ESPERANÇA

 

“Enquanto houver vida há esperança” – Todas as situações poderão se modificar sob a ação do tempo, o mais milagroso, depois de Deus. Qualquer doença, física ou mental, enquanto houver vida, estará sujeita à cura. Portanto, não se justifica a pena de morte, mesmo quando supomos nos acharmos frente a uma situação sem remédio, pois essa suposição é que começará cometendo um crime: o da desesperança. ( 12-2-53 )

O que seria das crianças sem a esperança do Céu? ( 20-7-54)

E a vida continuará! Desde que o mundo é  mundo quantas desgraças tem as criaturas humanas suportado, percebendo após a tormenta, que “tudo passa” e que o tempo, grande médico, professor, mágico, tudo cura, tudo ensina, tudo resolve. “Morrer não é nada; deixar de viver é que é medonho” disse Vitor Hugo. E é verdade. Porque não vivendo deixamos de participar das alegrias e tristezas que cercam a vida dos nossos entes queridos A nossa vida se resume no convívio entre nossos semelhantes. Não vivendo mais, uma falta será sentida pois, mesmo idosos, quando bons  e justos, sempre poderíamos ser úteis, aos que nos cercam. Simples conselhos valem muito aos que são moços. E os que morrem deixam de padecer, pois a agonia há de ser um sofrimento, e nem se poderia admitir a morte provocando ânsias de gargalhadas. Portanto, a criatura deixa de sofrer após o desenlace. Mas, e os que ficam no mundo? Chorarão desde logo, chorarão de saudades depois, sofrendo em suma, sem o nosso consolo. E depois, nossos dias virão, o tempo irá passando; novas esperanças, novas tristezas, novas decepções, novas ilusões, e na realidade dos dias que irão passando todos reconhecerão: a vida continuará! (8-5-55)

A fé — A fé é imanente em todas as criaturas que almejam ou receiam alguma coisa. Pode-se dizer que, via de regra, os maiores partidários da fé são os enfermos de espírito ou de corpo; ou anseiam conseguir um  bem ou desejam livrar-se de um mal. Por isso a fé é dirigida ao mistério, ao insondável. Sempre que se puder resolver uma dificuldade com recursos materiais, é  a fé apenas co-existente e até subestimada. Quando cessa a certeza da solução desejada aí surge a fé, ou seja a concentração da esperança a fim de sustentar o ânimo e evitar o desespero do indivíduo, Seja em face dos problemas desta vida, ou dos segredos do além túmulo. ( 18-8-57)

A religião pode ser comparada a uma grande firma internacional, com agências, filiais, sucursais, representantes em todas as praças. O seu poder está na pujança dos ramais partidos do grande tronco — o Vaticano. É uma força poderosa, como as grandes organizações comerciais com a diferença que a Religião vende” fé, esperança e caridade! (  20-12-59)

E quando lhe disseram que para combater o comunismo o essencial era colocar “gente nossa” nos parlamentos, o pobre homem refletiu assim: “Engano! Isso seria apenas tentar contornar os efeitos. Uma espécie de paliativo, de escassa utilidade, como inútil seria ministrar soro e oxigênio a um moribundo para prolongar-lhe a existência. O ideal seria descobrir e medicar a causa da enfermidade. Portanto a repressão ao comunismo deve ser feita dando aos desamparados alguma esperança, entremeada com assistência efetiva, melhor salário, melhor alimentação, melhor habitação e recursos outros a fim de, com algumas sobras, desfrutar das alegrias proporcionadas pela aquisição razoável de seus móveis e imóveis, privilégio que tem sido reservado à burguesia, não proletária, das cidades e dos campos”. ( 22-3-62)

A criatura humana vive em torno de ideais. A Esperança é o caminho que conduz  todos os ideais e a Felicidade é o ideal supremo. Todos nossos pensamentos, manifestações e realizações giram em torno de ideais. A saúde, a inteligência, o amor, a beleza, a fortuna, o poder, a consideração de que desfruta uma pessoa, tudo isso é  uma espécie de concretização do ideal de felicidade terrena. As crianças, os jovens, os noivos, os esposos, os pais, os avós, os velhos, todos tem um ideal a palpitar-lhes n’alma. Diferente na época, mas igual no objetivo: Felicidade! Praza o Bom Deus que possamos todos os homens realizar os seus ideais. ( 23-11-62)

Somos construtores de um futuro e o “nosso futuro” nada mais é senão o dia de amanhã, com a realização de nossas esperanças. Ninguém se preocupa obstinadamente em mudar de estatura ou de fisionomia, conformando-se os homens salvo raríssimas exceções, com os defeitos físicos com que Deus os fez. Mas, desejar todos possuir novos objetos ou adquirir novos bens materiais que proporcionem comodismo ou evidenciem prosperidade. Infelizmente costumamos esquecer que o “nosso futuro”, isto é, a prosperidade é fruto principalmente de nosso trabalho modesto e cotidiano, enobrecido pela bondade e perseverança. ( 12-10-63)

Poesia

Quem não crê em Deus não crê em nada.

