria deixar-lhes algumas economias e pequenas  propriedades, a fim de continuarem trabalhando para a aquisição de novos bens. Enquanto que excessiva herança poderia afastar dos filhos o estímulo ao trabalho, que deve sempre ser considerado prodigioso espantalho a todos os males e o grande predicado  que o Bom Deus impôs a Adão e Eva ao expulsá-los do paraíso. ( 12-6-62)

 

A criatura humana vive em torno de ideais. A Esperança é o caminho que conduz  todos os ideais e a Felicidade é o ideal supremo. Todos nossos pensamentos, manifestações e realizações giram em torno de ideais. A saúde, a inteligência, o amor, a beleza, a fortuna, o poder, a consideração de que desfruta uma pessoa, tudo isso é  uma espécie de concretização do ideal de felicidade terrena. As crianças, os jovens, os noivos, os esposos, os pais, os avós, os velhos, todos tem um ideal a palpitar-lhes n’alma. Diferente na época, mas igual no objetivo: Felicidade! Praza o Bom Deus que possamos todos os homens realizar os seus ideais. ( 23-11-62)

 

“O materialismo está dominando todos os setores da vida humana...” ¾ meditava o pobre homem, desconsoladamente. “Ningém tem tempo para nada. É tudo feito em alta velocidade; os que viajavam de trem, agora preferem automóveis. Muitos possuem avião particular. Outros vão em aeroplanos a jato, rapidíssimos. Logo pretenderão utilizar-se de foguetes estratosféricos, desses que desenvolvem mais de 40.000 quilômetros horários”. “Por outro lado, tais criaturas, quando procuradas para reuniões de cunho altruístico, vão logo dizendo: “Estou cheio de serviço!”.Não dou conta!e vão se desculpando de pequenas subscrições que fazem em “Livros de Ouro” porque todos os dias são procurados por promotores de campanhas, concursos, festas de formatura, etc., etc. A  cooperação então é dada ou prometida sem apreciar o mérito das campanhas, correspondendo no mesmo pé de igualdade, sejam os beneficiários crianças órfãs ou integrantes do time de futebol. Se deveriam comparecer a reuniões sociais omitem-se, quase sempre, com ou sem justificativa. Depois, o pobre homem, refletindo melhor, ponderou: “Mas, desde que a criatura humana apareceu na face da terra, a vida tem sido assim mesmo: a ambição pessoal sobrepondo-se ao interesse da coletividade. Caim sacrificando Abel; os descendentes de Noé querendo galgar o céu através da Torre de Babel; Moisés quebrando as Tábuas  da Lei diante do seu povo que, esquecido de Deus, materializava-se na adoração do Bezerro de Ouro; César, Napoleão, Hitler, invadindo terras de outros povos... tudo isso é demonstração e confirmação de que “materialismo não é novidade”. E benditos, pois,  são os homens que acreditam e fazem com que os outros acreditem na sobrevivência eterna do lado oposto: espiritualismo de Bondade, de Justiça, de Amor. ( 08-12-62)

 

Continuação da meditação do “pobre homem” quanto aos perigos de uma mudança na estrutura econômica e social do País — Sendo o trabalho a primeira demonstração de capacidade individual, feliz a criança que, desde tenra idade, já encontra dedicação e perseverança nos estudos. O pequeno estudante, assim trabalhando, com método e esforço, perceberá os primeiros salários em conhecimentos e personalidade. Uma criança de seis ou sete anos, que não sabe ainda o que significa a honra, o patriotismo e a civilidade, principia a trabalhar muito e proveitosamente se for estudiosa. O trabalho não é apenas o esforço muscular. Os feitos dos intelectuais e cientistas resistirão infinitamente mais que as sólidas obras de engenharia e arquitetura. As suas realizações diretas ou reflexivas, jamais serão desbotadas ou carcomidas pelo tempo. E no entanto muitos pensadores foram, em vida, considerados ociosos. Os estudos, as meditações, os cálculos, as pesquisas, sobretudo quando resultam em escritos ou elementos palpáveis, são trabalhos importantíssimos  porque sobre os seus alicerces se assentarão os edifícios da produção, do progresso, da prosperidade. Ademais o trabalho é um dever social do homem. O inverso poderia e deveria sempre ser considerado contravenção penal. Além disso estão certos os que afirmam que o trabalho é um remédio para todos os males, uma solução para todos os problemas. Em verdade o trabalho é de inspiração divina. Basta olhar a vegetação das plantas, o desabrochar das flores e o amadurecimento dos frutos para sentir o maravilhoso trabalho do Senhor. Para vencer na vida basta apenas e principalmente ser trabalhador. Não é o bastante ter saúde, ser ajuizado e virtuoso. Temos mesmo que reconhecer, com pesar, ser muito comum vencerem os velhacos e tratantes, graças às suas condenáveis atividades, Mas vencem,e, imiscuindo-se entre os trabalhadores honestos, conseguem fazer boa figura e desfrutar de algum respeito. E poderão inclusive, um dia, iluminados pelo Altíssimo, abandonar a “estrada de Damasco” e penitenciando-se e dignificados ser admitidos no convívio dos justos. Enquanto que os outros, os vagabundos e negligentes, sem que se possa xinga-los de desonestos, afundar-se-ão no desprestígio, na miséria e, muitas vezes, na senda dos vícios, como conseqüência da ociosidade... E assim concluiu o “pobre homem”: Por que hei de preocupar-me com a situação política nacional, mesmo que o Brasil venha a ser uma segunda Cuba se, quando moço e até agora continuo trabalhando. Alguns bens que recebi de herança foram preciosas sementes que multipliquei com o meu trabalho. E meus filhos, melhor defendidos do que eu na vida --- pois se Deus quiser possuirão inclusive estudos e diplomas --- não desmentirão a tradição e o sistema de trabalho de seus ancestrais, e por certo continuarão nesse afã, seja qual for o regime no futuro, também prosperarão e terão direito à felicidade. ( 18-5-63)

 

Se é certo que devemos ouvir com agrado os conselhos de nossos amigos, errado seria repudiarmos, inopinadamente, as palavras de estranhos, até de nossos inimigos, os quais, a par da nobreza que deverá existir também em seus corações, poderão, um dia, inspirados por Deus, querer ajudar-nos a trabalhar pelo bem comum, como é o dever de todos. ( 04-10-63)

 

Somos construtores de um futuro e o “nosso futuro” nada mais é senão o dia de amanhã, com a realização de nossas esperanças. Ninguém se preocupa obstinadamente em mudar de estatura ou de fisionomia, conformand0-se os homens salvo raríssimas exceções, com os defeitos físicos com que Deus os fez. Mas, desejar todos possuir novos objetos ou adquirir novos bens materiais que proporcionem comodismo ou evidenciem prosperidade. Infelizmente costumamos esquecer que o “nosso futuro”, isto é, a prosperidade é fruto principalmente de nosso trabalho modesto e cotidiano, enobrecido pela bondade e perseverança. ( 12-10-63)

 

 

Segundo Luiz  Carlos Prestes, Socialismo é: “a cada um, uma parte segundo sua produção individual”, e Comunismo, “a cada um, uma parte segundo sua necessidade”. Em ambos os casos, os excedentes vão para o Governo. Mas, digamos nós, não havendo democracia (isto é, “governo eleito pelo povo, liberdade de opinião e ação) não é possível a definição do que seja “necessidade”, “mérito” ou “excedente”. Só se o Bom Deus ¾ em quem os comunistas não creem ¾ marcasse com estrela na testa os super-homens para governá-los. ( 05-01-64)

 

Dia virá, graças a Deus e à consciência humana, em que a palavra “pobre” estará tão em desuso entre os homens, como hoje a palavra “escravo”. ( 12-03-64)

 

Ao analfabeto não pode ser tolhido o direito de voto numa democracia autêntica. O analfabetismo geralmente é produto da herança dos pais, como um atributo negativo. E os culpados por essa situação humilhante, em extensas áreas do Brasil, são os homens do governo, e também, por equidade e tácita indiferença, grande parte da classe burguesa. Não podem, por isso, reclamar os políticos e os temerosos neo-proprietários contra o perigo que o voto do analfabeto poderá representar quanto ao advento do comunismo ¾ regime odioso ¾ e que é, infelizmente, fruto do desamparo em que tem vivido essa classe de “desclassificados”. O melhor é atribuir o direito de voto aos “sem escola” e acelerar a alfabetização cristã das massas populares, fazendo-se agora à guisa de “remédio” aquilo que não se fez, até ontem, como “preventivo”. Mas é preciso agir rapidamnete, cabendo ao governo proporcionar instrução e justiça social, e aos homens entre si e principalmente  entre “grandes” e “pequenos” mais consideração e espírito de bondade, em nome de Deus. ( 22-03-64)

 

Ir periodicamente a uma Casa de Oração produz duplo benefício: aproxima-nos mais de Deus, e, na contemplação daqueles inefáveis momentos, desprendidos dos afazeres e preocupações, podemos meditar sobre a vida. (  03-05-64)

 

Comodismo e omissão são responsáveis por muitos erros que se praticam nesta vida. É preciso erguer a voz, alertar, protestar contra os enganos para poder iluminar, desobstruir os caminhos do futuro. São Paulo teve que ouvir a voz de Deus ( entre um relâmpago e um trovão) para retornar do caminho de Damasco! ( 10-05-64)

 

As más interpretações, incompreensões dos atos de quem quer orientar, para salvar, chegam ao paradoxo do pobre “herói” se condenado como o foi Tiradentes, que no seu tempo foi considerado, embora hipocritamente, “um escandaloso, um vilão, um traidor”. Jesus, como orientador, foi condenado à morte, e, ao milagre de descer da cruz, preferiu morrer como  homem, para que outros homens soubessem perdoar. Se, como Deus, ficasse incólume, seu feito seria hoje considerado como simples “mágica”, discutível. Mas, sacrificando-se como um homem ( “eles não sabem o que fazem”) fundou a religião cristã, eterna em todo o mundo, por todo o sempre. Quando da cruxificação de Jesus houve omissão, até sadismo, por grande parte do povo, que sabendo-o Deus, queria que Ele fizesse o seu próprio milagre, descendo espetacularmente da cruz. Mas Jesus, naquele momento, era homem, apenas filho de Deus, como todos os homens. ( 10-05-64)

Todo acontecimento, toda situação da vida humana é um degrau. Portanto, por mais dolorosa que seja essa situação é sempre um ponto de escala. Essa posição, que pode causar momentâneo desespero, deve ser encarada como intermediária e transitória, sendo possível, no futuro, advir novo fato capaz de modificar o gravame anterior, para pior ou melhor. Por isso são condenáveis as lamentações de alguns sofredores que se julgam vítimas do destino e que chegam ao extremo de clamar contra Deus. Não! Mesmo a morte que é o último degrau, deve encontrar de parte dos vivos, conformação nas orações, nas saudades, nas homenagens que merece quem teve uma existência útil, honesta e justa. Mesmo aquele que nada fez e apenas sofreu na vida deve ter a sua memória aureolada com a coroa atribuída aos mártires, pelos seus amigos, sobreviventes. Como não se deve fazer propaganda da própria felicidade ¾ que também é um degrau ¾ muito menos se deve fazer alarde da auto-desventura, isso porque o lamentador poderá arrepender-se, mais tarde, quando ainda nova e ainda mais dura provação poderá atingi-lo ou à pessoa se suas relações. Só a morte interromperá a relatividade dos degraus da sorte, e mesmo a morte, no seu fatalismo, poderá ser mais trágica e cruel a uns que a outros... Conformemo-nos, pois...

( 06-11-64)

 

Coisa engraçada o “brio ofendido” : faz prodígios nem sempre elogiosos. Pois que a solidariedade necessária quando pedida ou exigida pela pátria, pelo Estado, pelo município, pela família, pela raça, pela associação esportiva, estudantil ou militar, pelo agrupamento de pessoas, pelo seu partido político, pela sua religião, costuma ser negada ou retardada em situação normal de rotina, não obstante de grave apertura financeira ou material, essa mesma solidariedade é espontânea e explosiva quando corre a notícia de ofensa a um ou mais membros da respectiva grei. O espírito de represaria tem um poder  de irmanação colossal, perdoai-nos Deus!

