FELICIDADE

 

Sonhos, Risos e Lágrimas ( a Francisco Otaviano – 1825-1889)

Quantas vezes chorei de felicidades!

Quantos risos ocultaram-me o pranto!

Quantos sonhos acreditei realidades!

Quantas mágoas eu sofri no próprio encanto!

 

Quão feliz me senti chorando de saudades!

Quão triste fui ao rir sem mostrar espanto!

Quão sublimes foram meus sonhos sem verdades!

Quão descrente nos fez um ideal tão santo!

 

Os risos seriam cruéis; então chorei...

As lágrimas me envergonhariam; então ri...

As verdades seriam duras; então sonhei...

 

Hoje, sinto saudades das dores que sofri...

E quando me lembro dos instantes que gozei,

Vejo: não só passei pela vida, mas vivi! ( 26-6-31)

Pobreza – É pobre quem tem falta de alimento, de agasalho, de habitação. Essa é a pobreza total. Mas, também, são pobres outras pessoas, que embora ricas ou pertencentes a famílias abastadas, sofrem angustiantes necessidades: faltam-lhes os carinhos dos parentes a amigos; é escassa a harmonia no seu lar; minguam-lhes a saúde e  a resistência física; fracassam-lhes os sonhos e os planos que tanta felicidade os fizeram antever; as contrariedades se sobrepõem aos seus desejos de bem-estar; e  choram! (3-5-50)

A felicidade deve ser um reflexo e nunca uma luz. A luz, em certos casos, poderá produzir a cegueira, como o calor poderá produzir queimaduras. Sim, a nossa felicidade deve ser um reflexo da felicidade alheia, essa alegria que se desfruta entre os venturosos, com pensamentos elevados entre os otimistas e grandes de espírito! Não se compreenderia jamais que alguém quisesse ser feliz em meio a uma catástrofe, e que desse gargalhadas entre lamentações de desgraçados! Esse estaria louco ou não teria coração! (7-4-51)

Percebemos a presença da felicidade no reflexo que aflora nos lábios risonhos das criancinhas, venturosas, no regaço da mãe carinhosa. (24-4-51)

Felicidade, risos num ambiente alegre; perfume entre flores; poesia entre suaves sons musicais. (25-4-51)

“O dinheiro não traz felicidade”, é verdade. Até pode provocar desgraças. É muito comum saber-se de pessoas ricas que trocariam suas fortunas pelo sossego de espírito. Mas... o dinheiro quando em mãos de criaturas cumpridoras de seus deveres, contribui sempre para o bem estar próprio, de seus familiares e, até, de seus semelhantes. Esta segunda verdade, que a contestem aqueles que, por falta de dinheiro, sofrem, no recesso do lar ou nas estradas da vida, as maiores privações. ( 20-05-55 )

Cumprir nossos deveres de cidadãos e ter paz de espírito, eis o ideal. Do cumprimento dos nossos deveres resultará o nosso sossego do coração: a felicidade de quem cumpre com as suas obrigações. Por que, pois, tanta luta, tanto apego, tantas ilusões e desenganos na vida principalmente para aqueles que agem à revelia dos próprios deveres? ( 19-11-55)

Se os avarentos se lembrassem que a sua fortuna — fruto da herança — teria sido repartido pela metade se seus pais tivessem tido o dobro de filhos, talvez não se apegassem tanto à migalhas e sobras, que proporcionariam alguma felicidade aos que nada possuem. ( 12-11-60)

A felicidade é, em primeiro lugar, um estado de alma em que a criatura sente uma espécie de heróico conforto após o cumprimento do dever. Por isso que a saúde, a beleza, o bem estar, a boa forma são apenas complementos. Esses atributos não garantem, sozinhos, a felicidade que, entretanto pode subsistir independente dos mesmos. Basta que a criatura humana, apesar de sofredora, sinta-se tangida por um idealismo sublime para considerar-se eufórica, feliz, na mesma situação em que sorridentes enfrentavam a morte os mártires cristãos, nas arenas romanas. Ao contrário da alegria gargalhante, a felicidade verdadeira não é transitória, porque se funda no estoicismo, na bondade, na justiça e na firme crença em Deus. ( 12-3-61)

