FÉ
Tudo na vida é como um sonho! Noutro dia, em minhas andanças, visitando o nosso cemitério, deparei num túmulo aberto com os restos de um esqueleto e lendo a inscrição na lápide deslocada verifiquei que a pessoa havia falecido antes do meu nascimento. E pensei: essa criatura viveu? Sentiu? Sonhou? Amou? Sofreu? Compreendeu? Que resta de sua existência? Sei apenas que na tumba constava um nome e dentro dela restavam ossos que pertenceram a alguém...A vida é assim para todos. Um sonho que termina no pó dos nossos ossos desfeitos pelo tempo... Deixemos pois a vida correr a vontade do Criador Todo Poderoso, e enquanto vivermos façamos todos os bens possíveis, nos conformemos com os males que nos ferirem. Dos bens terrenos que nos fiquem, enquanto vivermos, a saúde do corpo e do espírito e uma fé em Deus, para que, trabalhando ganhemos mais para os nossos do que para nós, o pão de cada dia, com coragem, altruísmo e honestidade (13-11-50)
A fé — A fé é imanente em todas as criaturas que almejam ou receiam alguma coisa. Pode-se dizer que, via de regra, os maiores partidários da fé são os enfermos de espírito ou de corpo; ou anseiam conseguir um bem ou desejam livrar-se de um mal. Por isso a fé é dirigida ao mistério, ao insondável. Sempre que se puder resolver uma dificuldade com recursos materiais, é a fé apenas co-existente e até subestimada. Quando cessa a certeza da solução desejada aí surge a fé, ou seja a concentração da esperança a fim de sustentar o ânimo e evitar o desespero do indivíduo, Seja em face dos problemas desta vida, ou dos segredos do além túmulo. ( 18-8-57)
“Se nem Deus com seu olhar penetrante e desvendador de consciência, nem Moisés com os Dez Mandamentos, nem Jesus com seus santos evangelhos, conseguiu purificar os costumes do mundo, o recurso é entender que a vida é assim mesmo”, pensava o pobre homem, fazendo voto de paciência, fé e virtude. Caim preferiu, em vez de arrepender-se, fugir, fugir sempre, errantemente... Moisés quebrou as tábuas da lei, diante de tanta ingratidão humana... Jesus, como Homem-irmão terminou seus gloriosos dias pregado na cruz, perdoando e ensinando, ( 2-7-67)
Boa fé tem o homem inteligente que confia em outro homem inteligente... mas um pouco mais “vivo” e oportunista... Lamentável! ( 21-10-67)
“Tudo vive em torno de ideais” dizia eu, outro dia. Desde a criança que chora e almeja seu primeiro brinquedo até a velha criatura que, percebendo aproximar-se-lhe a hora extrema, já sem voz e com lágrimas nos olhos, sente n’alma o inefável desejo de ter , em redor de si, os seus entes queridos, para vê-los, quem sabe, pela última vez. Mas, o ideal supremo é a nossa fé em Deus que, auréola de luz, deve inspirar todas as ações e reações da criatura humana. (20-12-67)
Assim pensava o pobre homem: “O pouco de bom que tenho conseguido realizar na vida é fruto de minha grande fé em Deus, bem como da observância das minhas pobres teorias, nem sempre bem compreendidas por amigos queridos... Por causa das minhas atitudes suportarei, mais tarde, se preciso, mas sempre estoicamente, o peso do julgamento da posteridade!” ( 3-7-70)
O homem, enquanto mais ou menos moço, não acredita que vai morrer, um dia... O tempo implacável, porém, vai passando, passando e procura deixar transparecer, como nas demais coisas da natureza os estigmas da velhice, do cansaço, da exaustão, do fim... E o pobre homem, nessas circunstâncias, começa a meditar sobre o que sentiram, o que pensaram, o que queriam dizer as criaturas humanas que, de repente, se viram na hora do adeus! Por isso que é bom repetirmos, à guisa de oração: “Precisamos ter fé no futuro como se jamais devêssemos morrer, e simultaneamente, estarmos preparados para o dia de amanhã, como se fosse o último...” ( 26-4-72)