( 06-10-65)

 

Meditações  do pobre homem: Se Deus bondoso me concedeu tanta “sorte grande” na vida, tais como um bom casamento, quatro filhos admiráveis, além de uma pequena fortuna  de valor financeiro, como não haveria de meditar, agora, em virtude de tudo isso sobre a realização de alguma obra que venha, no futuro, patentear o meu preito de gratidão a minha generosa terra natal ¾ Rio das Pedras ¾  berço de todos nós e promotora do nosso bem estar social. ( 04-03-66)

 

O que o pobre homem respondeu quando lhe perguntaram se era a favor ou contra o divórcio: “Contra! Casamento é a base da família, da sociedade humana. E, havendo filhos, o divórcio torna-se um erro ainda maior do que o do mau casamento. Os que são a favor do divórcio esquecem-se de que os componentes do casal fracassado tiveram tempo, durante o namoro e o noivado, de estudar seus temperamentos, suas situações, suas idoneidades e disseram, depois de tudo, “Sim” à lei dos homens e à lei de Deus. Portanto, ambos devem suplicar inspiração ao Bom Deus para que, reunindo resignação e forças, consigam carregar, juntos, o “pesado” fardo matrimonial. ( 15-05-66)

 

O homem, criatura racional, assim moldado por Deus para ter sob seu inteligente domínio as demais espécies animais, todas irracionais, tem de pautar o seu procedimento dentro dos sãos princípios da moral, tanto mais alevantada quanto maior for o grau de instrução que conseguir amealhar. Portanto, nestes dias em que vivemos e nos quais tanto se fala de depravação, corrupção, decadência dos costumes, etc., necessário se torna que os chamados moralistas. Ainda que em minoria, ergam a sua voz em veemente protesto contra o procedimento dos cínicos e contra também o desânimo dos honestos, impedindo que a derrocada leve maus e bons, de roldão pelo abismo da desonra e da imoralidade. Mas se, não obstante, vencessem os derrotistas e negativistas então teríamos aquilo contra o que já se ergueram, muitas vezes, no passado, filósofos e pensadores. Felizmente isso nunca acontecerá, porque o instinto materno e paterno, de proteção à prole, foi e será sempre o mesmo, e defendendo a família defenderá a sociedade. Seria medonho pensar-se em fatos inverossímeis como estes: filhos não respeitando as mães, pais ignorando quais são seus filhos, lares invadidos, famílias desmanteladas, crianças sem parentes, tudo em abandono, igrejas e escolas destruídas, ninguém com deveres perante seus semelhantes, todos sem direitos que possam defender, nada de trabalho, nada de produção, nada de economia, o caos enfim, a cuja situação repugnaria a mais humilde criatura meditar um instante sequer.

( 04-06-66)

 

“Servir em maior dose do que ser servido”. Eis a norma certa a ser adotada por todos aqueles que ocupam cargos em funções de liderança. Se não for assim nenhum mérito restaria, em última análise, em favor de tais cidadãos que, deixando de ser líderes, passariam a ser considerados simples mercenários. Quem possui poderio administrativo em suas mãos deve usa-lo, inclusive e especialmente, em benefício de seus semelhantes, já que esse mesmo poderio lhe foi atribuído e e´ agora respeitado por esses mesmos seus semelhantes. O homem, criado à imagem de Deus, difere dos demais animais, irracionais, pelo seu senso de preservação e prosperidade e porque na sua velhice tem direito à veneração de seus familiares e amigos só se comparando a criatura humana como um elemento útil a todos que o cercam. ( 10-06-66)

 

Cherchez la femmediz o ditado francês. E, fatalmente, na vida de um homem comum, sempre existirá uma mulher ¾namorada, esposa, amada ou amante ¾ a nortear-lhe, bem ou mal, consciente ou subconscientemente, o seu modo de proceder. É bem acertada designação de “cara metade” para a esposa porque é ela, em verdade, a outra metade da vida de um homem. Vem dos tempos imemoráveis a preocupação do homem quanto aos problemas do sexo. Por isso que Moisés, em nome de Deus, entre os dez mandamentos, depois de enunciar os pecados contra a castidade, destacou um dirigido aos homens: “Não desejar a mulher do próximo”! ( 28.06.66)

 

Certos maldizentes são como os macacos que só enxergam os rabos de seus semelhantes. Se o Bom Deus ¾ em vez de colocar a cauda onde pôs ¾ fizesse-a pendente bem do nariz talvez falassem menos, uma vez que teriam assim a boca em si tapada. ( 27-10-66)

 

A primeira atividade voluntária de Jesus, de que se tem notícia é a de ter ido, à revelia de seus pais, ao Templo discutir leis com os doutores. Só mesmo um Deus poderia ter dado tão gloriosa lição: aparecer entre os Juízes e com eles discutir assuntos de interesse do povo. Ensinou mais tarde, aos 33 anos de idade, a Caridade e a Justiça ¾ a Bondade criteriosa enfim. Antes de Jesus, os fortes e poderosos só desejavam escravizar os fracos, e por isso estes odiavam aqueles. Pregou “Amai-vos uns aos outros”, “Somos todos irmãos”, “A César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, “Gloria a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”. (  20-11-66)

 

“Se nem Deus com seu olhar penetrante e desvendador de consciência, nem Moisés com os Dez Mandamentos, nem Jesus com seus santos evangelhos, conseguiu purificar os costumes do mundo, o recurso é entender que a vida é assim mesmo”, pensava o pobre homem, fazendo voto de paciência, fé e virtude. Caim preferiu, em vez de arrepender-se, fugir, fugir sempre, errantemente... Moisés quebrou as tábuas da lei, diante de tanta ingratidão humana... Jesus, como Homem-irmão terminou seus gloriosos dias pregado na cruz, perdoando e ensinando, ( 2-7-67)

 

Poesia

Quem não crê em Deus não crê em nada.

Não crê na perfeição que existe.

Não crê no sorriso das crianças,

Nem nas lágrimas dos que sofrem.

 

Não crê na inteligência humana.

Não crê no cântico dos pássaros.

Não crê na beleza das flores,

Nem na poesia do firmamento.

 

Não crendo em Deus e não crendo em nada,

Sem esperanças e sem saudades,

Entende que tudo nesta vida

É bobagem, engano, ilusão.

 

Materialista e desventurado,

Em suas noites sem estrelas,

Não gozará o sublime enlevo

De chorar e confiar em Deus. ( 16-7-67)

 

Feliz aquele que, na fatalíssima hora extrema, quando a voz de Deus, que é ao mesmo tempo a voz da própria consciência, penetrando-lhe na pobre alma, fizer a indagação bíblica de: “O que fizeste a teus irmãos?” puder responder: “Procurei tirar-lhes as pedras do caminho e até os ajudar na caminhada, sob os princípios da bondade e da justiça”. ( 17-11-67)

 

“Tudo vive em torno de ideais” dizia eu, outro dia. Desde a criança que chora e almeja seu primeiro brinquedo até a velha criatura que, percebendo aproximar-se-lhe  a hora extrema, já sem voz e com lágrimas nos olhos, sente n’alma o inefável desejo de ter , em redor de si, os seus entes queridos, para vê-los, quem sabe, pela última vez. Mas, o ideal supremo é a nossa fé em Deus que, auréola de luz, deve inspirar todas as ações e reações da criatura humana. (20-12-67)

 

Diante do horror que se constata vendo e lendo jornais e revistas que trazem notícias da guerra no Vietnã, qualquer pobre mortal chega a fazer conjeturas assim: ¾ Estará certo o Governo Americano em continuar intervindo nessa luta horripilante no extremo asiático? Pergunta-se, por que lá estão morrendo centenas e centenas de pobres jovens “yankees” e milhares e milhares de miseráveis, civis e militares, filhos de ambos os malogrados vietnamitas... Em primeiro lugar, errados estão todos os participantes e incentivadores da luta, por falta de solidariedade humana! E, quem sabe, pensando conciliatoriamente, estariam menos errados os americanos se desistissem e sua intervenção e apressassem, desse modo, o fim dessa guerra desumana e cruel. De certo, depois disso, aqueles povos ¾ que são da mesma raça ¾ viveriam em paz, mesmo que, no início, houvessem vencidos e vencedores... Mas como ninguém lucra com a prática do mal logo os vitoriosos compreenderiam que, para bem governar, é necessário tratar com dignidade humana os governados. Mesmo que o recuo dos Estados Unidos propiciasse, no mundo, um avanço da ideologia comunista... Paciência! O horror que se verifica no Vietnã está invadindo a área do inconcebível. Quem sabe, um dia, o regime comunista venha a abrandar-se, transformando-se num socialismo cristão. Terminada a luta inglória do Vietnã, haja o que houver, se o futuro  governo tornar-se tirânico e pernicioso, o próprio povo ( soldado também é povo) procurará “derrubar o regime”, como tem caído todos os governos em que o povo, no país, não consiga ter uma vida digna da criatura humana, inteligente e racional que é feita à imagem de Deus (12-2-68)

 

“Vale mais quem quer do que quem vale”, isto dentro dos velhos ditados: “Querer é poder”, “Quem quer fazer bem feito, vai faze-lo; quem não o quer, manda”; “Deus ajuda quem cedo madruga”, etc. (21.3.68)

 

É incrível como homens que não se dizem ateus deixam de empenhar-se a, pelo menos, assistir a uma cerimônia religiosa semanal, quando teriam oportunidade, pelo tempo inferior a uma hora, de permanecer em orações, meditações e até recolhimento, junto ao mistério insondável a que chamamos Deus, Criador, Divino Mestre, Pai Celestial! No entanto, paradoxalmente, essas mesmas criaturas ficam duas horas ou mais, numa platéia de cinema, teatro, etc., em silêncio e com muita atenção para poder compreender o enredo da peça ou coisa parecida... ( 3.4.68)

 

Para as provas de apreço, prática de atenções e carinho, que poderemos dispensar aos nossos entes queridos, devemos aproveitar os momentos enquanto viverem. Depois de mortos, as pobres criaturas, pouco consolo sentirão se, em sua memória, forem levantados mausoléus e feitas choradeiras, etc. especialmente por aqueles que, durante a sua existência em comum as desassistiram e, por isso, foram ingratos e impiedosos, como às vezes, lamentavelmente ouve-se contar que acontece por esse mundo de Deus. ( 4.6.68)

 

Não são os sofrimentos nesta terra nem as boas ações aqui praticadas que, simplesmente, garantem aos homens a sua entrada no reino de Deus. É que o sofredor pode ser um revoltado, blasfemo, e até vingativo, do mesmo modo que o “generoso”  pode ser um hipócrita, demagogo e até velhaco. Assim, só merecerão os Céus – perante Deus e a própria consciência – aqueles que sofrerem estoicamente e praticarem com espírito cristão, sinceras boas ações, possíveis a todas as criaturas, sejam elas ricas ou pobres, felizes ou desventuradas. ( 26-9-68)

 

Todos nossos atos são semeaduras! Por Deus, preparai bem as vossas colheitas, ( 8-11-68)

 

Dizem que as criaturas humanas voltam, na velhice, à idade de crianças... Por isso que os velhos choram facilmente, tem,  às vezes, vontade de cantarolar e fazer uns rabiscos, como quando pequeninos... Nas crianças, com o correr dos dias, vem a percepção dos sentidos e  a possível compreensão das coisas... Na velhice vai acontecendo o inverso até o total esquecimento... Bendito os que crêem em Deus! ( 29-12-68)

 

O próprio Bom Deus é que, ao criar o homem a sua semelhança, quis pô-lo à prova nesta vida terrena... E tudo tendo criado antes, como primeiro símbolo dos contrastes, o dia e a noite, separando a luz e as trevas, quis que a criatura humana discernisse , com a sua inteligência, o real valor das coisas, boas e más... Pois que, se só criasse as boas, o tédio transformaria a face da terra num vasto campo vegetativo, sem progressos, sem poesia, sem artes, sem história, sem posteridade... (8-1-69)

 

Os que, escandalosamente, blasonam que a sociedade está em decomposição e que, dentro em breve, a corrupção terá destruído também a família...  esses serão os primeiros a rebelar-se contra a “idéia absurda” de que, num futuro não muito distante possam, os seus filhos, netos, bisnetos, vir a nascer parecidos, não com os próprios pais, mas com os dom-juanescos vizinhos ou caminheiros, inclusive, poderão ser de outras raças!... É que esses infelizes esquecem-se de que para todo o bem, ou para todo o mal, que os homens praticarem na face da terra, sobrevirão os prêmios ou castigos correspondentes, debaixo da implacável justiça divina. Entrementes... muita coisa poderá vir a ser corrompida...Mas, a inteligência e compreensão, enfim a alma humana, essa continuará usufruindo os mistérios de Deus, esses mistérios que fazem  com que o homem se sinta comovido em face da beleza majestosa de uma criança e se reconheça demais pequeno diante da grandiosidade de uma noit estrelada! ( 10-3-69)

 

Se à criatura humana não é atribuído o dom de fazer milagres, não há dúvida de que o Bom Deus poderá conceder a essa mesma criatura a virtude milagrosa do amor, da paciência, do perdão. (20-3-69)

