COLETÂNEA LITERÁRIA
CAPÍTULO 2
Barcos – Beijo –
Beleza – Bem – Bênção – Beneficência – Bias – Bíblia –
Bocage –Bondade – Buda
– Bravura
BARCOS DE PAPEL ( Guilherme de
Almeida)
Quando a chuva cessava, e o vento fino
franzia a tarde tímida e lavada,
eu saia a brincar pela calçada,
nos meus tempos feliz de menino.
Fazia de papel, toda uma armada
e, ostentando meu braço pequenino,
eu soltava os barquinhos sem destino,
ao longo das sargetas, na enxurrada...
Fiquei moço. E hoje sei, pensando neles,
que não são barcos de ouro os meus ideais:
estes são feitos de papel, e como aqueles,
perfeitamente, exatamente iguais...
que os meus barquinhos, lá se foram
eles!
Foram-se embora e não voltaram mais!
BEIJO ( Mário Monteiro)
Eu ontem quis beijar teu lindo rosto,
E quis sentir teus lábios sobre os meus
Mas creio que te dei algum desgosto,
Pois te vi retirar, confusa, os teus.
Desculpa, se é pecado no teu rosto
Depor um beijo, um hino lá dos céus...
Não vês de tarde, à hora do sol posto,
Esse beijo de luz que envia Deus?
O sol dá luz à terra em longo beijo,
o vento beija os campos e os
trigais,
E é pecado que eu tenha o desejo
De beijar teus lábios divinais?
E tu sabes, meu amor, o que é o beijo!...
É só unir os lábios... Nada mais.
Beleza que
adorna a face
e que tanta gente tem,
quem dera que ela enfeitasse
coração e alma também ( H.S. Lima)
FAZEI O BEM ( Tobias Barreto)
Fazei o bem:
sobre a terra
É a grandeza suprema;
Tem mais luz do que um poema,
Vale mais do que um troféu!
Por uma
dádiva ao pobre
Que é de Deus o grande eleito
Podeis comprar o direito
De que ele goza no céu.
BENEDÍCITE ( Olavo Bilac)
Bendito o que, na terra, o fogo fez, ereto
E o que uniu a charrua ao boi paciente e amigo;
E o que encontrou a enxada e o que no chão abjeto,
Fez, aos beijos do sol, o ouro brotar do trigo;
E o que o ferro forjou; e o piedoso arquiteto
Que ideou, depois do berço e do lar, o jazigo;
E que os fios urdiu; e o que achou o alfabeto;
E o que deu uma esmola ao primeiro mendigo.
E o que soltou ao mar a quilha, e ao vento o pano;
E o que inventou o canto; e o que criou a lira;
E o que domou o raio; e o que alçou o aeroplano.
Mas, bendito entre os mais, o que, no dó profundo,
Descobriu a esperança, a divina mentira,
Dando ao homem o dom de suportar o mundo.
O dinheiro destinado beneficência não tem mérito, quando não representa um
sacrifício, qualquer privação para quem o dá. ( Césare Cantu)
É coisa mais
ilustre e mais louvável deixar após si alguns benefícios, do que deixar muitos
troféus.
( Xenofonte)
AFORISMOS DE BIAS:
A) A coisa mais difícil que existe é suportar a mudança de fortuna com grandeza
de alma.
B) É preferível julgar a controvérsia de dois inimigos nossos do que de dois
amigos. Porque de dois amigos estou certo que hei de fazer um inimigo; enquanto
que de dois meus inimigos, um deles há de ficar meu amigo!
C) Um homem sem princípios, nem crenças perguntou-lhe o que era piedade. Bias
não respondeu e sendo-lhe perguntado a razão de seu silêncio replicou: “É
porque estais inquirindo acerca de coisas que vos não dizem respeito”.
Portanto,
semeiem nas cidades os evangelhos. Uma bíblia por cabana. Que cada livro e cada
campo produzam juntos um trabalhador moral.( Victor Hugo)
Em toda
história da ciência, a fabricação de uma bomba de hidrogênio é a falta mais
grave cometida pelos sábios.( Albert
Einsten)
A BOCAGE ( Olavo Bilac)
Tu que no
pego impuro das orgias,
Mergulhavas ansioso e descontente,
E, quando à tona vinhas de repente,
Cheias as mãos de pérolas trazias.
