VIDA

Sonhos, Risos e Lágrimas ( a Francisco Otaviano – 1825-1889)

Quantas vezes chorei de felicidades!

Quantos risos ocultaram-me o pranto!

Quantos sonhos acreditei realidades!

Quantas mágoas eu sofri no próprio encanto!

 

Quão feliz me senti chorando de saudades!

Quão triste fui ao rir sem mostrar espanto!

Quão sublimes foram meus sonhos sem verdades!

Quão descrente nos fez um ideal tão santo!

 

Os risos seriam cruéis; então chorei...

As lágrimas me envergonhariam; então ri...

As verdades seriam duras; então sonhei...

 

Hoje, sinto saudades das dores que sofri...

E quando me lembro dos instantes que gozei,

Vejo: não só passei pela vida, mas vivi! ( 26-6-31)

Vida

Mortal, feliz ou magoado, dize ao mundo,

A esse punhado de tolos, amigos teus,

Que pintam céus, infernos e o próprio Deus,

Dize de coração aberto e profundo:

 

A vida é um sonho de eternidade:

Quando o eterno dorme, o sonho se realiza,

Desponta num’alma que se concretiza

Num corpo crescente  a luz da falsidade!

 

Sonhando, o corpo vivo lentamente cresce:

Aprende o que não sabe, o que supõe ensina...

Realismo!... A fantasia se extermina

Na desilusão que aos poucos aparece.

 

O eterno dorme, e o sonho escorre...

Quando a alma se desliga da matéria

Para gozar o bem ou curtir a miséria,

O eterno acorda e a vida morre. ( 13-8-1931)

Coração

Nada quero ser, porque sei que nada sou...

Meu coração é uma triste sepultura,

Que conhece a vida por noite de tortura,

E onde jamais o riso d’alma vicejou.

 

Negro sepulcro, eis o nome que te dou...

Oh! Coração de gelo e de amargura,

Nasceste para a dor, oh! Desventura,

E sofres como alguém que apenas vegetou.

 

Desde que em meu peito, coração, és vivo,

Persegue-te o malvado e cruel destino,

Que te sangra num desalento esquivo.

 

Carregas contigo a dolorosa seta,

Que te faz cantar um poema divino,

Cujos lamentos são a alma do poeta! ( 28.10.31)

Soneto ( a Vitor Hugo – 1802-1885)

Se hoje somos efêmeros mortais,

Pobres criaturas, sínteses o nada,

Não devemos levar a vida malfadada

Ao negro abismo das ilusões fatais.

 

Somos  vivos, amanhã não seremos mais,

Nossa vida é pobre  gota dependurada

Que hoje nos braços do mundo está ligada

E se amanhã cair não brilhará jamais.

 

Amo a vida, porque é feita de amor!

Só vive e é feliz quem souber querer bem!

Sofra ou goze: “Amor não avilta ninguém”!

 

Devemos amar; amor é o sol da vida!

Devemos sofrer; a vida é bela na dor!

Devemos rir, para ter a alma florida! ( 1-11-31)

Os maiores bens que uma criatura humana pode possuir na vida são: a honra e  a saúde, ambas aureoladas pela coragem, pela força e pela justiça. Com a primeira merecerá a estima dos bons e com a segunda conquistará o respeito dos mesmos. (6-6-50)

Tudo na vida é como um sonho! Noutro dia, em minhas andanças, visitando o nosso cemitério, deparei num túmulo aberto com os restos de um esqueleto e lendo a inscrição na lápide deslocada verifiquei que a pessoa havia falecido antes do meu nascimento. E pensei: essa criatura viveu? Sentiu? Sonhou? Amou? Sofreu? Compreendeu? Que resta de  sua existência? Sei apenas que na tumba constava um nome e dentro dela restavam ossos que pertenceram a alguém...A vida é assim para todos. Um sonho que termina no pó dos nossos ossos desfeitos pelo tempo... Deixemos pois a vida correr a vontade do Criador Todo Poderoso, e enquanto vivermos façamos todos os bens possíveis, nos conformemos com os males que nos ferirem. Dos bens terrenos que nos fiquem, enquanto vivermos, a saúde do corpo e do espírito e uma fé em Deus, para que, trabalhando ganhemos mais para os nossos do que para nós, o pão de cada dia, com coragem, altruísmo e honestidade (13-11-50)

Que nos instantes derradeiros da vida, sentindo-nos menos ricos que alguns de nossos amigos ou contemporâneos, possamos nos recordar de havermos colaborado em favor de idéias elevadas e havermos trabalhado, sem vaidade, pelo bem da coletividade. (24-11-50)

A caridade é o sol da vida. (20-4-51)

Quantos de nós, na vida, para atender negócios adiáveis, descuram a sacrificam a saúde. (13-5-51)

O pouco que eu, com as graças de Deus, tiver feito de bom na vida, será uma prova da estima que devotei ao meu torrão natal — Rio das Pedras — e representará, para mim, na hora derradeira:

  1. Um agradecimento aos meus pais;
  2. Um exemplo a meus filhos;
  3. Uma homenagem a Vitor Hugo. ( 13-6-51)

Tudo, na vida, tem um princípio de imitação: as palavras, os hábitos, as lições científicas, as invenções, tudo tem base  em exemplos anteriores. Bendigamos pois, o espelho que tendo de refletir e imitar alguma coisa, reflete coisas belas, úteis e confortantes. (20-8-51)

Que adianta a vida? — Quem, em sã consciência  e espírito de observação, analisar as inúmeras e diferentes situações em que as criaturas humanas se debatem — uns labutando para ganhar o pão de cada dia,outros esforçando-se para aumentar as suas fortunas, muitos desperdiçando as suas forças físicas em ociosidade e vícios, e outros ainda se mortificando para recuperar a saúde combalida — concluirá, talvez, que nenhuma justificativa existe para isso tudo! E perguntamos? Existe uma recompensa para os bons? E um castigo para os maus? Os milhões de habitantes do mundo que se apagaram na morte, há séculos e séculos, obtiveram em suas épocas o tratamento, bom ou mau, que mereceram? Os milhares de maus que iludiram, declarada ou subrepticialmente, o povo e ficaram impunes, e outros tantos bons, cujos méritos permaneceram desconhecidos ou subestimados, e ainda as vítimas das injustiças do mundo, foram todos julgados, um por um, pelos seus contemporâneos ou pela posteridade? Diante dessas conjeturas, terríveis e insondáveis, é forçoso acreditar-se em Deus, Suprema Vontade, que tudo dirige da melhor maneira, ou... não crendo em coisa alguma precipitar o pensamento no turbilhão da dúvida, do caos, do nada! Eu prefiro crer em Deus! ( 30-10-51)

Eu morreria imensamente feliz se, no momento extremo, o Bom Deus me permitisse observar em meus filhos três virtudes preciosas: Saúde — Bondade — Sabedoria.

A vida é uma seqüência de situações, a maior parte desagradável. Vencida uma situação e quando se pensa haver atingido o objetivo, nova situação surge para nos manter em desassogego, até que, alquebrados pelos anos, reconhecemos tarde que mais valera termos enaltecido o pouco que tivemos. (20-12-51)

Só desistirei de um cargo de Diretoria ou comissão se a isso me compelirem desgostos sofridos no seio de minha família. Intrigas ou calúnias, de fora, eu as saberei rejeitar. Considerarei meus pais, enquanto viverem ou meus filhos quando maiores de 21 anos, meus maiores e obrigatórios conselheiros. Portanto, a eles recorrerei sempre que as circunstâncias da vida me colocarem frente a uma situação difícil. ( 10-3-52)

Como “conheci” Vitor Hugo — Freqüentava eu a Escola de Comércio “Moraes Barros”, de Piracicaba, no ano de 1929, quando um dia encontrei-me com outro aluno da mesma escola, no velho jardim público daquela cidade. E, ali mesmo, na calçada fronteiriça da Igreja de Santo Antonio, debaixo de uma árvore enorme, esguia e de pouca ramagem, começamos a conversar. Nunca pude me recordar do nome daquele meu passageiro amigo, lembrando-me , porém,  sempre da conversa que mantivemos e parece-me vê-lo ainda, de terno azul, atravessar a praça, afastar-se e sumir debaixo do arvoredo lateral, depois de olhar para trás e me ver, estático, absorto, no mesmo lugar em que nos havíamos despedido. É que estivéramos falando de romances amorosos e ele me dissera no final da conversa: “Eu não... eu não gosto desses romances! Eu só leio romances históricos! É pena que esses romances não são para qualquer um. A maioria não os lê porque não entendem facilmente o que está lendo, escrito. Por exemplo, os livros de Vitor Hugo são assim. A gente está lendo, de repente muda completamente, dando impressão até de que faltam folhas. Para explicar uma coisinha de nada, tem 20, 30 ou 50 ou mais páginas. Sei de muita gente que não leu até o fim, não porque os romances eram muito grandes, mas sim pela dificuldade de os compreender. Eu Não! Eu leio tudo, não deixo uma linha sequer, porque esses é que são romances elevados, neles é que se nota a inteligência, a sabedoria e a capacidade do escritor...” Aquelas palavras me impressionaram tanto que, meditando sobre  as virtudes de tais romances eu fiquei ali imobilizado, encantado! Anos depois, achando-me em Santos, deparei com um livro do “misterioso” escritor. Não há dúvidas que comprei o volume — O Homens do mar — demorando muito para terminar a sua leitura, um ano talvez. Mas, me agradava tanto a sua maneira de descrição que eu assinalava todos os trechos, as sentenças, os pensamentos que mais fundo calavam em meu espírito. Mais tarde o reli, e comprei novos volumes do mesmo autor, e tão grande se tornou minha admiração por seus escritos, que em todas as livrarias que eu visitasse, ia logo perguntando: Tem aí algum livro de Vitor Hugo?” Foi assim que, através de palavras singelas de um amigo anônimo travei conhecimento com as obras de Vitor Hugo e aquele meu amigo, no dizer do próprio pensador francês se assemelhou ao humilde lanterneiro que, andando pelas estradas da vida, em noites escuras, iluminava, não só a sua rota, mas também, sem o querer, as coisas que se achavam à margem do caminho. (20-6-52)

Riqueza – É engraçada a vida que a gente, que muita gente leva. É, como se costuma dizer, uma luta! Tem-se 10 cruzeiros e se deseja 20. Sendo 100 se ambiciona 1.000. Quem possui um milhão, da mesma forma deseja mais. Diz o homem rico: “o que tenho é meu e não posso perder; se alguém tentar me prejudicar, recorrerei à justiça”. Assim, muitos vivem em sobressaltos. Uns para ganhar, outros para não perder. Porque somar é uma forma de não deixar diminuir. De qualquer forma é sempre uma luta. Se, entretanto, achamo-nos em perigo de perder 100, então lutaremos para perder só 5. E, no final, tenha o que tiver, o homem deixará tudo! É possível que o corpo ainda não esteja gelado e já se tenha iniciada uma outra luta: a da partilha! E não seria para se indagar: teria importância deixar 10, 20% a mais ou a menos? Entretanto, as criaturas humanas vivem em constante luta: a defesa do dinheiro! ( 20-8-52 )

Existem três categorias de homens inatacáveis. Os indiferentes, os virtuosos e os caridosos. Há, porém, uma quarta categoria que é realmente digna de lembrança, a dos abnegados.Senão vejamos: os indiferentes são os que vivem à margem dos fatos, não trabalham, não são a favor nem contra as iniciativas de seus semelhantes. Cumprem seus deveres, nada mais. Os virtuosos são os que, por suas práticas religiosas e sociais bem demonstram seu amor a Deus e seu respeito aos direitos dos cidadãos. Os caridosos são os que, sem serem indiferentes ou apenas virtuosos, praticam o sagrado dever da caridade, auxiliando seus semelhantes a carregarem o pesado fardo da vida. Porém a quarta categoria, além de virtuosos e caridosos, são abnegados e progressistas e acima de seus interesses pessoais colocam o interesse da coletividade, parte integrante que são da mesma coletividade e beneficiários, portanto, de um almejado mundo melhor. (10-11-52)

A morte – O falecimento é uma questão de tempo. Ninguém deveria se alarmar com a chegada da grande ceifadora. É pena que a morte viesse interromper uma juventude feliz, sonhadora, quando a criatura já tem mais de 15 e menos de 26! Morrer, isso é fatal! Uns agora, outros depois; “cada dia que vivemos é um dia a menos de vida”... “cada passo na vida é um passo a mais ao encontro da morte”. Mas, afinal, há de existir, no além túmulo, uma “continuação” desta vida! Não pode desaparecer no nada, assim simplisticamente, a inteligência e a bondade de tanta criatura humana (exceção a nós que nada estudamos, nada sabemos e nada fizemos). Cristo, Vitor Hugo, Santos Dumont, Marconi, Castro Alves, que, por suas palavras e atos desejaram um mundo melhor, não desapareceram assim, como folhas mortas, levadas pela correnteza dos tempos! Não! Como existe o despertar do sono dos vivos, há de existir o despertar do sono dos mortos. Qualquer coisa, enfim, que seja continuação ou pura conseqüência da existência terrena   ( 12-12-52 )

 “Enquanto houver vida há esperança” – Todas as situações poderão se modificar sob a ação do tempo, o mais milagroso, depois de Deus. Qualquer doença, física ou mental, enquanto houver vida, estará sujeita à cura. Portanto, não se justifica a pena de morte, mesmo quando supomos nos acharmos frente a uma situação sem remédio, pois essa suposição é que começará cometendo um crime: o da desesperança. ( 12-2-53 )

A nossa vida se desenvolve em conseqüência de acontecimentos alheios uns e sujeitos outros a nossa vontade. Por isso que, via de regra, 50% do “nosso destino está em nossas mãos”( 12-9-53)

Maior valor, maior o resguardo! — Assim, se uma pessoa tida e havida como de um comportamento impecável, inatacável, cometer uma pequena falha, virá cair por terra, escandalosamente, todo o castelo de seu conceito. Entre uma irmã de caridade e uma moça popular é grande a diferença: enquanto esta poderá contar piadas, rir alegremente, tomar uns tragos de bebida forte... e continuar “ótima criatura, apesar de pequenos defeitos”, aquela, a santa monja, se cometer um mínimo deslize,  não obstante todo o seu passado de sacrifícios, verá o desprestígio arruinar a sua vida. ( 10-1-54 )

E então, o que é que existe? — Na dúvida sobre o que sucederá ao homem no além túmulo, preferimos crer que existe, pelo menos a continuação da nossa vida na memória dos nossos parentes e amigos, que exaltarão nossos atos meritórios ou condenarão aquilo que tivermos feito de indigno. O homem, enquanto vivo, se laborioso, justo e bom, é um sustentáculo quando trabalha e produz; é um baluarte quando protege e defende; é uma luz quando ilumina e aquece; esse mesmo homem, depois de morto, continuará vivendo nos soluços dos que assistiram seus últimos momentos, na recordação de seus conhecidos e, muitas vezes, nas histórias que se escreveram a seu respeito. Assim, eu creio hoje, aos 40 anos de idade, que antes e  acima de tudo existe Deus, o criador da perfeição, das coisas que existem. Mas, os seres, as vegetações que sofrem a ação do tempo, o seu destino certo, definido, indiscutível, ninguém pode, de maneira segura, informar... Enquanto isso, deixemos as crianças com seus santos anseios, que tanto bem infundiram em nossas almas, quando, meninos, dávamos os primeiros passos na vida... ( 20-7-54)

Política — Para salvar a situação econômica do País seria preciso que todos os maus brasileiros, e entre eles muitos são políticos, outros negocistas, magnatas do comércio e indústria, funcionários públicos, enfim que todos invés de cooperarem para a grandeza da nação — sugam-lhe os minguados recursos como fazem hoje, sentirem como que em meio de um cataclisma universal e, nada mais podendo esperar da vida, renunciassem a todos os excessos mundanos em benefício daquilo que se resume em: patriotismo, trabalho e fraternidade! ( 20-10-54 )

O pote de água filtrada que, durante a noite, gota a gota, se encheu, é, além da economia, uma prova de  elogiável bom senso. Portanto, a importância que se dá, na vida, aos pequenos fatos, é, igualmente, uma demonstração de espírito de organização e de controle no âmbito geral. (3-4-55)

E a vida continuará! Desde que o mundo é  mundo quantas desgraças tem as criaturas humanas suportado, percebendo após a tormenta, que “tudo passa” e que o tempo, grande médico, professor, mágico, tudo cura, tudo ensina, tudo resolve. “Morrer não é nada; deixar de viver é que é medonho” disse Vitor Hugo. E é verdade. Porque não vivendo deixamos de participar das alegrias e tristezas que cercam a vida dos nossos entes queridos A nossa vida se resume no convívio entre nossos semelhantes. Não vivendo mais, uma falta será sentida pois, mesmo idosos, quando bons  e justos, sempre poderíamos ser úteis, aos que nos cercam. Simples conselhos valem muito aos que são moços. E os que morrem deixam de padecer, pois a agonia há de ser um sofrimento, e nem se poderia admitir a morte provocando ânsias de gargalhadas. Portanto, a criatura deixa de sofrer após o desenlace. Mas, e os que ficam no mundo? Chorarão desde logo, chorarão de saudades depois, sofrendo em suma, sem o nosso consolo. E depois, nossos dias virão, o tempo irá passando; novas esperanças, novas tristezas, novas decepções, novas ilusões, e na realidade dos dias que irão passando todos reconhecerão: a vida continuará! (8-5-55)

“O dinheiro não traz felicidade”, é verdade. Até pode provocar desgraças. É muito comum saber-se de pessoas ricas que trocariam suas fortunas pelo sossego de espírito. Mas... o dinheiro quando em mãos de criaturas cumpridoras de seus deveres, contribui sempre para o bem estar próprio, de seus familiares e, até, de seus semelhantes. Esta segunda verdade, que a contestem aqueles que, por falta de dinheiro, sofrem, no recesso do lar ou nas estradas da vida, as maiores privações. ( 20-05-55 )

Cumprir nossos deveres de cidadãos e ter paz de espírito, eis o ideal. Do cumprimento dos nossos deveres resultará o nosso sossego do coração: a felicidade de quem cumpre com as suas obrigações. Por que, pois, tanta luta, tanto apego, tantas ilusões e desenganos na vida principalmente para aqueles que agem à revelia dos próprios deveres? ( 19-11-55)

Qualidades essenciais.