 

Quando criança aprendemos as orações do catecismo decorando as suas palavras, maquinalmente. Aliás, decoramos todas as palavras do nosso vocabulário com as que começamos a falar: “mamã”, “papá”, nenê, “auá”, etc. Depois fomos aprendendo mais e mais memorizando sempre o significado das palavras por nós conhecidas, mas sempre maquinalmente... Aprendemos que com as nossas peraltagens “o Menino Jesus chorava” e que, por isso, “Deus nos castigava”... Só mais tarde, quase no fim da vida, é que, de nossa parte, começamos a ler e interpretar a Bíblia e sentimos que o “Pai Nosso” ( Lucas 11:2, Mateus 6:9) mais que uma oração bonita e sonora é sobretudo, um apelo e um voto. Suas excelsas palavras não podem simplesmente, ser rezadas ou declamadas. Foram feitas, isto sim, para serem compreendidas, sentidas, vividas, solenemente! Assim vejamos o seu significado: PAI ( protetor) NOSSO, QUE ESTAIS NO CEU ( no alto, de onde vedes, tudo podeis ) SANTIFICADO ( com a prova de nossos bons exemplos) SEJA O VOSSO NOME, VENHA A NÓS O VOSSO REINO ( e façamos por merece-lo ) SEJA FEITA A SUA VONTADE ( cumprindo os vossos mandamentos ) ASSIM NA TERRA ( entre os mortais, pobres pecadores) COMO NO CÉU ( entre os que estão desfrutando as glórias de Deus). O PÃO NOSSO DE CADA DIA ( o sustento durante a vida terrena) NOS DAÍ HOJE ( a cada momento), PERDOAI AS NOSSAS OFENSAS ( os nossos erros e omissões) COMO NÓS PERDOAMOS  A QUEM NOS TEM OFENDIDO ( ontem ,hoje e sempre ). NÃO NOS DEICEIS CAIR EM TENTAÇÃO ( que continua existindo entre os povos do mundo) MAS  ( porque somos fracos ) LIVRAI-NOS ( porque o podeis) DO MAL ( a que estamos expostos ). AMÉM. (30-3-69)

 

Existem pessoas que, possuindo dependentes ou subalternos tolhem-lhes toda a iniciativa e até a liberdade de ação, quando vigiando os seus trabalhos, censuram e  reformam intempestivamente tudo o que está sendo feito...Afinal, se o censurado for bronco, tratando-se de empregado, deve ser dispensado, depois de pagas todas seus haveres; em se tratando de um parente, quem deve discutir com ele é um médico psiquiatra... Por outro lado e em verdade, como “a criatura humana foi feita à semelhança de Deus”, há de ter, logicamente, probabilidade de, em alguma ocasião, escrever direito em linhas tortas, como fez muitas vezes o magnânimo Criador! Assim, o melhor é ter um pouco de paciência e aguardar... (6-4-69)

 

Infelizmente tem-se verificado, em tempos atuais, uma espécie de desmoronamento da honra e da fortuna de muitos homens que, em ação de longos e longos anos, as tenham elevado tão alto! Existem, no momento, no seio de certas e infelizes famílias, filhos que, "nascidos em berço de ouro", ao atingirem 17 ou 18 anos, com dinheiro, luxo e más companhias, dão verdadeiros shows de perdulariedade e pouca vergonha! E o que é mais doloroso, enchem de humilhação seus velhos pais, amigos e parentes. Não sabendo trabalhar ¾ porque isso nunca aprenderam  ¾ e quanto ao estudo não foram além do ginásio, esses pobres moços, quando se apercebem da realidade, serão maus esposos, maus pais e então estarão arruinados financeira e moralmente... E os velhos avós, os pobres avós, do fundo de suas sepulturas já não estarão recebendo o peso da voz do povo ¾ a voz de Deus ¾ de que foram e são, também co-responsáveis pelo que vem de acontecer, por não terem dado, no passado, aos seus descendentes, a boa, cristã e vigilante "educação do Berço e Juventude"?! ( 27-6-69)

 

A ida é ação ¾ feliz ou infeliz. A volta é reação ¾ prêmio ou castigo. Ir a algum lugar, na vida , todos vão. Fazer, alguma coisa na terra, todos fazem. Passar, pelo mundo, todos passam... Assim, o que é muito importante em todos os atos das criaturas humanas é saber-se, previamente, que reação os mesmos provocarão depois. Ir e poder voltar-se ao ponto de partida, de cabeça alevantada; agir e merecer uma reação dignificante ¾ esses são privilégios de que podem desfrutar as almas heróicas!... Há, por outro lado, o caso dos que podem retornar do caminho errado, como o "Filho Pródigo", e São Paulo na estrada de Damasco! Há, ainda, o caso dos que podem volver os olhos aos Céus, a Deus ¾ como criaturas que se dirigem ao Criador ¾ pedindo-lhe  seu amparo e proteção. "Vemos" um avião voando no espaço, mas "volvemos" nosso olhar ao Alto, quando, no infinito, nossa alma precisa reencontrar-se com o Pai Celestial.

( 28-6-69)

 

As queixas, ainda que veladas, são sempre dirigidas a alguém, contra  e sobre alguma outra pessoa... De forma que aquele que as ouve tem de sentir-se incomodado, intimamente receoso da possibilidade de estar sendo acusado como co-responsável pelas suas causas... Ou pode ainda estar sendo incriminada uma pessoa amiga, ausente, e que não tivera, no caso, intenção de causar os prejuízos apontados... Mas se, por outro lado, as lamúrias são contra todo mundo, contra Deus, ou contra o próprio queixoso, então o problema é muito mais grave, certo que o "reclamante" pode estar precisando de uma boa reprimenda, sob pena de, com o correr dos dias, decair da boa consideração de todos seus circundantes... ( 8-7-69)

 

Falando de sexo entendemos que o assunto é por demais rasteiro, chão, material, animal, para podermos falar disso às crianças que, como os passarinhos ainda correm e brincam, entretidas, com as belezas que a natureza contém. O debate da matéria deveria ser feito, isso sim, no sentido de defesa e de precaução, quando existisse perigo eminente. Do contrário, deixemos a sábia intuição humana, inspirada por Deus, que vá descobrindo as virtudes desse tabu, o sexo. Naturalmente, dentro da evolução da vida moderna colaboraremos e instruiremos a respeito do problema sexual, mais cedo do que em tempos passados, quando não existiam jornais e revistas, nem cinema, nem televisão, nem automóveis, nem psicotrópicos, nem os etecéteras, etecéteras que vem chegando por ai... (15-12-69)

 

No começo o homem comunicava-se  com os seus semelhantes por meio de gestos. Depois por palavras  gaguejadas. Depois por traços e desenhos nas pedras. Depois por letras rabiscadas nos papiros. Há 500 anos surgiu a imprensa, graças à Gutenberg.  Depois a máquina de escrever, o telégrafo, o rádio, a televisão.. Agora os cálculos são feitos  por cérebros eletrônicos. As mensagens, som e imagem, são transmitidas instantaneamente para qualquer parte do globo. Os transportes são feitos em aviões com velocidade supersônica e logo mais em foguetes interplanetários... Se além disso tudo, os homens tivessem um pouco mais de "amor ao próximo" poderiam encontrar, em verdade, o bem estar aqui mesmo, neste magnífico mundo de Deus! ( 26-2-70)

 

Para ser bondoso, caridoso, basta ao homem ser um indivíduo comum. Para ser justo, entretanto, é necessário elevar-se um pouco e achar-se num pedestal de juiz, de líder, de chefe, de cônjuge, de pai, de filho, de irmão, de colega, de cidadão, colocando-se, enfim, em posição na qual terá obrigação de praticar atos em conseqüência dos quais outras criaturas de Deus tenham seus direitos e deveres, virtudes ou defeitos proclamados! Portanto, para a criatura humana, é fácil e agradável a prática da bondade podendo mesmo escusar-se  a ela sob alegação de falta de tempo ou de recursos; mas quando estiver em jogo a prática da justiça, imperiosa e impreterível, até a omissão é considerada um crime! (3-7-70)

 

Assim pensava o pobre homem: “O pouco de bom que tenho conseguido realizar na vida é fruto de minha grande fé em Deus, bem como da observância das minhas pobres teorias, nem sempre bem compreendidas por amigos queridos... Por causa das minhas atitudes suportarei, mais tarde, se preciso, mas sempre estoicamente, o peso do julgamento da posteridade!” ( 3-7-70)

 

Gostaria de, enquanto pudesse pedir a um dos meus quatro queridos filhos, que guardasse com bondade e respeito,  estas duas cadernetas, onde, depois de momentos de profunda meditação, venho anotando minhas pobres idéias... na esperança de, na velhice, com a graça de Deus, escolher algumas razoáveis e transcrevê-las, para que, quando lidas depois por alguém — essa boa criatura pudesse entender melhor os pensamentos do “pobre homem” que os escreveu.

( 7-7-70)

 

Segundo Santo Agostinho: “O verdadeiro bem é aquele que nos torna melhores”. Portanto, isso em face da nossa própria consciência e em face da voz do povo, voz de Deus. ( 8-7-70)

 

O casamento, como uma Sociedade Conjugal, está sujeito a percalços próprios a quaisquer sociedade. Infelizes os lares em que o casamento, desde o tempo de noivado, alicerçou-se em bases de “negócios” ou de “acomodação”. Diferente e venturoso é o matrimônio que realizado sob as bênçãos de Deus, constituem-se  numa Sociedade Familiar, em que o cumprimento dos altos deveres dos pais, traduzidos em reiteradas provas de amor e de renúncia, são testemunhos de retidão, austeridade, estoicismo e bondade...(11-41-70)

 

Soneto

Afinal, o pobre homem descansa em paz;

Ei-lo, agora, mãos cruzadas sobre o peito,

Como quem, estendido em seu leito,

Invoca a última oração de que é capaz.

 

Que restam dos sonhos dos tempos de rapaz?

Das esperanças de quando homem feito?

Ele que almejou, quem sabe, ser perfeito,

Deixa seus humildes enganos para trás...

 

Incompreendido às vezes, mas nos instantes

Em que caminhou em sua austera trilha

Quis provar serem estes os anseios seus:

 

Bem querer e respeitar seus semelhantes,

Amparar e defender a sua família,

Ser justo com todos, no santo amor de Deus!

(14-2-71)

 

Assim pensava o pobre homem: “Quero apenas ser justo! Se alguém afinal de contas, disser que também fui bondoso, algumas vezes, por causa disso agradecerei, de joelhos, ao Bom Deus, que quis conceder-me essa glória imerecida”. ( 22-5-71)

 

Assim pensava o “pobre homem”: como a quase totalidade dos homens, eu também não desejaria afastar-me do convívio de minha família, dos meus amigos, antes dos 70/80 anos de idade. Mas, se for vontade do Criador que eu não chegue a tanto, as pessoas que comigo tem convivido serão testemunhas que há cerca de vinte anos (“terno preto”; “terno de casamento”) estou preparado para a “grande viagem”, certo que eu já poderia tê-la feito antes não fosse a mão do Todo Poderoso que já me amparou, positivamente, pelo menos em dois quase acidentes 9 estrada de Rio Claro e estrada Sta. Helena-Piracicaba), nestas minhas pobres andanças por este mundo de Deus.( 4-1-72)

 

A felicidade dos jovens, homens e mulheres, entre em perigo se, ao completarem 25/30 anos, podendo casar-se, não procuram realizar esse ideal, construindo um lar feliz, apoiado na honradez e na austeridade. É na família que se sustenta todo o futuro, definido e venturoso, da criatura humana. O próprio Jesus, Deus feito homem, teve a sua família. ( 28-1-72)

 

Ao invés de dizer triste foi o tempo em que, como pobre, passei até pequenas frustrações”, devo dizer sempre: “bendigo e agradeço ao Bom Deus por continuar derramando suas bênçãos sobre esta humilde criatura. Ao passado, apenas, gratidão e saudades. ( 4-3-72)

 

Cada missão é um encargo e representa uma etapa de nossa vida. Ao final de tudo, voltando os olhos ao passado, devemos agradecer, mais uma vez ao Bom Deus pelos mínimos êxitos alcançados, e estender a nossa gratidão aos nossos pais, aos nossos irmãos, ao nosso cônjuge, aos nossos filhos e aos nossos amigos. Eis aí formada a grande árvore que, entrelaçada a outros troncos e ramagens, familiares e amigos, constitui sociedade no bairro, na cidade, na nação. Aquele que alcançou a velhice e viveu bem no seio da família e da sociedade deverá, na hora extrema, erguer os olhos ao alto e repetir: “Obrigado meu Deus!”. ( 31-8-72)