Não crê na perfeição que existe.

Não crê no sorriso das crianças,

Nem nas lágrimas dos que sofrem.

 

Não crê na inteligência humana.

Não crê no cântico dos pássaros.

Não crê na beleza das flores,

Nem na poesia do firmamento.

 

Não crendo em Deus e não crendo em nada,

Sem esperanças e sem saudades,

Entende que tudo nesta vida

É bobagem, engano, ilusão.

 

Materialista e desventurado,

Em suas noites sem estrelas,

Não gozará o sublime enlevo

De chorar e confiar em Deus. ( 16-7-67)

Gostaria de, enquanto pudesse pedir a um dos meus quatro queridos filhos, que guardasse com bondade e respeito,  estas duas cadernetas, onde, depois de momentos de profunda meditação, venho anotando minhas pobres idéias... na esperança de, na velhice, com a graça de Deus, escolher algumas razoáveis e transcrevê-las, para que, quando lidas depois por alguém — essa boa criatura pudesse entender melhor os pensamentos do “pobre homem” que os escreveu.

( 7-7-70)

Muitas vezes, na vida, temos que deixa sangrar o próprio coração a fim de, com as suas gotas preciosas, alimentar as esperanças da Terra querida. ( 21-7-70)

Soneto

Afinal, o pobre homem descansa em paz;

Ei-lo, agora, mãos cruzadas sobre o peito,

Como quem, estendido em seu leito,

Invoca a última oração de que é capaz.

 

Que restam dos sonhos dos tempos de rapaz?

Das esperanças de quando homem feito?

Ele que almejou, quem sabe, ser perfeito,

Deixa seus humildes enganos para trás...

 

Incompreendido às vezes, mas nos instantes

Em que caminhou em sua austera trilha

Quis provar serem estes os anseios seus:

 

Bem querer e respeitar seus semelhantes,

Amparar e defender a sua família,

Ser justo com todos, no santo amor de Deus!

(14-2-71)

Oração ¾ Perdoai-nos, ó Deus nosso, se a partir das 22 horas do último domingo, dia quatro, quando uma grade dor se abateu sobre nossas vidas de pai e mãe. Sim, perdoai-nos, ó Deus onipotente, se em face do enorme sofrimento de nossos corações, junto com os soluços que subiam do nosso peito, junto com as lágrimas que continuam inundando os nossos olhos, perdoai-nos, ó Deus misericordioso, se, nesses momentos, não contivemos as nossas queixas e, elevando o nosso pensamento ao Alto, perguntamos algumas vezes: Por que, ó Deu nosso, castigaste-nos tão rudemente? Perdoai-nos, por isso, ó Pai Nosso, que estais no Céu, e que guardais agora, junto de Vós, o nosso querido filho José Carlos, e vos pedimos dizer-lhe que mantemos a sacrossanta esperança  de também, um dia, quando formos convocados por Vós, podermos estar novamente ao seu lado e assim ir tributa-lhe tantos beijos quantos, dia a dia, momento a momento, lhes estamos enviando daqui de baixo, daqui deste “vale de lágrimas”, onde, aqueles outros entes queridos que ele tanto amou e ama ainda, continuam precisando de nós. Perdoai-nos, Senhor, e não permitais que se afastem dele e dos demais ente queridos as Vossas e as nossas eternas bênçãos. Augusto e Mile, 11-2-73

Cada dia é um novo dia. O dia de amanhã é uma nova esperança e por isso no dia de hoje nada há plenamente perfeito e acabado. Vivemos de esperança! Penso que nada é insolúvel neste mundo e nada é irremediável enquanto houver vida. ( 4-9-76)