I)                   Saúde: vida do corpo (física e mental);

II)                 Amizade: vida do indivíduo (social);

III)              Fé em Deus: vida espiritual.

A (I) é necessária, a (II) é decisiva e a (III) é indispensável. O resto é ilusão e fantasia...

(10-4-56)

As ofensas e as calúnias a nós dirigidas não nos atingirão, não macularão a nossa dignidade, porque o dia de amanhã, dentro da marcha inexorável do tempo, provará nossa inocência, revelando muitas vezes, as verdadeiras qualidades de nossos ofensores. Nesses casos, poderemos perdoar, não esquecer porém. Mas quando as ofensas forem reais ou deixarmos, de qualquer forma, que sobrevivam provas de sua procedência, então estaremos arruinados, nós e nossos descendentes. O nosso silêncio ou a nossa indiferença, no caso, é uma confirmação do crime! Nosso dever é, se culpados, sujeitarmo-nos ao castigo, para, reabilitados, podermos encarar o mundo de frente, com altivez e dignidade. Ou, se acusados injustamente (muito comum na vida humana) devemos rebater valentemente as acusações e a desonra para salvar nossa honorabilidade e o bom nome que devemos legar aos nossos queridos filhos. ( 11-4-56)

Mas se novas ofensas nos ferirem, sem possibilidades de desmascararmos nossos detratores, então devemos reagir, mesmo com risco de nossa vida ou liberdade; no primeiro caso, nos estertores da agonia, bem como no segundo caso, detrás das grades de uma prisão, sentiria nosso pobre coração momentos de conforto com as lembranças de que, amanhã, o sol da verdade, iluminaria o pensamento dos homens, que compreenderão então que nosso gesto representou uma lição aos maus e um exemplo aos bons. ( 11-4-56)

Conta-nos Lucano que, quando perguntavam a Cezar Augusto, o que já havia feito de bom na vida, respondia: “Coisa alguma, desde que reconheço que tenho ainda várias coisas para fazer”.

( 19-4-56 )

Assim pensava um João-Bobo: Vida e Morte – Todo dia morremos um pouco; um pouco enquanto dormimos e um pouco enquanto vivemos acordados. “Cada dia é um dia a menos na vida”. Só quero no último dia, pela última vez, no último sono, dormir para nunca mais acordar. E como nos sonos sem sonhos, continuaremos não sentindo nada? E a vida dos outros, entrementes, continuará? E outras e outras coisas continuarão vivendo, vivendo e morrendo, morrendo cada um por sua vez, sempre, eternamente... (20-4-56)

“Quem semeia, colhe” — Os frutos das boas ações geralmente são colhidos pelos descendentes do autor, que depois de morto, tem seu mérito reconhecido. Entretanto os frutos das más ações, e como tais, os da violência, os do crime, os do desleixo, os da maldade, quase sempre são colhidos, em vida, pelo próprio semeador. ( 17-12-56 )

Recompensas — Quem rouba vai preso, seja porque furtou uma nota de cem cruzeiros ou porque se apossou de uma galinha alheia. Se descoberto é condenado. Pela justiça e pela opinião pública. Quem nega um auxílio a quem lhe solicita também é acusado pela consciência daquele que não foi atendido. Entretanto os que dão esmolas generosas ou mandam auxílios espontâneos aos necessitados, quase sempre ficam ignorados. Os primeiros, ladrões, pagam em vida seus crimes; os outros, os benfeitores, só depois de mortos tem seus gestos reconhecidos. ( 28-4-57)

A fé — A fé é imanente em todas as criaturas que almejam ou receiam alguma coisa. Pode-se dizer que, via de regra, os maiores partidários da fé são os enfermos de espírito ou de corpo; ou anseiam conseguir um  bem ou desejam livrar-se de um mal. Por isso a fé é dirigida ao mistério, ao insondável. Sempre que se puder resolver uma dificuldade com recursos materiais, é  a fé apenas co-existente e até subestimada. Quando cessa a certeza da solução desejada aí surge a fé, ou seja a concentração da esperança a fim de sustentar o ânimo e evitar o desespero do indivíduo, Seja em face dos problemas desta vida, ou dos segredos do além túmulo. ( 18-8-57)

Ditos que o povo inventa.

I)                   O empréstimo em dinheiro nós pagamos, o favor de nos emprestar, continuamos devendo.

II)                 A língua de muita gente é mais comprida do que enxergam nossos olhos.

III)              Quem que vai; quem não quer, manda. Quem está mal acomodado, se muda; quem não sabe, pergunta. Quem está cansado, se deita.

IV)              Muita coisa acontece na vida, sob a “lei da oferta e da procura”.

V)                O difícil é cobiçado e vice-versa.

VI)              O proibido é que é bom.

VII)           Preso é uma fera; solto um cordeiro.

VIII)         Por isso que a violência, invés de subjugar, subleva a mais pacata criatura.

IX)              Vem a propósito a lamúria do poeta: Sei que sofres muito.../ E eu sofro também.../Mas, quem te despreza;/ Despreza quem te quer bem. (19-7-57 )

Aparência e Realidade – determinadas pessoas tem maneiras uniformes e comedidas em condições normais. Demonstram o verniz do meio ambiente em que cresceram. Em geral, com o caráter formado 80% pelo meio ambiente  e 20% “animus nascentia”, representam os papéis que lhes são destinados no drama da vida. Entretanto, essas mesmas pessoas, se embriagadas pelo álcool ou por excitações psíquicas ou fisiológicas são passíveis, num momento, de chocantes transformações inacreditáveis quando relatadas depois. A história de todos os tempos está cheia de casos reais. (10-9-58)

A pior coisa que a criatura humana pode possuir, na vida, é o falso amigo.É pior que o ingrato a quem beneficiamos e depois não reconhece; é pior que o caluniador, que nos difama e ofende; pior que o ladrão que nos assalta e despoja; pior que o assaltante que nos ataca e fere. Esses, dia mais, dia menos, serão punidos por seus pecados e crimes. Mas, o falso amigo, tão invejoso e despeitado quanto hipócrita, conhecendo nossa  casa, nossos recursos, nossos pensamentos, nossa alma, será capaz  de nos trair pelas costas ou pela frente, dissimuladamente; e o doloroso é que continuará dizendo-se nosso amigo leal e admirador. Iluminai-nos, oh Deus! Para podermos distinguir e  nos afastar desses abomináveis indivíduos. (12-10-58)

Conselhos práticos... I) Ao cruzar uma rua não o faça sem antes refletir sobre o perigo que  representam os veículos que por ela transitam, em desabalada carreira. Conte até três, até cinco ou até dez, e perca alguns segundos para não arriscar a vida num instante. II) Ao ser procurado por uma pessoa a qual você deve a solução de um problema, não se precipite em dar satisfações, em respostas precipitadas. Aguarde a palavra do seu interlocutor. Talvez, nesse momento, o assunto seja outro ou esteja superada a situação. O nervosismo só pode gerar complicação. III) Ao entrar num recinto em que se acham várias pessoas, procure encarar apenas aquelas com quem vai conversar. É indício de fraqueza de espírito andar consultando todo mundo com olhares.Ah! Se os adultos pudessem ter, no olhar, a naturalidade das crianças. (10-4-58)

Tudo obedece a um controle permanente. Ao iniciar-se um novo dia, após o repouso noturno, nossas primeiras idéias sofrem o controle  das convenções sociais. Depois, desde o vestuário à primeira alimentação, dos primeiros atos às  grandes resoluções, tudo obedece a um controle adequado.Assim, a sociedade conjugal, comercial, social, a vida do indivíduo, o funcionamento das máquinas e aparelhos, a existência de todas as coisas ficam sob um regime adequado e que não cerceia as preferências que, de direito, devem ser desfrutadas pelos nossos semelhantes.Quebrado o necessário controle, surgem os defeitos, a decadência, o desastre, salvo se a tempo, tudo for reconduzido à normalidade tradicional. (20-6-59)

O Direito é absoluto--- a lei o garante; o Dever é relativo ---nem sempre a lei o exige com toda clareza. O “dever moral”, “social”, “doméstico”, e outros deveres são comumente desrespeitados, sem nenhuma punição para os faltosos, em face das circunstâncias que cercam os acontecimentos... Muitas vezes temos o dever de agir, mas o direito não nos ampara. Assim ocorre com o criminoso que havendo ferido sua vítima, resolve, arrependido socorre-la, não tem o direito de fazê-lo, pois ninguém acreditará em suas intenções... O socorro deve, de preferência, ser confiado a quem tem inclusive o direito de assistir ao ferido. Na permanência de um cargo eletivo temos, além do dever, o direito de irmos até o final do mandato. “Quem não defende seus direitos, não defende sua honra, sua própria vida”, diz o velho provérbio. O Direito aliado ao Dever é poderoso. O Dever aliado ao direito é heróico. O direito aparece quando somos ameaçados; o dever é necessário quando a desventura atinge alguém. (24-6-59)

Pena de Morte — A justiça não pode, a  princípio, perdoar os criminosos. Seu funcionamento há de ser como o de um filtro, que, deixando passar a pureza, separará a maldade. Se os maus obtivessem livramento acabariam desestimulando, pervertendo ou exterminando os bons. Mas nada de pena de morte! “É uma vingança estúpida praticada em nome da justiça”, cuja missão, em verdade, é absolver ou condenar, sem matar ninguém. E perguntamos: será a morte uma condenação? Não seria, para o criminoso, o fim de seus sofrimentos e (...) , em prisão perpétua, mas vivo. Morto, talvez, seja esquecido mais depressa, perdendo-se, inclusive, para sempre, a possibilidade de fazê-lo arrepender-se e “trazer aos Céus mais alegrias pela sua conversão do que a perseverança de 99 justos”. Portanto, criminosos verdadeiros são ( ou serão considerados em futuro próximo) os juízes, os sábios, os doutores da lei que demorada e meticulosamente  deliberaram interromper a vida de um semelhante — criatura de Deus! Não! A justiça que sacrificou Jesus, Joana D’Arc, Tiradentes, não era no seu tempo “justiça”!? Não! Neste século XX, em que o homem revelou tanta inteligência, inventando, criando, descobrindo e aperfeiçoando prodigiosas maravilhas em benefício da humanidade, e chega agora ao supremo interesse de sondar se existe vida em outro planeta, não poderia, esse mesmo homem querer, aqui na terra, voluntariamente, matar o seu irmão! ( 16-7-59)

A ser mau padre, médico charlatão, conselheiro perverso, é preferível ao homem ser simples enxadeiro ou vagabundo. Pelo menos, percebendo humilde salário ou passando fome, não desgraçará vidas alheias. ( 16-7-59)

“Os últimos são os primeiros” — Eis o trinômio: Deus-Pátria-Família. A Família estando em último lugar é a primeira colocada em nossos anseios, em nossas preocupações. É a nossa amizade, nosso porvir, na palpitação de cada momento de nossa vida presente. Sem família, isto é, sem passado, sem futuro, a criatura humana se iguala a míseros irracionais, sem afeto, sem um nome. Depois vem a Pátria, que os “políticos” roubam, os capitalistas ludibriam, os burgueses criticam e os proletários amaldiçoam. Pobre Pátria! Por último “Deus” que por ser o primeiro, d’Ele só nos lembramos na hora do perigo, da amargura, da morte. O Criador, nos recônditos mistérios do infinito, nos há de perdoar e abençoar, se tivermos sido na vida terrena, pelo menos, justos. ( 20-1-60)

“O tempo é pouco e a vida é curta” ouvimos dizer em diversas vezes. Mas o que nos consola é sabermos que a nossa existência continua na vida de nossos filhos. Façamos pois, o bem, semeando um futuro dignificante para os nossos descendentes, como fizeram os nossos pais.

( 22-3-60)

E um dia morremos. Pouco importa deixarmos 10% a mais ou 20% a menos em bens materiais aos nossos herdeiros. A grande fortuna que podemos legar aos nossos filhos é a boa educação, aureolada pela crença em Deus. Portanto, na vida pública ou particular, se não pudermos ser generosos sempre, sejamos pelo menos justos! ( 19-4-60)

Ninguém morre;  A Vida continua —  O nosso sangue é a continuação da vida de nossos antepassados. Dentro desse conceito, mesmo os “sem filhos” não morrem, certo que na galharada gigantesca de sua multi-milenar árvore genealógica outros ramos hão de continuar produzindo novos rebentos, em cuja composição existem percentagens de células irmãs das que formam o nosso organismo, iguais não só material como espiritualmente. ( 12-11-60)

Ainda sobre a imitação — O pensador expõe suas teorias, tendo, às vezes, sem o perceber, por base as idéias de outras criaturas humanas, cujos pontos de vista conhecera por leitura ou “ouvir dizer”. Não só na vida espiritual como no mundo material: o arquiteto que cria novas estruturas, tem como ponto de partida as proporções e  dimensões  ensinadas pelos mestres em que estudou. O pintor nem mesmo fabrica as tintas deslumbrantes que usa; apenas as mistura e nisso, continua ou copia trabalhos de outros semelhantes, vivos ou mortos. Para produzir, o homem precisa de luz — primeiro a de Deus, que fornece gratuitamente do sol, e depois das lâmpadas construídas pelos homens. Mas quem fabrica as lâmpadas não fornece o azeite ou a eletricidade e vice-versa. Por isso se compreende bem o “nada de novo sobre  a face da terra” , certo que ninguém constrói nada sozinho material ou intelectualmente. ( 29-4-61)

Ninguém deve ser elogiado por ser honrado, honesto e trabalhador. Qual o pai ou mãe que não arriscaria o seu sossego, a sua fortuna, e até a própria vida para defender a dignidade e a segurança de seu filho? Portanto, aquelas virtudes valem como uma bênção de Deus, dignas dos maiores e mais íntimos agradecimentos do próprio possuidor. Jamais motivos de vanglória, pois o contrário seria uma maldição e uma vergonha. ( 18-7-61)

Pesadelo I —  O país havia sofrido profundas modificações em sua estrutura política e social. O povo havia deposto o governo com o apoio das forças armadas. Fora preciso decretar lei marcial para conter o delírio popular em seus saques e depredações aos armazéns, fábricas, escritórios e residências dos chamados “capitalistas”. Todas as suas propriedades foram declaradas pertencentes ao Estado e todos os seus bens confiscados. Passada a tormenta, começaram os ditadores, civis e militares, a procurar disciplinar a vida da nação. E aquele pobre homem despojado de todos os seus bens e haveres, mantinha-se humildemente na extensa fila, aguardando a sua vez de ser ouvido pelo “Comitê Revolucionário”. Todos deveriam apresentar-se para dizer de suas habilidades, como trabalhadores. Perguntado sobre o que sabia fazer, respondera que era guarda-livros, meio datilógrafo e com alguma prática no serviço de cerâmica... “Ótimo!” , lhe dissera intempestivamente aquele sargento inquisidor — “Ótimo! O governo popular precisa de tijolos e o senhor está inscrito como oleiro”. “E os meus filhos?...Eles até hoje não trabalharam em nada. Só sabem estudar. O mais velho estava se preparando para ingressar no curso superior. Dois no ginásio e o menor...”. “Nada disso! De agora em diante só poderão estudar os que eram pobres e, por isso, não estudavam. Os outros, os antigos ricos, que por certo já aprenderam demais, vão ficar nisso e começarão a trabalhar...” . “Senhor, eles são crianças ainda, não tem forças para serviços rudes; além disso, com a inteligência em formação, assimilando e gravando na memória as lições seriam mais tarde úteis à Nação, até mesmo ensinando também. Dissipando-se a ignorância, dissipa-se a miséria e...”. “Velhas histórias que os senhores com os seus recursos apenas exaltavam no seio de suas próprias famílias, enquanto que os outros... mas deixemos de conversas e trabalhemos!”. “Eu trabalharei horas redobradas e farei também a parte dos meus filhos, inexperientes que são...”. “Não pode ser! Ademais a jornada de trabalho baixam para seis horas diárias. Completando a idade de cinqüenta anos o cidadão será aposentado e passará a constituir ônus para o Estado. Por isso todos os moços tem de trabalhar”. “Então permita-me fazer um acordo: em vez de seis, trabalharei dose, quinze ou mais se puder. Renunciarei, expressamente, a aposentadoria aos cinqüenta anos e continuarei até os últimos dias de minha vida. No começo, como agora, trabalharei em quaisquer serviços pesados, sem escolher terrenos. Minhas pernas e braços são vigorosos e tanto trabalharei em lugares altos, como descerei ao fundo das cisternas. Depois, já bem velho, quando as pernas fraquejarem, farei serviços manuais. Mais tarde, se as mãos não puderem fazer serviços úteis, serei porteiro das fábricas, fazendo respeitar os regulamentos e transmitindo avisos e recados. Assim irei trabalhando, trabalhando para compensar o tempo que meus filhos perderam estudando, estudando para ganhar  a maior glória da vida: a sabedoria! E assim continuarei trabalhando e quando a velhice imobilizar os meus membros do corpo, agirei com a voz e com a expressão dos olhos, orientado pelos ouvidos e pelo raciocínio. Depois, não mais falando nem enxergando, continuarei escutando os últimos sons da vida terrestre e as primeiras moradas da morada eterna. Aí permanecerei trabalhando com o pensamento — vínculo do espírito à matéria — trabalhando com minhas orações ao Todo Poderoso, pela felicidade dos meus filhos, da minha família, dos meus amigos, de todo o povo brasileiro, de todas as nações do mundo, para que os homens sejam, indistintamente, todos justos e bondosos. Assim, os meus pobres filhos, membros de nossa humanidade feliz serão igualmente felizes. Deixai, senhor, que meus queridos filhos continuem estudando... bem vedes que ofereço minha vida...”. Nesse momento, o pobre homem despertou e suspirou aliviado e venturoso,e  mais ainda por recordar-se que, mesmo em sonho, havia preferido os maiores sacrifícios para garantir o futuro de seus filhos e descendentes.