Pesadelo I —  O país havia sofrido profundas modificações em sua estrutura política e social. O povo havia deposto o governo com o apoio das forças armadas. Fora preciso decretar lei marcial para conter o delírio popular em seus saques e depredações aos armazéns, fábricas, escritórios e residências dos chamados “capitalistas”. Todas as suas propriedades foram declaradas pertencentes ao Estado e todos os seus bens confiscados. Passada a tormenta, começaram os ditadores, civis e militares, a procurar disciplinar a vida da nação. E aquele pobre homem despojado de todos os seus bens e haveres, mantinha-se humildemente na extensa fila, aguardando a sua vez de ser ouvido pelo “Comitê Revolucionário”. Todos deveriam apresentar-se para dizer de suas habilidades, como trabalhadores. Perguntado sobre o que sabia fazer, respondera que era guarda-livros, meio datilógrafo e com alguma prática no serviço de cerâmica... “Ótimo!” , lhe dissera intempestivamente aquele sargento inquisidor — “Ótimo! O governo popular precisa de tijolos e o senhor está inscrito como oleiro”. “E os meus filhos?...Eles até hoje não trabalharam em nada. Só sabem estudar. O mais velho estava se preparando para ingressar no curso superior. Dois no ginásio e o menor...”. “Nada disso! De agora em diante só poderão estudar os que eram pobres e, por isso, não estudavam. Os outros, os antigos ricos, que por certo já aprenderam demais, vão ficar nisso e começarão a trabalhar...” . “Senhor, eles são crianças ainda, não tem forças para serviços rudes; além disso, com a inteligência em formação, assimilando e gravando na memória as lições seriam mais tarde úteis à Nação, até mesmo ensinando também. Dissipando-se a ignorância, dissipa-se a miséria e...”. “Velhas histórias que os senhores com os seus recursos apenas exaltavam no seio de suas próprias famílias, enquanto que os outros... mas deixemos de conversas e trabalhemos!”. “Eu trabalharei horas redobradas e farei também a parte dos meus filhos, inexperientes que são...”. “Não pode ser! Ademais a jornada de trabalho baixam para seis horas diárias. Completando a idade de cinqüenta anos o cidadão será aposentado e passará a constituir ônus para o Estado. Por isso todos os moços tem de trabalhar”. “Então permita-me fazer um acordo: em vez de seis, trabalharei dose, quinze ou mais se puder. Renunciarei, expressamente, a aposentadoria aos cinqüenta anos e continuarei até os últimos dias de minha vida. No começo, como agora, trabalharei em quaisquer serviços pesados, sem escolher terrenos. Minhas pernas e braços são vigorosos e tanto trabalharei em lugares altos, como descerei ao fundo das cisternas. Depois, já bem velho, quando as pernas fraquejarem, farei serviços manuais. Mais tarde, se as mãos não puderem fazer serviços úteis, serei porteiro das fábricas, fazendo respeitar os regulamentos e transmitindo avisos e recados. Assim irei trabalhando, trabalhando para compensar o tempo que meus filhos perderam estudando, estudando para ganhar  a maior glória da vida: a sabedoria! E assim continuarei trabalhando e quando a velhice imobilizar os meus membros do corpo, agirei com a voz e com a expressão dos olhos, orientado pelos ouvidos e pelo raciocínio. Depois, não mais falando nem enxergando, continuarei escutando os últimos sons da vida terrestre e as primeiras moradas da morada eterna. Aí permanecerei trabalhando com o pensamento — vínculo do espírito à matéria — trabalhando com minhas orações ao Todo Poderoso, pela felicidade dos meus filhos, da minha família, dos meus amigos, de todo o povo brasileiro, de todas as nações do mundo, para que os homens sejam, indistintamente, todos justos e bondosos. Assim, os meus pobres filhos, membros de nossa humanidade feliz serão igualmente felizes. Deixai, senhor, que meus queridos filhos continuem estudando... bem vedes que ofereço minha vida...”. Nesse momento, o pobre homem despertou e suspirou aliviado e venturoso,e  mais ainda por recordar-se que, mesmo em sonho, havia preferido os maiores sacrifícios para garantir o futuro de seus filhos e descendentes.