 

Finados ¾ O homem nasce! E chora porque alguma coisa mudou ou falta em sua vida! Depois vai crescendo! E começa a observar, a sentir, a pensar! E a querer bem a todos que o cercam, em primeiro lugar os mais próximos. Depois quer fazer-se entender com olhares, com sorrisos, com carrancas, com gestos, com palavras balbuciadas! E ao iniciar os primeiros passos mais parece um autômato desequilibrado... E demonstra ter medo do escuro, dos gritos, dos estrondos! E chora de novo! Depois, aprendendo com os outros, deseja distinguir as coisas boas das coisas más. Depois os mestres lhe ensinam as primeiras ciências, enquanto a própria vida vai ensinando as demais. Depois vem a juventude, as primeiras fascinações, os primeiros sonhos, os primeiros amores, as primeiras contrariedades, os primeiros desenganos. Depois, dentro da realidade do mundo, novos anseios e novas frustrações! E chora em segredo... Depois a procura da verdade! E, filosofando, analisa a própria existência e a dos seus semelhantes: quanta quimera, egoísmo, tristeza, desespero nos corações dos homens, que bem poderiam, todos eles, ser felizes. Há os que vencem e os que fracassam. Os que caem e depois se reerguem. Há os que tombam para sempre! Pausa! No fim, o obre homem, velhinho e com lágrimas nos olhos, volta o seu pensamento para o passado, já que não pode mais alcançar o amanhã inatingível! E para definitivamente... E, nesse momento, sempre haverá alguém, que com amizade e em nome de Deus, chorará por ele! ( 2-11-72)

 

Talentos ( Mateus 25, 14-30) ¾ “Servo mau e preguiçoso”, classificou o Cristo ao servo que recebendo um talento de seu patrão não o fez produzir, não trabalhou, não progrediu, enquanto os outros dois empregados, que haviam recebido 2 e 5 dinheiros cada um, os fizeram frutificar em dobro... Isso nos faz pensar que não fosse o progresso das ciências, das artes, das indústrias, do comércio, parte da humanidade estaria ainda na era da pedra lascada, a maioria dos homens habitando em cavernas e malocas, vestindo peles das caças abatidas para a própria alimentação, confeccionando os tecidos com a ajuda de agulhas feitas com ossos afiados, gente morrendo com “nó nas tripas”, hidrofobia, picadas de cobras, “mal de sete dias”, etc. As mensagens estariam ainda sendo transmitidas em papiros, levadas de mão em mão, os transportes feitos nos próprios ombros e no lombo de animais. Os portadores do mal de Lázaro circulando pelas estradas agitando matracas para avisar que os proscritos estavam passando...Os músicos tocando flautas de madeira e batendo em paus ocos. Os pintores e escultores sem ninguém que lhes comprasse suas “obras reles”... Consola-nos, porém, lembrar que há dois mil anos o próprio Filho de Deus já havia, em suas eternas parábolas, elogiado a quem, trabalhando, conseguirá progredir! ( 26-11-72)

 

A criatura humana possui uma porção de predicados, próprios ou adquiridos, que se constituem em elementos positivos, ou seja, demonstração de força e, em caso contrário, não os possuindo, a situação passa a ser negativa e de fraqueza. Esses elementos positivos uma vez bem aplicados, ou mal disfarçados se ausentes, poderão conduzir a mesma criatura ao êxito ou ao fracasso: 1) Vigor físico; 2) Inteligência; 3) Boa postura; 4) Tradição de honradez; 5) Belos traços fisionômicos e bom senso; 6) Gênio artístico; 7) Bens de fortuna; 8) Padrão de vida exemplar na família e na sociedade; 9) Influência de boas amizades; 10) Crença em Deus e respeito às coisas sagradas. ( 10-12-72)

 

Meditações em tempo de Natal ¾ I) Não há, no mundo, ninguém que não precise de ninguém, assim como não existe ninguém que não possa ser útil a alguém. II) Ah! Se a vida, o mundo fosse como um grande lago plácido, sereno, iluminado pelos albores de um novo dia, em cujo céu existissem nuvens, umas claras  e outras escuras, por vontade de Deus, e ao caírem as primeiras gotas de uma chuva sem vento estas formassem milhares de milhares de círculos harmônicos, irradiantes, uns ligando-se aos outros sem entrechoques, sem ciúmes, sem despeitos, mas entrelaçando-se com amizade, com renúncia, com amor. III) Em se falando de solidariedade humana, o ideal seria que os homens afastassem de seus corações as antipatias que sentem por determinadas pessoas ¾ que em nada contribuíram para  isso ¾ bem como não permitissem que a indiferença pelas necessidades de seus semelhantes, especialmente vizinhos, amigos, parentes, edificasse em suas almas uma muralha de apatia e egoísmo! IV) É, infelizmente, comum deixarmos de ser simpáticos para certos “amigos” desde o momento que os procuramos para pedir-lhes algum favor ou atenção que lhes importe, embora tão somente, em perda de tempo e, quiçá, de comodismo. Igualmente são considerados inteligentes, dignas de estima, as pessoas prósperas em seus negócios e acontecendo o inverso até os “amigos” que se diziam mais íntimos praticar o feio pecado do descaso e da ingratidão.( 24-12-72)

 

“É uma vergonha: existe fome, existe guerra, existe proliferação da toxicomania, existe a decadência dos costumes”.  Muitos condenam... Mas dos acusadores, quantos estão cumprindo a sua parte, colaborando positiva, valentes e abnegadamente para a solução desses angustiantes problemas? Quantos são os que na hora do balanço da  verdade podem provar que, de sua parte, tomaram a iniciativa de socorrer os seus “mais próximos” necessitados, perdoaram os que os provocaram para iniciarem uma demanda tola, vigiaram e orientaram, até ao sacrifício, os seus dependentes impúberes, quando ao atingirem a idade de 13 a 15 anos, começaram a enfrentar as tentações  desse mundo de deslumbramentos, de falsas amizades e de corrupção? Os que condenam e clamam agora, compareceram antes disso com a sua cota de generosidade, de advertências, de ensinamentos para a segurança da família e da sociedade que julgam em perigo? Os que puderam responder “sim”, esses merecem as bênçãos de Deus! ( 30-1-73)

 

Será, Deus meu, que foi pecado de orgulho o fato deste pobre pai haver anunciado que estava comprando lotes de terrenos porque possuía um filho recém-formado Engenheiro Civil, o qual, proximamente, montaria aqui em Piracicaba uma empresa construtora? Perdoai-nos, por isso, meu Deus, e permiti que ele, lá do Céu, continue transmitindo aos seus entes queridos as necessárias forças e inspiração para levarem avante aquela sua carinhosa idéia. ( 9-2-73)

 

Oração ¾ Perdoai-nos, ó Deus nosso, se a partir das 22 horas do último domingo, dia quatro, quando uma grade dor se abateu sobre nossas vidas de pai e mãe. Sim, perdoai-nos, ó Deus onipotente, se em face do enorme sofrimento de nossos corações, junto com os soluços que subiam do nosso peito, junto com as lágrimas que continuam inundando os nossos olhos, perdoai-nos, ó Deus misericordioso, se, nesses momentos, não contivemos as nossas queixas e, elevando o nosso pensamento ao Alto, perguntamos algumas vezes: Por que, ó Deu nosso, castigaste-nos tão rudemente? Perdoai-nos, por isso, ó Pai Nosso, que estais no Céu, e que guardais agora, junto de Vós, o nosso querido filho José Carlos, e vos pedimos dizer-lhe que mantemos a sacrossanta esperança  de também, um dia, quando formos convocados por Vós, podermos estar novamente ao seu lado e assim ir tributa-lhe tantos beijos quantos, dia a dia, momento a momento, lhes estamos enviando daqui de baixo, daqui deste “vale de lágrimas”, onde, aqueles outros entes queridos que ele tanto amou e ama ainda, continuam precisando de nós. Perdoai-nos, Senhor, e não permitais que se afastem dele e dos demais ente queridos as Vossas e as nossas eternas bênçãos. Augusto e Mile, 11-2-73

 

E assim continuou pensando o pobre homem: já que o Bom Deus determinou fizéssemos doação de uma preciosidade destacada das raras e imensuráveis que possuímos nesta vida, não devemos lamentar a dura sorte... sob pena de praticarmos o feio pecado do egoísmo e arrependimento. ( 24-2-73)

 

De repente, observamos que uma criatura humana mudou de hábito, especialmente em público: já não anda tão depressa, com a cabeça erguida, não mais saúda os seus amigos à distância, evita encarar as pessoas... É que algum grande sofrimento passou a torturar-lhe a pobre alma. Só o tempo, grande médico, grande arquiteto, grande professor, poderá, com a ajuda de Deus, colaborar para restabelecer, no que for possível, a situação anterior. ( 11-3-73)

 

Todas a alegrias que podíamos receber de um filho, até o momento em que o Bom Deus o chamou ao seu reino, foram nos proporcionadas, bem como julgamos lhe havermos proporcionado todos motivos de felicidade possíveis a um casal de pobre velhos pais, como nós. ( 11-3-1973)

 

As estradas, como as selvas insondáveis, são cheias de perigos e surpresas... Andando-se nelas, as pobres criaturas de Deus, em trânsito por esta vida, estarão sujeitas, a todos momentos, a pequenas e grandes fatalidades. ( 13-5-73)

 

A vida

A vida

Tão Querida,

Como o tempo que passa,

É igual à fumaça,

Que esvoaça,

Para depois subir

E no espaço sumir...

 

Mas a saudade,

Essa imensa verdade

Que conosco fica,

Se edifica,

Em nosso pensamento

E em nenhum momento

Nos deixa,

Apesar de nossa desejosa queixa

De olhar aos Céus

E perguntar a Deus:

Por que?...

... Por que?! ( 10-10-73)

 

“Ide e batizai todas as criaturas do mundo, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a observar tudo o que vos mandei. E eis que estou convosco todos os dias até o fim do Mundo”. Mateus 28, 19-20. Sim, é obrigação dos cristãos atuais colaborarem na reforma das “Casas de Deus( como a da nossa querida Rio das Pedras) a fim de que nelas as criaturas humanas possam, genuflexas, orar e fazer votos  de altruísmo, paciência, humildade, renúncia, perdão, e se disporem, depois, a trabalhar e colaborar a favor dos necessitados, dos desesperados, de todos enfim, especialmente daqueles que, por ignorarem a doutrina de Cristo, poderiam perder-se nos inúmeros lamaçais de corrupção, de desonra, de miséria e de loucura existentes no mundo.

 

Após bilhões de anos, depois que a terra, o mar, os rios passaram a possuir plantas e animais vivos... surgiu a criatura humana, e, para os que crêem, feita a imagem e semelhança de Deus. Desde então o homem, com sua capacidade de raciocínio, de comunicação e de edificação, começou a registrar a história do mundo em pedras, madeiras, papéis, fotografias, filmes, gravadores, computadores, etc.... ( 30-12-73)

 

Quando se tem muita dúvida sobre qual o caminho a seguir, o melhor que se faz é parar um pouco, meditar, indagar, silenciar se preciso... mais tarde poderemos verificar que, dos que seguiram precipitadamente, muitos sofreram decepções irremediáveis... E os poucos que, agindo de uma outra forma, acertaram, esses mereceriam as bênçãos de Deus e o respeito dos homens. ( 11-4-74)

 

Oração: Permiti, Bom Deus, que eu tenha suficiente calma para suportar os desacatos e ofensas que, às vezes, de repente, parecem atingir-me, porque analisados, a fundo, tais fatos poderão constituir-se em “simples malentendidos”... ( 16-2-75)

 

O nosso mundo é a nossa terra, a nossa casa,  a nossa gente. O nosso tempo é o momento que passa, entrelaçado ao nosso amanhã sem receios e ao nosso ontem sem arrependimentos. E tudo isso só será verdade se, crendo em Deus, aceitarmos sua onipotente vontade e agirmos segundo seus sacrossantos preceitos. ( 4-9-76)

 

“Lembrai-vos de mim quando estiverdes no Reino de Deus...”disse São Dimas, o bom ladrão, a Jesus Cruxificado. E o pobre homem pergunta: O que é estar no Reino de Deus? Deve ser, estar a criatura humana com a alma em plena graça. São Dimas foi paciente e devoto quando disse: “Lembrai-vos de mim...”em vez de “salvai-me”, certo que se referia à vida eterna e não mais à vida terrena. Feliz aquele que no momento extremo, puder dizer ou deixar dito aos seus amigos: “Lembrem-se de mim em seus momentos de graça, em suas orações, isto é, quando seus pensamentos estiverem em pleno Reino de Deus”. Apenas isso. E essa seria a maior glória para quem teve longa vida: poder pedir, ao final, alguma paga àqueles em cuja familiaridade conviveu, e aos quais tanto amou. ( 4-2-77)

