POBREZA

 

Pobreza – É pobre quem tem falta de alimento, de agasalho, de habitação. Essa é a pobreza total. Mas, também, são pobres outras pessoas, que embora ricas ou pertencentes a famílias abastadas, sofrem angustiantes necessidades: faltam-lhes os carinhos dos parentes a amigos; é escassa a harmonia no seu lar; minguam-lhes a saúde e  a resistência física; fracassam-lhes os sonhos e os planos que tanta felicidade os fizeram antever; as contrariedades se sobrepõem aos seus desejos de bem-estar; e  choram! (3-5-50)

Ser... ou não ser... (Shakespeare) ¾  “Ser ou não ser... eis a questão!” Afinal, o que é mais nobre para a alma: a cabeça curvar  ante os golpes da fortuna, ultraje ou tentar resistir-lhe enfrentando em um mar de dor? Melhor seria morrer...talvez dormir...não mais que isso... E pensar que assim dormindo poríamos fim aos males do coração e as mil torturas naturais que são a herança da carne! Quem não almejaria esse desfecho com fervor? Morrer... dormir... dormir? Talvez sonhar!... Sim, nisto é que está a dificuldade: o não sabermos que sonhos advirão do sono da morte, quando nos livrarmos das aperturas da vida terrena... É esta idéia que nos preocupa, diante do infortúnio de nossos dias, e que torna nossa existência tão longa! Quem suportaria as flagelações e os escárnios do mundo... as injustiças dos mais fortes... os maus tratos dos tolos... a humilhação da pobreza... as angústias do amor contrariado... a insolência dos poderosos... as tardanças das leis... as implicâncias dos chefes...cuja inépcia desmerece nosso mérito paciente? Quem suportaria, com efeito, tudo isso se com um simples golpe de punhal, no peito, obtivesse sossego? Quem continuaria, gemendo, a carregar, suado, os pesados fardos da vida?... Só o receio do desconhecido, do além túmulo, região inexplorada donde ninguém voltou, receio que turva a vontade, e torna covarde a consciência... só esse receio é capaz de obscurecer os mais límpidos pensamentos e desviar de seu curso os mais enérgicos planos fazendo a ação perder o próprio nome. ( 09-11-64)

“Pai rico, filho pobre, neto nobre” ( Igual gera igual) ¾ Inspiração divina, vocação para a virtude, bons conselhos na juventude, eis como “igual” pode gerar “igual” no caso do antecessor ter sido mau. Daí advirá a nobreza da pobreza. No campo espiritual, especialmente. É que, na maioria das vezes, o mau procedimento, em vez de admiração, acusa repulsa. E esta ordens de idéias se aplica, certamente, a formação moral de Dom Pedro II. ( 02-06-65)

Pobres e ricos ¾ O que ocorre com o socorro que os “ricos americanos” distribuem através das campanhas “alimentos para a paz” e “aliança para o progresso” em favor dos povos subdesenvolvidos ¾ auxílios esses mal-recebidos e até repelidos pelos próprios favorecidos ¾ é que muitos destes entendem que tudo isso é remédio tardio e post-espoliativo. Necessário e melhor teria sido que os vultuosos recursos americanos tivessem sido acumulados mais lentamente  e que os outros, os “roubados”, nessa disputa dos bens materiais, não tivessem afundado tanto na miséria. O certo teria sido melhor repartição no princípio do que a “devolução” agora, tão tarde, quando todos se encontram no limiar da grande catástrofe: fim das riquezas e pobrezas. ( 10-06-65)

Grandes Homens... Grandes Heróis ¾ 

( 20-10-65)

As criaturas humanas, imperfeitas dentro do mistério divino, não perdoam e guardam, às vezes, profundos ressentimentos, quando são vítimas de motejos de seus semelhantes. Portanto, para a pessoa que não puder colaborar, diplomática e delicadamente, para aliviar os chamados “pontos fracos” (defeito físico, enfermidade, deficiência, fealdade, antipatia, ignorância, pobreza, boa fé, etc.) de seu próximo, é preferível fazer “vista grossa”, deixando que o silêncio torne a vida “menos pior”... para ambos! ( 27-9-67)

