LIBERDADE

 

Mas se novas ofensas nos ferirem, sem possibilidades de desmascararmos nossos detratores, então devemos reagir, mesmo com risco de nossa vida ou liberdade; no primeiro caso, nos estertores da agonia, bem como no segundo caso, detrás das grades de uma prisão, sentiria nosso pobre coração momentos de conforto com as lembranças de que, amanhã, o sol da verdade, iluminaria o pensamento dos homens, que compreenderão então que nosso gesto representou uma lição aos maus e um exemplo aos bons. ( 11-4-56)

Sem lei não há liberdade. Sem liberdade não existem direito e deveres. Sem direitos e deveres não há respeito humano. Sem respeito humano os homens  igualam-se aos irracionais. (30-8-56)

A punição ao criminoso, embora corporal — perda da liberdade, etc. — deveria ter como objetivo primordial fazer chegar-lhe à alma a convicção de que “o crime não compensa”. Só o irracional deve ser chicoteado, quando conduzido ou amestrado; mesmo assim há de se tentar a persuasão por palavras ou gestos. Por isso não compreendemos como pode a criatura humana ser vítima da pena de morte. ( 20-8-59)

A propósito dos massacres praticados por certas tribos africanas contra brancos — A liberdade deve ser consciente. Não se pode dar liberdade a uma criança de um ano e ir, vir e fazer. Seria uma temeridade e dos desastres e crimes conseqüentes não seríamos apenas cúmplices, mas autores. E não há consciência onde há fanatismo e  ignorância. Por isso não pode e não deveria ser livre um povo que apóia a política do massacre ou do “paredon” contra os seus semelhantes. Antes da liberdade é necessária a instrução cristã, mesmo que essa instrução seja ministrada coercitivamente. ( 27-5-61)

Soneto

Bendita Democracia! Oh! Santa Liberdade

que reconhece ao homem o direito de pensar,

o direito de reunir, o direito de falar

com a franqueza magnífica da Verdade.

 

Bendita Democracia! Regime de Igualdade

que garante às criaturas direito d’esperar

o prometido “mundo melhor” e nele desfrutar

todas alegrias da mais pura Eternidade.

 

Bendita Democracia! Que abomina a opressão

e que estabelece ao governo e aos governados

leis que correspondem aos anseios da população.

 

Bendita Democracia! Sustentáculo da luz

que há de conseguir com que os homens irmanados,

sigam os excelsos ensinamentos de Jesus! ( 1-6-61)

Equilíbrio ¾ É representado por um ponto de apoio central e dois lados que podem ou tendem a precipitar cada qual a um extremo. Por isso quanto maior a vantagem, maior a responsabilidade, a fim de manter o equilíbrio.

Maior poderio = maior justiça;

Maior força = maior brandura;

Maior riqueza = maior generosidade;

Maior liberdade = maior respeito;

Enfim, maiores direitos, maiores deveres.

Não sendo assim, estaria estabelecido o desequilíbrio e não tardaria o reconhecimento de que os grandes males para certas criaturas foi desfrutarem de grandes bens, descontroladamente. ( 18-08-63)

Segundo Luiz  Carlos Prestes, Socialismo é: “a cada um, uma parte segundo sua produção individual”, e Comunismo, “a cada um, uma parte segundo sua necessidade”. Em ambos os casos, os excedentes vão para o Governo. Mas, digamos nós, não havendo democracia (isto é, “governo eleito pelo povo, liberdade de opinião e ação) não é possível a definição do que seja “necessidade”, “mérito” ou “excedente”. Só se o Bom Deus ¾ em quem os comunistas não crêem¾ marcasse com estrela na testa os super-homens para governá-los. ( 05-01-64)

No começo, a lei da força individual: Homem primitivo. Depois, a lei da força unida: povos conquistadores e tiranos dominando nações e guetos. Depois a lei dos direitos e deveres: pseudo-democracia, defensora e defendida pelas elites, distribuindo vantagens a uma minoria privilegiada. Depois a lei dos demagogos: defesa do proletariado pela força ditatorial (comunismo) e as defesas dos interesses pessoais em nome das liberdades ( capitalismo). No futuro (quando?) a instauração do sonhado “mundo melhor”: a sabedoria tornando o homem irmão do homem ou a ciência mal aplicada pela inteligência humana, destruindo o mundo...