( 12-8-61)

A criatura humana vive em torno de ideais. A Esperança é o caminho que conduz  todos os ideais e a Felicidade é o ideal supremo. Todos nossos pensamentos, manifestações e realizações giram em torno de ideais. A saúde, a inteligência, o amor, a beleza, a fortuna, o poder, a consideração de que desfruta uma pessoa, tudo isso é  uma espécie de concretização do ideal de felicidade terrena. As crianças, os jovens, os noivos, os esposos, os pais, os avós, os velhos, todos tem um ideal a palpitar-lhes n’alma. Diferente na época, mas igual no objetivo: Felicidade! Praza o Bom Deus que possamos todos os homens realizar os seus ideais. ( 23-11-62)

Continuação da meditação do “pobre homem” quanto aos perigos de uma mudança na estrutura econômica e social do País — Sendo o trabalho a primeira demonstração de capacidade individual, feliz a criança que, desde tenra idade, já encontra dedicação e perseverança nos estudos. O pequeno estudante, assim trabalhando, com método e esforço, perceberá os primeiros salários em conhecimentos e personalidade. Uma criança de seis ou sete anos, que não sabe ainda o que significa a honra, o patriotismo e a civilidade, principia a trabalhar muito e proveitosamente se for estudiosa. O trabalho não é apenas o esforço muscular. Os feitos dos intelectuais e cientistas resistirão infinitamente mais que as sólidas obras de engenharia e arquitetura. As suas realizações diretas ou reflexivas, jamais serão desbotadas ou carcomidas pelo tempo. E no entanto muitos pensadores foram, em vida, considerados ociosos. Os estudos, as meditações, os cálculos, as pesquisas, sobretudo quando resultam em escritos ou elementos palpáveis, são trabalhos importantíssimos  porque sobre os seus alicerces se assentarão os edifícios da produção, do progresso, da prosperidade. Ademais o trabalho é um dever social do homem. O inverso poderia e deveria sempre ser considerado contravenção penal. Além disso estão certos os que afirmam que o trabalho é um remédio para todos os males, uma solução para todos os problemas. Em verdade o trabalho é de inspiração divina. Basta olhar a vegetação das plantas, o desabrochar das flores e o amadurecimento dos frutos para sentir o maravilhoso trabalho do Senhor. Para vencer na vida basta apenas e principalmente ser trabalhador. Não é o bastante ter saúde, ser ajuizado e virtuoso. Temos mesmo que reconhecer, com pesar, ser muito comum vencerem os velhacos e tratantes, graças às suas condenáveis atividades, Mas vencem,e, imiscuindo-se entre os trabalhadores honestos, conseguem fazer boa figura e desfrutar de algum respeito. E poderão inclusive, um dia, iluminados pelo Altíssimo, abandonar a “estrada de Damasco” e penitenciando-se e dignificados ser admitidos no convívio dos justos. Enquanto que os outros, os vagabundos e negligentes, sem que se possa xinga-los de desonestos, afundar-se-ão no desprestígio, na miséria e, muitas vezes, na senda dos vícios, como conseqüência da ociosidade... E assim concluiu o “pobre homem”: Por que hei de preocupar-me com a situação política nacional, mesmo que o Brasil venha a ser uma segunda Cuba se, quando moço e até agora continuo trabalhando. Alguns bens que recebi de herança foram preciosas sementes que multipliquei com o meu trabalho. E meus filhos, melhor defendidos do que eu na vida --- pois se Deus quiser possuirão inclusive estudos e diplomas --- não desmentirão a tradição e o sistema de trabalho de seus ancestrais, e por certo continuarão nesse afã, seja qual for o regime no futuro, também prosperarão e terão direito à felicidade. ( 18-5-63)

“Agora que eu estava tão contente!” ¾ É o que a pessoa sofrendo uma infelicidade maior, espécie de “pequena tragédia”, então, em meio de suas lamentações lembra-se das alegrias e benefícios obtidos nos últimos tempos. Não fosse, entretanto, o “desastre”, continuaria incontentada, ambicionando sempre mais. Mas, refletindo agora, do fundo de sua dor, assumindo uma posição de mártir diz: “Agora que ia começar a ser feliz...” ( 14-12-63)