“As pobres crianças” e os “pobres velhos” ¾ Sempre as crianças tem pai e mãe, ainda que pobres e infelizes. Mas, os tem! Ou, pelo menos, padrinhos, ou tios, ou avôs, ou parentes longes. Às vezes, até certos vizinhos gostam de fazer um pouco de “santa demagogia”, protegendo crianças necessitadas... Na maioria dos casos, o problema urgente das crianças  se resolve com alimento e roupa, e para isso logo são lembradas e convocadas as inúmeras associações de assistência à infância que existem nas cidades grandes e pequenas. Por último há que se mencionar que as crianças, em virtude da potencialidade de seu físico juvenil, retornam facilmente à alegria e ao bem estar, querendo alguém... E os pobres velhos? Quase cegos, sem dentes, mãos trêmulas, enfim enfermos dos pés à cabeça, tem o pensamento perdido nas névoas das recordações distantes... de quando eram moços e trabalhavam, e amavam e sorriam, felizes, quem sabe?, na sua divertida pobreza!!! E agora quase que sozinhos, num asilo ou num quarto obscuro, ou de léu em léu, vão sentindo o peso da solidão e do abandono. Por vezes, complacentes e comovidos vão assistindo o tempo passar até que, após o momento extremo, alguns dos seus últimos amigos, venha comentar, referindo-se ao pobre morto que tem diante de si: “foi melhor assim... descansou...  ( 5-12-70)

No mundo conturbado de nossos dias, quando a “revolução industrial” traz aos olhos de todos a situação de disparidade tão grandes, entre pobres e ricos, parece que o “hippies” querem dar o toque de compensação. Geralmente esses pobres moços são filhos de famílias burguesas, bem situados na vida, mas que por influências da escola, do meio social, leituras, observações e meditações próprias, de repente, fazem o “protesto”. E com a cruz de Cristo pendurada em colares exóticos, trajando roupas extravagantes, saem pelas ruas e praças exibindo pobreza, apatia, desmanzelo, num sinal de inócua revolta contra a guerra, contra as desigualdades sociais! Pobres jovens! Pobre mundo! ( 23-8-71)

Folheando biografias de beneméritos e benfeitores de todos os tempos, salta aos olhos de qualquer pessoa que numerosas dessas extraordinárias criaturas, embora oriundas de famílias nobres, ricas, passaram grande parte e especialmente os últimos anos de suas vidas em situação de extrema humildade e pobreza, devotadas firmemente a causa de seus semelhantes carentes. Aqui merece um destaque veemente a figura de São Francisco de Assis, talvez o maior paradigma dessa excelsa categoria de benfeitores da humanidade. ( 8-1-84)

Já escrevi anteriormente que Proudhon muito exagerou quando afirmou: “A propriedade é um roubo”, uma vez que a grande maioria dos homens, principalmente os de bom senso, entende que os bens materiais, frutos do trabalho honesto, de qualquer natureza, ou ainda recebidos por herança, constituem, pelo contrário, direito legítimo de uso e posse, por parte de seus detentores, representando até incentivo para preservá-los e ampliá-los. Roubo seria desviar coisa do verdadeiro dono. Portanto, segundo Proudhon, se o que o proprietário tem foi roubado, entendo que as vítimas do roubo só podem ser os que não trabalharam, não herdaram, faltaram-lhe ou deixaram as oportunidades e, agora, nada possuem... Complicado, não?! Mas, na verdade, roubo é a sonegação, em qualquer parte do mundo, dos impostos devidos e, muito maior ainda, roubo vergonhoso ( criminoso e lamentavelmente no Brasil, e em outras republiquetas, impunes) é o peculato, a corrupção ativa e passiva, o suborno, o desfalque, as negociatas, as sinecuras, as “mordomias” e um sem número de descaminhos de coisas e valores pertencentes à nação, ao povo, não havendo dúvida de que uma centésima parte disso tudo valeria muito, se aplicada, criteriosamente, em socorro da pobreza desvalida. Roubo clamoroso é isso, por falta de consciência, por falta de amor ao próximo, por falta de respeito ao Bom Deus! (15-9-85)