( 12-8-61)

Muitos homens importantes disseram, na fora da morte, frases que foram, depois, lembradas e às vezes relembradas, tornando-se até célebres. Qualquer homem pode ser “importante”  para os seus familiares, por isso que são chorados quando se vão desta vida. Bancando importância, o pobre homem deixou três palavras, como últimas, para a suprema meditação e diretriz de seus amigos: “Sabedoria – Justiça – Bondade”. ( 3-10-61)

E quando lhe disseram que não devia desagradar as pessoas e que nenhuma vantagem existia em arranjar inimigos, o pobre homem respondeu: “Possuo duas condições essenciais para perder a estima do povo, isto é, perder amigos: a) Todo ano enriqueço um pouco, em virtude dos lucros das empresas que participo; b) Sou dirigente dessas firmas. Mas “inimigos” quem é que os teve maiores na vida? — Jesus! Tivesse Ele sido hipócrita e usasse evasivas no caso dos tributos a Cezar, ajudasse agravar e apedrejar a mulher adúltera, não fizesse a purificação do Templo, não condenasse os escândalos da corte romana, elogiasse os fariseus e os escribas, não pronunciasse o Sermão da Montanha nem fizesse outras pregações de moral através de santas parábolas, viveria, no mínimo 100% mais, isto é, 66 anos. No entanto os seus inimigos, que puseram em realce a sua Justiça, o fizeram viver até agora cerca de 6.000% mais, e viverá pelos séculos a dentro, numa exaltação crescente, enquanto o mundo existir. Portanto, que posso eu, minúscula criatura, para que o povo me queira sempre bem? Se para manter eventuais amigos é necessário tornar-me hipócrita, prefiro perdê-los”. ( 6-10-61)

A desarmonia retira da criatura humana quatro elementos essenciais à vida: o sono, o apetite, o ânimo e o equilíbrio mental, sem os quais, em vez de progresso haverá decadência. Diante disso tem razão o poeta apaixonado quando disse: “Sem você nem o céu terá beleza e com você irei ao inferno, sorrindo”. ( 12-11-61)

E quando lhe perguntaram se um dia tivesse de sofrer humilhações, desonras, vilipêndios nojentos, o que faria, o pobre homem respondeu: “Eu arriscaria e perderia, se possível mil vezes a vida para defender a vida e um dos meus filhos. Entretanto a salvação da vida de mil filhos não justificaria a perda da minha honra, abaixo da qual coloco a própria vida e acima somente Deus! E o pobre homem assim concluiu o seu ponto de vista sobre a desonra: “Desonra, de fato é praticá-la ou aceitá-la, sem protesto, covardemente. As calúnias podem tentar desonrar uma criatura, mas se transformarão em “coroa de espinhos e de glória” quando desmascaradas pelo futuro ou pela posteridade. ( 10-1-62)

Filantropia — Fazer uma pessoa, só no fim de sua vida, testamento deixando parte de seus bens a uma instituição de caridade, e por isso vindo a receber homenagens póstumas, às vezes perpetuadas em bronze, também está errado. Ora, o certo teria sido o “coração magnânimo” do doador ter feito seus donativos cotidianamente, em vez de só ir acumulando fortunas à custa de lucros diários. Se a própria instituição tivesse que esperar 50 a 80 anos para receber essa “generosa” doação teria, por certo, sucumbido.Somando-se pequenas e modestas ajudas recebidas constantemente de anônimas criaturas verificar-se-ia que representariam mais daquilo que se festejou espalhafatosamente, a posterior. Que se agradeça, que se mencione em ata a valor da doação, mas que por isso se erga um monumento, com banda de música e tudo, está errado.

( 12-6-62)

Não existem mestres e discípulos. Somo todos, ao mesmo tempo, as duas coisas. A vida é que é a grande escola, onde, às vezes, procuramos ensinar, mas acabamos aprendendo sempre.

( 7-11-62)

“O materialismo está dominando todos os setores da vida humana...” ¾ meditava o pobre homem, desconsoladamente. “Ningém tem tempo para nada. É tudo feito em alta velocidade; os que viajavam de trem, agora preferem automóveis. Muitos possuem avião particular. Outros vão em aeroplanos a jato, rapidíssimos. Logo pretenderão utilizar-se de foguetes estratosféricos, desses que desenvolvem mais de 40.000 quilômetros horários”. “Por outro lado, tais criaturas, quando procuradas para reuniões de cunho altruístico, vão logo dizendo: “Estou cheio de serviço!”. “Não dou conta!e vão se desculpando de pequenas subscrições que fazem em “Livros de Ouro” porque todos os dias são procurados por promotores de campanhas, concursos, festas de formatura, etc., etc. A  cooperação então é dada ou prometida sem apreciar o mérito das campanhas, correspondendo no mesmo pé de igualdade, sejam os beneficiários crianças órfãs ou integrantes do time de futebol. Se deveriam comparecer a reuniões sociais omitem-se, quase sempre, com ou sem justificativa. Depois, o pobre homem, refletindo melhor, ponderou: “Mas, desde que a criatura humana apareceu na face da terra, a vida tem sido assim mesmo: a ambição pessoal sobrepondo-se ao interesse da coletividade. Caim sacrificando Abel; os descendentes de Noé querendo galgar o céu através da Torre de Babel; Moisés quebrando as Tábuas  da Lei diante do seu povo que, esquecido de Deus, materializava-se na adoração do Bezerro de Ouro; César, Napoleão, Hitler, invadindo terras de outros povos... tudo isso é demonstração e confirmação de que “materialismo não é novidade”. E benditos, pois,  são os homens que acreditam e fazem com que os outros acreditem na sobrevivência eterna do lado oposto: espiritualismo de Bondade, de Justiça, de Amor. ( 08-12-62)

A chefia, seja no lar ou em qualquer função, precisa cercar-se  de três predicados, sob pena de fracassar:

  1. Autoridade
  2. Personalidade
  3. Dignidade

Assim, o agente, destituído do primeiro predicado, não terá o segundo e desmerecerá o terceiro. Nesse caso melhor seria renunciar ao posto, para não perder a coisa mais importante  que a própria vida: a Honra. ( 16-1-63)

Sobre a bondade e a justiça:

Pela sua Bondade você colherá flores na Terra... A Bondade é o dever magnânimo.

Pela sua Justiça você colherá flores no Céu...A justiça é o bom senso puro.

É que a Bondade ajuda sempre  e perdoa a todos... até os maldosos...

É porque a Justiça atua segundo os méritos dos indivíduos, exaltando uns e rebaixando outros, produz descontentes...

Por isso que, os que colhem flores no Céu, andaram sobre espinhos na Terra..

A Terra é a vida... O Céu é a posteridade... ( 11-02-63)

A crise político-ideológica nacional poderia ser solucionada com duas medidas: 1) Governo e Povo ( Coletor e Contribuinte) compreenderem que o melhor regime é o democrático e que para mantê-lo precisariam, todos, cumprir com honestidade e altruísmo seus deveres, inclusive compelidos pelo medo de uma revolução social, debaixo de cujo clima de terror poderia imperar desde o confisco de bens até o sacrifício de vidas, a exemplo do sucedido recentemente em Cuba. 2) As Forças Armadas, com brio e austeridade, começassem a punir os agitadores, exigindo-lhes o respeito às leis em vigor no País, deportando sumariamente os estrangeiros envolvidos em quaisquer movimentos extremistas. Mas, enquanto isso, o melhor que se pode fazer no momento é reduzir a aplicação de capital em nossas empresas comerciais ou industriais e, em seu lugar adquirir propriedades para desfrute da família, reservas que seriam, na pior das hipóteses, as últimas a sofrerem desapropriação. ( 26-3-63)

As crianças não tem juízo e os velhos o tem demais”. Por isso é que no final da vida são perdoados, esquecidos os erros  da mocidade, e tornando-se o homem  penitente e bom será considerado, ao morrer, como digno e puro. ( 17-5-63)

Continuação da meditação do “pobre homem” quanto aos perigos de uma mudança na estrutura econômica e social do País — Sendo o trabalho a primeira demonstração de capacidade individual, feliz a criança que, desde tenra idade, já encontra dedicação e perseverança nos estudos. O pequeno estudante, assim trabalhando, com método e esforço, perceberá os primeiros salários em conhecimentos e personalidade. Uma criança de seis ou sete anos, que não sabe ainda o que significa a honra, o patriotismo e a civilidade, principia a trabalhar muito e proveitosamente se for estudiosa. O trabalho não é apenas o esforço muscular. Os feitos dos intelectuais e cientistas resistirão infinitamente mais que as sólidas obras de engenharia e arquitetura. As suas realizações diretas ou reflexivas, jamais serão desbotadas ou carcomidas pelo tempo. E no entanto muitos pensadores foram, em vida, considerados ociosos. Os estudos, as meditações, os cálculos, as pesquisas, sobretudo quando resultam em escritos ou elementos palpáveis, são trabalhos importantíssimos  porque sobre os seus alicerces se assentarão os edifícios da produção, do progresso, da prosperidade. Ademais o trabalho é um dever social do homem. O inverso poderia e deveria sempre ser considerado contravenção penal. Além disso estão certos os que afirmam que o trabalho é um remédio para todos os males, uma solução para todos os problemas. Em verdade o trabalho é de inspiração divina. Basta olhar a vegetação das plantas, o desabrochar das flores e o amadurecimento dos frutos para sentir o maravilhoso trabalho do Senhor. Para vencer na vida basta apenas e principalmente ser trabalhador. Não é o bastante ter saúde, ser ajuizado e virtuoso. Temos mesmo que reconhecer, com pesar, ser muito comum vencerem os velhacos e tratantes, graças às suas condenáveis atividades, Mas vencem,e, imiscuindo-se entre os trabalhadores honestos, conseguem fazer boa figura e desfrutar de algum respeito. E poderão inclusive, um dia, iluminados pelo Altíssimo, abandonar a “estrada de Damasco” e penitenciando-se e dignificados ser admitidos no convívio dos justos. Enquanto que os outros, os vagabundos e negligentes, sem que se possa xinga-los de desonestos, afundar-se-ão no desprestígio, na miséria e, muitas vezes, na senda dos vícios, como conseqüência da ociosidade... E assim concluiu o “pobre homem”: Por que hei de preocupar-me com a situação política nacional, mesmo que o Brasil venha a ser uma segunda Cuba se, quando moço e até agora continuo trabalhando. Alguns bens que recebi de herança foram preciosas sementes que multipliquei com o meu trabalho. E meus filhos, melhor defendidos do que eu na vida --- pois se Deus quiser possuirão inclusive estudos e diplomas --- não desmentirão a tradição e o sistema de trabalho de seus ancestrais, e por certo continuarão nesse afã, seja qual for o regime no futuro, também prosperarão e terão direito à felicidade. ( 18-5-63)

O bem material que uma pessoa recebe ou obtém deve ser defendido como o faziam os antigos soldados “porta-bandeira” nos campos de batalha. Sacrificavam a própria vida para não perderem ou desonrarem o estandarte sob sua responsabilidade. Todo bem é um símbolo. Ou é fruto do trabalho alheio (doador) ou do próprio trabalho, muitas vezes de muitos anos. Portanto, como um patrimônio, não dever ser desperdiçado ou menosprezado. O dono de um bem em perigo deve agir como o comandante do navio naufragante: só o abandonará na hora extrema ou preferirá ir ao fundo com ele! Toda vantagem que se possui é um bem, merecedor de resguardo e carinho. Qualquer bem que possuamos deverá ser usado dignificantemente, podendo ser cedido ou transferido a outros desde que razões legais ou morais assim o recomendem. Jamais poderá ser arrebatado por malandros, ou utilizado em obras nocivas à coletividade ou ainda desbaratado perdulariamente. ( 12-12-63)

Haja o que houver, a vida política e social da humanidade continuará sempre da melhor maneira possível. Também as águas das tempestades, uma tática de auto-determinação e acomodação, procuram as passagens mais adequadas para se escoarem em busca do oceano, onde todas as águas se encontram e se confundem. E as que ficarem empoçadas ou se infiltrarão no solo, ou se evaporarão. ( 29-02-64)

A criatura humana necessita de: 1) AR ¾ ao nascer receberá palmadinhas da parteira para começar a respirar; 2)ALIMENTOS ¾ ao primeiro dia de vida, ainda com os olhos fechados, abrirá a boquinha a procura de algo para chupar. Homem feito, ao raiar de cada dia, procurará alimentar-se ou, pelo menos, beber alguma coisa, antes de iniciar suas atividades; 3) PAZ ¾ deverá constituir família e viver em sociedade, para garantir sua sobrevivência. Precisará dar ou não retirar de seus semelhantes os meios para que também tenham paz. Do contrário haverá conflito, e portanto, cedo ou tarde, vencedores e vencidos, revezadamente... E, adeus ar, alimentos e paz. ( 21-03-64)

Ir periodicamente a uma Casa de Oração produz duplo benefício: aproxima-nos mais de Deus, e, na contemplação daqueles inefáveis momentos, desprendidos dos afazeres e preocupações, podemos meditar sobre a vida. (  03-05-64)

Comodismo e omissão são responsáveis por muitos erros que se praticam nesta vida. É preciso erguer a voz, alertar, protestar contra os enganos para poder iluminar, desobstruir os caminhos do futuro. São Paulo teve que ouvir a voz de Deus ( entre um relâmpago e um trovão) para retornar do caminho de Damasco! ( 10-05-64)

A vida se divide em três tempos: Nascimento – Casamento – Morte.

O primeiro e o último, como extremos, independem, via de regra, da vontade dos indivíduos. O do centro, sendo o principal ¾ porque sobre ele deve-se meditar profundamente ¾  é o ato mais importante que a criatura, expontaneamente, pratica na própria vida. O casamento bom é a garantia das gerações futuras, um mundo melhor! O casamento sendo assim a regra, tem a confirmá-lo o celibato e os padres e as freiras, que concretizam o seu matrimônio com um ideal sublime de renúncias e abnegações. ( 20-5-64)

“Isso é assim mesmo... Será sempre assim... Não tem remédio...” Não! Não! Não! Devem responder os conservadores, os virtuosos, os abnegados! Se a decadência é grande, seria catastrófico se o comodismo, a omissão, a pusilanimidade tornassem apáticos os corações da maioria dos homens. Sentimos nas situações que nos cercam que sempre há alguma coisa de bom, de útil, de nobre a fazer. Se, pelo contrário, calássemos a voz e cruzássemos os braços, num indiferentismo amorfo, logo nossa consciência nos acusaria por termos cooperado para o rebaixamento da vida humana, com reflexo no círculo de nossas amizades, dentro do nosso próprio lar! ( 17-10-64)

Todo acontecimento, toda situação da vida humana é um degrau. Portanto, por mais dolorosa que seja essa situação é sempre um ponto de escala. Essa posição, que pode causar momentâneo desespero, deve ser encarada como intermediária e transitória, sendo possível, no futuro, advir novo fato capaz de modificar o gravame anterior, para pior ou melhor. Por isso são condenáveis as lamentações de alguns sofredores que se julgam vítimas do destino e que chegam ao extremo de clamar contra Deus. Não! Mesmo a morte que é o último degrau, deve encontrar de parte dos vivos, conformação nas orações, nas saudades, nas homenagens que merece quem teve uma existência útil, honesta e justa. Mesmo aquele que nada fez e apenas sofreu na vida deve ter a sua memória aureolada com a coroa atribuída aos mártires, pelos seus amigos, sobreviventes. Como não se deve fazer propaganda da própria felicidade ¾ que também é um degrau ¾ muito menos se deve fazer alarde da auto-desventura, isso porque o lamentador poderá arrepender-se, mais tarde, quando ainda nova e ainda mais dura provação poderá atingi-lo ou à pessoa se suas relações. Só a morte interromperá a relatividade dos degraus da sorte, e mesmo a morte, no seu fatalismo, poderá ser mais trágica e cruel a uns que a outros... Conformemo-nos, pois...