Minhas Crenças ¾ I) Creio em
Deus II) Creio em dois Céus: no primeiro,
de que nos fala a Bíblia e do
qual muitos duvidam; e no segundo, que todos devem respeitar, constituído pela
consciência do Povo, que o concede ou o nega a cada um, segundo o seu
procedimento durante a vida terrena. III) Creio nos milagres do amor: do amor
de todos os amores, do amor sublime entre os homens, criaturas de Deus; do novo
amor, que se inicia quando a jovem mãe sente pulsar em seu seio a vida do
filhinho querido; do amor verdadeiro que sente o pobre velho quando, nos seus
últimos momentos, deseja ter em torno de si todos aqueles a quem sempre trouxe
em seu coração. IV) Creio nos milagres
da Humildade que faz o homem reconhecer no seu próximo um seu semelhante e, por
isso, infunde em seu coração o desejo e o dever de dispensar-lhe fraterna e até
abnegada consideração. Humildade que impõe ao homem teimar apenas sobre aquilo
que sabe; não sonegar aos outros o que sabe e lhes é
útil; confessar sua ignorância e perguntar, inclusive às criaturas mais simples
, sobre o que tem obrigação ou necessidade de saber. V) Creio nos milagres do Trabalho,
honrado e perseverante, que, se antepondo ao desânimo, produz benefício a quem
o executa e, ao mesmo tempo, extensivo aos seus próprios entes queridos,
membros da comunidade universal. VI) Creio nos milagres da Honestidade, que
desde os primórdios da criação do homem, vem sendo exaltada nas páginas da
história, quanto aos que a praticam com nobreza e sinceridade. E há de
continuar representando na existência de cada um, para a própria consciência,
supremo conforto, ainda que as calúnias e as mentiras humanas pareçam
deslustra-lhe a reputação. VII) Creio
nos milagres da Renúncia, que faz a pobre criatura tolerar e perdoar as
ingratidões humanas, ainda que não as possa, voluntariamente, esquecer, talvez
assim evitando sua maldosa reincidência; creio na renúncia de que nos o Divino Mestre:
“Ao que lhe disputar a túnica, cede-lhe também a capa’ ( Mateus
5:40). VIII)
Creio nos milagres da Bondade, que começa com um sorriso e termina com uma
lágrima, bondade que torna melhor o nosso mundo interior e procura levar a
possível felicidade ao mundo dos outros; bondade que é luz, calor, amparo,
caridade, amor e que, em certos momentos, encherá nosso coração e emoção e
nossos olhos de lágrimas, quando a dor, às vezes sem remédio, atingir vidas e
coisas criadas por Deus para o bem estar da coletividade terrena. IX) Creio nos milagres da Justiça, aureolada
pela bondade cristã que, em nome da verdade, sem omissão e com honradez, procura
exaltar a virtude e condenar o vício, infundido nas criaturas humanas fé
e confiança no futuro, assegurando-lhes a proteção necessária e sã liberdade em
suas andanças por este “vale de lágrimas”. X) Creio, de novo, agora e sempre, em Deus,
na sobrevivência da alma e na vida eterna, onde estarão juntas as pobres
criaturas humanas que tanto se amaram neste mundo. ( 12-6-79)
Somente
agora ─ quase dois mil anos
depois que o Divino Mestre legou a todos os povos a sua sacrossanta doutrina,
defendida primeiro por seus apóstolos de discípulos, depois divulgada pelos
seus quatro evangelistas, por São Paulo e por milhares de outros homens de fé
e de letras ─ é que a filosofia cristão vem sendo posta em prática em sua
essência. E hoje, na maioria das vezes, contra o poder de governantes ditatoriais, voltando
assim as suas verdadeiras origens, em defesa das criaturas carentes de pão e de
justiça. Durante os primeiros trezentos anos os ensinamentos do Divino Mestre
viveram quase que na clandestinidade, até quando o imperador Constantino, pelo
Édito de Milão, no ano de 313, considerou a religião cristã como oficial do