Todo acontecimento, toda situação da vida humana é um degrau. Portanto, por mais dolorosa que seja essa situação é sempre um ponto de escala. Essa posição, que pode causar momentâneo desespero, deve ser encarada como intermediária e transitória, sendo possível, no futuro, advir novo fato capaz de modificar o gravame anterior, para pior ou melhor. Por isso são condenáveis as lamentações de alguns sofredores que se julgam vítimas do destino e que chegam ao extremo de clamar contra Deus. Não! Mesmo a morte que é o último degrau, deve encontrar de parte dos vivos, conformação nas orações, nas saudades, nas homenagens que merece quem teve uma existência útil, honesta e justa. Mesmo aquele que nada fez e apenas sofreu na vida deve ter a sua memória aureolada com a coroa atribuída aos mártires, pelos seus amigos, sobreviventes. Como não se deve fazer propaganda da própria felicidade ¾ que também é um degrau ¾ muito menos se deve fazer alarde da auto-desventura, isso porque o lamentador poderá arrepender-se, mais tarde, quando ainda nova e ainda mais dura provação poderá atingi-lo ou à pessoa se suas relações. Só a morte interromperá a relatividade dos degraus da sorte, e mesmo a morte, no seu fatalismo, poderá ser mais trágica e cruel a uns que a outros... Conformemo-nos, pois...

( 06-11-64)

Pode existir, no mesmo homem, duas espécies de consciência: uma, extremamente pequena, que atua no pobre mortal quando vítima de tentação por vantagens e prazeres inconfessáveis, inclusive de caráter sexual, e  a outra, exageradamente grande, que passa a predominar, na mesma criatura, no momento em que perceber a extensão do perigo em que esteve envolvido, e , se acusado poderá ter a felicidade de querer provar que “as aparências” enganaram, e então procurar fazer crer aos outros a sua altaneira impecabilidade. ( 23-07-65)

A felicidade ¾ Lendo nos jornais a notícia da tentativa de suicídio da famosíssima cantora Ângela Maria, vem-nos à memória a lembrança do fim trágico da não menos famosa e bela artista Marylin Monroe e de outros eternos incontentados que possuindo todos os predicados para a conquista da felicidade, não a desfrutaram, preferindo, pelo contrário, pelos próprios atos, afundar-se no desespero... A felicidade verdadeira, em vez de ser fruto da beleza exterior, da riqueza material, da fama, dos aplausos do mundo, é, isso sim, aquele estado d’alma que sente a pessoa que leva um padrão de vida normal, respeitável, dentro dos preceitos cristãos de trabalho, honradez e, sobretudo, de bondade e tolerância para com os seus semelhantes. ( 14-09-65)

Felicidade...

Um casal enamorado

Sob a proteção da lei

E dos princípios da virtude.

Em um lugar afastado,

Longe da agitação do mundo...

Felicidade...

Noite calma...

Lá fora o arvoredo é tocado por leve brisa,

Enquanto no céu límpido, enluarado,

Cintilam milhões de estrelas...

O homem pergunta: É feliz?

A mulher responde: Sim. E és também?

As suas mãos continuam entrelaçadas,

Suas testas roçam-se suavemente,

Seus lábios se unem em beijos

Mornos, inebriantes, úmidos...

E nesse encantador enlevo,

Esquecendo tudo que os rodeia:

Nada de reminiscências do passado,

Nada de planos para o futuro!...

Assim entretidos, como duas crianças

Buliçosas, risonhas, excitadas,

Não sentem o tempo passar!...

Seus corpos se aproximam, mais e mais...

Sussurros  suspiros brotam de seus

Peitos anelantes...

O carinho, a ternura, o verdadeiro amos

Vibram nesses abraços estremecidos!...

E não sabem se o que sentem é a pulsação da vida,

Ou o estertor da morte...

Depois do êxtase, misto de vertigem

E desfalecimento...

E depois a lassidão e o sono profundo!...

E perguntamos: Se desse sono,

As duas criaturas não mais despertassem,

Não teriam morrido em estado de felicidade?

Quem discordará? ( 04.10.65)

Grandes Homens... Grandes Heróis ¾ 

( 20-10-65)

Bondade, Sabedoria, Tolerância ¾ eis  três grandes predicados para a conquista da felicidade na face da terra, principalmente quando vivemos entre pessoas que desfrutam dos mesmos predicados. ( 20-12-65)

Nada contra, tudo a favor, eis o que os pais devem fazer, em renúncias e sacrifícios, quando estiver em jogo a felicidade de seus filhos. ( 21-11-67)

