RIQUEZA

 

Riqueza – É engraçada a vida que a gente, que muita gente leva. É, como se costuma dizer, uma luta! Tem-se 10 cruzeiros e se deseja 20. Sendo 100 se ambiciona 1.000. Quem possui um milhão, da mesma forma deseja mais. Diz o homem rico: “o que tenho é meu e não posso perder; se alguém tentar me prejudicar, recorrerei à justiça”. Assim, muitos vivem em sobressaltos. Uns para ganhar, outros para não perder. Porque somar é uma forma de não deixar diminuir. De qualquer forma é sempre uma luta. Se, entretanto, achamo-nos em perigo de perder 100, então lutaremos para perder só 5. E, no final, tenha o que tiver, o homem deixará tudo! É possível que o corpo ainda não esteja gelado e já se tenha iniciada uma outra luta: a da partilha! E não seria para se indagar: teria importância deixar 10, 20% a mais ou a menos? Entretanto, as criaturas humanas vivem em constante luta: a defesa do dinheiro! ( 20-8-52 )

“Descentralização da administração pública e maior distribuição dos bens da riqueza”, eis a fórmula capaz de promover a prosperidade de Rio das Pedras. Enquanto a política administrativa estiver enfeixada nas mãos de poucas pessoas, as quais como monopolistas, não encaram com simpatia a possibilidade de outros elementos participarem dessa administração, e enquanto os lucros dos negócios continuarem atribuídos a poucos anti-progressistas cidadãos — Rio das Pedras continuará vegetando, isto é, estacionária. Para que haja harmonia e prosperidade municipal é preciso que todos se sintam com  direito e no dever de trabalhar pelo bem da coletividade! Que os lucros não sejam privilégio de poucos e que esses lucros sejam aplicados no meio que os produziu. Só assim haverá estímulo, trabalho, produção e progresso. E o fantasma do pessimismo e do terrorismo que asfixia as cidades pequenas se afastará de Rio das Pedras. É preciso união e fraternidade. Rio das Pedras fraca e desunida será uma expressão negativa, decadente. Nota: nesta data já se observa a marcante influência das 3 usinas (Sta. Helena, Bom Jesus e São José) e mais a São Jorge, em instalação. Em todos os cantos da cidade surgem casas novas, com aluguéis sem precedentes, podendo-se crer que Rio das Pedras está “despertando”.

( 20-1-53 )

O mundo progrediu tanto nestas seis décadas do século XX, principalmente em eletrônica e mecânica, que não se pode fazer idéia do que será no fim deste século — quando as crianças de hoje serão “homens feitos”. No campo de relações humanas não precisamos aguardar o fim do século para presenciar profundas modificações. Aliás, o socialismo avança dia a dia, avassalando o regime colonialista e capitalista. Praza aos céus que o mundo do futuro conheça o verdadeiro socialismo cristão e renegue o comunismo ateu, desprezível como quaisquer outras ditaduras. Pode-se prever claramente que no próximo e decantado “mundo melhor” não mais existirão ricos e pobres, ou melhor, “poucos ricos” e “muitos pobres”. Deverão estão existir três categorias: I)alguns bem ricos (herdeiros de fortunas que se irão desgastando e sub-dividindo); II)muitos ricos apenas e III)poucos meio ricos. As leis regularão os lucros e os bens da fortuna, estabelecendo que o excedente de um limite será, a título de impostos e taxas, arrecadado pelo governo, que o aplicará em benefício dos “menos ricos”. Estes, em conseqüência , terão direito de possuir  entre outras regalias, uma “moradia própria”, familiar, com o conforto condigno à criatura humana. Em todas as cidades haverá um departamento de “Assistência Social” mantido pelos impostos  sobre lucros e riquezas, para distribuição de alimentos, remédios, agasalhos, transportes, etc., e com que serão atendidos os raríssimos desprotegidos da sorte, em seus períodos transitórios. E enquanto isso terão melhor colocação entre os seus semelhantes os homens instruídos, portadores de um diploma, que representará nesse  futuro bem próximo, a maior, mais sólida e indiscutível fortuna. ( 2-6-61)