Era uma vez um menino, de nome Joãozinho, que morava num sítio bem arborizado, perto da cidade. Como qualquer criança residente na zona suburbana, o menino possuía algumas gaiolas com pequenos pássaros. E numa manhã, enquanto Joãozinho tomava café com leite na cozinha de sua casa, estando a janela aberta, ouviu um canto novo de passarinho e, saindo fora, viu um pintassilgo solitário que, num galho alto da laranjeira trinava alegremente, dando bem para ver o seu bico entreabrindo-se enquanto movia a cabecinha para os lados. Nas manhãs seguintes o pintassilgo voltava a cantar na mesma laranjeira e tão lindo eras seu canto que Joãozinho perguntou ao pai como fazer para caçá-lo e assim poder, dando-lhe alpiste e água limpa, nos dias seguintes, ouvir o seu lindo canto, em companhia de seus amiguinhos. E, tendo feito como seu pai lhe ensinou, depois de prender o passarinho no alçapão, transferiu-o para uma gaiola nova, na qual havia colocado antes uma vasilha com alpiste e outra com água limpa. Mas.. o pobre pintassilgo não cantou mais, nem mesmo quando, a conselho do pai, a gaiola era pendurada num galho daquela laranjeira perto da cozinha. Às vezes, antes de recolher a gaiola para dentro da casa, a hora do crepúsculo, Joãozinho tinha a impressão de ouvir seu querido pintassilgo cantar baixinho, sem se mexer, dando a impressão de que estava dormindo... Mas, ao mais leve ruído de sua aproximação, o pássaro estremecia e, a partir daí, só se ouvia nas árvores vizinhas o piar de outros passarinhos que procuram abrigo nas ramagens. Então Joãozinho recolhia a gaiola e na manhã seguinte a recolocava no galho da laranjeira, sempre com esperança de que, ali, o seu passaria voltaria a cantar... Os dias foram passando e numa tarde Joãozinho se esqueceu de recolher a gaiola, e na manhã seguinte, com muito remorso e tristeza em seu coração, verificou que o pássaro havia desaparecido da gaiola e achado até que o malvado gato do vizinho o houvesse devorado... E a gaiola ficou vazia muitos dias até que numa bela manhã escutou novamente, partindo daquela laranjeira o canto de outro pintassilgo, tão afinado e forte como o do que estivera preso por poucos meses. E sentiu em seu coração o desejo de armar de novo o alçapão para caçá-lo, como fizera com o que havia desaparecido, Quando isso aconteceu verificou por uma verruga que possuía na perninha esquerda que era o mesmo pintassilgo e também porque ao ser colocado na gaiola não se debateu, como fazem os pássaros recém capturados. Era igual em tudo, apenas com a cabecinha mais preta, concluindo assim que efetivamente era o mesmo. Mas, infelizmente, não voltou a cantar, como fazia até poucos dias, quando empoleirado no galho da laranjeira. E o pai, vendo o Joãozinho tão triste com isso, deu-lhe este conselho: “Solte-o, pois a falta de liberdade, ou seja daquilo que deseja, tira-lhe a alegria e a vontade de cantar. Com as criaturas humanas também acontece o mesmo quando lhes falta alguma coisa agradável, com a qual conviveram muito tempo, perdem a inspiração e o desejo de demonstrar alegria”. E o autor dessa humilde história continuava meditando: “Não serão os meus pobres livros , que ficaram em Rio das Pedras, na chácara, uma espécie de arvoredo, onde minhas idéias gostariam de, novamente, beber inspiração e respirar liberdade de meditação?” ( 22-3-81)

O pobre homem, morrendo à noite, poderia ter a santa esperança de que a sua alma chegaria ao Céu, mais facilmente, viajando entre as estrelas... ( 7-9-1)

Mocidade moderna ─ Pais  e filhos. Os pobres pais se indagam aos seus parentes, amigos, vizinhos, o que fazer para que os filhos adolescentes não sejam envolvidos pelas más companhias e tentações que cercam o chamado “mundo moderno”, instável e corrupto, que infelicitam tanto criaturas e lares... O que fazer? Primeiro, confiar em Deus e nos ensinamentos de virtude e pureza de Cristo Jesus. Depois, sair da situação de mero espectador e dar bons conselhos e, principalmente, bons exemplos. Praticar boas ações e ajudar o seu próximo necessitado. Esquecer o passado, se for o caso, e praticar o “bom combate”, como São Paulo Apóstolo. Lembrar que Cristo é perdão, amor, misericórdia. Nada de represálias, inveja, egoísmo, menosprezo! Orientar, com palavras carinhosas, seus companheiros e bons amigos, aconselhando-os a se desviarem das ciladas que a própria vida arma constantemente, contra inexperientes e principiantes... Depois, os pais, que se mantenham na confiança em Deus e nas lições do Evangelho, e se ainda, no final, novas provocações sobreviverem, não perder, jamais, a sublime esperança de que, um dia, o Divino Mestre, ouvirá nossas preces e não nos deixará faltar suas sacrossantas consolações, pois Ele mesmo disse “os que preservarem até o fim serão salvos”. ( 12-6-82)