Tu, que do
amor e pelo amor vivias,
E que, como de límpida nascente,
Dos lábios e dos olhos a torrente
Dos versos e das lágrimas vertias;
Mestre querido!
Viverás, enquanto
Houver quem pulse o mágico instrumento,
E preze a língua que prezavas tanto;
E enquanto
houver num canto do universo,
Quem ame e sofra, e amor e sofrimento
Saiba, chorando, traduzir no verso.
É muito bom ser importante; porém, é muito mais importante ser bom.( Pe. Antonio Vieira)
Tudo está
perdido, quando os maus servem de exemplo e os bons de mofa.( Demócrito)
Assim é a
bondade: ela é o sorriso, ela é a ternura — humilha-se para chegar ao pobre sem
vexá-lo; despe-se para vestir o nu, abstém-se para alimentar o faminto;
afronta-se com a peste para dar alívio ao enfermo, intervém no mais renhido dos
combates para salvar um ferido, esquece-se de si para cuidar do próximo. Quando
assim procede responde ao nome de caridade. Provocai essa mansidão e vê-la-ei
intrépida caminhando serenamente para a morte, como os mártires do circo, ou
violenta como Jesus vergalhando os que profanavam o átrio do templo. (Coelho Neto)
A vida apoia-se na bondade. Que oceano há maior e que terra há mais larga do
que o coração amoroso, onde tudo se firma, mais do que as naves no nar, mais
que as cordilheiras nas chãs? (Coelho
Neto)
Mas será a
Bondade tudo? O corpo vive apenas do coração? Não. Sem critério a Bondade é
como a luz do farol que ilumina a imensidão das águas, deixando-se ficar no
escuro, sobre a rocha. Que se deve então fazer para ser feliz? (Coelho Neto)
Ser bom é ser útil: útil a si, dando a mão esquerda, para que guarde as sobras
do ganho da mão direita; útil à vida, contribuindo com os seu esforço para
melhorá-la; útil ao tempo, semeando palavras e obras para que viçosamente
floresçam idéias e searas nos dias do futuro e as gerações vindouras encontrem
messe farta, como nô-la deixaram os do passado; útil à Pátria honrando-a na observância
de suas leis, no culto de seus heróis; útil ao próximo considerando-o e
tratando-o como nosso irmão em Deus. (Coelho
Neto)
BONDADE
Nós somos felizes porque somos bons, ou somos bons por que somos felizes? ( Victor Hugo)
Finda a beleza,
perdura
esta lição de humanidade:
verdadeira formosura
tem outro nome: Bondade! ( Aparício
Fernandes)
Meditando
sobre a morte,
digo aos crentes e aos ateus:
a Bondade á o passaporte
que nos conduz para Deus. ( Aparício
Fernandes)
Deus de
amor, eu vos suplico
a ventura deste dom:
não de afirmar: “eu sou rico”
mas de sentir: ”eu sou bom”! ( Aparício
Fernandes)
Qual será a
mais alta faculdade da alma? Será a do gênio? Não; é a da bondade. (Victor
Hugo)
Não é preciso
que a bondade se manifeste; o bastante á que ela se deixe ver. ( Platão).
Excerto de O SAPO:
O ignorante, se bondoso,
vale mais que o sábio, se perverso!
Visto que a bondade, como o sol,
ilumina a face do Universo! (Victor Hugo)
Que estranha ilusão supor que tudo o que é belo é bom! ( Leon Tolstoi)
Buda era
extremamente modesto e delicado. Perdoava todas as injúrias e desprezava todos
os insultos. Certa vez, um rapazola tolo o ofendeu. Buda ouviu-o em silêncio.
Quando o rapaz terminou, perguntou—lhe:
“Meu filho, se um homem te oferecer um presente e não o desejares ,que farás?
— “Recusá-lo-ei, respondeu o jovem”.
— “A quem então pertence o presente?”
— “Ao homem que o ofereceu”.
— “Muito bem, meu filho”, concluiu Buda, “como eu não desejo a tua injúria,
fica com ela, porque ela te pertence”.
A bravura
evita mais o perigo do que o medo. ( Condessa
de Ségur)