 

Lógica e Ética ¾ “Contra a força não há resistência” porque, conforme a resistência aumenta, a ela se sobrepõe a força... O coração tem razões que a própria razão desconhece. Assim, o pensamento do homem ¾ ou seja, o seu coração, a sua consciência, a sua lógica, a sua ética, o seu bom senso, o seu critério, etc., etc. ¾ quando amparado e impulsionado por escusas razões, usa e abusa de argumentos inaceitáveis e incompreendidos pelos seus semelhantes... Restaria , para os que crêem, como nós, na sobrevivência da alma, apenas o seu julgamento pela justiça de Deus. ( 19-6-77)

 

O sorriso ¾ Sorria sempre! Não existe no mundo ninguém, por mais feliz ou infeliz, por mais rico ou mais pobre, que não possa distribuir ou receber um sorriso. “Quando você nasceu todos sorriam; apenas você chorava. Assim, agora procure viver de tal maneira que quando você morrer, invertam-se os fatos: todos seus amigos chorem e só a sua consciência, junto de Deus, tenha motivos para sorrir” ( 10-10-77)

 

A própria natureza, ou o Bom Deus como cremos nós, vai preparando por meio de pequenos sinais ( reflexo mental retardado, amnésia, surdez, cegueira e outras debilidades físicas) vai preparando, repetimos, a criatura humana a aceitar o fim que se aproxima... e  isso pressentem  os que nos rodeiam, antes mesmo do que nós, através de nossas palavras, de nossos atos, de nossa aparência. ( 18-12-77)

 

Tem vez em que é bom apareçam nuvens cinzentas, tanto no céu como na vida dos homens, para que estes se lembrem que, acima de tudo e de todos, existe Deus! ( 9-4-78)

 

Agora, já vivendo os primeiros momentos do meu sexagésimo sexto ano, é de meu desejo e dever: (I) Rogar ao Bom Deus proteção, sobretudo, para os meus dias futuros, prometendo-Lhe dedicar o máximo da minha capacidade de trabalho visando o bem estar de minha querida família; (II) Reconhecer que é bom ¾ não obstante a minha razoável disposição física e mental em participar de atividades associativas externas ¾ delas ir-me afastando, poupando assim aos meus amigos a obrigação de, a isso, brevemente me aconselharem ou exigirem; (III) Começar a dar prioridade a atividades em prol de obras filantrópicas, em especial em favor das crianças  e idosos, paralelamente aos meus trabalhos administrativos, os quais ainda são úteis e convenientes a minha saúde e minha manutenção; (IV) Reiterar minha confiança em Deus e em minha família, esperando que suas bênçãos e proteção amparem os meus pobres dias neste final de caminhada terrena. ( 13-10-78)

 

“Ninguém é perfeito em tudo, nem durante todo o tempo”, disse-o, já, alguém... Como criatura de Deus, feito a sua semelhança, nem poderia o homem ser-lhe igual ou cópia autêntica; senão logo se ergueria como seu concorrente, depois como possível adversário e inimigo e chegaria, fatalmente, ao paradoxo de pretender suplantar o próprio Criador. ( 7-1-79)

 

Ainda que todos se voltem contra nós, mas tendo Deus em nosso coração, teremos no momento extremo, a consciência bastante tranqüila, para podermos repetir as palavras do Divino Mestre: “Perdoai-os, Senhor, porque não sabem o que fazem” e “Em vossas mãos entrego a minha alma”. ( 19-5-79)

 

Minhas  Crenças ¾ I) Creio em Deus  II) Creio em dois Céus: no primeiro, de que nos fala a Bíblia e  do qual muitos duvidam; e no segundo, que todos devem respeitar, constituído pela consciência do Povo, que o concede ou o nega a cada um, segundo o seu procedimento durante a vida terrena. III) Creio nos milagres do amor: do amor de todos os amores, do amor sublime entre os homens, criaturas de Deus; do novo amor, que se inicia quando a jovem mãe sente pulsar em seu seio a vida do filhinho querido; do amor verdadeiro que sente o pobre velho quando, nos seus últimos momentos, deseja ter em torno de si todos aqueles a quem sempre trouxe em seu coração.  IV) Creio nos milagres da Humildade que faz o homem reconhecer no seu próximo um seu semelhante e, por isso, infunde em seu coração o desejo e o dever de dispensar-lhe fraterna e até abnegada consideração. Humildade que impõe ao homem teimar apenas sobre aquilo que sabe; não sonegar aos outros o que sabe e lhes é útil; confessar sua ignorância e perguntar, inclusive às criaturas mais simples , sobre o que tem obrigação ou necessidade de saber. V)  Creio nos milagres do Trabalho, honrado e perseverante, que, se antepondo ao desânimo, produz benefício a quem o executa e, ao mesmo tempo, extensivo aos seus próprios entes queridos, membros da comunidade universal. VI) Creio nos milagres da Honestidade, que desde os primórdios da criação do homem, vem sendo exaltada nas páginas da história, quanto aos que a praticam com nobreza e sinceridade. E há de continuar representando na existência de cada um, para a própria consciência, supremo conforto, ainda que as calúnias e as mentiras humanas pareçam deslustra-lhe a reputação.  VII) Creio nos milagres da Renúncia, que faz a pobre criatura tolerar e perdoar as ingratidões humanas, ainda que não as possa, voluntariamente, esquecer, talvez assim evitando sua maldosa reincidência; creio na renúncia de que nos  o Divino Mestre: “Ao que lhe disputar a túnica, cede-lhe também a capa’ ( Mateus 5:40).  VIII) Creio nos milagres da Bondade, que começa com um sorriso e termina com uma lágrima, bondade que torna melhor o nosso mundo interior e procura levar a possível felicidade ao mundo dos outros; bondade que é luz, calor, amparo, caridade, amor e que, em certos momentos, encherá nosso coração e emoção e nossos olhos de lágrimas, quando a dor, às vezes sem remédio, atingir vidas e coisas criadas por Deus para o bem estar da coletividade terrena.  IX) Creio nos milagres da Justiça, aureolada pela bondade cristã que, em nome da verdade, sem omissão e com honradez, procura exaltar a virtude e condenar o vício, infundido nas criaturas humanas fé e confiança no futuro, assegurando-lhes a proteção necessária e sã liberdade em suas andanças por este “vale de lágrimas”.   X) Creio, de novo, agora e sempre, em Deus, na sobrevivência da alma e na vida eterna, onde estarão juntas as pobres criaturas humanas que tanto se amaram neste mundo. ( 12-6-79)

 

Testemunhos ¾ 1) Passei a considerar-me um homem totalmente realizado, quando, em 1951, nascia o quarto ( 24.10.51) dos meus queridos filhos, frutos de um matrimônio abençoado por Deus. Por coincidência, nesse mesmo  ano ( 12.10.51), os planos de instalação da “sonhada usina de açúcar” em Rio das Pedras, começavam a se tornar realidade. 2) Eu me lembro, devia ter então cerca de 5 anos, que tendo sido acometido de uma erupção de pele, denominada “cobreiro”. A enfermidade que se iniciara nos pés, já ameaçava atingir o ventre, certa manhã reuni todos os santinhos que minha irmã Mariquinha me dava e o que havia ganho nas aulas de catecismo e... quase chorando, beijava todas aquelas lindas figurinhas de Menino Jesus, Nossa Senhora ( e Aparecida), São José, Santa Terezinha e outros santos e pedia que não permitissem a minha morte visto que desejava, quando crescesse, escrever um livro sobre a vida!... E hoje, aos 65 anos de idade, eu me pergunto: terei cumprido, em inexpressiva e pequena parte, aquelas promessas de criança inocente, rabiscando ou transcrevendo estes pobres pensamentos, nestes três cadernos? Queira Deus que o título “A Vida...O Mundo...”, escrito há 32 anos atrás, não tenha sido muito desmerecido...Não posso deixar de mencionar aqui e render uma singela homenagem a “velha Maguarecci” que, com seus benzimentos e tinturas, também colaborou para deter o avanço daquela enfermidade. ( 13-6-79)

 

A morte, para os que, como criaturas de Deus crêem na ressurreição e no reencontro, deve ser interpretada apenas como um caminho de volta ao Criador. ( 20-9-79)

 

Ouvimos tanto e tantas vezes queixas sobre o procedimento de pessoas que só fazem donativos aos necessitados ¾ adultos e crianças ¾ com festinhas, brinquedos, agasalhos, mantimentos, etc., por ocasião do Natal... que chegamos a ter sérias dúvidas sobre a legitimidade ou não de tais críticas... Mas, depois, chegamos à conclusão, louvado seja Deus, que melhor seria que tais reclamantes agradecessem, sinceramente, aos que fazem tais generosidades, pelo menso uma vez ao ano, certo que há os que nada fazem, anos e anos, e entre estes podem estar, embora poucos, aqueles que só sabem criticar... ( 30-12-79)

 

Para um pobre homem, avançado em idade, uma das coisas mais importantes na vida ¾ depois de sua crença em Deus e amor a sua família, dentro da qual sempre há de incluir alguns bons amigos ¾ é  a realização, pelo menos em parte, dos seus ideais muitos deles alimentados em seu coração desde os primórdios de sua existência. ( 27-2-80)

 

Não é ateu aquele que, mesmo não crendo em Deus ¾ Criador, Onipotente e Onipresente ¾ acredita, com firmeza e amor, em determinadas coisas e teorias postas em dúvida pela grande  maioria dos homens. Essa crença já é uma demonstração anti-ateista. Ateu, em verdade, é aquele que, descrente de tudo, encara o mundo e a vida com indiferença e, até, aversão. ( 23-3-80)

 

Aquele que, tendo recebido um benefício desinteressado e espontâneo de alguém e eleva, por isso, o seu pensamento agradecido ao Bom Deus pronuncia, até mesmo sem o saber, uma sublime oração, em louvor ao seu benfeitor. ( 18-5-80)

 

Pena que, meia ou uma dúzia de bombas atômicas, possam, de um momento para outro, destruir toda essa beleza, todo esse progresso, que o Bom Deus oferece aos homens, através da própria natureza e dos donos do intelecto humano. ( 6-12-81)

 

O homem na deve temer a morte  se meditar sobre o seguinte dito popular: “Ninguém morre antes do dia que lhe foi fixado por Deus”. Apenas, “o peru morre na véspera...” ( 20-12-81)

 

Se os homens infelizes que, em vida, realizaram grandes obras, sejam na filosofia, literatura, escultura, pintura, música, filantropia, humanismo, etc., e que, muitos morreram no anonimato, ostracismo, penúria, martírio, pudessem reviver no mundo de hoje e avaliar os benefícios que, imorredouramente, o seu estado de sofrimento produziu, de certo, se sentiriam compensados, em incontáveis vezes, agradecendo até ao Bom Deus por ter-lhes concedido, naqueles amargos e saudosos tempos, tanta sabedoria e acerto... ( 14-2-82)

 

Antigamente a “lei de oferta e procura” funcionava de maneira simples e natural. Os meios de produção eram acionados desordenadamente, sem pesquisa de mercado, tanto para o consumo interno, como para exportação. E ocorria, mormente com os produtos agrícolas ( pobre agricultura!!!) que, na época das colheitas, os seus preços eram reduzidos até abaixo dos custos das sementes, da mão de obra dispendida no seu plantio, cultivo e assim os lavradores, muitas vezes, preferiam deixar perder-se no campo a produção, para não agravar ainda mais os seus prejuízos... Hoje, neste início do octagésimo segundo ano do Século XX, vemos com algum alívio que os decantados “preços mínimos”, prometidos e re-prometidos desde os primórdios do “governo dos Estados Unidos do Brasil” está realmente, começando a funcionar ¾ garantidos agora pelo Banco do Brasil, que os adquire ou financia, depositando-os nos armazéns gerais da União. Até que enfim, graças a Deus! Quanto aos produtos industriais, esses então são defendidos pelos próprios fabricantes ou suas associações de classes, que procuram regular a produção dentro dos parâmetros do consumo nacional e da possível exportação, não permitindo assim a baixa aviltante dos preços de mercado. Infelizmente, uma das conseqüências dessa política é o desemprego, às vezes “em massa”, estourando a corda do lado “mais fraco”, agravando sempre mais a penúria do desassistido operário brasileiro... ( 28-2-82)

 