( 06-11-64)

Ser... ou não ser... (Shakespeare) ¾  “Ser ou não ser... eis a questão!” Afinal, o que é mais nobre para a alma: a cabeça curvar  ante os golpes da fortuna, ultraje ou tentar resistir-lhe enfrentando em um mar de dor? Melhor seria morrer...talvez dormir...não mais que isso... E pensar que assim dormindo poríamos fim aos males do coração e as mil torturas naturais que são a herança da carne! Quem não almejaria esse desfecho com fervor? Morrer... dormir... dormir? Talvez sonhar!... Sim, nisto é que está a dificuldade: o não sabermos que sonhos advirão do sono da morte, quando nos livrarmos das aperturas da vida terrena... É esta idéia que nos preocupa, diante do infortúnio de nossos dias, e que torna nossa existência tão longa! Quem suportaria as flagelações e os escárnios do mundo... as injustiças dos mais fortes... os maus tratos dos tolos... a humilhação da pobreza... as angústias do amor contrariado... a insolência dos poderosos... as tardanças das leis... as implicâncias dos chefes...cuja inépcia desmerece nosso mérito paciente? Quem suportaria, com efeito, tudo isso se com um simples golpe de punhal, no peito, obtivesse sossego? Quem continuaria, gemendo, a carregar, suado, os pesados fardos da vida?... Só o receio do desconhecido, do além túmulo, região inexplorada donde ninguém voltou, receio que turva a vontade, e torna covarde a consciência... esse receio é capaz de obscurecer os mais límpidos pensamentos e desviar de seu curso os mais enérgicos planos fazendo a ação perder o próprio nome. ( 09-11-64)

E quando lhe vieram dizer que “o morto, apesar de ter sido um sujeito malquisto, no fundo não era mau, possuindo até um bom coração...” , o pobre homem respondeu: “Ele foi um grande incompreendido, como muitos em vida. Devendo ocupar uma posição de destaque na “banda da minoria”, foi acusado  muitas vezes pelos integrantes da “banda da maioria” de não corresponder as suas pretensões... Afinal, criatura humana, ele não podia ser sempre bom, porque precisava também ser justo!” (16-03-65)

Realmente contraditória e volúvel a atitude do povo... ¾ É digno de profunda meditação o que ocorreu com Jesus e Nero: Jesus, venerado no Domingo de Ramos, já não possuía mais os seus defensores na Sexta Feira da Paixão, pois aquela enorme turba, acovardada, assistiu em silêncio o desenrolar da tragédia; Nero, temido e odiado durante seu reinado dissoluto, apenas morto foi chorado e venerado gloriosamente, e por muitos anos vingou a crença popular de que não havia morrido e que em breve ele voltaria a fim de fazer, de novo, feliz o povo de Roma! Com o prefeito recém-falecido de São Paulo ¾ Eng. Prestes Maia ¾ repetiu-se idêntica transformação: tão xingado de “dorminhoco” e “campeão dos buracos”, nos últimos dias de sua vida e após a sua morte foi considerado o “maior prefeito que a cidade que mais cresce no mundo conheceu...” Com isso nos vem à lembrança a frase de Verdi em sua ópera “O Rigoleto”: “la dona é móbile...” (06-08-65)

A felicidade ¾ Lendo nos jornais a notícia da tentativa de suicídio da famosíssima cantora Ângela Maria, vem-nos à memória a lembrança do fim trágico da não menos famosa e bela artista Marylin Monroe e de outros eternos incontentados que possuindo todos os predicados para a conquista da felicidade, não a desfrutaram, preferindo, pelo contrário, pelos próprios atos, afundar-se no desespero... A felicidade verdadeira, em vez de ser fruto da beleza exterior, da riqueza material, da fama, dos aplausos do mundo, é, isso sim, aquele estado d’alma que sente a pessoa que leva um padrão de vida normal, respeitável, dentro dos preceitos cristãos de trabalho, honradez e, sobretudo, de bondade e tolerância para com os seus semelhantes. ( 14-09-65)

Felicidade...

Um casal enamorado

Sob a proteção da lei

E dos princípios da virtude.

Em um lugar afastado,

Longe da agitação do mundo...

Felicidade...

Noie calma...

Lá fora o arvoredo é tocado por leve brisa,

Enquanto no céu límpido, enluarado,

Cintilam milhões de estrelas...

O homem pergunta: É feliz?

A mulher responde: Sim. E és também?

As suas mãos continuam entrelaçadas,

Suas testas roçam-se suavemente,

Seus lábios se unem em beijos

Mornos, inebriantes, úmidos...

E nesse encantador enlevo,

Esquecendo tudo que os rodeia:

Nada de reminiscências do passado,

Nada de planos para o futuro!...

Assim entretidos, como duas crianças

Buliçosas, risonhas, excitadas,

Não sentem o tempo passar!...

Seus corpos se aproximam, mais e mais...

Sussurros  suspiros brotam de seus

Peitos anelantes...

O carinho, a ternura, o verdadeiro amos

Vibram nesses abraços estremecidos!...

E não sabem se o que sentem é a pulsação da vida,

Ou o estertor da morte...

Depois do êxtase, misto de vertigem

E desfalecimento...

E depois a lassidão e o sono profundo!...

E perguntamos: Se desse sono,

As duas criaturas não mais despertassem,

Não teriam morrido em estado de felicidade?

Quem discordará? ( 04.10.65)

Grandes Homens... Grandes Heróis ¾ 

( 20-10-65)

“Enriquecer é, muitas vezes, perder a estima do povo”, escrevia em 04-03-1951. Mas, ter muitos negócios e viver sobrecarregado de responsabilidades e encargos e, por isso, não poder levar uma vida normal nem ter horários para nada, então é perder também a tranqüilidade e dinheiro, que é facilmente desviado por aproveitadores da situação. E perguntamos: o famoso J.J.Abdala ¾das demandas trabalhistas, dos atrasos de pagamentos, etc., não obstante a sua imensa fortuna e as suas numerosas fontes de rendas¾ não será, no fundo, uma pobre vítima dos próprios e descontrolados negócios?  ( 26-02-66)

Nos dramas da vida, cada um dos personagens, quando pensa ou age, não sendo ele um fracassado ou marginal, julga-se a principal figura da peça, isto é, o “mocinho”. Mesmo que representasse o papel do mais humilde comparsa, no fundo do seu pensamento estará meditando: “outros começaram como eu e depois subiram”. ( 29-03-66)

Existem momentos na vida de um homem em que a expressão de seus olhos, a contração violenta de seus lábios, em baixo dos quais se pode perceber o ranger de dentes, denunciando um estado de desespero, de revolta, de quase explosão, que o melhor que devem fazer os seus circundantes é afastarem-se dele. São momentos em que o homem sente aquilo que se costuma denominar a “ira dos justos” como a sentiu Jesus no instante em que expulsou do templo os seus vendilhões. A alma em revolta produz efeitos semelhantes  aos prenúncios dos terremotos nas regiões vulcânicas, de cujas explosões iminentes os próprios passarinhos e animais selvagens da circunvizinhança se apercebem com antecedência e tratam de afastar-se do local. ( 02-05-66)

Existem sacrifícios que deprimem e outros que dignificam. Uns são frutos de serviços refeitos, porque o empenho inicial foi mal sucedido ou precipitado e outros porque representam vitória sobre dificuldades. Os sacrifícios dignificantes são verdadeiros “sal da vida”, tão necessário e sempre confortante para aqueles que, enfrentando situações adversas, desfrutam depois, embora momentaneamente, exaustos das alegrias de sentir-se bem, à custa de seus próprios esforços.

(03-05-66)

Existem pessoas que se preocupam tanto com o que acontece no momento, ou com o que pode acontecer no dia de amanhã que destroem as alegrias de suas vidas. São certos pescadores, de beira de repesa ou riacho, que conheci na minha infância, que contavam as minhocas que levavam, os peixes que fisgavam e os que perdiam, com tal preocupação que a humilde pescaria, para eles, em vez de entretenimento e higiene mental, era um suplício de expectativa e decepção. E de nada valiam as suas lamúrias contra os peixes ocultos e as águas serenas... Assim são também os avarentos e similares que não desfrutam os bens da vida apenas porque só pensam em ganhar recursos e bens materiais,e em aumentá-los sempre e se aborrecem com aquilo que deixam de lucrar e tanto mais se outras criaturas com mais sorte, raciocinam, lhes podem passar a frente. E, nesse eterno sobressalto deixam de bem viver, amistosa e harmoniosamente entre, o “momento presente que passa e não volta mais”. ( 29-05-66)

“Obrigado por tudo quanto você fez por nós” , ouvirão os abnegados, naquele momento extremo, quando os seus entes queridos e amigos vierem trazer-lhes o seu último adeus. Infelizes seriam os pobres homens se nessa hora suprema não existisse, sobre suas obras em vida, uma palavra de agradecimento! Miserabilíssimos, porém, se alguém, mesmo em pensamento, tivesse razão para dizer-lhes nesse instante: “Agora, que inerte, aí estás, venho trazer-te o meu perdão pelo mal que me causaste”. ( 03-06-66)

Cherchez la femmediz o ditado francês. E, fatalmente, na vida de um homem comum, sempre existirá uma mulher ¾namorada, esposa, amada ou amante ¾ a nortear-lhe, bem ou mal, consciente ou subconscientemente, o seu modo de proceder. É bem acertada designação de “cara metade” para a esposa porque é ela, em verdade, a outra metade da vida de um homem. Vem dos tempos imemoráveis a preocupação do homem quanto aos problemas do sexo. Por isso que Moisés, em nome de Deus, entre os dez mandamentos, depois de enunciar os pecados contra a castidade, destacou um dirigido aos homens: “Não desejar a mulher do próximo”! ( 28.06.66)

A criatura humana, ao morrer, despoja-se de todos os seus bens materiais, A única coisa que leva para o túmulo é a sua indumentária e essa também, dentro do sepulcro, em breve se irá consumindo juntamente com o seu corpo em decomposição, nada resistindo afinal à ação implacável do tempo. Primeiro, uma porção de massa informe, pouco anos após um esqueleto ainda perfeito, depois um monte de ossos indefiníveis e por fim alguns resíduos e o Nada... Portanto o que se leva deste mundo, em verdade,   é unicamente é a memória daquilo, que, ao morrer, se deixou realizado, com entusiasmo, em favor de seus semelhantes, principalmente de seus familiares e amigos, fidedignas testemunhas de toda a sua boa ou má fortuna, em vida.

( 05-08-66)

O pioneirismo custa caro, a maioria das vezes. Muitos inovadores colheram, em vida, amargos frutos de seu idealismo. Tiradentes é um exemplo deles. ( 05-09-66)

Inflação: ato de encher, inflar, com um determinado elemento, um recipiente, porém numa quantidade maior à ideal, para compensar a perda de peso, de valor desse elemento. Em se falando em dinheiro, nos círculos políticos de um país, então a situação é a seguinte: o governo emite papel moeda e o põe em circulação porque aquilo que arrecada de impostos, etc. devido inclusive à sonegação desenfreada, não é suficiente para pagar os seus encargos com funcionalismo, investimentos, financiamentos, etc. Essa arrecadação é escassa também porque a produção geradora dos tributos é pequena, e em conseqüência disso ocorre elevação no preço das mercadorias. Aumentando os preços das mercadorias vem a grita de todos quantos vivem de salários, cuja revisão é procedida para contrabalançar o “custo de vida”. Com a alta dos salários sobem os custos da produção, dos transportes, de tudo e aí se estabelece novo desequilíbrio e para corrigi-lo forma-se um “circulo vicioso”, ou seja, porque o custo de vida é alto aumentam-se os salários, e estes elevados encarecem os custos das mercadorias. Espécie de gangorra, cujas extremidades vivem em contínuo “sobe-e-desce” exasperado em tentativas vãs de equilíbrio...

14-11-66)

O equilíbrio dos dois pratos da balança, que deve existir na vida de cada indivíduo, é sempre bem compreendido quando neles se pesam valores financeiros ou materiais. No terreno da moral, entretanto, é comum que em um milhão de valores, num prato dessa balança seja desmerecido, anulado, por uma ínfima quantidade de elemento negativo e indesejável, que venha trazer desonra também ao outro prato. É como que algumas gotas de querosene intragável e flutuante, dentro de um latão de puríssimo leite. Em matéria de honradez e dignidade só se admite um prato na balança. Por isso que uma pessoa que recolhe, agasalha, alimenta, cura, salva, dignifica, exalta várias centenas de crianças não terá jamais, em tempo algum, o direito de ofender e agradir apenas uma dessas pobres crianças, sob pena de, em seguida ser, sumariamente, vilependiada, caluniada e processada. ( 25-3-67)

O homem, esse incontentado! Há de querer sempre melhorar ou, pelo menos, não decair de posição. Salvo se vivendo num ambiente de completo desamparo, agindo como um órfão da sorte e, assim, sem apôio, sem meios, sem inteligência, vai vivendo vegetativamente, à margem da civilização e do progresso! Mas o homem que se julga dinâmico e progressista, esse há de viver em eternas aperturas. Depois de casado precisa comprar ou permutar a sua residência; comprar ou trocar o seu carro... E hoje em dia, em que existe “crediário” para tudo e empréstimos bancários para nós e para nossos amigos, com fianças, avais, etc., então o caso é mais fácil no início, mas nos vencimentos, os sobressaltos são redobrados. E a vida sedentária prossegue até que, mais tarde, o homem incontentado lamentará... E quando reconhecer o seu direito de descansar, aproveitar a vida, então já não dá muito certo porque os percalços da velhice vem desestimulá-lo! Isso, quando um acidente automobilístico ou aéreo não vier antes por fim às suas correrias. E adeus às ilusões! ( 20-6-67)

“Se nem Deus com seu olhar penetrante e desvendador de consciência, nem Moisés com os Dez Mandamentos, nem Jesus com seus santos evangelhos, conseguiu purificar os costumes do mundo, o recurso é entender que a vida é assim mesmo”, pensava o pobre homem, fazendo voto de paciência, fé e virtude. Caim preferiu, em vez de arrepender-se, fugir, fugir sempre, errantemente... Moisés quebrou as tábuas da lei, diante de tanta ingratidão humana... Jesus, como Homem-irmão terminou seus gloriosos dias pregado na cruz, perdoando e ensinando, ( 2-7-67)

A verdade é que, pelo menos, duas coisas são propícias e indispensáveis para o homem vencer espetaculosamente na vida: honestidade e dinheiro. Mas, depois, se um destes dois atributos faltar, começa a periclitar a vitória da prosperidade... ( 7-7-67)

Poesia

Quem não crê em Deus não crê em nada.

Não crê na perfeição que existe.

Não crê no sorriso das crianças,

Nem nas lágrimas dos que sofrem.

 

Não crê na inteligência humana.

Não crê no cântico dos pássaros.

Não crê na beleza das flores,

Nem na poesia do firmamento.

 

Não crendo em Deus e não crendo em nada,

Sem esperanças e sem saudades,

Entende que tudo nesta vida

É bobagem, engano, ilusão.

 

Materialista e desventurado,

Em suas noites sem estrelas,

Não gozará o sublime enlevo

De chorar e confiar em Deus. ( 16-7-67)

Entre os fatores de sucesso na vida de um homem destaca-se o trabalho, que não depende exclusivamente da sua vontade. Se são muitos os predicados ¾  honestidade, inteligência, dinamismo, saúde ¾ necessários à vitória da criatura humana, somente o trabalho depende da vontade exclusiva do indivíduo. Assim, nem mesmo a honestidade depende só do homem, pois que estando doente, em estado patológico, pode deixar de ser honesto sem o saber ¾ enquanto que trabalhador sempre será, de alguma forma, querendo,embora sentindo-se  parcialmente enfermo. ( 3-8-67)

As criaturas humanas, imperfeitas dentro do mistério divino, não perdoam e guardam, às vezes, profundos ressentimentos, quando são vítimas de motejos de seus semelhantes. Portanto, para a pessoa que não puder colaborar, diplomática e delicadamente, para aliviar os chamados “pontos fracos” (defeito físico, enfermidade, deficiência, fealdade, antipatia, ignorância, pobreza, boa fé, etc.) de seu próximo, é preferível fazer “vista grossa”, deixando que o silêncio torne a vida “menos pior”... para ambos! ( 27-9-67)

Nada levamos desta vida, além da boa ou má história daquilo que deixamos. ( 15-1-68)

Diante do horror que se constata vendo e lendo jornais e revistas que trazem notícias da guerra no Vietnã, qualquer pobre mortal chega a fazer conjeturas assim: ¾ Estará certo o Governo Americano em continuar intervindo nessa luta horripilante no extremo asiático? Pergunta-se, por que lá estão morrendo centenas e centenas de pobres jovens “yankees” e milhares e milhares de miseráveis, civis e militares, filhos de ambos os malogrados vietnamitas... Em primeiro lugar, errados estão todos os participantes e incentivadores da luta, por falta de solidariedade humana! E, quem sabe, pensando conciliatoriamente, estariam menos errados os americanos se desistissem e sua intervenção e apressassem, desse modo, o fim dessa guerra desumana e cruel. De certo, depois disso, aqueles povos ¾ que são da mesma raça ¾ viveriam em paz, mesmo que, no início, houvessem vencidos e vencedores... Mas como ninguém lucra com a prática do mal logo os vitoriosos compreenderiam que, para bem governar, é necessário tratar com dignidade humana os governados. Mesmo que o recuo dos Estados Unidos propiciasse, no mundo, um avanço da ideologia comunista... Paciência! O horror que se verifica no Vietnã está invadindo a área do inconcebível. Quem sabe, um dia, o regime comunista venha a abrandar-se, transformando-se num socialismo cristão. Terminada a luta inglória do Vietnã, haja o que houver, se o futuro  governo tornar-se tirânico e pernicioso, o próprio povo ( soldado também é povo) procurará “derrubar o regime”, como tem caído todos os governos em que o povo, no país, não consiga ter uma vida digna da criatura humana, inteligente e racional que é feita à imagem de Deus (12-2-68)

Quando um homem pode considerar-se realizado? É muito relativo o problema. Se perguntarem isso a um jovem, que então já poderá ter idéias de homem feito, o mesmo dirá que é “tirar o diploma”, exercer uma profissão agradável e lucrativa,e assim colocar-se na vida e vencer. Para outro jovem seria casar-se com a mulher de seus sonhos e daí passar a viver no céu... Para um homem chefe de família é ver seus filhos emancipados e auto-suficientes,em alto nível. Na maior categoria estão os que querem ver seus descendentes casados e bem. Mas, como existem cidadãos que não se casam, os seus pais não deixarão de ser “homens realizados”, devido o celibato dos próprios filhos. Entretanto, para a maioria, “homem realizado” deve ser aquele que, tendo vivido mais de 50 anos ( idade comum de aposentadoria), sente, dia a dia, todas as alegrias e emoções de uma existência honesta, difícil, útil, e que, portanto, no dizer do poeta: “Não passou pela vida em branca nuvem”... ( 6.3.68)

Dizia o velho Ângelo Scroca: “Quem não defende seus direitos, não defende sua honra”, ou a própria vida! E o direito de dizer a verdade deve ser exercido mesmo quando essa verdade representa um elogio a um nosso ente querido e, em caso imperioso e esclarecedor, a nós mesmos. ( 28.4.68)

Muitas vezes o homem comete temeridades, arriscando a própria vida ou vidas alheias... A fatalidade deixa de acontecer por mera coincidência salvadora: ausência ou super-precaução do outro fator colidente... Mas, um dia pode acontecer a outra coincidência, a inversa e desastrosa, e depois da tragédia, sempre alguém há de dizer que nisso houve “culpa do destino”... ( 26.7.68)