Império Romano, atribuindo-se, entretanto, “oficialmente”, a
condição de grande pontífice e chefe da nova Igreja, proclamando, desde logo,
que seu governo monárquico era de “direito divino”. Infelizmente,
já naquele tempo, o sacrossanto símbolo cristão, a cruz, começou a ser
utilizada para fins belicistas, havendo o próprio Constantino mandado desenhar
a cruz em seus estandartes, adotando também, o lema “In Hoc Signo
Vencis” recrudescendo então novas guerras de conquista, esquecendo,
portanto, do que havia afirmado o próprio Jesus diante de Pilatos: “Meu
reino não é deste mundo”. As próprias cruzada, que se arrastaram pela
Idade Média afora e que sacrificaram milhares de vidas inocentes, se desviaram
da filosofia de Cristo, expressa especialmente no Sermão da Montanha. Depois,
outra página negra foi escrita em nome do catolicismo, ao tempo da nefanda
Inquisição, comandada por imperadores e, também, por altos dignatários da
própria Igreja, quando, a título de combater heresias, foram cometidas
inomináveis barbaridades, devendo aqui mencionar apenas um exemplo: o
sacrifício de Joana D’Arc, queimada em praça pública na cidade francesa
de Rouen. Não devemos omitir as perseguições sofridas por pensadores e
filósofos nos últimos tempos, levadas a efeito pela tirânica aliança
Estado-Igreja, citando apenas três nomes: Spinoza, no século XVII, Voltaire, no
século XVIII e Victor Hugo, no século XIX. Graças a Deus, principalmente depois
da Encíclica do Papa Leão XIII, “Rerum Novarum”, publicada em
15.05.1891 e do Concílio Ecumênico Vaticano II, a posição assumida pela Igreja
Católica, em verdade. É de defesa dos humildes, dos carentes, dos sofredores,
dos injustiçados, recomendando a todos, ao mesmo tempo, pobres e ricos, fracos
e poderosos, a prática real da virtude, do amor e do perdão, segundo os
ensinamentos de Cristo Jesus. Disso vem dando provas, as mais evidentes e
insofismáveis, o Papa João Paulo II, que atacado e mortalmente ferido pelo
terrorista turco Mehemet Ali Agca, durante uma concentração na Praça de São
Pedro, em 13.05.81, já no hospital e ainda sob sério risco de vida ─
disse, referindo-se ao criminoso: “ Dele não guardo mágoas e sinceramente
o perdôo”. Um ano depois, em Fátima, onde comparecera para comemorar o
65° aniversário da aparição da Virgem Maria a três jovens pastores ( 1..05.1917) o mesmo João Paulo II fora novamente ameaçado
e quase atingido a baioneta por um sacerdote tradicionalista ( portanto a favor
da mentalidade antiga da Igreja Romana) ordenado que fora pelo bispo rebelde
francês Marcel Lefèbvre. Percebendo, o Santo Padre, que alguém havia tocado em
sua batina, voltou-se e fitando o seu agressor, já contido por policiais, o
abençoou fazendo o sinal da cruz. Finalmente, é digno de menção o que vem
acontecendo com os padres franceses Aristides Camiô e Francisco Gouriou, quando
toda a Igreja do Brasil toma corajosa e desassombrada posição contra o
julgamento do Conselho de Sentença do Exército da 8ª Circunscrição da Justiça
Militar de Belém do Pará, que condenou ambos os sacerdotes a 15 e 10 anos de
prisão, respectivamente, e pretende agora que os mesmos sejam expulsos do país.
Mas a Igreja não cruzou os braços diante disso e vem clamando por todos os
meios ao seu alcance, inclusive pela imprensa falada e escrita a favor de
humildes roceiros marginalizados naquele longínquo Estado da Federação e que
vem seno amparados pelos dois padres católicos em suas justas
aspirações quanto a posse da terra devoluta onde moram há muitos anos. Assim
devemos todos reconhecer que agora a Igreja voltou a cumprir e a recomendar
obediência aos santos ensinamentos do Divino Mestre, graças a Deus! (30.6.82)