A perfeição é alcançada, a maioria das vezes, depois de falhas experimentais, erros e aparentes fracassos... Só o Bom Deus age e cria as coisas, de maneira impecável. Em assim pensando, o “pobre homem” deve admitir, temporariamente, os próprios erros e os de seus semelhantes, convicto de que seus tropeços, “quedas do cavalo” é muito difícil alguma coisa ou alguém, de início, despontar com a perfeição ideal. ( 21-3-82)

 

A consciência do homem é como um mini-Deus ( isso, não do homem pecador, farisaico, hipócrita, mas do homem crente) porque acha que Deus é a extensão da própria consciência. Esse homem-consciência, quando comparecer diante de Deus para prestar contas de sua vida terrena, poderá julgar-se feliz se puder afirmar: “Senhor, fui prejudicado mais do que prejudiquei os meus semelhantes, talvez sem querer ou por omissão e não guardei rancor de ninguém. Perdão, Senhor!”. ( 24-04-82)

 

Ninguém cria nada de nada, nem nada faz sem o apoio de coisas ou elementos existentes. Disso, somente o Bom Deus, que não teve principio nem terá fim, é capaz. O próprio filho de Deus, Jesus, Deus feito homem, contou, em sua vida pública, com a cooperação e assistência de apóstolos e discípulos, criaturas humanas imperfeitas, algumas das quais não creram nele e até o renegaram, de início. Para fazer o seu primeiro milagre, nas festas da bodas de Canaã, contou com a ajuda dos empregados dos noivos, que lhe trouxeram jarros contendo água pura, quando o vinho que era servido se havia acabado... Por isso, enganam-se, redondamente, os homens que se julgam donos da verdade, mais sábios e capazes do que seus semelhantes. Muitas vezes, quando simples problemas, sujeitos a várias interpretações, lhe são apresentadas, impõem soluções precipitadas e condenáveis, invés de, com um pouco de humildade, solicitar a opinião de outros  interessados e conhecedores do assunto, procurando assim encontrar a solução final, se não absolutamente correta, pelo menos a melhor no momento, em face da situação e com a vantagem de dividir responsabilidades... ( 20-5-82)

 

Mocidade moderna ─ Pais  e filhos. Os pobres pais se indagam aos seus parentes, amigos, vizinhos, o que fazer para que os filhos adolescentes não sejam envolvidos pelas más companhias e tentações que cercam o chamado “mundo moderno”, instável e corrupto, que infelicitam tanto criaturas e lares... O que fazer? Primeiro, confiar em Deus e nos ensinamentos de virtude e pureza de Cristo Jesus. Depois, sair da situação de mero espectador e dar bons conselhos e, principalmente, bons exemplos. Praticar boas ações e ajudar o seu próximo necessitado. Esquecer o passado, se for o caso, e praticar o “bom combate”, como São Paulo Apóstolo. Lembrar que Cristo é perdão, amor, misericórdia. Nada de represálias, inveja, egoísmo, menosprezo! Orientar, com palavras carinhosas, seus companheiros e bons amigos, aconselhando-os a se desviarem das ciladas que a própria vida arma constantemente, contra inexperientes e principiantes... Depois, os pais, que se mantenham na confiança em Deus e nas lições do Evangelho, e se ainda, no final, novas provocações sobreviverem, não perder, jamais, a sublime esperança de que, um dia, o Divino Mestre, ouvirá nossas preces e não nos deixará faltar suas sacrossantas consolações, pois Ele mesmo disse “os que preservarem até o fim serão salvos”. ( 12-6-82)

 

As crianças e os velhos não devem ter segredos; as crianças tudo esperam dos homens, os velhos devem ter muito a temer a Deus. ( 28-6-82)

 

Somente agora ─ quase dois mil anos depois que o Divino Mestre legou a todos os povos a sua sacrossanta doutrina, defendida primeiro por seus apóstolos de discípulos, depois divulgada pelos seus quatro evangelistas, por São Paulo e por milhares de outros homens de fé e de letras ─ é que a filosofia cristão vem sendo posta em prática em sua essência. E hoje, na maioria das vezes, contra o poder  de governantes ditatoriais, voltando assim as suas verdadeiras origens, em defesa das criaturas carentes de pão e de justiça. Durante os primeiros trezentos anos os ensinamentos do Divino Mestre viveram quase que na clandestinidade, até quando o imperador Constantino, pelo Édito de Milão, no ano de 313, considerou a religião cristã como oficial do Império Romano, atribuindo-se, entretanto, “oficialmente”, a condição de grande pontífice e chefe da nova Igreja, proclamando, desde logo, que seu governo monárquico era de “direito divino”. Infelizmente, já naquele tempo, o sacrossanto símbolo cristão, a cruz, começou a ser utilizada para fins belicistas, havendo o próprio Constantino mandado desenhar a cruz em seus estandartes, adotando também, o lema “In Hoc Signo Vencis” recrudescendo então novas guerras de conquista, esquecendo, portanto, do que havia afirmado o próprio Jesus diante de Pilatos: “Meu reino não é deste mundo”. As próprias cruzada, que se arrastaram pela Idade Média afora e que sacrificaram milhares de vidas inocentes, se desviaram da filosofia de Cristo, expressa especialmente no Sermão da Montanha. Depois, outra página negra foi escrita em nome do catolicismo, ao tempo da nefanda Inquisição, comandada por imperadores e, também, por altos dignatários da própria Igreja, quando, a título de combater heresias, foram cometidas inomináveis barbaridades, devendo aqui mencionar apenas um exemplo: o sacrifício de Joana D’Arc, queimada em praça pública na cidade francesa de Rouen. Não devemos omitir as perseguições sofridas por pensadores e filósofos nos últimos tempos, levadas a efeito pela tirânica aliança Estado-Igreja, citando apenas três nomes: Spinoza, no século XVII, Voltaire, no século XVIII e Victor Hugo, no século XIX. Graças a Deus, principalmente depois da Encíclica do Papa Leão XIII, “Rerum Novarum”, publicada em 15.05.1891 e do Concílio Ecumênico Vaticano II, a posição assumida pela Igreja Católica, em verdade. É de defesa dos humildes, dos carentes, dos sofredores, dos injustiçados, recomendando a todos, ao mesmo tempo, pobres e ricos, fracos e poderosos, a prática real da virtude, do amor e do perdão, segundo os ensinamentos de Cristo Jesus. Disso vem dando provas, as mais evidentes e insofismáveis, o Papa João Paulo II, que atacado e mortalmente ferido pelo terrorista turco Mehemet Ali Agca, durante uma concentração na Praça de São Pedro, em 13.05.81, já no hospital e ainda sob sério risco de vida ─ disse, referindo-se ao criminoso: “ Dele não guardo mágoas e sinceramente o perdôo”. Um ano depois, em Fátima, onde comparecera para comemorar o 65° aniversário da aparição da Virgem Maria a três jovens pastores ( 1..05.1917) o mesmo João Paulo II fora novamente ameaçado e quase atingido a baioneta por um sacerdote tradicionalista ( portanto a favor da mentalidade antiga da Igreja Romana) ordenado que fora pelo bispo rebelde francês Marcel Lefèbvre. Percebendo, o Santo Padre, que alguém havia tocado em sua batina, voltou-se e fitando o seu agressor, já contido por policiais, o abençoou fazendo o sinal da cruz. Finalmente, é digno de menção o que vem acontecendo com os padres franceses Aristides Camiô e Francisco Gouriou, quando toda a Igreja do Brasil toma corajosa e desassombrada posição contra o julgamento do Conselho de Sentença do Exército da 8ª Circunscrição da Justiça Militar de Belém do Pará, que condenou ambos os sacerdotes a 15 e 10 anos de prisão, respectivamente, e pretende agora que os mesmos sejam expulsos do país. Mas a Igreja não cruzou os braços diante disso e vem clamando por todos os meios ao seu alcance, inclusive pela imprensa falada e escrita a favor de humildes roceiros marginalizados naquele longínquo Estado da Federação e que vem seno amparados pelos dois padres católicos em suas justas aspirações quanto a posse da terra devoluta onde moram há muitos anos. Assim devemos todos reconhecer que agora a Igreja voltou a cumprir e a recomendar obediência aos santos ensinamentos do Divino Mestre, graças a Deus! (30.6.82)

 

“Se queres a paz, prepara-te para a guerra”  ( “Si vis pacem, parabellum”) ─ Existem dois tipos essenciais de paz: a paz interior, a paz de espírito e a paz social, a paz externa, da qual somos parte também, permanentemente. A paz de espírito, interior, podemos controlar, gozá-la em muitos momentos, alguns até dos mais difíceis. Mas, se não houver paz externa, social, em que nós próprios, nossos familiares, nossos amigos e outras inocentes criaturas são prejudicadas, ofendidas, agredidas, martirizadas, desaparece paulatina ou instantaneamente a nossa paz interior... Por isso que somente poderá existir maior percentagem da paz sobre a face da terra, e isto repetimos sempre: apenas quando os governos, suas forças armadas, quando os homens de todas as raças, das mais diversas condições sociais, quando todos forem justos, honestos, trabalhadores, generosos e usando a inteligência que Deus concedeu a cada um, seguirem os ensinamentos de Cristo Jesus. Paz absoluta, perfeita, integral, nunca existirá entre os homens, porque estes, pela lei da própria natureza, devem desenvolver seus ciclos de vida, entre sofrimentos e alegrias, acertos e fracassos, para um dia deixarem o convívio de seus entes queridos e aí sempre haverá inevitável tristeza nos corações... ( 20-2-83)

 

O homem a quem Deus concedeu, entre os mais variados dons, o do raciocínio, o maior de todos, gostaria, quando idoso, de dizer alguma coisa de bom aos seus familiares, sucessores, amigos, enquanto jovens. Ao avançar em anos percebe que, num futuro não muito distante terá que deixar este “paraíso terrestre”, onde existem as maravilhas da natureza ( flores, regatos, céu azul, noites estreladas, etc...). Mas pouco fala e se consola com a lembrança de Sócrates, Cristo, Tiradentes e milhares de criaturas monumentais, que relativamente pouco deixaram falado e escrito. Portanto, benditos os que puderam deixar mais obras, exemplos do que discursos. A filosofia, a literatura, as artes, as ciências, as descobertas e invenções que hoje existem são frutos de ações deixadas por outros homens, muitos quase anônimos, às gerações futuras, em benefício destas, para serem mantidas, melhoradas e continuadas pelos pósteros de todos os tempos. ( 27-3-83)

 

Falando em política (V) ─  O nosso querido Brasil está se transformando como se fosse uma imensa  área de arrendamento, tipo República Soviética, em que os seus proprietários ou governantes submetem a quase totalidade da população e um regime de semi-escravidão. A exceção é feita aos donos de bancos que escorcham a todos que a eles recorrem e não produzem nem um quilo de nada em benefício do povo... e só compram terrenos caros para estacionamento... Em seguida vem as multinacionais, as estatais e um pequeno número de indústrias privilegiadas, como as de óleo de soja, leite em pó, medicamentos, etc. E enquanto isso, os salários dos trabalhadores são achatados porque a indústria em geral , o comércio e a agricultura são cada vez mais sobrecarregados de impostos, taxas e outros gravames. Entretanto às classes dominantes são atribuídas mordomias, sinecuras deixando impunes até os mais deslavados assaltantes do erário público e da bolsa do povo. Para buscar um pouco de consolo só mesmo recordando o que clamava Castro Alves no século passado: “Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me Vós, Senhor Deus, se é loucura...se é verdade... tanto horror perante os céus? ( 20-9-83)

 

Colaboração-Protesto enviada ao jornal "O Estado de São Paulo" e publicada na COLUNA DOS LEITORES em 28 de outubro de 1983 ¾ República Soviética do Brasil ¾ Sr. O nosso querido Brasil está se transformando como se fosse uma imensa área de arrendamento ¾ tipo República Soviética ¾ em que os governantes ou proprietário submetem a quase totalidade da população a um regime de semi-escravidão. A grande maioria do povo não possui nada e a classe média está descapitalizando o pouco que possui. À exceção feita aos donos dos bancos ¾ que escorcham a todos que a eles recorrem e com seus lucros não produzem nem um quilo de nada em benefício do povo e só compram terrenos centrais e caros para estacionamento "confortável" aos seus exauridos clientes... Em seguida aos bancos, vem as multinacionais, as estatais e um pequeno número de indústrias privilegiadas, como as de óleo de soja, de leite em pó, de medicamentos, etc. Enquanto isso os salários dos trabalhadores são achatados, ao mesmo tempo em que as indústrias de um modo geral, o comércio e a agricultura são cada vez mais sobrecarregados com impostos, taxas e outros gravames. Mas as classes produtoras e o povão não merecem ser condenados a arcar com os ônus da nossa dívida externa, feita, em sua maior parte pelo próprio governo e suas devastadoras estatais. Com isso são asfixiadas as fontes de produção e geradoras de empregos. Se o governo precisa de dinheiro deve diminuir os seus próprios gastos, com usinas nucleares e procurar, isso sim, recuperar as vultuosas importâncias desviadas nos famigerados escândalos ¾ adubo-papel, mandioca, polonetas, Capemi, Coroa-Brastel e quejandos que permanecem impunes. Para buscar um pouco de consolo só mesmo recordando o que clamava Castro Alves no século passado, em face da escravidão negra que imperava no Brasil: "Senhor Deus dos desgraçados,/ Dizei-me vós, senhor Deus,/ Se é loucura...se é verdade? Tanto horror perante os céus?" L. A. Barrichello, Piracicaba-SP