A felicidade, como fruto de nossas próprias ações é, em suma, uma criação nossa, e assim uma situação por nós almejada ou prevista, que vimos nascer, crescer, adquirir perfil, forma e enfim existir em sua plenitude. Um dia poderá, entretanto, afastar-se de nós, por nossa culpa ou omissão, ou ainda, por culpa ou omissão de quem, conosco,  ajudou a construir esse “sentimento de felicidade”. Mas, como o Filho Pródigo da Bíblia ( que não cometera nenhuma falta grave) tal felicidade deverá um dia voltar e aí então, em vez de zangas, justo será demonstrarmos grande e verdadeiro contentamento, indo até às lágrimas, reflexo de santas alegrias, usufruídas por aqueles cuja ventura esteve extraviada por algum tempo e depois foi re-encontrada. ( 14-1-68)

A euforia do lucro, da boa situação, da felicidade é péssima companheira para o homem de negócios se, por sua causa, negligenciar o dever se sua presença ou delegação nos serviços de sua empresa. Desse modo estaria, sem o perceber, substimando a capacidade de seus competidores e, como tudo é relativo, em breve a sua firma entrará em prejuízo e decadência porque deixou de vigiar e estimular as próprias fontes de produção. ( 18-9-68)

É uma felicidade para uma árvore ser frondosa e bela. Mas não será essa felicidade completa, se, além disso, não for boa e útil, assim reconhecida pelos  viandantes  que procuram  sua sombra amena para brigar-se  do sol, às vezes inclemente, e se, também, em sua ramagem amiga os passarinhos não vierem saltitar, cantarolar e fazer seus ninhos. ( 6-1-71)

A felicidade dos jovens, homens e mulheres, entre em perigo se, ao completarem 25/30 anos, podendo casar-se, não procuram realizar esse ideal, construindo um lar feliz, apoiado na honradez e na austeridade. É na família que se sustenta todo o futuro, definido e venturoso, da criatura humana. O próprio Jesus, Deus feito homem, teve a sua família. ( 28-1-72)

O sentimento de felicidade, por parte da criatura humana é, em suma, fruto do seu bem estar espiritual. Para que esse estado de espírito seja completo é indispensável que a criatura possa, quando em seu ambiente familiar ou social, observando as pessoas que a cercam, sentir que está rodeada de amigos, em cujos olhares vê estampar-se ou satisfação pelos seus êxitos ou conformação em face de suas adversidades perenes ou não. Por outro lado, voltando a memória do passado, pode lembrar-se de haver praticado apenas boas ações, inclusive muito se empenhando em corresponder aos anseios razoáveis, justos ou exeqüíveis de seus semelhantes. Nessas circunstâncias, aquele que desfrutar de tal estado de espírito, poderá, erguendo os olhos aos Céus, dizer: Sou feliz! ( 8-10-72)

Todas a alegrias que podíamos receber de um filho, até o momento em que o Bom Deus o chamou ao seu reino, foram nos proporcionadas, bem como julgamos lhe havermos proporcionado todos motivos de felicidade possíveis a um casal de pobre velhos pais, como nós. ( 11-3-1973)

Retroceder ¾ Avançar todos querem, mas, às vezes, é indispensável, nobremente, dar um passo para trás... para reconhecer um erro, ajudar alguém, ouvir reclamarem contra nós, e, assim buscar, depois, a verdadeira felicidade. ( 30-5-74)