( 10-06-65)

Existem pessoas que, possuindo dependentes ou subalternos tolhem-lhes toda a iniciativa e até a liberdade de ação, quando vigiando os seus trabalhos, censuram e  reformam intempestivamente tudo o que está sendo feito...Afinal, se o censurado for bronco, tratando-se de empregado, deve ser dispensado, depois de pagas todas seus haveres; em se tratando de um parente, quem deve discutir com ele é um médico psiquiatra... Por outro lado e em verdade, como “a criatura humana foi feita à semelhança de Deus”, há de ter, logicamente, probabilidade de, em alguma ocasião, escrever direito em linhas tortas, como fez muitas vezes o magnânimo Criador! Assim, o melhor é ter um pouco de paciência e aguardar... (6-4-69)

“O preço da liberdade é a eterna vigilância”. Mas essa liberdade, ao contrário da libertinagem, é benéfica a todos. Assim, cada um terá condições para defender seus direitos, manifestar suas idéias, aprovar o que estiver certo ou protestar contra o que, ferindo os interesses da coletividade, necessita de uma reparação urgente. O famoso “slogan” da Revolução Francesa: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” poderia resumir-se  apenas na palavra Liberdade, cujo império, no seio de um povo civilizado e honesto, garante tanto a existência da Igualdade como da Fraternidade. ( 20-7-70)

Minhas  Crenças ¾ I) Creio em Deus  II) Creio em dois Céus: no primeiro, de que nos fala a Bíblia e  do qual muitos duvidam; e no segundo, que todos devem respeitar, constituído pela consciência do Povo, que o concede ou o nega a cada um, segundo o seu procedimento durante a vida terrena. III) Creio nos milagres do amor: do amor de todos os amores, do amor sublime entre os homens, criaturas de Deus; do novo amor, que se inicia quando a jovem mãe sente pulsar em seu seio a vida do filhinho querido; do amor verdadeiro que sente o pobre velho quando, nos seus últimos momentos, deseja ter em torno de si todos aqueles a quem sempre trouxe em seu coração.  IV) Creio nos milagres da Humildade que faz o homem reconhecer no seu próximo um seu semelhante e, por isso, infunde em seu coração o desejo e o dever de dispensar-lhe fraterna e até abnegada consideração. Humildade que impõe ao homem teimar apenas sobre aquilo que sabe; não sonegar aos outros o que sabe e lhes é útil; confessar sua ignorância e perguntar, inclusive às criaturas mais simples , sobre o que tem obrigação ou necessidade de saber. V)  Creio nos milagres do Trabalho, honrado e perseverante, que, se antepondo ao desânimo, produz benefício a quem o executa e, ao mesmo tempo, extensivo aos seus próprios entes queridos, membros da comunidade universal. VI) Creio nos milagres da Honestidade, que desde os primórdios da criação do homem, vem sendo exaltada nas páginas da história, quanto aos que a praticam com nobreza e sinceridade. E há de continuar representando na existência de cada um, para a própria consciência, supremo conforto, ainda que as calúnias e as mentiras humanas pareçam deslustra-lhe a reputação.  VII) Creio nos milagres da Renúncia, que faz a pobre criatura tolerar e perdoar as ingratidões humanas, ainda que não as possa, voluntariamente, esquecer, talvez assim evitando sua maldosa reincidência; creio na renúncia de que nos  o Divino Mestre: “Ao que lhe disputar a túnica, cede-lhe também a capa’ ( Mateus 5:40).  VIII) Creio nos milagres da Bondade, que começa com um sorriso e termina com uma lágrima, bondade que torna melhor o nosso mundo interior e procura levar a possível felicidade ao mundo dos outros; bondade que é luz, calor, amparo, caridade, amor e que, em certos momentos, encherá nosso coração e emoção e nossos olhos de lágrimas, quando a dor, às vezes sem remédio, atingir vidas e coisas criadas por Deus para o bem estar da coletividade terrena.  IX) Creio nos milagres da Justiça, aureolada pela bondade cristã que, em nome da verdade, sem omissão e com honradez, procura exaltar a virtude e condenar o vício, infundido nas criaturas humanas fé e confiança no futuro, assegurando-lhes a proteção necessária e sã liberdade em suas andanças por este “vale de lágrimas”.   X) Creio, de novo, agora e sempre, em Deus, na sobrevivência da alma e na vida eterna, onde estarão juntas as pobres criaturas humanas que tanto se amaram neste mundo. ( 12-6-79)