 

Não! Jamais entenderemos ou justificaremos a auto-destruição ─ o suicídio... Ainda que a infeliz criatura não tivesse um só parente, um simples amigo, a quem causasse sofrimento em face de seu tresloucado gesto, quem dele depois ─ por força da apuração e da divulgação dos fatos ─ tomasse conhecimento e perguntaria: “Porque, porque?”. O suicídio é uma questão de consciência mais para o que se vai do que para os que ficam... É uma falta de caridade para os que sobrevivem e sofrem diante de sua atitude de desespero e covardia. Todos os males terrenos tem remédio, paliativo, consolação... No momento extremo, de desespero, se alguém pudesse deter a consumação do desvairado ato, certamente que ambos, seriam aplaudidos pela justiça dos homens e pela clemência de Deus. ( 4-11-83)

 

A luz é o supremo bem! A luz é beleza, é amor! “Fiat lux”, disse Deus, após verificar que o mundo que acabara de criar encontrava-se mergulhado nas trevas. E Deus viu que aluz era boa. Diógenes, desencantado com os homens, seus contemporâneos, saiu em pleno dia, com uma lanterna acesa na mão, a procura de um homem honesto... Sem luz, sem calor, sem amor, nada sobrevive ao tempo implacável... ( 13-11-83)

 

Está na Bíblia: no sétimo dia, Deus descansou. Mas vendo Deus que o homem não era feliz, disse: “Não é bom que o homem esteja só”. E somente depois que Deus criou a mulher, e com ela o amor, é que o homem se sentiu completo... ( 23-12-83)

 

É tudo uma luta... O escritor luta, luta noite adentro, isolando-se do borburinho mundano e escreve boas coisas... O pintor luta, luta isolando-se em clarabóias, em ateliers, em quartinhos de fundo de quintal e executa lindos quadros... O compositor luta, luta a maioria das vezes em recolhimento, buscando em horas mortas a inspiração e produz inolvidáveis peças musicais... O cientista luta, luta em pesquisas e experiências e conforta-se, ao final, constatando que seus esforços representam avanços para o bem da humanidade... O jornalista luta, luta principalmente quando a cidade começa a repousar para que, no dia seguinte, os leitores sejam informados sobre o que aconteceu nas cercanias e no mundo, sendo denunciados, paralelamente, os enganos, as mentiras, e promovida a defesa do bem, da verdade e da justiça... E assim, em centenas de outras atividades, as criaturas humanas procuram, no seu dia a dia, contribuir para que no grande mundo, homens, mulheres, crianças e idosos possam viver num sempre almejado mundo melhor. Mas, no fim ( todos teremos o nosso último momento na face da terra) se, um a um e todos nos deixarem, além dos generosos frutos  dos seus trabalhos e esforços, algo de bom em benefício também dos que não puderam ler os seus livros, admirar as suas pinturas, ouvir as suas músicas, desfrutar dos benefícios da ciência, ser alcançados pelas campanhas vitoriosas da imprensa, enfim usufruir um pouco das muitas coisas boas feitas, exibidas, promovidas por uma minoria de predestinados que, por suas missões, atribuições e funções se constituem numa espécie de elite da comunidade, então, repetimos, se estes não deixarem realizado algo em favor dos deserdados da sorte, que sempre existirão, pouco ou quase nada valeram os seus lindos trabalhos, os seus esforços, os seus suores, os seus sacrifícios, certo que, ao final, ficou esquecida a principal parte, a parte do amor ao próximo, traduzida na mensagem do Divino Mestre, quando recomendou” “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. E os ricos e os milionários, enfim os afortunados da indústria, do comércio, da agropecuária, do capitalismo, da oligarquia, do oportunismo e centenas de profissões autônomas e liberais que aqui não são mencionadas expressamente, em que ponto poderiam ser convocados a cumprirem seus de solidariedade humana? Mas não apenas com as migalhas que lhes caem de suas fartas mesas a que se refere o Evangelho de Cristo. Sinceramente ninguém sabe até onde, quando, como, quanto essa convocação poderia produzir seus resultados... Entretanto, uma coisa é certa: bastaria que a consciência de cada um, na fase crepuscular de sua vida, fosse tocada por uma voz do alto e sentisse como é importante até para os mais descrentes e ateus dos homens fecharem os olhos, na extrema hora,  sentindo  a convicção de que cumpriram, em vida, com os seus deveres  perante os seus  familiares, igualmente perante os seus amigos e conhecidos, inclusive seus semelhantes , criaturas anônimas, neste grande mundo de Deus. ( 16-1-84)

 

Segundo a opinião da maioria ou quase totalidade dos homens, este mundo não tem mesmo salvação, no que concerne a paz entre os homens. Os mais pessimistas remontam os fatos desde a criação do mundo, quando a primeira família não foi feliz por causa do egoísmo, da inveja, da ganância, da violência e dos dois “primeiros irmãos” quando um foi abatido pelo outro. Milênios e milênios depois, o Divino Mestre, mesmo sendo o Messias tão esperado, foi traído por um dos seus dozes apóstolos e, em seguida, negado por três vezes pelo mais valoroso dos seus primeiros seguidores... Ainda, o seu próprio povo pediu e exigiu o seu martírio na cruz, logo a Ele que recomendava paz, justiça, amor entre os homens... A história do mundo está repleta de episódios, antes e depois de Cristo, em que é evidenciada a falta de entendimento entre  governos, governantes e governados e porque assim não dizer, entre os povos? “Cada povo tem o governo que merece” é o refrão popular e milenar... Pelo visto, pouco adianta ficar reclamando, apenas citando exemplos. A melhor solução é cada um, dentro da sua família, do seu campo de atividades, do seu relacionamento, colocando de lado as suas rotineiras pregações de moral, procurar cumprir com seus deveres conforme a lei de Deus, e a dos homens puros... e se cada um fizer bem a sua parte, um dia, os governos serão obrigados a fazer, igualmente bem o que lhes compete! ( 17-6-84)

 

De tantos livros que comprei, a maioria dos quais, confesso, não consegui ler por inteiro, mas, mesmo assim, foi-me dado copiar muita coisa boa, sábia e, de fato, admirável, e do quase nada de útil que eu escrevi, fruto de minha desprivilegiada inteligência ─ eu não passaria de um simples avarento se mantivesse, ao final, escondidas nestas singelas cadernetas, essas poesias, esses pensamentos, enfim, todos esses escritos, sem repassá-los, sem distribuí-los, sem espargi-los em benefício de minha gente e de meus semelhantes, como frutos maduros de uma pobre colheita que o Bom Deus permitiu fizesse eu. Porém, rogo-lhe devotamente não deixar que isso aconteça, bastando-me um pouco mais de tempo e saúde. (02-07-84)

 

Para os que acreditam na imortalidade da alma ( graças a Deus sou humildemente um desses bem-aventurados) a criatura humana, terrena, não morre, isto é, não desaparece enquanto permanecer na memória, no coração dos entes queridos, dos amigos, das pessoas enfim com as quais convivem. E essa lembrança envolve não apenas a fisionomia, os trajes, o perfil, o modo de andar, de gesticular, de falar, mas especialmente os feitos, as ações, tanto as boas como as más, realizadas em vida, com a vantagem de que a maioria dos seus conterrâneos costuma, cristãmente, relevar e quase esquecer, os defeitos daquele que se foi e até exaltar, às vezes, com alguma bondade, as suas poucas virtudes... ( 22-7-84)

 

O que é a felicidade? ─ “Um estado de alma”, já escrevi anteriormente. Mas para completar essa felicidade deve ser reconhecida e até propalada pela “voz do povo-voz de Deus” e igualmente estar envolvida, desde logo, por duas circunstâncias essenciais, no campo material: (a) Tranqüilidade quanto à própria saúde e a de todos os seus entes queridos; (b) Tranqüilidade quanto à alimentação, moradia, vestuário, transporte, no seu dia a dia, disponde de recursos suficientes para o seu pleno bem estar, sem precisar preocupar-se com os meios de pagamento para aquisição de quaisquer bens de que precise ou deseje de seu consumo ou uso cotidiano. Paralelamente, no campo espiritual, constatar que: (a) Nada sente pesar na sua consciência, de que deva arrepender-se, nem sofre a angústia de aspirar coisas impossíveis; (b) Sofrendo amarguras entende e aceita terem sido geradas por forças superiores  e inelutáveis e quando provocadas por pessoas amigas, é capaz de suportá-las, perdoando muitas e muitas vezes de acordo com a recomendação do Divino Mestre, em Mateus 18:21. ( 16-9-84)

 

 

Felizes os que vivem muitos anos, os que vencendo a barreira do tempo, chegam à velhice sem desmedidas ambições pessoais e sem recordações de duros sofrimentos... Mas será que, dentro dos arcanos de Deus, essa felicidade não será um momento pleno de efêmeros e ledos enganos? ( 29-12-84)

 

O governo de uma Nação, como de um Estado, de um Município, de uma sociedade comercial, de um clube social, deveria assemelhar-se ao governo de um família bem constituída, já com filhos adultos. Todos os membros imbuídos de responsabilidade e bastante sensatos. Este governo familiar teria, obviamente, em sua cúpula um chefe para exercer o comando, em harmonia com os demais dirigentes e assessores, no caso, a esposa e os filhos, todos com deveres e direitos, a fim de que constatassem sempre, a existência de uma situação de democracia. Mas... o que ocorre no Brasil de nossos dias, nada tem de semelhança com um governo familiar, honesto, aberto, democrático. A revolução se 1964 derrubou um governo semi-democrático e foi feita, quase que exclusivamente, para “combater a corrupção” que campeava nos altos escalões dos poderes então dominantes. Porém, passada meia dúzia de anos, o que se verificou foi que o país começou a mergulhar num mar de lama e corrupção mais vergonhoso do que existia até naquela época. E pior ainda é que sob a cobertura do AI ( Ato Institucional) nº 5, a classe militar e seus apaniguados passaram a governar a nação por meio de decretos, resoluções, portarias, as mais esdrúxulas e disparatadas, muitas delas em caráter “sigiloso, no interesse do governo”... E se contra isso tudo, a imprensa falada e escrita e o próprio povo protestavam, as suas ponderações e reclamos se perdiam no vazio do menosprezo, da incompetência, da cegueira e da inconfessabilidade. Graças a Deus, neste início de ano, todos os brasileiros respiraram a esperança de ver implementado, ainda que pelo voto indireto, um governo civil, austero, competente, capaz de por fim às roubalheiras praticadas, às escâncaras, mormente pelas Estatais, pelos bancos, pelos negocistas, pelos agiotas, que escorcham a pobre família brasileira, nestes vinte anos desgovernada e sacrificada... ( 6-1-85)

 

Poderão, alguns dos que lerem as ponderações contidas nestas quatro pobres cadernetas, afirmar que são idéias inconseqüentes, apenas bem intencionadas... Seja! Mas ainda assim, é preferível a nada pensar, nada dizer, nada fazer. Se é “tempo perdido”, que o seja com propósitos otimistas!... “Desde que o mundo é mundo, existe dor, existe fome, existe guerra, existe o mal”, dirão e “assim será sempre!” Não! Não! Não! Pois se isso fosse verdade, verdade cruel e irremediável, melhor seria então destruir tudo o que foi feito de bom pelo homem, pondo abaixo todas as doutrinas de moral, de virtude, de bondade, de justiça. “Nada de artes, nada de ciência, nada de música, nada de poesia, nada de beleza, nada de ternura com as crianças, nada de respeito com os velhos! Morte para os famintos e infelizes! Rua para os enfermos! Para a infância, o desamparo e para a juventude, a corrupção!” Deus bondoso, perdoai tanta falta de caridade! Não! Mil vezes, não! Benditos os visionários que crêem e  lutam por um mundo melhor. (30-4-85)