Minhas  Crenças ¾ I) Creio em Deus  II) Creio em dois Céus: no primeiro, de que nos fala a Bíblia e  do qual muitos duvidam; e no segundo, que todos devem respeitar, constituído pela consciência do Povo, que o concede ou o nega a cada um, segundo o seu procedimento durante a vida terrena. III) Creio nos milagres do amor: do amor de todos os amores, do amor sublime entre os homens, criaturas de Deus; do novo amor, que se inicia quando a jovem mãe sente pulsar em seu seio a vida do filhinho querido; do amor verdadeiro que sente o pobre velho quando, nos seus últimos momentos, deseja ter em torno de si todos aqueles a quem sempre trouxe em seu coração.  IV) Creio nos milagres da Humildade que faz o homem reconhecer no seu próximo um seu semelhante e, por isso, infunde em seu coração o desejo e o dever de dispensar-lhe fraterna e até abnegada consideração. Humildade que impõe ao homem teimar apenas sobre aquilo que sabe; não sonegar aos outros o que sabe e lhes é útil; confessar sua ignorância e perguntar, inclusive às criaturas mais simples , sobre o que tem obrigação ou necessidade de saber. V)  Creio nos milagres do Trabalho, honrado e perseverante, que, se antepondo ao desânimo, produz benefício a quem o executa e, ao mesmo tempo, extensivo aos seus próprios entes queridos, membros da comunidade universal. VI) Creio nos milagres da Honestidade, que desde os primórdios da criação do homem, vem sendo exaltada nas páginas da história, quanto aos que a praticam com nobreza e sinceridade. E há de continuar representando na existência de cada um, para a própria consciência, supremo conforto, ainda que as calúnias e as mentiras humanas pareçam deslustra-lhe a reputação.  VII) Creio nos milagres da Renúncia, que faz a pobre criatura tolerar e perdoar as ingratidões humanas, ainda que não as possa, voluntariamente, esquecer, talvez assim evitando sua maldosa reincidência; creio na renúncia de que nos  o Divino Mestre: “Ao que lhe disputar a túnica, cede-lhe também a capa’ ( Mateus 5:40).  VIII) Creio nos milagres da Bondade, que começa com um sorriso e termina com uma lágrima, bondade que torna melhor o nosso mundo interior e procura levar a possível felicidade ao mundo dos outros; bondade que é luz, calor, amparo, caridade, amor e que, em certos momentos, encherá nosso coração e emoção e nossos olhos de lágrimas, quando a dor, às vezes sem remédio, atingir vidas e coisas criadas por Deus para o bem estar da coletividade terrena.  IX) Creio nos milagres da Justiça, aureolada pela bondade cristã que, em nome da verdade, sem omissão e com honradez, procura exaltar a virtude e condenar o vício, infundido nas criaturas humanas fé e confiança no futuro, assegurando-lhes a proteção necessária e sã liberdade em suas andanças por este “vale de lágrimas”.   X) Creio, de novo, agora e sempre, em Deus, na sobrevivência da alma e na vida eterna, onde estarão juntas as pobres criaturas humanas que tanto se amaram neste mundo. ( 12-6-79)

Quando criança achávamos que seríamos  muito felizes se conseguíssemos determinadas coisas ¾ doce, brinquedo, relógio, roupa nova, passeio ¾ de que queríamos desfrutar. Era a felicidade proporcionada por outras pessoas, portanto vinda do mundo exterior, efêmero. Depois, moço e já adulto, sabendo sentir os enlevos do espírito, quando a nossa consciência passou a censurar ou aprovar nossos atos, aí então a felicidade passou a brotar do nosso coração... sentindo-a mesmo nos momentos em que a dor tomava conta da nossa alma, pois, comovidos, constatamos que ainda, nesse transe, poderíamos fazer algo para trazer um pouco de conforto para os que nos rodeavam. ( 26-8-79)

Todos tem, pelo menos, um ideal ─ o da felicidade! Até os bandidos, confinados em uma prisão ou fugindo de déu em déu, ao recordar-se de quando eram crianças e inocentes, podem sentir renascer na alma aquele ideal, infelizmente agora quase por fora do seu alcance. ( 19-6-83

O que é a felicidade? ─ “Um estado de alma”, já escrevi anteriormente. Mas para completar essa felicidade deve ser reconhecida e até propalada pela “voz do povo-voz de Deus” e igualmente estar envolvida, desde logo, por duas circunstâncias essenciais, no campo material: (a) Tranqüilidade quanto à própria saúde e a de todos os seus entes queridos; (b) Tranqüilidade quanto à alimentação, moradia, vestuário, transporte, no seu dia a dia, disponde de recursos suficientes para o seu pleno bem estar, sem precisar preocupar-se com os meios de pagamento para aquisição de quaisquer bens de que precise ou deseje de seu consumo ou uso cotidiano. Paralelamente, no campo espiritual, constatar que: (a) Nada sente pesar na sua consciência, de que deva arrepender-se, nem sofre a angústia de aspirar coisas impossíveis; (b) Sofrendo amarguras entende e aceita terem sido geradas por forças superiores  e inelutáveis e quando provocadas por pessoas amigas, é capaz de suportá-las, perdoando muitas e muitas vezes de acordo com a recomendação do Divino Mestre, em Mateus 18:21. ( 16-9-84)

Felizes os que vivem muitos anos, os que vencendo a barreira do tempo, chegam à velhice sem desmedidas ambições pessoais e sem recordações de duros sofrimentos... Mas será que, dentro dos arcanos de Deus, essa felicidade não será um momento pleno de efêmeros e ledos enganos? ( 29-12-84)

Se os egoístas, os vaidosos, os maledicentes, os intrigantes, os mentirosos, os intolerantes, os desmancha-prazeres, os ociosos, os desonestos, os velhacos, os traidores, os falsos, se, enfim, todos os que trilharam a tortuosa senda do mal e do erro e que, apesar de todas as suas artimanhas morreram, ingloriamente, a seu tempo e hora ─ pudessem retornar a uma nova vida, comprovando então quantos prejuízos tiveram e causaram, semeando e colhendo infelicidades, por certo agiriam agora de modo bem diferente! ( 17-11-85)

Felicidade, Oh! Felicidade!