A marcha da socialização da humanidade ( direito de participação por todos dos bens da riqueza relativa ) é tão imperiosa e irrefreável como a marcha da ciência. Se avança sabedoria do homem, desvanecendo a ignorância, o mistério e o deslumbramento, no campo material, não podem prevalecer entre as criaturas humanas diferenças tão chocantes, a ponto de uma minoria privilegiada ( industriais, capitalistas, governo e funcionários) desfrutar de excessivas vantagens em detrimento da maioria sofredora, constituída pelos habitantes das favelas e cortiços das zonas periféricas. ( 15-8-62)

Equilíbrio ¾ É representado por um ponto de apoio central e dois lados que podem ou tendem a precipitar cada qual a um extremo. Por isso quanto maior a vantagem, maior a responsabilidade, a fim de manter o equilíbrio.

Maior poderio = maior justiça;

Maior força = maior brandura;

Maior riqueza = maior generosidade;

Maior liberdade = maior respeito;

Enfim, maiores direitos, maiores deveres.

Não sendo assim, estaria estabelecido o desequilíbrio e não tardaria o reconhecimento de que os grandes males para certas criaturas foi desfrutarem de grandes bens, descontroladamente. ( 18-08-63)

Pobres e ricos ¾ O que ocorre com o socorro que os “ricos americanos” distribuem através das campanhas “alimentos para a paz” e “aliança para o progresso” em favor dos povos subdesenvolvidos ¾ auxílios esses mal-recebidos e até repelidos pelos próprios favorecidos ¾ é que muitos destes entendem que tudo isso é remédio tardio e post-espoliativo. Necessário e melhor teria sido que os vultuosos recursos americanos tivessem sido acumulados mais lentamente  e que os outros, os “roubados”, nessa disputa dos bens materiais, não tivessem afundado tanto na miséria. O certo teria sido melhor repartição no princípio do que a “devolução” agora, tão tarde, quando todos se encontram no limiar da grande catástrofe: fim das riquezas e pobrezas. ( 10-06-65)

A felicidade ¾ Lendo nos jornais a notícia da tentativa de suicídio da famosíssima cantora Ângela Maria, vem-nos à memória a lembrança do fim trágico da não menos famosa e bela artista Marylin Monroe e de outros eternos incontentados que possuindo todos os predicados para a conquista da felicidade, não a desfrutaram, preferindo, pelo contrário, pelos próprios atos, afundar-se no desespero... A felicidade verdadeira, em vez de ser fruto da beleza exterior, da riqueza material, da fama, dos aplausos do mundo, é, isso sim, aquele estado d’alma que sente a pessoa que leva um padrão de vida normal, respeitável, dentro dos preceitos cristãos de trabalho, honradez e, sobretudo, de bondade e tolerância para com os seus semelhantes. ( 14-09-65)

E quando lhe disseram que devia parar de trabalhar, porque era um “homem rico”, o pobre homem respondeu: Primeiro essa riqueza de dinheiro, bens materiais, etc. tem um valor muito relativo, tão instável e perecível, que não se lhe deve dar o nome de riqueza.Riqueza, na realidade, é a saúde, a instrução, os dotes morais de uma pessoa. Mas, ainda que disponha de uma fortuna imensa é imprescindível que, se não estiver enfermo ou decrépito, continue trabalhando, certo que isto constitui, além de uma santa distração, um bom exemplo aos seus filhos e familiares, evitando-lhes, assim, motivos para descambar no caminho da ostentação e da perdularidade”. ( 05-03-66)

Oh! Bendito o dia em que a riqueza socorrer a miséria e os fortes acalentarem os fracos nos braços. ( 16-09-66)

Ganância

Ninguém é dono daquilo que possui!

As flores não são donas de seus perfumes;

As aves  não são donas de seus cânticos;

As estrelas não são donas de seus brilhos.

 

A morte é o fim de todas as ilusões!

O tufão aniquilará num instante

Todos os perfumes e todos os cânticos

E a própria noite ficará sem estrelas.

 

O dono do perfume é que o sente;

O dono do cântico é que o escuta;

O brilho das estrelas é de quem as vê;

Qualquer bem só se exprime em sue reflexo!