 

Já escrevi anteriormente que Proudhon muito exagerou quando afirmou: “A propriedade é um roubo”, uma vez que a grande maioria dos homens, principalmente os de bom senso, entende que os bens materiais, frutos do trabalho honesto, de qualquer natureza, ou ainda recebidos por herança, constituem, pelo contrário, direito legítimo de uso e posse, por parte de seus detentores, representando até incentivo para preservá-los e ampliá-los. Roubo seria desviar coisa do verdadeiro dono. Portanto, segundo Proudhon, se o que o proprietário tem foi roubado, entendo que as vítimas do roubo só podem ser os que não trabalharam, não herdaram, faltaram-lhe ou deixaram as oportunidades e, agora, nada possuem... Complicado, não?! Mas, na verdade, roubo é a sonegação, em qualquer parte do mundo, dos impostos devidos e, muito maior ainda, roubo vergonhoso ( criminoso e lamentavelmente no Brasil, e em outras republiquetas, impunes) é o peculato, a corrupção ativa e passiva, o suborno, o desfalque, as negociatas, as sinecuras, as “mordomias” e um sem número de descaminhos de coisas e valores pertencentes à nação, ao povo, não havendo dúvida de que uma centésima parte disso tudo valeria muito, se aplicada, criteriosamente, em socorro da pobreza desvalida. Roubo clamoroso é isso, por falta de consciência, por falta de amor ao próximo, por falta de respeito ao Bom Deus! (15-9-85)

 

Agora que, graças o Bom Deus, atravessei a barreira dos 72 anos de idade, procurarei poupar-me da leitura de diversas revistas semanais e, diariamente de mais de um jornal de Piracicaba e de São Paulo, Capital, certo que, afinal, reconheço que isso agora pouco ou nada acrescentaria aos meus conhecimentos, escassos, mas indispensáveis a qualquer criatura. As notícias momentosas, todos os jornais as publicam e outros resumos e detalhes os obtenho através das transmissões feitas pelo rádio e pela televisão locais. O mesmo direi quanto ao cinema, cujo entretenimento sempre me agradou, mas que pouco proveito representa para mim, nesta fase de minha vida. Portanto, o melhor a fazer, é tentar ensinar ou deixar escrito lições de vida, citando exemplos, rasgos de otimismo, de trabalho, de nobreza e do que muitos benefícios podem advir para aqueles que, mais novos, tem pela frente numa vida inteira, e assim podem ser ajudados pelos que pretenderam, antes, acertar em suas atuações no grande palco da vida. (12-10-85)

 

Pensando em boas ações. Devemos concluir que cada um faz o que pode. E disso deve dar graças ao Bom Deus. Se existem os que fizeram ou fazem menos ou mais, não deves ser censurados ou elogiados, ruidosamente, isto é, em público e de maneira até constrangedora. Dos dois casos sempre existirão criaturas que verão nesses julgamentos crítica ou ironia. O aconselhável é deixar cada um envolvidos tranqüilos, dentro de sua capacidade de ação, estimulando-os entretanto,  a se esforçarem, singelamente, na busca do almejado mundo melhor, para o qual cada um pode, a seu modo, contribuir. ( 17-4-88)

 

“To be or not to be(Shakespeare 1564-1616) ─ O que torna o homem receoso e tímido é o fato de precisar lembrar-se, antes de dizer “verdades” publicamente,  de que seus protestos contra políticos ou homens influentes e poderosos, podem provocar reações incômodas, represálias e até processos judiciais. Não basta saber das falcatruas e abusos praticados, à socapa, por pessoas importantes e ter a seu favor muitas testemunhas ocasionais. O que é necessário mesmo é apresentar, se interpelado, provas concretas e insofismáveis dos fatos denunciados, sob pena de passar de acusador a réu.. Consola apenas, ao pobre homem, lembrar-se que, entrementes, cumprindo seus deveres para com Deus, com a família e a sociedade, estará assegurando para o final de seus dias, um pouco d bem estar espiritual e consciência tranqüila. ( 19-2-89)

 

Em muitos momentos da vida, o homem, especialmente quando percebe estar ingressando na velhice, tem impressão de sentir-se só, mesmo vivendo no seio de sua família, no meio de amigos. Entre estranhos, em contato com pessoas que são, talvez reciprocamente indiferentes, a solidão parece aumentar, porque com estas pessoas nada existe sobre o que dialogar, propor, ouvir. Nessas oportunidades a pobre criatura faz um retrospecto da própria existência, do seu passado de esperanças, anseios, de algumas frustrações sofridas e até de duras realidades que teve ou tem de suportar. Mas o homem não poderá sentir-se plenamente só ou abandonado se, crendo em Deus, existir ao seu lado, ao seu alcance, esteja onde estiver, algum meio de comunicação, que lhe faça presumir uma resposta, uma solução, ainda que aleatória. Assim, jamais sentir-se-á só quando, numa suprema devoção ou conformação, voltar o seu pensamento ao Onipotente e, orando, entregar-lhe seus momentos futuros, rogando sempre para que seus entes queridos encontrem as santas alegrias que a vida, enquanto jovens ainda, pode lhes proporcionar. ( 19-5-89)

Hoje, em que os brasileiros se encontram a menos de 30 dias da posse do novo presidente da república ─ Fernando Collor de Mello ─ escolhido por votação direta, em dois turnos, depois de quase 30 anos sem eleições legítimas, alteiam-se para a maioria dos brasileiros novas esperanças. Novas esperanças, porque o atual governo ─ Sarney ─ encontra-se em melancólico final, depois de cinco anos de corrupção, sinecuras e impunidades. Por isso, neste momento, gostaria de recordar que há mais de quarenta anos, quando era vereador em Rio das Pedras, liderei a elaboração de uma mensagem ao Congresso Nacional e que foi remetida em 12 de junho de 1948, em cinco extensas laudas. Quatorze anos depois, em 13 de julho de 1962, a revista Visão publicou na sua 4ª página, uma carta em que, inclusive, fiz referência ao fato do Congresso nacional, até então, não haver dado a mínima resposta à aquela mensagem. Nessa carta à Visão, é óbvio, novos apelos foram feitos, mas que se perderam no vazio do descaso e do impatriotismo. Enfim, no próximo dia 15 novas esperanças começarão a acalentar, mais uma vez, os corações sofredores da maioria dos brasileiros, e permita Deus que as frustrações anteriores não se repitam. Entrementes, o Congresso nacional, de acordo com a nova constituição, promulgada em 5 de outubro de 1988, tem poderes amplos para aprovar as leis, decretos e medidas provisórias emanadas do chefe do governo, atendendo aos interesses do povo, exclusivamente. Basta que os senhores senadores e deputados federais, que, na sua maioria, até aqui, só tem defendido seus interesses particulares, basta que eles, agora, tenham mais pudor para, pelo menos, darem quorum nas votações dos projetos e proposições que visem retirar a nação do caos em que tem vivido nos últimos anos. Quanto ao presidente Collor ─ o mais jovem dos que já governaram, de mal a pior, a nação até hoje ─ o povo confia que não lhe faltará a proteção divina para acertar, como ele próprio tem vaticinado. Desassombro e virtudes pessoais, o futuro presidente as possui, bem como, e sobretudo, tradição de família. Seu avô paterno Lindolfo Leopoldo B. Collor, jornalista gaúcho, descendente de alemães, estivera exilado três vezes ( 1932, 1937 e 1942) por defender os ideais democráticos do povo brasileiro. Seu pai, senador alagoano, Arnon Afonso de Farias Mello, também jornalista, revelou muita coragem ao comparecer ao senado, depois de jurado de morte por outro senador alagoano, Péricles Góis Monteiro, e na iminência de ser atingido, atirou primeiro, enquanto o agressor se agachava acovardado, indo a bala perdida vitimar outro senador, que se lhe achava atrás. Fernando Collor, que também é jornalista, como seus ascendentes, possui suficiente experiência política-administrativa para resgatar e comandar a nau dos brasileiros ao seu verdadeiro destino de justiça, austeridade, honradez, trabalho e de progresso. De minha parte ─ enquanto são aguardados novos métodos na política governamental, que venham  garantir dias melhores para toda a nação, e de modo especial a favor da grande maioria de deserdados da pátria ─ irei fazendo revisão, com inclusão de novos pensamentos aos já por mim selecionados, a fim de, futuramente, mandar editar um LIVRO DE PENSAMENTOS, como é um antigo desejo meu. Trata-se de uma coletânea por mim iniciada há mais de cinqüenta anos, destinando-se oportunamente, o resultado da venda dos livros a favor do fundo pró-construção do Lar de Velhinhos de Rio das Pedras, sob os auspícios da Conferência do Senhor Bom Jesus de Rio das Pedras da benemérita Sociedade São Vicente de Paulo. Ao Bom Deus, em Quem desde minhas primeiras reflexões do tempo de menino, sempre confiei e devotei minhas esperanças e estoicismo, rogo e espero apenas, as suas bênçãos, a fim de que possa, inclusive, com a ajuda de minha querida família, levar a bom termo aquele ideal. ( 16-2-90)

 

Reflexões

Agora que a dor e a incerteza

Fazem sombra sobre o meu futuro,

Vejo-me como um pobre barco

A navegar pelo mar da vida,

Sem saber como a penosa viagem

Se conduzirá até o fim.

 

A madeira foi envelhecendo;

Já não pode sofrer impactos...

Até o sol que antigamente

Dourava suas graciosas linhas

Agora representa perigo

De acelerar sua deterioração.

 

Também a chuva e o orvalho

Que antes refrescavam seu lenho,

Hoje provocam danoso bolor

Que, a pouco e pouco, ameaça

Reduzir sua capacidade

De ir, de vir, resistir e viver...

 

Mas a vida da criatura

É quase igual para a maioria:

Passa a infância e a juventude,

Com uma rapidez sem conta,

E quando a maturidade chega

Os cuidados se tornam constantes.

 

É pena que boa parte não chega

À velhice consagradora,

E perece em plena caminhada,

Quando muitos dos seus lindos sonhos

Ainda não se haviam realizado...

Paciência! Deus nos consolará!

 

Um grande poeta brasileiro

Disse: “A perfeição é a morte” ( Olavo Bilac)

Outro grande poeta francês

Já havia anteriormente

Proclamado: “Morrer é nada;

Não viver é que é medonho( Victor Hugo)

Resta-nos, assim, a certeza

De que somente Deus é a salvação.

Pois a morte não poupará ninguém.

Deixando aqui apenas lembranças

Do que foi possível realizar,

Com amor, justiça e nobreza. ( 20-8-90)

 

“O mundo só terá conserto quando os bons exemplos partirem de cima e a justiça começar em casa”, como clamam muitos honestos patriotas. Mas, desgraçadamente, o que se observa no Brasil é o inverso: quando mais importante for a posição do político, maior é a corrupção e impunidade em que se envolve, e quanto mais abastado for o industrial, negociante, agropecuarista, especulador, etc. maior é a ganância, salvo raras exceções. Não escapa dessa desastrosa regra, desde os mais altos dignatários da nação até a maioria dos prefeitos e vereadores, sediados nos menos assistidos municípios do país. A descarada “lei de Gerson” ( levar vantagem em tudo, em benefício próprio e de seus apaniguados) não passa hoje de uma cínica verdade. Os que aspiram ver o Brasil assemelhar-se às modernas potencias interacionais, devem orar muito para que o Bom Deus ilumine os nossos políticos a cumprirem com seus deveres pátrios e exigirem, como se fôssemos uma grande família, constituída de pais, filhos e irmãos, em que é primordial que os interesses coletivos e de cada um sejam defendidos acima dos interesses individuais e de grupelhos. Nações, como a Alemanha, Japão e Itália, que sofreram a catástrofe das guerras, hoje fazem parte do rol das grandes potências. Por isso os que clamam hoje não devem desanimar. ( 10-3-91)

 

Observação : no período de 1992 a 1994, até seu falecimento, as anotações se restringiram a aspectos pessoais ( diário).

 

A seguir, reprodução de anotação feita em vinte e nove de janeiro de 1994, cinco meses antes de seu falecimento ( 16.06.1994):

 

“CRER EM DEUS é para o homem

a sua maior necessidade!

 

PRATICAR O BEM, o seu

maior dever!

VITOR HUGO (1802-1885)

 
 

 

 

 

 

 

 

 


Pequena placa de bronze a ser colocada futuramente, no meu túmulo, em baixo dos dizeres “Família Barrichello”, como der certo.

Obs.: “CRER EM DEUS” e “PRATICAR O BEM” vão em letras de forma.

Em 29-01-94 ( 18 hs)