O próprio Bom Deus é que, ao criar o homem a sua semelhança, quis pô-lo à prova nesta vida terrena... E tudo tendo criado antes, como primeiro símbolo dos contrastes, o dia e a noite, separando a luz e as trevas, quis que a criatura humana discernisse , com a sua inteligência, o real valor das coisas, boas e más... Pois que, se só criasse as boas, o tédio transformaria a face da terra num vasto campo vegetativo, sem progressos, sem poesia, sem artes, sem história, sem posteridade... (8-1-69)

Quando criança aprendemos as orações do catecismo decorando as suas palavras, maquinalmente. Aliás, decoramos todas as palavras do nosso vocabulário com as que começamos a falar: “mamã”, “papá”, nenê, “auá”, etc. Depois fomos aprendendo mais e mais memorizando sempre o significado das palavras por nós conhecidas, mas sempre maquinalmente... Aprendemos que com as nossas peraltagens “o Menino Jesus chorava” e que, por isso, “Deus nos castigava”... Só mais tarde, quase no fim da vida, é que, de nossa parte, começamos a ler e interpretar a Bíblia e sentimos que o “Pai Nosso” ( Lucas 11:2, Mateus 6:9) mais que uma oração bonita e sonora é sobretudo, um apelo e um voto. Suas excelsas palavras não podem simplesmente, ser rezadas ou declamadas. Foram feitas, isto sim, para serem compreendidas, sentidas, vividas, solenemente! Assim vejamos o seu significado: PAI ( protetor) NOSSO, QUE ESTAIS NO CEU ( no alto, de onde vedes, tudo podeis ) SANTIFICADO ( com a prova de nossos bons exemplos) SEJA O VOSSO NOME, VENHA A NÓS O VOSSO REINO ( e façamos por merece-lo ) SEJA FEITA A SUA VONTADE ( cumprindo os vossos mandamentos ) ASSIM NA TERRA ( entre os mortais, pobres pecadores) COMO NO CÉU ( entre os que estão desfrutando as glórias de Deus). O PÃO NOSSO DE CADA DIA ( o sustento durante a vida terrena) NOS DAÍ HOJE ( a cada momento), PERDOAI AS NOSSAS OFENSAS ( os nossos erros e omissões) COMO NÓS PERDOAMOS  A QUEM NOS TEM OFENDIDO ( ontem ,hoje e sempre ). NÃO NOS DEICEIS CAIR EM TENTAÇÃO ( que continua existindo entre os povos do mundo) MAS  ( porque somos fracos ) LIVRAI-NOS ( porque o podeis) DO MAL ( a que estamos expostos ). AMÉM. (30-3-69)

Sim, em verdade, a vida é uma luta: enquanto jovens procuram as criaturas humanas prosperar a fim de ganhar algum recurso para o futuro, quando suas forças escassearem... Mas, atingindo o homem a idade de 55/60 anos, se viveu com saúde, honestidade, inteligência e proteção divina, e com isso pode guardar algum bem material, é lógico que deve começar a pensar em diminuir a intensidade do seu trabalho lucrativo... e abrigar-se  num recanto acolhedor,de onde, descansando um pouco, poderia observar e orientar,e abençoar a luta dos que ainda são moços! Se não, mais tarde, bem no fim da vida, teria que reconhecer qua a sua “luta” foi inglória e impiedosa... (18-4-69)

A ida é ação ¾ feliz ou infeliz. A volta é reação ¾ prêmio ou castigo. Ir a algum lugar, na vida , todos vão. Fazer, alguma coisa na terra, todos fazem. Passar, pelo mundo, todos passam... Assim, o que é muito importante em todos os atos das criaturas humanas é saber-se, previamente, que reação os mesmos provocarão depois. Ir e poder voltar-se ao ponto de partida, de cabeça alevantada; agir e merecer uma reação dignificante ¾ esses são privilégios de que podem desfrutar as almas heróicas!... Há, por outro lado, o caso dos que podem retornar do caminho errado, como o "Filho Pródigo", e São Paulo na estrada de Damasco! Há, ainda, o caso dos que podem volver os olhos aos Céus, a Deus ¾ como criaturas que se dirigem ao Criador ¾ pedindo-lhe  seu amparo e proteção. "Vemos" um avião voando no espaço, mas "volvemos" nosso olhar ao Alto, quando, no infinito, nossa alma precisa reencontrar-se com o Pai Celestial.

( 28-6-69)

Alimento: mantém a vida do indivíduo; sexo: perpetua vida anima. Portanto, são as duas grandes necessidades vitais da criatura humana. (23-5-69)

A posição de líder é realmente importante. Precisando deliberar, tomar atitude, por iniciativa própria a maioria das vezes, se não tiver, nessas ocasiões, conhecimento de causa, poderá desmerecer aquela qualidade, decaindo para segundo plano. Não é fácil a missão e para isso é indispensável, em primeiro lugar, Ter sempre as antenas do "ouvido e vista” atentas aos assuntos sobre os quais não poderá, depois, alegar ignorância, principalmente se outras pessoas, interessadas no problema, se dispuseram a tomar-lhe a dianteira, de forma graciosa... Médico, dentista, cuja vida é um eterno plantão, equiparam-se aos líderes, para efeito de êxito profissional. Entretanto, engenheiro, advogado, etc. poderão, querendo, ficar comodamente na expectativa dos acontecimentos  e responder "amanhã eu vejo isso". Mas, os líderes que tem a obrigação de tomar a dianteira nas deliberações, se fizerem o mesmo  poderão deixar passar mais um "momento oportuno", desses que, para eles não voltam mais... ( 21-9-69)

Falando de sexo entendemos que o assunto é por demais rasteiro, chão, material, animal, para podermos falar disso às crianças que, como os passarinhos ainda correm e brincam, entretidas, com as belezas que a natureza contém. O debate da matéria deveria ser feito, isso sim, no sentido de defesa e de precaução, quando existisse perigo eminente. Do contrário, deixemos a sábia intuição humana, inspirada por Deus, que vá descobrindo as virtudes desse tabu, o sexo. Naturalmente, dentro da evolução da vida moderna colaboraremos e instruiremos a respeito do problema sexual, mais cedo do que em tempos passados, quando não existiam jornais e revistas, nem cinema, nem televisão, nem automóveis, nem psicotrópicos, nem os etecéteras, etecéteras que vem chegando por ai... (15-12-69)

Nós, as criaturas humanas somos, algumas vezes, reciprocamente, delinqüentes e vítimas, réus e julgadores, segundo os atos que quotidianamente praticamos. Esse julgamento é feito e linha horizontal, ou inclinada até atingir a perpendicular, do meio para baixo ou vice-versa. Isso conforme a posição em que nos encontramos, em virtude de nossos aparentes méritos, positivos, negativos e mesmo neutros, valores esses inatos uns, adquiridos outros, e que nos fazem desempenhar no grande teatro da vida, cada qual o seu papel.(20-12-69)

Na vida sempre há alguém procurando ajudar alguém! Portanto, toda criatura, vez por vez, é “alguém” que precisa ser ajudado, se não puder ajudar ninguém! Assim, havendo compreensão dessa verdade, não haverá interrupção da corrente da solidariedade humana! ( 20-3-70)

Por sermos bondosos, ainda que de modo facultativo ou quando formos procurados, poderemos ganhar o céu. Mas se não formos justos e honestos, sempre, além de excluirmos de nosso futuro a obtenção do céu, iremos, inapelavelmente ao inferno... nesta e na outra vida! ( 18-6-70)

Assim pensava o pobre homem: “O pouco de bom que tenho conseguido realizar na vida é fruto de minha grande fé em Deus, bem como da observância das minhas pobres teorias, nem sempre bem compreendidas por amigos queridos... Por causa das minhas atitudes suportarei, mais tarde, se preciso, mas sempre estoicamente, o peso do julgamento da posteridade!” ( 3-7-70)

Muitas vezes, na vida, temos que deixa sangrar o próprio coração a fim de, com as suas gotas preciosas, alimentar as esperanças da Terra querida. ( 21-7-70)

De certo modo correspondemos mais em favor daqueles que nos admiram e que nos elogiam, pessoas estranhas e, às vezes, indecifráveis, do que em favor dos nossos próprios familiares, que amamos profundamente e pelos quais daríamos, se necessário, tudo o que temos e até a nossa vida. ( 8-8-70)

Quando percebemos que estamos trocando ou não recordando do nome de pessoas e coisas sentimos dificuldade em rememorar fatos ocorridos recentemente...então é natureza que nos adverte no sentido de controlarmos os passos... pois que o crepúsculo da vida vem se aproximando... e se a noite escura nos surpreender em lugares distantes, em meio dos percalços dos negócios e das preocupações... a situação seria ainda mais desagradável para todos. ( 27-9-70)

A íntima convicção de honestidade é muito boa para qualquer criatura humana, principalmente para aquela que se encontra no fim da vida. Muito tolo e inocente, porém, é sempre quem,por se julgar honesto, se sente desobrigado de rebater os comentários desairosos que, a seu respeito, dizem que fizeram por aí... O melhor mesmo é procurarmos transmitir aos outros, não apenas a impressão, mas, se possível, também as demonstrações claras e indubitáveis de nosso bom procedimento. ( 1-12-70)

No mundo conturbado de nossos dias, quando a “revolução industrial” traz aos olhos de todos a situação de disparidade tão grandes, entre pobres e ricos, parece que o “hippies” querem dar o toque de compensação. Geralmente esses pobres moços são filhos de famílias burguesas, bem situados na vida, mas que por influências da escola, do meio social, leituras, observações e meditações próprias, de repente, fazem o “protesto”. E com a cruz de Cristo pendurada em colares exóticos, trajando roupas extravagantes, saem pelas ruas e praças exibindo pobreza, apatia, desmanzelo, num sinal de inócua revolta contra a guerra, contra as desigualdades sociais! Pobres jovens! Pobre mundo! ( 23-8-71)

Enquanto que os homens pobres podem dizer que, para sustentar a palavra empenhada, arriscariam a própria vida, os ricos podem se dar ao luxo de dizer, apenas, que preferem perder tudo o que tem, para não passarem por tratantes. ( 26-9-71)

Os que dizem que os problemas ( e atos) sexuais deveriam ser tratados com a mesma naturalidade com que são tratados os demais problema da vida animal, se esquecem que os homens são criaturas racionais, isto é, tem inteligência e por isso são diferentes dos demais animais, que nascem, vivem e morrem sem necessidade de higiene, de agasalhos e vestimentas, de alimentação amadurecida ou cozida, e os quais, ao final, insepultos são devorados pelos urubus ( 16-10-71)

Ao falar de sexo com o filho ou a filha adolescente e de outras questões do comportamento, usando e abusando da moderna fórmula de diálogo, os pais deveriam iniciar esse diálogo com três perguntas: 1) O que você acha da função animal do sexo? 2) O que você sabe existir de divino na ligação entre um homem e uma mulher através do sexo? 3) O que você sabe dos perigos do sexo? Em torno do assunto, a conversa deve ser mantida em lugar reservado, onde o diálogo possa prolongar-se pelo tempo necessário às conclusões, e num clima onde reine a máxima franqueza e lealdade. É que os costumes evoluem e, logicamente, o que era avançado para os pais, em matéria de procedimento dos casais de namorados, hoje, 20 ou 30 anos depois, aquele procedimento é considerado ingênuo e superado. Atualmente existe uma facilidade enorme para os jovens tomarem conhecimento das coisas, através dos livros, revistas, rádio, televisão, namoricos e bate-papos descontraídos,e ainda, em conseqüência do meio ambiente dos salões sociais e de espetáculos, passeios em automóveis  e andanças não-vigiadas... E quando os pais, ao tentarem, pela primeira vez, falar com os filhos sobre sexo, invés de darem orientação, recebem destes, muitas vezes, informações e relatos “prafrentex” que os deixam boquiabertos, diante de tanta surpresa e “perdição do mundo moderno”... Hoje existem métodos e recursos para tudo. E, na verdade, os filhos e filhas, na atualidade, sabem muito mais que os velhos pais em matéria de sexo... E daí? O mais prudente é começar o diálogo com perguntas complementares assim: “Por que?”, “Quando?”, “Como?”, “Onde?”... Só depois que os filhos se abrirem totalmente, em plena exposição sobre o que sabem, do que pensam e do que querem ainda saber, é que os pais devem começar a conversar dissimuladamente. Dizer logo no início; “isso não pode...isso não deve... isso não convém...isso não permitirei...”, não é diálogo, é apenas dar recados, fazer imposições. Jamais comunicabilidade entre criaturas humanas, entre semelhantes, pais e filhos. Pode até ocorrer que os pobres pais, do fundo de sua boa fé, simplicidade e alheiamento aos problemas do mundo moderno, venham ser taxados de ignorantes!... E para evitar que nesse tipo de diálogo, feito antes de um passeio ou depois de uma viagem em que o filho participou, haja estremecimento, é melhor primeiro conversarem sobre o assunto os pais e depois, os três em conjunto, fazerem a entrevista, tipo mesa redonda, e desse diálogo muita orientação útil poderá advir evitando-se assim os traumas, as incompatibilidades e desajustes, com reflexos negativos tanto no lar, como na sociedade, onde os jovens, isso sim, deveriam desfrutar de uma vida tranqüila e feliz. ( 16-10-71)

Refletindo sobre as ingratidões humanas... Não direi como Carrier, terrorista francês por cuja crueldade fora condenado à guilhotina, quando, vendo-se diante da máquina sinistra e no momento em que era apupado pela população, pronunciara este terrível desabafo: “Oh! Povo ingrato e vil, quanto me arrependo de vos ter servido!”. Não. Não cabe a comparação, mas lembrar-me-ei apenas do Divino mestre, que depois de doar todo o seu amor e sua vida em favor da humanidade, fora crucificado pelo seu próprio povo, apesar da opinião contrária do procurador romano, Pôncio Pilatos. Pedirei ao Rei dos Judeus, ao excelso Cristo que me dê estoicismo para raciocinar assim: Em vez de queixas, agradecerei ao Bom Deus por haver destinado a mim tão altos cargos e dar-me também a oportunidade de tentar ser útil aos meus semelhantes. ( 23-10-71)

O jeito é disfarçar. Se o homem sentir alguma deficiência, seja intelectual, psíquica, orgânica, física, financeira, social, política, etc., deficiência que, de qualquer modo, provoque uma perturbação em sua vida rotineira, em conseqüência disso, começar a fazer pequenas e veladas divulgações do que lhe vem acontecendo... em breve perceberá que “todo mundo sabe disso”... Em seguida ocorre a diminuição de seu prestígio... E a sua situação, e a sua personalidade, até então respeitáveis , passam a ser postas em dúvida... Por isso que a voz do povo diz que “todo homem é bom e perfeito até que surjam provas ou indícios ao contrário... E pronto! É mais um homem fracassado!

Pessoas há que, possuindo poucos estudos, mas bons ledores de jornais e revistas comuns e, também, bons observadores do que acontece na vida, adquirem autodidaticamente relativos conhecimentos sobre vários assuntos e problemas. Seriam até capazes de discutir com técnicos e especialistas em certas matérias... Mas, se o debate aprofundar-se, encrespando-se os ânimos, então tais abelhudos poderão soçobrar. E como um bom nadador, acostumado a se exibir em piscinas e lagos serenos que um dia entende que também poderá fazer as mesmas proezas na águas do mar, mesmo quando as ondas começam a encapelar-se... ( 20-2072)

Cada missão é um encargo e representa uma etapa de nossa vida. Ao final de tudo, voltando os olhos ao passado, devemos agradecer, mais uma vez ao Bom Deus pelos mínimos êxitos alcançados, e estender a nossa gratidão aos nossos pais, aos nossos irmãos, ao nosso cônjuge, aos nossos filhos e aos nossos amigos. Eis aí formada a grande árvore que, entrelaçada a outros troncos e ramagens, familiares e amigos, constitui sociedade no bairro, na cidade, na nação. Aquele que alcançou a velhice e viveu bem no seio da família e da sociedade deverá, na hora extrema, erguer os olhos ao alto e repetir: “Obrigado meu Deus!”. ( 31-8-72)

Finados ¾ O homem nasce! E chora porque alguma coisa mudou ou falta em sua vida! Depois vai crescendo! E começa a observar, a sentir, a pensar! E a querer bem a todos que o cercam, em primeiro lugar os mais próximos. Depois quer fazer-se entender com olhares, com sorrisos, com carrancas, com gestos, com palavras balbuciadas! E ao iniciar os primeiros passos mais parece um autômato desequilibrado... E demonstra ter medo do escuro, dos gritos, dos estrondos! E chora de novo! Depois, aprendendo com os outros, deseja distinguir as coisas boas das coisas más. Depois os mestres lhe ensinam as primeiras ciências, enquanto a própria vida vai ensinando as demais. Depois vem a juventude, as primeiras fascinações, os primeiros sonhos, os primeiros amores, as primeiras contrariedades, os primeiros desenganos. Depois, dentro da realidade do mundo, novos anseios e novas frustrações! E chora em segredo... Depois a procura da verdade! E, filosofando, analisa a própria existência e a dos seus semelhantes: quanta quimera, egoísmo, tristeza, desespero nos corações dos homens, que bem poderiam, todos eles, ser felizes. Há os que vencem e os que fracassam. Os que caem e depois se reerguem. Há os que tombam para sempre! Pausa! No fim, o obre homem, velhinho e com lágrimas nos olhos, volta o seu pensamento para o passado, já que não pode mais alcançar o amanhã inatingível! E para definitivamente... E, nesse momento, sempre haverá alguém, que com amizade e em nome de Deus, chorará por ele! ( 2-11-72)

Os “ricos” são os que possuem bens, objetos e posições, enfim partes daquilo que interessa a quase todos e que a muitos faz falta. A mentalidade dos “não ricos” gira em torno da percepção de que para os afortunados é tudo fácil e possível e que, portanto, querendo poderiam solucionar todos os problemas lhes apresentados e que deixam de corresponder aos anseios de seus solicitantes, por descaso e má vontade... A maioria dos queixosos não é contra, propriamente à pessoa do “rico” ou de sua família, mas não esconde o seu despeito quando os acontecimentos põem em destaque, ainda mais, a sua boa situação. Por isso tudo, os “ricos” são muitas vezes ludibriados pelos que, na vida comum, se dizem seus amigos. E como é muito cômodo, pelo método simplista, fazer demagogia, responsabilizando uns pelas dificuldades dos outros, os “não ricos” são, com extrema rapidez, convencidos a engrossarem as fileiras daqueles que gostam de atirar pedras nos que estão mais no alto! ( 18-11-72)