Era uma vez um menino, de nome Joãozinho, que morava num sítio bem arborizado, perto da cidade. Como qualquer criança residente na zona suburbana, o menino possuía algumas gaiolas com pequenos pássaros. E numa manhã, enquanto Joãozinho tomava café com leite na cozinha de sua casa, estando a janela aberta, ouviu um canto novo de passarinho e, saindo fora, viu um pintassilgo solitário que, num galho alto da laranjeira trinava alegremente, dando bem para ver o seu bico entreabrindo-se enquanto movia a cabecinha para os lados. Nas manhãs seguintes o pintassilgo voltava a cantar na mesma laranjeira e tão lindo eras seu canto que Joãozinho perguntou ao pai como fazer para caçá-lo e assim poder, dando-lhe alpiste e água limpa, nos dias seguintes, ouvir o seu lindo canto, em companhia de seus amiguinhos. E, tendo feito como seu pai lhe ensinou, depois de prender o passarinho no alçapão, transferiu-o para uma gaiola nova, na qual havia colocado antes uma vasilha com alpiste e outra com água limpa. Mas.. o pobre pintassilgo não cantou mais, nem mesmo quando, a conselho do pai, a gaiola era pendurada num galho daquela laranjeira perto da cozinha. Às vezes, antes de recolher a gaiola para dentro da casa, a hora do crepúsculo, Joãozinho tinha a impressão de ouvir seu querido pintassilgo cantar baixinho, sem se mexer, dando a impressão de que estava dormindo... Mas, ao mais leve ruído de sua aproximação, o pássaro estremecia e, a partir daí, só se ouvia nas árvores vizinhas o piar de outros passarinhos que procuram abrigo nas ramagens. Então Joãozinho recolhia a gaiola e na manhã seguinte a recolocava no galho da laranjeira, sempre com esperança de que, ali, o seu passaria voltaria a cantar... Os dias foram passando e numa tarde Joãozinho se esqueceu de recolher a gaiola, e na manhã seguinte, com muito remorso e tristeza em seu coração, verificou que o pássaro havia desaparecido da gaiola e achado até que o malvado gato do vizinho o houvesse devorado... E a gaiola ficou vazia muitos dias até que numa bela manhã escutou novamente, partindo daquela laranjeira o canto de outro pintassilgo, tão afinado e forte como o do que estivera preso por poucos meses. E sentiu em seu coração o desejo de armar de novo o alçapão para caçá-lo, como fizera com o que havia desaparecido, Quando isso aconteceu verificou por uma verruga que possuía na perninha esquerda que era o mesmo pintassilgo e também porque ao ser colocado na gaiola não se debateu, como fazem os pássaros recém capturados. Era igual em tudo, apenas com a cabecinha mais preta, concluindo assim que efetivamente era o mesmo. Mas, infelizmente, não voltou a cantar, como fazia até poucos dias, quando empoleirado no galho da laranjeira. E o pai, vendo o Joãozinho tão triste com isso, deu-lhe este conselho: “Solte-o, pois a falta de liberdade, ou seja daquilo que deseja, tira-lhe a alegria e a vontade de cantar. Com as criaturas humanas também acontece o mesmo quando lhes falta alguma coisa agradável, com a qual conviveram muito tempo, perdem a inspiração e o desejo de demonstrar alegria”. E o autor dessa humilde história continuava meditando: “Não serão os meus pobres livros , que ficaram em Rio das Pedras, na chácara, uma espécie de arvoredo, onde minhas idéias gostariam de, novamente, beber inspiração e respirar liberdade de meditação?” ( 22-3-81)

Meditando sobre a afirmação “cogito, ergo sum ─ penso, logo existo”, de Descartes ( 1596-1650) concluímos que é positiva, em muitos casos, a presença da dúvida. A exceção é necessária para a confirmação da regra. Por isso só se compreende a democracia que abomina as ditaduras, com as suas violências, a maior de todas a supressão da liberdade, sob pena de prisão, etc. Sem liberdade não existem duas opções e apenas uma imposição. ( 14-1-90)