O governo de uma Nação, como de um Estado, de um Município, de uma sociedade comercial, de um clube social, deveria assemelhar-se ao governo de um família bem constituída, já com filhos adultos. Todos os membros imbuídos de responsabilidade e bastante sensatos. Este governo familiar teria, obviamente, em sua cúpula um chefe para exercer o comando, em harmonia com os demais dirigentes e assessores, no caso, a esposa e os filhos, todos com deveres e direitos, a fim de que constatassem sempre, a existência de uma situação de democracia. Mas... o que ocorre no Brasil de nossos dias, nada tem de semelhança com um governo familiar, honesto, aberto, democrático. A revolução se 1964 derrubou um governo semi-democrático e foi feita, quase que exclusivamente, para “combater a corrupção” que campeava nos altos escalões dos poderes então dominantes. Porém, passada meia dúzia de anos, o que se verificou foi que o país começou a mergulhar num mar de lama e corrupção mais vergonhoso do que existia até naquela época. E pior ainda é que sob a cobertura do AI ( Ato Institucional) nº 5, a classe militar e seus apaniguados passaram a governar a nação por meio de decretos, resoluções, portarias, as mais esdrúxulas e disparatadas, muitas delas em caráter “sigiloso, no interesse do governo”... E se contra isso tudo, a imprensa falada e escrita e o próprio povo protestavam, as suas ponderações e reclamos se perdiam no vazio do menosprezo, da incompetência, da cegueira e da inconfessabilidade. Graças a Deus, neste início de ano, todos os brasileiros respiraram a esperança de ver implementado, ainda que pelo voto indireto, um governo civil, austero, competente, capaz de por fim às roubalheiras praticadas, às escâncaras, mormente pelas Estatais, pelos bancos, pelos negocistas, pelos agiotas, que escorcham a pobre família brasileira, nestes vinte anos desgovernada e sacrificada... ( 6-1-85)

Todos nossos atos, quando planejados os iniciada a sua execução, partem revestidos de propósitos que assegurem os melhores resultados possíveis. Essa é a norma geral. Mas ,infelizmente, a realidade, depois, não confirma nossas esperanças ( 24-7-88)

Mistérios... Naquele dia o “pobre homem” parou, um pouco, só para pensar... Já vivera três quartos de século, trabalhando e muito, desde criança visando ideais de nobreza para si e para os seus. Hoje, olhando a estrada percorrida e vendo em cada curva do caminho as esperanças e ilusões vividas, parou para recordar e meditar. Perguntou, como todos perguntam: Valeu a pena? Houve hesitação? Omissão, pusilanimidade? Se nós duvidamos, quem julgará? O importante mesmo é saber se, ao nosso derredor ou distante existem pessoas que se queixam de nossos atos ou atitudes... E não havendo reclamações tudo terminaria bem, aí, não fosse a nossa consciência que nos faz perguntar: Camões e Colombo foram felizes, embora morressem na miséria, depois de seus heróicos feitos, somente tarde reconhecidos? E Van Gogh, cuja genial pintura foi menosprezada a ponto de fazê-lo buscar o suicídio, o final de suas mágoas terrenas? E Dante Alighieri, hoje pai da poesia italiana, quando no cárcere e no exílio, foi feliz como bem merecia? E Joana D’Arc e nosso Tiradentes, martirizados de forma tão cruel desfrutaram da felicidade a que fazem jus os bons e nobres? E assim, o “pobre homem” numa meditação sem fim procurava desvendar os mistérios desta vida. ( 30-12-88)

Em muitos momentos da vida, o homem, especialmente quando percebe estar ingressando na velhice, tem impressão de sentir-se só, mesmo vivendo no seio de sua família, no meio de amigos. Entre estranhos, em contato com pessoas que são, talvez reciprocamente indiferentes, a solidão parece aumentar, porque com estas pessoas nada existe sobre o que dialogar, propor, ouvir. Nessas oportunidades a pobre criatura faz um retrospecto da própria existência, do seu passado de esperanças, anseios, de algumas frustrações sofridas e até de duras realidades que teve ou tem de suportar. Mas o homem não poderá sentir-se plenamente só ou abandonado se, crendo em Deus, existir ao seu lado, ao seu alcance, esteja onde estiver, algum meio de comunicação, que lhe faça presumir uma resposta, uma solução, ainda que aleatória. Assim, jamais sentir-se-á só quando, numa suprema devoção ou conformação, voltar o seu pensamento ao Onipotente e, orando, entregar-lhe seus momentos futuros, rogando sempre para que seus entes queridos encontrem as santas alegrias que a vida, enquanto jovens ainda, pode lhes proporcionar. ( 19-5-89)