A criatura humana possui uma porção de predicados, próprios ou adquiridos, que se constituem em elementos positivos, ou seja, demonstração de força e, em caso contrário, não os possuindo, a situação passa a ser negativa e de fraqueza. Esses elementos positivos uma vez bem aplicados, ou mal disfarçados se ausentes, poderão conduzir a mesma criatura ao êxito ou ao fracasso: 1) Vigor físico; 2) Inteligência; 3) Boa postura; 4) Tradição de honradez; 5) Belos traços fisionômicos e bom senso; 6) Gênio artístico; 7) Bens de fortuna; 8) Padrão de vida exemplar na família e na sociedade; 9) Influência de boas amizades; 10) Crença em Deus e respeito às coisas sagradas. ( 10-12-72)

Meditações em tempo de Natal ¾ I) Não há, no mundo, ninguém que não precise de ninguém, assim como não existe ninguém que não possa ser útil a alguém. II) Ah! Se a vida, o mundo fosse como um grande lago plácido, sereno, iluminado pelos albores de um novo dia, em cujo céu existissem nuvens, umas claras  e outras escuras, por vontade de Deus, e ao caírem as primeiras gotas de uma chuva sem vento estas formassem milhares de milhares de círculos harmônicos, irradiantes, uns ligando-se aos outros sem entrechoques, sem ciúmes, sem despeitos, mas entrelaçando-se com amizade, com renúncia, com amor. III) Em se falando de solidariedade humana, o ideal seria que os homens afastassem de seus corações as antipatias que sentem por determinadas pessoas ¾ que em nada contribuíram para  isso ¾ bem como não permitissem que a indiferença pelas necessidades de seus semelhantes, especialmente vizinhos, amigos, parentes, edificasse em suas almas uma muralha de apatia e egoísmo! IV) É, infelizmente, comum deixarmos de ser simpáticos para certos “amigos” desde o momento que os procuramos para pedir-lhes algum favor ou atenção que lhes importe, embora tão somente, em perda de tempo e, quiçá, de comodismo. Igualmente são considerados inteligentes, dignas de estima, as pessoas prósperas em seus negócios e acontecendo o inverso até os “amigos” que se diziam mais íntimos praticar o feio pecado do descaso e da ingratidão.( 24-12-72)

Oração ¾ Perdoai-nos, ó Deus nosso, se a partir das 22 horas do último domingo, dia quatro, quando uma grade dor se abateu sobre nossas vidas de pai e mãe. Sim, perdoai-nos, ó Deus onipotente, se em face do enorme sofrimento de nossos corações, junto com os soluços que subiam do nosso peito, junto com as lágrimas que continuam inundando os nossos olhos, perdoai-nos, ó Deus misericordioso, se, nesses momentos, não contivemos as nossas queixas e, elevando o nosso pensamento ao Alto, perguntamos algumas vezes: Por que, ó Deu nosso, castigaste-nos tão rudemente? Perdoai-nos, por isso, ó Pai Nosso, que estais no Céu, e que guardais agora, junto de Vós, o nosso querido filho José Carlos, e vos pedimos dizer-lhe que mantemos a sacrossanta esperança  de também, um dia, quando formos convocados por Vós, podermos estar novamente ao seu lado e assim ir tributa-lhe tantos beijos quantos, dia a dia, momento a momento, lhes estamos enviando daqui de baixo, daqui deste “vale de lágrimas”, onde, aqueles outros entes queridos que ele tanto amou e ama ainda, continuam precisando de nós. Perdoai-nos, Senhor, e não permitais que se afastem dele e dos demais ente queridos as Vossas e as nossas eternas bênçãos. Augusto e Mile, 11-2-73

E assim continuou pensando o pobre homem: já que o Bom Deus determinou fizéssemos doação de uma preciosidade destacada das raras e imensuráveis que possuímos nesta vida, não devemos lamentar a dura sorte... sob pena de praticarmos o feio pecado do egoísmo e arrependimento. ( 24-2-73)

Ontem, hoje, amanhã ¾ Nossa vida, nosso amor, nossas lágrimas... Se não reagirmos o que será de nosso futuro... futuro de nossos queridos que tem, em nós, a fonte dos principais exemplos que podem e devem receber em sua existência. ( 8-4-73)

As estradas, como as selvas insondáveis, são cheias de perigos e surpresas... Andando-se nelas, as pobres criaturas de Deus, em trânsito por esta vida, estarão sujeitas, a todos momentos, a pequenas e grandes fatalidades. ( 13-5-73)

Nascer...

Crescer...

Viver...

Chegar!

 

Mas, chegar aonde?

- Ao momento presente!

 

Todas vibrações desta vida,

Tendo aquilo que a alma sente,

Está no instante que passa,

Está no momento presente!

 

Depois...

Depois, na confusão das ansiedades,

Tudo termina, só restando as saudades! ( 9-6-73)

A vida

A vida

Tão Querida,

Como o tempo que passa,

É igual à fumaça,

Que esvoaça,

Para depois subir

E no espaço sumir...

 

Mas a saudade,

Essa imensa verdade

Que conosco fica,

Se edifica,

Em nosso pensamento

E em nenhum momento

Nos deixa,

Apesar de nossa desejosa queixa

De olhar aos Céus

E perguntar a Deus:

Por que?...

... Por que?! ( 10-10-73)

A vida é curta demais para ser mal vivida, tanto mais sabendo-se que a sua história sim é que poderá durar uma eternidade. Apenas dois exemplos: (I) Cristo e Iscariotes e (II) Tiradentes e Silvério. ( 8-2-74)

Se Alexandre Hamilton  e Aarão Burr tivessem sabido quanto erravam ao não terem um pouco mais de paciência e tolerância, a vida do primeiro não teria sido sacrificada, livrando-se, o segundo, de um futuro amargurado pela lembrança do estúpido duelo... também porque, depois, via se regra, a “nobre e pobre vítima” haveria de receber a glorificação! (6-1-75)

Cada dia é um novo dia. O dia de amanhã é uma nova esperança e por isso no dia de hoje nada há plenamente perfeito e acabado. Vivemos de esperança! Penso que nada é insolúvel neste mundo e nada é irremediável enquanto houver vida. ( 4-9-76)

Os artistas deixam lembranças de suas vidas através do testemunho e suas obras. E os pobres homens comuns? Para eles seria consolador se, em vida, tivessem deixado provas, pelo menos, de seu espírito de justiça e de honestidade. ( 8-12-76)

 “Lembrai-vos de mim quando estiverdes no Reino de Deus...”disse São Dimas, o bom ladrão, a Jesus Cruxificado. E o pobre homem pergunta: O que é estar no Reino de Deus? Deve ser, estar a criatura humana com a alma em plena graça. São Dimas foi paciente e devoto quando disse: “Lembrai-vos de mim...”em vez de “salvai-me”, certo que se referia à vida eterna e não mais à vida terrena. Feliz aquele que no momento extremo, puder dizer ou deixar dito aos seus amigos: “Lembrem-se de mim em seus momentos de graça, em suas orações, isto é, quando seus pensamentos estiverem em pleno Reino de Deus”. Apenas isso. E essa seria a maior glória para quem teve longa vida: poder pedir, ao final, alguma paga àqueles em cuja familiaridade conviveu, e aos quais tanto amou. ( 4-2-77)

Na vida, de previsto e definitivo, só existe a morte. O mais é tudo indeterminado, aleatório, misterioso... Assim, toda a criatura deveria bem refletir e criteriosamente proceder, como quem pretendesse, ao partir para o além insondável, deixar, sobretudo, realizado um sublime ideal: boa reputação entre os justos, seus conterrâneos, ( 8-5-77)

Perguntas... ¾ Você está sendo, na vida, um homem de pensamento, isto é, escritor, poeta, compositor, jornalista, filósofo?; ou um pintor, desenhista, escultor, músico, cantor, esportista; ou um cientista, descobridor, inventor, incentivador de causas justas e benfazejas?; ou um político de procedimento honesto e abnegado, renunciando às vantagens pessoais?; ou pertence a uma associação de filantropia e é ativo em obras de justiça e bondade?; ou praticou ação altruísta e até heróica em defesa do seu semelhante necessitado ou em perigo?; ou é propagador de normas de sabedoria e humanismo, segundo a moral cristã e de outras crenças puras? Se você respondeu “não” a tudo isso e quejandos, então sua vida, ao final, será considerada inútil e após a sua morte você será logo esquecido... não obstante sua notoriedade e até os títulos nobiliárquicos que, em decorrência de sua posição social ou de fortuna, granjeou ou lhe foram adulatoriamente atribuídos. ( 15-1-78)

Tem vez em que é bom apareçam nuvens cinzentas, tanto no céu como na vida dos homens, para que estes se lembrem que, acima de tudo e de todos, existe Deus! ( 9-4-78)

Qualquer pessoa que se preza com ativa e inteligente, sempre poderá fazer “algo mais” em sua vida. Pelé e Roberto Carlos poderiam ter-se fechado em suas glórias de campeões, desfrutando apenas dos louvores e homenagens que os seus admiradores, aos milhares, não se cansam de lhes proporcionar. Pelé, ao marcar o seu milésimo gol, no estádio do Maracanã superlotado, num momento de supremo esplendor em sua carreira esportiva, invés de erguer os braços e receber as ovações da multidão delirante, apenas pegou a bola e beijando-a ( quem viu jamais esquecerá!) disse chorando que dedicava aquele milésimo tento a todas as crianças pobres do Brasil! Igualmente, Roberto Carlos há pouco ao patrocinar a campanha de abertura do “Ano Internacional da Criança” e o “Ano Um da Criança Brasileira”( 1979) deu um tocante exemplo de “algo mais” que ele, não obstante sua imensa popularidade, quis fazer em favor de humildes crianças brasileiras, comandando por 24 horas ininterruptas, a inesquecível programação da “Globo”. Todos, desfrutando de saúde de espírito e corpo, temos momentos de bem estar ¾ e todo dia é um momento de glória ¾ e assim qualquer criatura está apta a realizar “algo mais” em benefício de alguém e, afinal, de si próprio. ( 4-3-79)

Se o homem tiver de lutar e muito para defender a sua honra, é preferível que, nesses infindáveis embates, venha a perder a própria vida. Porque se deixar de lutar e depois vier a perder aquilo que tem de mais sagrado ¾ a dignidade ¾ e se conformar em não retornar à luta, de certo sentirá, mais tarde, quanto inglórios e vergonhosos foram seus pobres dias na face da terra. ( 15-04-79)

Minhas  Crenças ¾ I) Creio em Deus  II) Creio em dois Céus: no primeiro, de que nos fala a Bíblia e  do qual muitos duvidam; e no segundo, que todos devem respeitar, constituído pela consciência do Povo, que o concede ou o nega a cada um, segundo o seu procedimento durante a vida terrena. III) Creio nos milagres do amor: do amor de todos os amores, do amor sublime entre os homens, criaturas de Deus; do novo amor, que se inicia quando a jovem mãe sente pulsar em seu seio a vida do filhinho querido; do amor verdadeiro que sente o pobre velho quando, nos seus últimos momentos, deseja ter em torno de si todos aqueles a quem sempre trouxe em seu coração.  IV) Creio nos milagres da Humildade que faz o homem reconhecer no seu próximo um seu semelhante e, por isso, infunde em seu coração o desejo e o dever de dispensar-lhe fraterna e até abnegada consideração. Humildade que impõe ao homem teimar apenas sobre aquilo que sabe; não sonegar aos outros o que sabe e lhes é útil; confessar sua ignorância e perguntar, inclusive às criaturas mais simples , sobre o que tem obrigação ou necessidade de saber. V)  Creio nos milagres do Trabalho, honrado e perseverante, que, se antepondo ao desânimo, produz benefício a quem o executa e, ao mesmo tempo, extensivo aos seus próprios entes queridos, membros da comunidade universal. VI) Creio nos milagres da Honestidade, que desde os primórdios da criação do homem, vem sendo exaltada nas páginas da história, quanto aos que a praticam com nobreza e sinceridade. E há de continuar representando na existência de cada um, para a própria consciência, supremo conforto, ainda que as calúnias e as mentiras humanas pareçam deslustra-lhe a reputação.  VII) Creio nos milagres da Renúncia, que faz a pobre criatura tolerar e perdoar as ingratidões humanas, ainda que não as possa, voluntariamente, esquecer, talvez assim evitando sua maldosa reincidência; creio na renúncia de que nos  o Divino Mestre: “Ao que lhe disputar a túnica, cede-lhe também a capa’ ( Mateus 5:40).  VIII) Creio nos milagres da Bondade, que começa com um sorriso e termina com uma lágrima, bondade que torna melhor o nosso mundo interior e procura levar a possível felicidade ao mundo dos outros; bondade que é luz, calor, amparo, caridade, amor e que, em certos momentos, encherá nosso coração e emoção e nossos olhos de lágrimas, quando a dor, às vezes sem remédio, atingir vidas e coisas criadas por Deus para o bem estar da coletividade terrena.  IX) Creio nos milagres da Justiça, aureolada pela bondade cristã que, em nome da verdade, sem omissão e com honradez, procura exaltar a virtude e condenar o vício, infundido nas criaturas humanas fé e confiança no futuro, assegurando-lhes a proteção necessária e sã liberdade em suas andanças por este “vale de lágrimas”.   X) Creio, de novo, agora e sempre, em Deus, na sobrevivência da alma e na vida eterna, onde estarão juntas as pobres criaturas humanas que tanto se amaram neste mundo. ( 12-6-79)

Testemunhos ¾ 1) Passei a considerar-me um homem totalmente realizado, quando, em 1951, nascia o quarto ( 24.10.51) dos meus queridos filhos, frutos de um matrimônio abençoado por Deus. Por coincidência, nesse mesmo  ano ( 12.10.51), os planos de instalação da “sonhada usina de açúcar” em Rio das Pedras, começavam a se tornar realidade. 2) Eu me lembro, devia ter então cerca de 5 anos, que tendo sido acometido de uma erupção de pele, denominada “cobreiro”. A enfermidade que se iniciara nos pés, já ameaçava atingir o ventre, certa manhã reuni todos os santinhos que minha irmã Mariquinha me dava e o que havia ganho nas aulas de catecismo e... quase chorando, beijava todas aquelas lindas figurinhas de Menino Jesus, Nossa Senhora ( e Aparecida), São José, Santa Terezinha e outros santos e pedia que não permitissem a minha morte visto que desejava, quando crescesse, escrever um livro sobre a vida!... E hoje, aos 65 anos de idade, eu me pergunto: terei cumprido, em inexpressiva e pequena parte, aquelas promessas de criança inocente, rabiscando ou transcrevendo estes pobres pensamentos, nestes três cadernos? Queira Deus que o título “A Vida...O Mundo...”, escrito há 32 anos atrás, não tenha sido muito desmerecido...Não posso deixar de mencionar aqui e render uma singela homenagem a “velha Maguarecci” que, com seus benzimentos e tinturas, também colaborou para deter o avanço daquela enfermidade. ( 13-6-79)

Para um pobre homem, avançado em idade, uma das coisas mais importantes na vida ¾ depois de sua crença em Deus e amor a sua família, dentro da qual sempre há de incluir alguns bons amigos ¾ é  a realização, pelo menos em parte, dos seus ideais muitos deles alimentados em seu coração desde os primórdios de sua existência. ( 27-2-80)

Não é ateu aquele que, mesmo não crendo em Deus ¾ Criador, Onipotente e Onipresente ¾ acredita, com firmeza e amor, em determinadas coisas e teorias postas em dúvida pela grande  maioria dos homens. Essa crença já é uma demonstração anti-ateista. Ateu, em verdade, é aquele que, descrente de tudo, encara o mundo e a vida com indiferença e, até, aversão. ( 23-3-80)

Soneto

Um dia a nossa vida acaba...

E não tem mesmo que acabar?

Então sobre nós desaba

A morte que tardou a chegar.

 

E a sorte por nós sonhada

Deixa de se realizar...

E a perfeição almejada

Alguém, de novo, irá tentar.