 

E assim o pobre homem meditando,

Lamentava a existência da ganância

Daqueles que acumulam as suas riquezas

Sonegando-as aos próprios semelhantes! ( 10-10-66)

No tempo dos faraós, talvez se explicassem as disciplinas vingativas do Velho Testamento ( Êxodo 20:5; 21:12,15,16,23 a 25; 22:18). Entretanto, milênios depois, quando a civilização já se fazia presente, como nos faz crer  a literatura grega que chegou até aos nossos dias, tornava-se necessário o milagre do aparecimento de Cristo, implantando a Sua doutrina nova baseada no amor fraterno. E hoje, mais do que nunca, com a industrialização galopante, em que as máquinas produzem riquezas de hora em hora, é imperioso que o “amai-vos uns aos outros” (João 13:34; Marcos 12:31; Mateus 22:39) seja seguido a fim de abrandar as diferenças entre pobres e ricos, fracos e fortes, doutores e analfabetos. (20-5-69)

O sofrimento humano é agora muito menor do que há 100 anos, quando Fleming (1881-1955) não havia ainda nascido e Pasteur (1822-1895) começava a desvendar os mistérios dos microrganismos e punha em prática eficientes  métodos de prevenção e combate às infecções bacterianas. Portanto faz pouquíssimo tempo que o mundo sofredor passou a se beneficiar com as descobertas da moderna medicina. Aqui mesmo, em nosso querido Brasil, no início desta fabuloso século XX, quase houve uma revolução, quando a maioria da população da Capital de República recusava-se a aceitar a política saneadora do diretor da saúde pública, Oswaldo Cruz ( 1892-1917) que havia, com o apoio do presidente Rodrigues Alves instituído a vacina obrigatória. Tal disposição teve de ser revogada em 1904 sob ameaça de derrubada do Governo! Mas, como dizíamos, não há dúvida que o sofrimento humano é agora menor do que mesmo há 50/100 anos. No passado ¾ além da ignorância, da miséria, do desamparo social, do atraso da medicina, da ausência da eletrônica e da moderna mecânica ¾ o homem era explorado pelo próprio homem porque não existiam leis que condenassem tal exploração. Hoje, entretanto, em pleno último terço do século XX, como as velozes máquinas de produção fazem riquezas gigantescas e são poucos os homens que fazem fortuna assim rapidamente, os outros, os operários, que ficam muito para trás, analisam a situação e reclamam, comparando-se com os poucos privilegiados... E os que reclamam, protestam, fazem escândalo, não são os “miseráveis”, certo que estes, inclusive, são tímidos, apáticos, parecendo até conformados... A verdade é que o mundo de hoje é menos sofredor que o de ontem e o mundo do amanhã estará mais próximo da inatingível perfeição... Só o tempo poderá ir corrigindo a mentalidade daqueles que, por culpa própria, não entendem que “somos todos irmãos” (25-5-70)

Seria, ao final de sua existência terrena, um homem frustrado aquele que, podendo usufruir alguns bens da riqueza, conseguida através de longos anos de trabalho e retidão, foi deixando, deixando, tais desfrutes para depois... (19-11-70)

Como o pêndulo de um relógio, que oscila para a frente e depois retrocede, em igual ângulo, para trás, assim deve ser também o homem que se valoriza em riquezas e posições sociais: conforme cresce em importância e evidência, deve curvar-se, com humildade, em atenções em favor dos que vão ficando do lado oposto... senão poderá perder-se na euforia da glória e da cegueira. ( 6-6-71)

Se as pessoas que possuem recursos financeiros suficientes para a própria manutenção e de sua família, em nível elevado ou, pelo menos, bem acima da média regional e que por isso se dão ao luxo de promover, periodicamente, dispendiosas reuniões entre amigos e parentes, sentissem, vez ou outra, por motivos acidentais, o estômago vazio se remoendo em contrações de fome, quando as reservas alimentares se esgotassem ¾ não obstante as riquezas pecuniárias e materiais lhes estejam sobrando ¾ esses felizardos, assim que superada a situação angustiante,de certo sentiriam em seus corações  um pouco mais de caridade em favor daqueles  seus irmãos que, vegetando ou perambulando  pelos desvãos das favelas, cortiços e demais refúgios inóspitos, trazem, nas feições macilentas e nos olhares tristes, a aparência própria  dos famintos e desventurados. ( 12-10-80)