Hoje, em que os brasileiros se encontram a menos de 30 dias da posse do novo presidente da república ─ Fernando Collor de Mello ─ escolhido por votação direta, em dois turnos, depois de quase 30 anos sem eleições legítimas, alteiam-se para a maioria dos brasileiros novas esperanças. Novas esperanças, porque o atual governo ─ Sarney ─ encontra-se em melancólico final, depois de cinco anos de corrupção, sinecuras e impunidades. Por isso, neste momento, gostaria de recordar que há mais de quarenta anos, quando era vereador em Rio das Pedras, liderei a elaboração de uma mensagem ao Congresso Nacional e que foi remetida em 12 de junho de 1948, em cinco extensas laudas. Quatorze anos depois, em 13 de julho de 1962, a revista Visão publicou na sua 4ª página, uma carta em que, inclusive, fiz referência ao fato do Congresso nacional, até então, não haver dado a mínima resposta à aquela mensagem. Nessa carta à Visão, é óbvio, novos apelos foram feitos, mas que se perderam no vazio do descaso e do impatriotismo. Enfim, no próximo dia 15 novas esperanças começarão a acalentar, mais uma vez, os corações sofredores da maioria dos brasileiros, e permita Deus que as frustrações anteriores não se repitam. Entrementes, o Congresso nacional, de acordo com a nova constituição, promulgada em 5 de outubro de 1988, tem poderes amplos para aprovar as leis, decretos e medidas provisórias emanadas do chefe do governo, atendendo aos interesses do povo, exclusivamente. Basta que os senhores senadores e deputados federais, que, na sua maioria, até aqui, só tem defendido seus interesses particulares, basta que eles, agora, tenham mais pudor para, pelo menos, darem quorum nas votações dos projetos e proposições que visem retirar a nação do caos em que tem vivido nos últimos anos. Quanto ao presidente Collor ─ o mais jovem dos que já governaram, de mal a pior, a nação até hoje ─ o povo confia que não lhe faltará a proteção divina para acertar, como ele próprio tem vaticinado. Desassombro e virtudes pessoais, o futuro presidente as possui, bem como, e sobretudo, tradição de família. Seu avô paterno Lindolfo Leopoldo B. Collor, jornalista gaúcho, descendente de alemães, estivera exilado três vezes ( 1932, 1937 e 1942) por defender os ideais democráticos do povo brasileiro. Seu pai, senador alagoano, Arnon Afonso de Farias Mello, também jornalista, revelou muita coragem ao comparecer ao senado, depois de jurado de morte por outro senador alagoano, Péricles Góis Monteiro, e na iminência de ser atingido, atirou primeiro, enquanto o agressor se agachava acovardado, indo a bala perdida vitimar outro senador, que se lhe achava atrás. Fernando Collor, que também é jornalista, como seus ascendentes, possui suficiente experiência política-administrativa para resgatar e comandar a nau dos brasileiros ao seu verdadeiro destino de justiça, austeridade, honradez, trabalho e de progresso. De minha parte ─ enquanto são aguardados novos métodos na política governamental, que venham  garantir dias melhores para toda a nação, e de modo especial a favor da grande maioria de deserdados da pátria ─ irei fazendo revisão, com inclusão de novos pensamentos aos já por mim selecionados, a fim de, futuramente, mandar editar um LIVRO DE PENSAMENTOS, como é um antigo desejo meu. Trata-se de uma coletânea por mim iniciada há mais de cinqüenta anos, destinando-se oportunamente, o resultado da venda dos livros a favor do fundo pró-construção do Lar de Velhinhos de Rio das Pedras, sob os auspícios da Conferência do Senhor Bom Jesus de Rio das Pedras da benemérita Sociedade São Vicente de Paulo. Ao Bom Deus, em Quem desde minhas primeiras reflexões do tempo de menino, sempre confiei e devotei minhas esperanças e estoicismo, rogo e espero apenas, as suas bênçãos, a fim de que possa, inclusive, com a ajuda de minha querida família, levar a bom termo aquele ideal. ( 16-2-90)