 

Porém será muito feliz

Aquele que, nesse momento,

Nenhum esclarecimento,

 

Além do que disse e diz

Terá obrigação de fazer,

Nem, de nada, se defender. ( 15-6-80)

 “A Propriedade é um Roubo” (Proudhon – 1809-1865) ¾ Sim! A propriedade é um roubo, quando: (1) Latifundiários sonegam à produção suas extensas e férteis terras, não aceitando parceria de colonos e se invadidas usam o braço de jagunços para escorraçar dali famílias de trabalhadores que acabam, depois, passando fome por não poderem cultivar e desfrutar uns míseros pés de mandioca, de milho, de arroz, de feijão, etc.; (2) Industriais lucram fortunas todo ano, enquanto pagam relativamente sempre menos aos seus numerosos e infelizes operários, cujo poder aquisitivo se torna cada vez mais insuficiente em face do custo de vida, em alta crescente; (3) Comerciantes roubam no peso, no preço e defraudam na qualidade, elevando sempre os valores dos gêneros de primeira necessidade, acima do razoável, do justo, do admissível, do legal; (4) Senhorios que, possuindo casas destinadas  a arrendamento, que se contam às dezenas, e que, gananciosamente, direta ou por intermediários de impiedosas administradoras, aumentam os seus aluguéis, promovem, por quaisquer motivos, despejos judiciais, mesmo quando os inquilinos são humildes famílias, merecedoras até de misericórdia; (5) Hospitais recusam, por seus responsáveis, sob as mais variadas e falsas argumentações, a internação ou tratamento condigno a enfermos carentes, mesmo em casos de possíveis riscos de vida e, quando internados em estado desesperador trata-os com displicência e, ao final, usam as mais absurdas alegações em face de seu reprovável procedimento; (6) Médicos e dentistas cobram duas, três ou mais vezes que a maioria de seus colegas, agindo como mercenários que amealham, em pouco tempo, altas rendas e as imobilizam em terrenos, prédios, fazendas, e quando constroem suas moradias optam por verdadeiras mansões; (7) Escolas Particulares transformam-se  em casas de negócio, agindo seus responsáveis como autênticos “vendilhões do templo” cobrando taxas e mensalidades exorbitantes, que atrasam os pagamentos, pouco lhes importando os motivos, às vezes, os mais pungentes; (8) Professores são, sobretudo, relapsos e irresponsáveis e que possuindo cargos não executam encargos e assim descumprem o que pregava o Divino Mestre: “Ide e ensinai a toda gente”. Ao contrário, desfrutam das sinecuras e influências de seus altos postos, promovendo apenas gestões em defesa de seus interesses familiares. Logicamente existem honrosas exceções mormente entre beneméritos professores primários; (9) Funcionários públicos, principalmente os mais graduados, na área do próprio governo, das autarquias e estatais, pouco comparecem as suas repartições e escritórios e quando comparecem sendo “chefes”, o fazem acompanhados de figurões, sempre ávidos de obter favorecimentos, infelizmente, às vezes, recíprocos. Com isso os processos fiscais e burocráticos vão se acumulando, sendo que alguns poucos, de interesse de privilegiados, são passados à frente e atendidos, enquanto a quase totalidade fica às calendas, mesmo quando está em jogo o erário do país; Políticos que se dizem “defensores da pátria” (a maioria) mas apenas defendem a si próprios, sejam eles da situação ou da oposição e primam por deturpar a palavra “política” ( ater de bem governar) desservindo e espoliando a nação, em detrimento da grande massa de trabalhadores, aos quais são sonegados os mínimos benefícios que merecem as criaturas humanas. Enquanto esses “padrastos” da pátria não se revestirem de auteridade, de coragem cívica no combate á corrupção de espírito de justiça, de respeito aos direitos dos cidadãos, do propósito da exigência de que todos cumpram os seus deveres conforme a lei ( Ora a lei!...) e ainda enquanto a palavra “”política” não deixar de ser depreciativa, então o nosso querido Brasil ¾ seu sofrido povo, especialmente seus milhões de desamparados e quase desesperados ¾ não caminhará para o seu verdadeiro destino de redenção. ( 13-6-81)

Sempre ouvimos falar de pessoa que, pobre na sua juventude, hoje é detentora de grande fortuna, dona de prédios, fazendas, indústrias, verdadeiro império financeiro. E surgem indagações: “Em que ano adquiriu a sua primeira propriedade?” Mas, nesse tempo, já existiam outros donos de impérios, que haviam começado pobres 10, 20, 30 anos antes. Portanto, a história se repete. Já os primeiros livros históricos, inclusive os da bíblia, se referem a homens ricos e pobres, que antes não o eram. Assim, hoje qualquer criatura humana pode começar novo ciclo de grande fortuna, sendo certo o ditado: “Nunca é tarde; sempre é tempo”, e, por outro lado, não é procedente a afirmação: “O tempo bom já passou”. E a vida continua... ( 18-10-81)

A criatura humana deve conhecer por conta própria, quase que por intuição, os perigos e armadilhas que a vida, no seu dia a dia, oferece. Quando, segundo a mitologia grega, Ícaro, como seu pai Dédalo, construiu asas para voar, foi-lhe recomendado para que não voasse alto, também porque as asas eram ainda  de experiência e assim ligadas ao corpo por uma cola, tipo cera, que, com o calor, poderia derreter-se e, aí, conforme a altura, a queda seria fatal. Não obstante voou alto demais, próximo ao sol e deu-se a tragédia... Quando crianças, primeiro carregam-nos no colo e depois conduzem-nos pelas mãos. Mais tarde, conforme vamos crescendo, apenas avisos. No início as advertências são minuciosas e exemplificadas. Depois só orientação e o adolescente tem que fazer deduções em face da situação, da coisa, do fato, do ato... E começam nos dizendo: “Olha o degrau, olha o fogo, não toque na faca...”. Depois, “olha a rua, não corra, dirija com cuidado, não ande em más companhias, não arrisque a saúde, seja honesto, tenha juízo!”. Depois ficamos quase sozinhos... E a própria vida nos ensinando algo mais... ( 2-11-81)

Não se conhece, na história, nenhum avarento que, em vida, tenha ficado pobre, monetariamente... ( 22-12-81)

Se os homens infelizes que, em vida, realizaram grandes obras, sejam na filosofia, literatura, escultura, pintura, música, filantropia, humanismo, etc., e que, muitos morreram no anonimato, ostracismo, penúria, martírio, pudessem reviver no mundo de hoje e avaliar os benefícios que, imorredouramente, o seu estado de sofrimento produziu, de certo, se sentiriam compensados, em incontáveis vezes, agradecendo até ao Bom Deus por ter-lhes concedido, naqueles amargos e saudosos tempos, tanta sabedoria e acerto... ( 14-2-82)

A consciência do homem é como um mini-Deus ( isso, não do homem pecador, farisaico, hipócrita, mas do homem crente) porque acha que Deus é a extensão da própria consciência. Esse homem-consciência, quando comparecer diante de Deus para prestar contas de sua vida terrena, poderá julgar-se feliz se puder afirmar: “Senhor, fui prejudicado mais do que prejudiquei os meus semelhantes, talvez sem querer ou por omissão e não guardei rancor de ninguém. Perdão, Senhor!”. ( 24-04-82)

Ninguém cria nada de nada, nem nada faz sem o apoio de coisas ou elementos existentes. Disso, somente o Bom Deus, que não teve principio nem terá fim, é capaz. O próprio filho de Deus, Jesus, Deus feito homem, contou, em sua vida pública, com a cooperação e assistência de apóstolos e discípulos, criaturas humanas imperfeitas, algumas das quais não creram nele e até o renegaram, de início. Para fazer o seu primeiro milagre, nas festas da bodas de Canaã, contou com a ajuda dos empregados dos noivos, que lhe trouxeram jarros contendo água pura, quando o vinho que era servido se havia acabado... Por isso, enganam-se, redondamente, os homens que se julgam donos da verdade, mais sábios e capazes do que seus semelhantes. Muitas vezes, quando simples problemas, sujeitos a várias interpretações, lhe são apresentadas, impõem soluções precipitadas e condenáveis, invés de, com um pouco de humildade, solicitar a opinião de outros  interessados e conhecedores do assunto, procurando assim encontrar a solução final, se não absolutamente correta, pelo menos a melhor no momento, em face da situação e com a vantagem de dividir responsabilidades... ( 20-5-82)

Mocidade moderna ─ Pais  e filhos. Os pobres pais se indagam aos seus parentes, amigos, vizinhos, o que fazer para que os filhos adolescentes não sejam envolvidos pelas más companhias e tentações que cercam o chamado “mundo moderno”, instável e corrupto, que infelicitam tanto criaturas e lares... O que fazer? Primeiro, confiar em Deus e nos ensinamentos de virtude e pureza de Cristo Jesus. Depois, sair da situação de mero espectador e dar bons conselhos e, principalmente, bons exemplos. Praticar boas ações e ajudar o seu próximo necessitado. Esquecer o passado, se for o caso, e praticar o “bom combate”, como São Paulo Apóstolo. Lembrar que Cristo é perdão, amor, misericórdia. Nada de represálias, inveja, egoísmo, menosprezo! Orientar, com palavras carinhosas, seus companheiros e bons amigos, aconselhando-os a se desviarem das ciladas que a própria vida arma constantemente, contra inexperientes e principiantes... Depois, os pais, que se mantenham na confiança em Deus e nas lições do Evangelho, e se ainda, no final, novas provocações sobreviverem, não perder, jamais, a sublime esperança de que, um dia, o Divino Mestre, ouvirá nossas preces e não nos deixará faltar suas sacrossantas consolações, pois Ele mesmo disse “os que preservarem até o fim serão salvos”. ( 12-6-82)

Somente agora ─ quase dois mil anos depois que o Divino Mestre legou a todos os povos a sua sacrossanta doutrina, defendida primeiro por seus apóstolos de discípulos, depois divulgada pelos seus quatro evangelistas, por São Paulo e por milhares de outros homens de fé e de letras ─ é que a filosofia cristão vem sendo posta em prática em sua essência. E hoje, na maioria das vezes, contra o poder  de governantes ditatoriais, voltando assim as suas verdadeiras origens, em defesa das criaturas carentes de pão e de justiça. Durante os primeiros trezentos anos os ensinamentos do Divino Mestre viveram quase que na clandestinidade, até quando o imperador Constantino, pelo Édito de Milão, no ano de 313, considerou a religião cristã como oficial do Império Romano, atribuindo-se, entretanto, “oficialmente”, a condição de grande pontífice e chefe da nova Igreja, proclamando, desde logo, que seu governo monárquico era de “direito divino”. Infelizmente, já naquele tempo, o sacrossanto símbolo cristão, a cruz, começou a ser utilizada para fins belicistas, havendo o próprio Constantino mandado desenhar a cruz em seus estandartes, adotando também, o lema “In Hoc Signo Vencis” recrudescendo então novas guerras de conquista, esquecendo, portanto, do que havia afirmado o próprio Jesus diante de Pilatos: “Meu reino não é deste mundo”. As próprias cruzada, que se arrastaram pela Idade Média afora e que sacrificaram milhares de vidas inocentes, se desviaram da filosofia de Cristo, expressa especialmente no Sermão da Montanha. Depois, outra página negra foi escrita em nome do catolicismo, ao tempo da nefanda Inquisição, comandada por imperadores e, também, por altos dignatários da própria Igreja, quando, a título de combater heresias, foram cometidas inomináveis barbaridades, devendo aqui mencionar apenas um exemplo: o sacrifício de Joana D’Arc, queimada em praça pública na cidade francesa de Rouen. Não devemos omitir as perseguições sofridas por pensadores e filósofos nos últimos tempos, levadas a efeito pela tirânica aliança Estado-Igreja, citando apenas três nomes: Spinoza, no século XVII, Voltaire, no século XVIII e Victor Hugo, no século XIX. Graças a Deus, principalmente depois da Encíclica do Papa Leão XIII, “Rerum Novarum”, publicada em 15.05.1891 e do Concílio Ecumênico Vaticano II, a posição assumida pela Igreja Católica, em verdade. É de defesa dos humildes, dos carentes, dos sofredores, dos injustiçados, recomendando a todos, ao mesmo tempo, pobres e ricos, fracos e poderosos, a prática real da virtude, do amor e do perdão, segundo os ensinamentos de Cristo Jesus. Disso vem dando provas, as mais evidentes e insofismáveis, o Papa João Paulo II, que atacado e mortalmente ferido pelo terrorista turco Mehemet Ali Agca, durante uma concentração na Praça de São Pedro, em 13.05.81, já no hospital e ainda sob sério risco de vida ─ disse, referindo-se ao criminoso: “ Dele não guardo mágoas e sinceramente o perdôo”. Um ano depois, em Fátima, onde comparecera para comemorar o 65° aniversário da aparição da Virgem Maria a três jovens pastores ( 1..05.1917) o mesmo João Paulo II fora novamente ameaçado e quase atingido a baioneta por um sacerdote tradicionalista ( portanto a favor da mentalidade antiga da Igreja Romana) ordenado que fora pelo bispo rebelde francês Marcel Lefèbvre. Percebendo, o Santo Padre, que alguém havia tocado em sua batina, voltou-se e fitando o seu agressor, já contido por policiais, o abençoou fazendo o sinal da cruz. Finalmente, é digno de menção o que vem acontecendo com os padres franceses Aristides Camiô e Francisco Gouriou, quando toda a Igreja do Brasil toma corajosa e desassombrada posição contra o julgamento do Conselho de Sentença do Exército da 8ª Circunscrição da Justiça Militar de Belém do Pará, que condenou ambos os sacerdotes a 15 e 10 anos de prisão, respectivamente, e pretende agora que os mesmos sejam expulsos do país. Mas a Igreja não cruzou os braços diante disso e vem clamando por todos os meios ao seu alcance, inclusive pela imprensa falada e escrita a favor de humildes roceiros marginalizados naquele longínquo Estado da Federação e que vem seno amparados pelos dois padres católicos em suas justas aspirações quanto a posse da terra devoluta onde moram há muitos anos. Assim devemos todos reconhecer que agora a Igreja voltou a cumprir e a recomendar obediência aos santos ensinamentos do Divino Mestre, graças a Deus! (30.6.82)

“Se queres a paz, prepara-te para a guerra”  ( “Si vis pacem, parabellum”) ─ Existem dois tipos essenciais de paz: a paz interior, a paz de espírito e a paz social, a paz externa, da qual somos parte também, permanentemente. A paz de espírito, interior, podemos controlar, gozá-la em muitos momentos, alguns até dos mais difíceis. Mas, se não houver paz externa, social, em que nós próprios, nossos familiares, nossos amigos e outras inocentes criaturas são prejudicadas, ofendidas, agredidas, martirizadas, desaparece paulatina ou instantaneamente a nossa paz interior... Por isso que somente poderá existir maior percentagem da paz sobre a face da terra, e isto repetimos sempre: apenas quando os governos, suas forças armadas, quando os homens de todas as raças, das mais diversas condições sociais, quando todos forem justos, honestos, trabalhadores, generosos e usando a inteligência que Deus concedeu a cada um, seguirem os ensinamentos de Cristo Jesus. Paz absoluta, perfeita, integral, nunca existirá entre os homens, porque estes, pela lei da própria natureza, devem desenvolver seus ciclos de vida, entre sofrimentos e alegrias, acertos e fracassos, para um dia deixarem o convívio de seus entes queridos e aí sempre haverá inevitável tristeza nos corações... ( 20-2-83)

A morte é um fato material, embora entre as criaturas humanas, interligando estreitamente ao espiritual. Se olharmos ao passado dos tempos e meditarmos há quantos milhões de anos os seres vivos vem habitando o globo terrestre, numa sucessão de vida-morte-vida, então nos conformamos com o fatalismo que porá termo, um a um, aos planos e sonhos de todos os homens, devendo estes legarem às criaturas, que todos os dias despontam para a vida, a continuação do que existe de bom, assim como a elaboração de novos planos e realizações, numa repetição ─ quem sabe? ─ eterna... ( 3-4-83)

A morte deve ser encarada como uma viagem; o importante é que, os que ficam nos desejem, do fundo do coração, sejamos felizes nessa fase de deslocamento da vida terrena e que possamos ser bem recebidos ao chegarmos à vida eterna. ( 16-4-83)

Falando em política (I) ─ O mais importante no Brasil é acabar com a corrupção, evitando que o fisco e o poder judiciário sejam manietados, sob suborno, pela burguesia e pelos poderosos sonegadores de impostos e infratores da leis, em se querendo, as velhas e existentes já são sobremodo suficientes. Dessa maneira, o candidato a candidato a presidente da república, Paulo Salim Maluf, até que poderia ser um bom chefe do futuro governo brasileiro, isto depois de completa moralização da política nacional, em todos os campos e sentidos. Trata-se de um cidadão que se hoje é um dos homens mais ricos do país, a sua fortuna, na maior parte, é fruto de heranças e do seu próprio trabalho como administrador inteligente e denodado. Trabalha diariamente muito mais, em tempo e pontualidade, do que a maioria dos brasileiros. E sendo rico, pouco se lhe aproveitará, nos seus futuros vinte, trinta, quarenta ou cincoenta anos de vida, roubar ainda mais ( se é que tem roubado...) através de falcatruas. Portanto, se tem constas a acertar na justiça, que se compelido a pagar, na forma da lei, o que roubou ou desviou da farta messe a disposição dos que querem se aproveitar do nosso desafortunado e endividado Brasil do momento. Mas que os fiscais apurem e os tribunais imponham, sob pena de prisão imediata, sem  quaisquer mordomias, a quitação de seus débitos. Assim os nossos tribunais , revestidos de austeridade, espírito sadio de brasilidade, que exijam de toda essa cambada de maus políticos, administradores capciosos, bem como todos os negocistas e sonegadores que proliferam por aí, que paguem o que devem ao poder público e ao povo. Depois disso, saneados os costumes, sejam alijados de todo e qualquer cargo ou função administrativa, oficial ou não, aqueles que, comprovadamente, vinham prejudicando os interesses da nação, isto é, da população carente, em sua quase totalidade. Depois disso tudo, se ficar comprovado que o cidadão Paulo Salim Maluf, realmente não roubou nada, até que poderia ser aproveitado no futuro governo, para tentar aproveitar com a sua inteligência e trabalho, reconduzir o Brasil aos seus destinos gloriosos. ( 17-7-83)

Falando em política (IV) ─  Para abaixar a inflação só existe, na prática, um caminho: aumentar, através do trabalho honesto e organizado, a produção e a oferta de bens de consumo e de uso pessoal, familiar e coletivo: alimentos, vestuário, moradias, meios de transporte, ensino e assistência social e tudo mais de que necessita a criatura humana, para desfrutar de uma vida condigna. Assim, barateando o custo de vida, estaria contido o círculo vicioso em que se delapidam os dois custos: o da mercadoria porque “aumentou os salários” aplicado na produção, e já, em seguida, o do salário para fazer face do produto que foi aumentado de preço... O que é preciso, pois, é maior produção de produtos essenciais, em garantia de preço mínimo e transporte aos centros consumidores, e que seja refreada a ganância e a influência nefasta dos atravessadores. Por último, o tabelamento criterioso de preços, a perseguição severa aos transgressores. Convém ressaltar que é necessário atrelar o preço do produto ao valor do salário e jamais o salário ao preço desordenado dos gêneros de primeira necessidade, como erroneamente tem sido feito até hoje, em nosso querido Brasil! ( 13-9-83)