Andas nos votos de tanta gente,

E no entanto estás tão ausente

Que a poucos pareces verdade! ( 22-4-86)

Mistérios... Naquele dia o “pobre homem” parou, um pouco, só para pensar... Já vivera três quartos de século, trabalhando e muito, desde criança visando ideais de nobreza para si e para os seus. Hoje, olhando a estrada percorrida e vendo em cada curva do caminho as esperanças e ilusões vividas, parou para recordar e meditar. Perguntou, como todos perguntam: Valeu a pena? Houve hesitação? Omissão, pusilanimidade? Se nós duvidamos, quem julgará? O importante mesmo é saber se, ao nosso derredor ou distante existem pessoas que se queixam de nossos atos ou atitudes... E não havendo reclamações tudo terminaria bem, aí, não fosse a nossa consciência que nos faz perguntar: Camões e Colombo foram felizes, embora morressem na miséria, depois de seus heróicos feitos, somente tarde reconhecidos? E Van Gogh, cuja genial pintura foi menosprezada a ponto de fazê-lo buscar o suicídio, o final de suas mágoas terrenas? E Dante Alighieri, hoje pai da poesia italiana, quando no cárcere e no exílio, foi feliz como bem merecia? E Joana D’Arc e nosso Tiradentes, martirizados de forma tão cruel desfrutaram da felicidade a que fazem jus os bons e nobres? E assim, o “pobre homem” numa meditação sem fim procurava desvendar os mistérios desta vida. ( 30-12-88)

Brasil, paraíso? Da corrupção? Da sinecura? Da mordomia? Da ganância? Do Favoritismo? Da irresponsabilidade? Da Omissão? Do jeitinho? Da Impunidade? Do Mau exemplo?  De todas essas mazelas que infestam o organismo administrativo brasileiro, a pior mesmo é o mau exemplo, como fermentação maligna, que deteriora até as consciências mais puras e até insuspeitas. “Política”, segundo o Aurélio, “é a arte de bem governar os povos”. Portanto, tratando-se de democracia, os eleitos pelo povo devem praticar a arte do bom governo. Mas aí começa a infelicidade do povo brasileiro: no palanque, nos “santinhos”, etc. são promessas e mias promessas e depois de empossados, salvo nobre exceções, o que se verifica é o “venham a nós as vantagens  do Reino”, e o povo que os escolheu que se lixe. Entretanto o povo que teve o dever e o direito de eleger seus representantes, também lhe caberia tomar conhecimento, julgar e, diretamente destituir de seus cargos aqueles que se enquadrassem em duas ou mais das supracitadas mazelas. Dissemos “duas ou mais mazelas”, porque o mau exemplo, em suma encoraja a proliferação e adeptos e induz às indagações: Por que os políticos, lá em cima tem privilégios, praticam abusos e continuam impunes? “Cinqüenta  a cem salários mínimos, mais mordomias, para um deputado, é muito, enquanto a maioria de seus eleitores vegeta com menos de três mínimos”. Não havendo, por parte dos políticos, desprendimento, honestidade e patriotismo para se constituírem em bons exemplos, a nau dos brasileiros continuará sossobrando no oceano da inflação e da miséria. ( 13-8-89)

As três molas propulsoras da felicidade humana são representadas por estas inegáveis forças: Amor, Saúde, Dinheiro. Essas três forças poderão proporcionar, a felicidade completa. O amor, essencialmente, é o relicário de todas as virtudes. Por isso, em quaisquer circunstâncias, o amor não,poderá deixar de estar presente no coração da criatura humana. O amor sozinho poderá trazer razoável felicidade, sobretudo espiritual. Por isso, o indivíduo, na face da terra, sem amor no coração e sem algum amor de seus semelhantes, esse, em verdade, será um desventurado. ( 23-2-91)