Os bens materiais de quaisquer espécies esses ficarão com os herdeiros ou donatários dos que, em vida, foram chamados de ricos. Não havendo beneficiários, o governo, na forma da lei, fará incorporação de tudo ao seu patrimônio. E daí? Falemos, um pouco, em tese, dos homens ricos falecidos. Nos primeiros meses algumas homenagens, pois é difícil encontrar um milionário comum, tido e afamado com tal, que não tenha feito em vida ou nos últimos tempos, donativos a instituições filantrópicas que, após o evento, são os primeiros a enviar coroa de flores... Para o ricaço foram umas gotas de numerário, mas que para os contemplados representaram milhares de cruzeiros. Na maioria das vezes os familiares do milionário logo mandarão erigir túmulos vistosos, se já não os tiverem... Visitando cemitérios das cidades médias e grandes, constatamos, de pronto, os que ao falecerem eram considerados ricos pelo vulto das sepulturas, algumas do tipo monumento. Mas se quisermos saber, citando os nomes dos epitáfios, quem foram em vida, o que fizeram, o que construíram de bom em favor do seus contemporâneos, a maioria dos passantes diria: “Não sei!” e iria adiante indiferentemente. Isso depois das primeiras décadas do falecimento, nos 50 ou 100 anos ocorridos, se insistirmos em saber quem foi a ilustre personagem no passado, pensarão que não estamos bem do juízo... Diante de um desses túmulos pomposos, às vezes mal conservados, mais parecendo abandonados, certos de que os parentes do falecido desapareceram, mudaram da cidade, e sua descendência já está na quarta ou quinta geração, quem sabe empobrecida, vem-nos ao pensamento a seguinte indagação: “Valeu a pena tanta luta, tanto empenho, tanta ambição, egoísmo, em amealhar fortuna, para ficar depois, quase tudo,menosprezado, ignorado, esquecido, pelas criaturas humanas que o sucederam?”. É pena que dentro dessa regra, bem poucos, serão dignificados, redimidos pelo povo, em face dos ensinamentos do Divino Mestre. ( 11-12-83)

É tudo uma luta... O escritor luta, luta noite adentro, isolando-se do borburinho mundano e escreve boas coisas... O pintor luta, luta isolando-se em clarabóias, em ateliers, em quartinhos de fundo de quintal e executa lindos quadros... O compositor luta, luta a maioria das vezes em recolhimento, buscando em horas mortas a inspiração e produz inolvidáveis peças musicais... O cientista luta, luta em pesquisas e experiências e conforta-se, ao final, constatando que seus esforços representam avanços para o bem da humanidade... O jornalista luta, luta principalmente quando a cidade começa a repousar para que, no dia seguinte, os leitores sejam informados sobre o que aconteceu nas cercanias e no mundo, sendo denunciados, paralelamente, os enganos, as mentiras, e promovida a defesa do bem, da verdade e da justiça... E assim, em centenas de outras atividades, as criaturas humanas procuram, no seu dia a dia, contribuir para que no grande mundo, homens, mulheres, crianças e idosos possam viver num sempre almejado mundo melhor. Mas, no fim ( todos teremos o nosso último momento na face da terra) se, um a um e todos nos deixarem, além dos generosos frutos  dos seus trabalhos e esforços, algo de bom em benefício também dos que não puderam ler os seus livros, admirar as suas pinturas, ouvir as suas músicas, desfrutar dos benefícios da ciência, ser alcançados pelas campanhas vitoriosas da imprensa, enfim usufruir um pouco das muitas coisas boas feitas, exibidas, promovidas por uma minoria de predestinados que, por suas missões, atribuições e funções se constituem numa espécie de elite da comunidade, então, repetimos, se estes não deixarem realizado algo em favor dos deserdados da sorte, que sempre existirão, pouco ou quase nada valeram os seus lindos trabalhos, os seus esforços, os seus suores, os seus sacrifícios, certo que, ao final, ficou esquecida a principal parte, a parte do amor ao próximo, traduzida na mensagem do Divino Mestre, quando recomendou” “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. E os ricos e os milionários, enfim os afortunados da indústria, do comércio, da agropecuária, do capitalismo, da oligarquia, do oportunismo e centenas de profissões autônomas e liberais que aqui não são mencionadas expressamente, em que ponto poderiam ser convocados a cumprirem seus de solidariedade humana? Mas não apenas com as migalhas que lhes caem de suas fartas mesas a que se refere o Evangelho de Cristo. Sinceramente ninguém sabe até onde, quando, como, quanto essa convocação poderia produzir seus resultados... Entretanto, uma coisa é certa: bastaria que a consciência de cada um, na fase crepuscular de sua vida, fosse tocada por uma voz do alto e sentisse como é importante até para os mais descrentes e ateus dos homens fecharem os olhos, na extrema hora,  sentindo  a convicção de que cumpriram, em vida, com os seus deveres  perante os seus  familiares, igualmente perante os seus amigos e conhecidos, inclusive seus semelhantes , criaturas anônimas, neste grande mundo de Deus. ( 16-1-84)

Folheando biografias de beneméritos e benfeitores de todos os tempos, salta aos olhos de qualquer pessoa que numerosas dessas extraordinárias criaturas, embora oriundas de famílias nobres, ricas, passaram grande parte e especialmente os últimos anos de suas vidas em situação de extrema humildade e pobreza, devotadas firmemente a causa de seus semelhantes carentes. Aqui merece um destaque veemente a figura de São Francisco de Assis, talvez o maior paradigma dessa excelsa categoria de benfeitores da humanidade. ( 8-1-84)

O que se pode notar atualmente no Brasil é que o nível de vida dos trabalhadores, desde que ligados a firmas ou empresas, desde que técnica e economicamente bem organizadas, vem melhorando de fato. O imobilizado delas é quase o mesmo dos exercícios anteriores ( tempos de crise e apertos...) mas o seu faturamento atinge de ano a ano duas a três vezes mais, fruto da tecnologia mais aprimorada, a baixo custo. E as empresas produzindo mais, tem aumentada a sua lucratividade, podendo com isso melhorar a remuneração de seus operários. Às vezes, por falta de maior consumo, e para não cair o produto no aviltamento de preços no mercado ocorre a necessidade de diminuir a produção e também o quadro de seus servidores. O pior tem acontecido às firmas que não dispondo de capital de giro próprio, e agravam ainda mais a sua  situação, nas vendas à prazo, recorrendo aos descontos bancários de duplicatas, tornando-se insolventes em curto período de tempo, tendo, muitas delas, de encerrar suas atividades, lançando os seu servidores na dolorosa via do desemprego. Pena também que as usinas de açúcar da região de Piracicaba, que não possuem, no mínimo, 80% de cana própria, pagando altos juros nos financiamentos bancários, acabam operando com prejuízo contábil, visto que a matéria prima é paga praticamente à vista aos fornecedores, enquanto que o açúcar e o álcool são produzidos em cinco meses e vendidos em 12 ou mais meses ( ao início de cada safra existem estoques remanescentes...) e essa situação, ao final de pouco tempo, torna-se insustentável... ( 13-4-84)

Segundo a opinião da maioria ou quase totalidade dos homens, este mundo não tem mesmo salvação, no que concerne a paz entre os homens. Os mais pessimistas remontam os fatos desde a criação do mundo, quando a primeira família não foi feliz por causa do egoísmo, da inveja, da ganância, da violência e dos dois “primeiros irmãos” quando um foi abatido pelo outro. Milênios e milênios depois, o Divino Mestre, mesmo sendo o Messias tão esperado, foi traído por um dos seus dozes apóstolos e, em seguida, negado por três vezes pelo mais valoroso dos seus primeiros seguidores... Ainda, o seu próprio povo pediu e exigiu o seu martírio na cruz, logo a Ele que recomendava paz, justiça, amor entre os homens... A história do mundo está repleta de episódios, antes e depois de Cristo, em que é evidenciada a falta de entendimento entre  governos, governantes e governados e porque assim não dizer, entre os povos? “Cada povo tem o governo que merece” é o refrão popular e milenar... Pelo visto, pouco adianta ficar reclamando, apenas citando exemplos. A melhor solução é cada um, dentro da sua família, do seu campo de atividades, do seu relacionamento, colocando de lado as suas rotineiras pregações de moral, procurar cumprir com seus deveres conforme a lei de Deus, e a dos homens puros... e se cada um fizer bem a sua parte, um dia, os governos serão obrigados a fazer, igualmente bem o que lhes compete! ( 17-6-84)

Para os que acreditam na imortalidade da alma ( graças a Deus sou humildemente um desses bem-aventurados) a criatura humana, terrena, não morre, isto é, não desaparece enquanto permanecer na memória, no coração dos entes queridos, dos amigos, das pessoas enfim com as quais convivem. E essa lembrança envolve não apenas a fisionomia, os trajes, o perfil, o modo de andar, de gesticular, de falar, mas especialmente os feitos, as ações, tanto as boas como as más, realizadas em vida, com a vantagem de que a maioria dos seus conterrâneos costuma, cristãmente, relevar e quase esquecer, os defeitos daquele que se foi e até exaltar, às vezes, com alguma bondade, as suas poucas virtudes... ( 22-7-84)

Para praticar uma boa ação basta um tempo, enquanto que a má ação exige dois ou mais tempos... A má ação começa pelo pecado de precisar ser engendrada em segredo... Portanto, uma traição, um golpe, um assalto e, até um furto vulgar necessita de algum plano, tempo, espera de oportunidade, etc. Na boa ação nada disso é necessário bastando apenas estar predisposto para a prática do bem e em cada passo da vida, em cada esquina do mundo, sempre haverá alguém, alguma coisa, necessitando de ajuda, de um gesto, de uma palavra amiga! ( 16-12-84

A Pátria é o Estado, o Município, a família e o próprio indivíduo. Portanto, a pátria será grande, dentro e fora de suas fronteiras, somente quando todas as criaturas humanas forem atendidas em seus direitos, postos a sua disposição no ambiente doméstico em que vivem, isto é, nos seus municípios, onde a produção nacional é, em verdade, realizada. É preciso acabar, com urgência,  com o erro de subtrair, de desviar recursos das pequenas cidades para aplicá-los, em sua maior parte, nas capitais, nos grandes centros, que assim ficam cada vez mais “enfeitados”, enquanto que as menores, com suas extensas áreas rurais vão sossobrando no desamparo e no desestímulo. O certo seria os grandes centros industriais não esgotassem, eles próprios, todo o seu poderio econômico e deixassem parte para a abertura e conservação de estradas, formação de novas lavouras, incentivos para a pecuária, a favor, principalmente das regiões norte e nordeste deste imenso Brasil. Havendo produção abundante e transporte organizado e seguro, acontecerá o sonhado barateamento do custo de vida nacional, isto é, redução da inflação. ( 12-5-85)

Não se compreende que grandes homens, como Santos Dumont, Van Gogh, Stefan Sweig, Ernest Hemingway e outros tenham posto término às suas vidas gloriosas. Esses homens ─ inventores, artistas, escritores, enfim homens cujas obras vinham e ainda estão dignificando a vida, promovendo a elevação da criatura humana para a proximidade da perfeição ─ deveriam gozar a sua velhice, rodeados pelas homenagens dos seus conterrâneos, ou, pelo menos, pelo calor da presença dos seus familiares e de seus verdadeiros amigos. (18-8-85)

Agora que, graças o Bom Deus, atravessei a barreira dos 72 anos de idade, procurarei poupar-me da leitura de diversas revistas semanais e, diariamente de mais de um jornal de Piracicaba e de São Paulo, Capital, certo que, afinal, reconheço que isso agora pouco ou nada acrescentaria aos meus conhecimentos, escassos, mas indispensáveis a qualquer criatura. As notícias momentosas, todos os jornais as publicam e outros resumos e detalhes os obtenho através das transmissões feitas pelo rádio e pela televisão locais. O mesmo direi quanto ao cinema, cujo entretenimento sempre me agradou, mas que pouco proveito representa para mim, nesta fase de minha vida. Portanto, o melhor a fazer, é tentar ensinar ou deixar escrito lições de vida, citando exemplos, rasgos de otimismo, de trabalho, de nobreza e do que muitos benefícios podem advir para aqueles que, mais novos, tem pela frente numa vida inteira, e assim podem ser ajudados pelos que pretenderam, antes, acertar em suas atuações no grande palco da vida. (12-10-85)

Se os egoístas, os vaidosos, os maledicentes, os intrigantes, os mentirosos, os intolerantes, os desmancha-prazeres, os ociosos, os desonestos, os velhacos, os traidores, os falsos, se, enfim, todos os que trilharam a tortuosa senda do mal e do erro e que, apesar de todas as suas artimanhas morreram, ingloriamente, a seu tempo e hora ─ pudessem retornar a uma nova vida, comprovando então quantos prejuízos tiveram e causaram, semeando e colhendo infelicidades, por certo agiriam agora de modo bem diferente! ( 17-11-85)

Gente existe que, sendo abastada, mas avarenta, passa pela vida precariamente, para ao morrer, possam seus conhecidos, ao menos, dizer: “Morreu rico!” (19-1-86)

A Vida... O Mundo...

As nossas mãos e os nosso pés,

Os cotovelos e os joelhos,

Servem-nos para, tateando,

Sabermos para onde vamos,

Dentro da noite desta vida...

 

Nossos olhos, nossos ouvidos,

Nossa lembrança e bom senso,

Devem nos guiar nos perigos

Que, mesmo em plena luz do dia,

Existem em nossos caminhos... ( 13-3-88)

Mistérios... Naquele dia o “pobre homem” parou, um pouco, só para pensar... Já vivera três quartos de século, trabalhando e muito, desde criança visando ideais de nobreza para si e para os seus. Hoje, olhando a estrada percorrida e vendo em cada curva do caminho as esperanças e ilusões vividas, parou para recordar e meditar. Perguntou, como todos perguntam: Valeu a pena? Houve hesitação? Omissão, pusilanimidade? Se nós duvidamos, quem julgará? O importante mesmo é saber se, ao nosso derredor ou distante existem pessoas que se queixam de nossos atos ou atitudes... E não havendo reclamações tudo terminaria bem, aí, não fosse a nossa consciência que nos faz perguntar: Camões e Colombo foram felizes, embora morressem na miséria, depois de seus heróicos feitos, somente tarde reconhecidos? E Van Gogh, cuja genial pintura foi menosprezada a ponto de fazê-lo buscar o suicídio, o final de suas mágoas terrenas? E Dante Alighieri, hoje pai da poesia italiana, quando no cárcere e no exílio, foi feliz como bem merecia? E Joana D’Arc e nosso Tiradentes, martirizados de forma tão cruel desfrutaram da felicidade a que fazem jus os bons e nobres? E assim, o “pobre homem” numa meditação sem fim procurava desvendar os mistérios desta vida. ( 30-12-88)

Em muitos momentos da vida, o homem, especialmente quando percebe estar ingressando na velhice, tem impressão de sentir-se só, mesmo vivendo no seio de sua família, no meio de amigos. Entre estranhos, em contato com pessoas que são, talvez reciprocamente indiferentes, a solidão parece aumentar, porque com estas pessoas nada existe sobre o que dialogar, propor, ouvir. Nessas oportunidades a pobre criatura faz um retrospecto da própria existência, do seu passado de esperanças, anseios, de algumas frustrações sofridas e até de duras realidades que teve ou tem de suportar. Mas o homem não poderá sentir-se plenamente só ou abandonado se, crendo em Deus, existir ao seu lado, ao seu alcance, esteja onde estiver, algum meio de comunicação, que lhe faça presumir uma resposta, uma solução, ainda que aleatória. Assim, jamais sentir-se-á só quando, numa suprema devoção ou conformação, voltar o seu pensamento ao Onipotente e, orando, entregar-lhe seus momentos futuros, rogando sempre para que seus entes queridos encontrem as santas alegrias que a vida, enquanto jovens ainda, pode lhes proporcionar. ( 19-5-89)

Tem momentos em que gostaríamos de deixar uma pergunta no ar: como serão as cidades e, dentro e em torno delas, a vida das criaturas humanas, quando meus netos caçulas tiverem bisnetos com mais de trinta anos, aptos, portanto, para meditar sobre os problemas existentes no seio da sociedade brasileira? Que bom seria se conseguíssemos guardar, para as gerações vindouras, fotografia, gravações, filmes, como testemunho dos dias atuais no campo de algumas famílias e da fraternidade reinante entre muitas criaturas, verdadeiros cristãos, em busca do decantado “mundo melhor”, que o desamor, o egoísmo, a ganância,a desonestidade e a vagabundagem tentam evitar a sua aproximação. ( 23-12-89)

Reflexões

Agora que a dor e a incerteza

Fazem sombra sobre o meu futuro,

Vejo-me como um pobre barco

A navegar pelo mar da vida,

Sem saber como a penosa viagem

Se conduzirá até o fim.

 

A madeira foi envelhecendo;

Já não pode sofrer impactos...

Até o sol que antigamente

Dourava suas graciosas linhas

Agora representa perigo

De acelerar sua deterioração.

 

Também a chuva e o orvalho

Que antes refrescavam seu lenho,

Hoje provocam danoso bolor

Que, a pouco e pouco, ameaça

Reduzir sua capacidade

De ir, de vir, resistir e viver...

 

Mas a vida da criatura

É quase igual para a maioria:

Passa a infância e a juventude,

Com uma rapidez sem conta,

E quando a maturidade chega

Os cuidados se tornam constantes.

 

É pena que boa parte não chega

À velhice consagradora,

E perece em plena caminhada,

Quando muitos dos seus lindos sonhos

Ainda não se haviam realizado...

Paciência! Deus nos consolará!

 

Um grande poeta brasileiro

Disse: “A perfeição é a morte” ( Olavo Bilac)

Outro grande poeta francês

Já havia anteriormente

Proclamado: “Morrer é nada;

Não viver é que é medonho( Victor Hugo)

Resta-nos, assim, a certeza

De que somente Deus é a salvação.

Pois a morte não poupará ninguém.

Deixando aqui apenas lembranças

Do que foi possível realizar,

Com amor, justiça e nobreza. ( 20-8-90)