COLETÂNEA LITERÁRIA
CAPÍTULO 4
Defeitos – Democracia – Derrota –
Desconhecido – Descuido – Desepero – Desigualdade – Desilusão – Deslumbramento
– Despedida – Desprezo – Destruição – Deus – Dever – Direito – Disraeli –
Distância – Dizer
A demasiada atenção, que se dedica a
observar os defeitos alheios, faz com que se morra sem ter tido tempo de
conhecer os próprios. ( La Bruyére)
Não há ninguém sem defeitos: o melhor é o que os têm em menor número. ( Horácio)
Três grandes defeitos de algumas criaturas humanas:
— Não sabem e não procuram aprender;
— Sabem e não ensinam.
— Ensinam e não praticam. ( Anônimo)
Ter defeitos e não os
corrigir, eis o que é verdadeiramente ter defeitos, O sábio envergonha-se de
seus defeitos, mas não se envergonha de corrigi-los.
( Confúcio)
Como não gostaria de ser
escravo, também não gostaria de ser amo. É essa a minha idéia de liberdade Tudo
o que diferir disto, na medida da diferença, não é democracia.( Abrahão Lincoln)
A arte de vencer aprende-se
nas derrotas sofridas. ( Simon Bolivar)
O desconhecido atrai o
homem, mesmo sendo um abismo. Onde o pé não chega, chega o olhar; onde o olhar
pára, o espírito continua. Não há homem, por mais fraco e insuficiente que
seja, que não tente. ( Victor Hugo)
Pai ilustre da
microbiologia, Pasteur é um sábio de porte magistral, que deixou patente um
caso de grande esquecimento.Um dia, na famosa Universidade de Paris, no século
passado, Pasteur ministrava uma palestra sobre microbiologia, dando explicações
aos alunos nobres e filhos de fidalgos, a respeito dos microscópicos micróbios
das frutas. E como dava aula com raro prazer de sábio, Pasteur, ia-se
deliciando com um cacho de uvas,.sendo que tirando uma a uma as uvas, dava-lhes
um banho na água do copo, para depois metê-las na boca. Somente que a
dissertação prática de Pasteur, terminou mal. O caso já é por demais conhecido:
quando se aproximava o fim da palestra o sábio francês levantou o copo d’água e
bebeu o líquido. Evidentemente que aos sorrisos velados dos nobres alunos, que
presenciaram tão histórica lição de microbiologia.
A VIDA ( Pe. Antonio Tomaz)
Quando partimos no vigor
dos anos,
Da vida pela estrada florescente,
As esperanças vão conosco à frente
E vão ficando atrás os desenganos.
Rindo e cantando,
céleres e ufanos,
Vamos marchando. descuidosamente...
Eis que chega a velhice, e, de repente,
Desfazendo ilusões, matando enganos!
E só então que vemos
claramente
Quanto a existência é rápida e falaz!
E vemos que sucede exatamente
O contrário dos tempos
de rapaz:
Os desenganos vão conosco à frente.
As esperanças vão ficando atrás!
O coração humano só pode
conter uma certa quantidade de desespero. Quando uma esponja está embebida o
mar pode passar-lhe por cima sem nela introduzir nem uma lágrima a mais. ( Victor Hugo)
Apenas quem não sabe
enfrentar a desgraça é que é verdadeiramente desgraçado. ( Bias)
O merecimento produz uma
desigualdade justa. ( La Bretonne)
Bem pudera Deus fazer
que nascessem os homens todos iguais, mas ordenou a sua providência que
houvesse no mundo esta mal sofrida desigualdade para que a mesma dor do
primeiro nascimento nos excitasse à melhoria do segundo.( Pe. Antonio Vieira)
DESILUSÃO ( Shakespeare)
Farto de tudo, imploro a
morte sossegada,
Quando vejo o valor vestido como um pobre
E em luxo trajado o miserável nada,
E perjurada por desgraça, a fé mais nobre.
E vergonhosamente a
honra mal situada,
E a virginal virtude em lama prostituida,
E por coxo exercício a força invalidada
E a justa perfeição do apreço decaída.
E julgando a perícia a
doutoral tolice,
E atando a língua da arte o arbítrio oficial,
E a mais simples verdade achada parvoíce.
E o bem seguindo escravo
ao comandante mal:
Farto, eu queria estar já morto e descansado
Se não deixasse o meu amor abandonado!
NEL MEZZO DEL CAMIN ( Olavo Bilac)
Cheguei. Chegaste.
Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que o teu olhar continha.
Hoje, segues de novo...
Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
E eu, solitário, volto a
face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.
BEETHOVEN SURDO ( Olavo Bilac)
Surdo na universal
indiferença, um da
Beethoven, levantando um desvairado apelo,
Sentiu a terra e o mar num mudo pesadelo...
E o mundo interior cantava e restrugia.
Torvo o gesto, perdido o
olhar, hirto o cabelo,
Viu, sobre a orquestração que no seu crânio havia
Os astros em torpor na imensidade fria,
O ar e os ventos sem voz, a natureza em gelo.
Era o nada, a eversão do
caos no cataclismo,.
A síncope do som no páramo profundo,
O silêncio,a algidez, o vácuo, o horror no
abismo
E Beethoven, no seu
supremo desconforto,
Velho e pobre, cai, como um deus moribundo,
Lançando a maldição sobre o universo morto!
CAMÕES ( Olavo Bilac)
Camões sofre, na infâmia da clausura,
Pária sem honra, náufrago sem nome;
E rala, na saudade que o consome,
O pobre peito contra a pedra dura.
O seu gênio ilumina a
abjeta lura...
Mas a vida das carnes se lhe some:
Míngua de pão, e outra mais negra fome,
Indigência de beijos e ventura.
Do próprio, fel,,dos
íntimos venenos,
Faz a glória da pátria e a Iuz da raça;
E chora, na ignomínia. Mas, ao menos,
Possui, na mesquinhez da
terra crassa
E na vergonha de homens tão pequenos
O orgulho de ser grande na desgraça.
Quando a ignorância é
posta de lado, cessa o deslumbramento.( Spinoza)
MINHA PARTIDA ( Guilherme de Almeida)
Vou partir, vais ficar
“longe da vista,
Longe do coração” — diz o ditado.
Basta, porém, que o nosso amor exista
Para que eu parta e fique sem cuidado.
Dentro em mim mesmo, o
coração egoísta,
Quanto mais longe, mais te quer ao lado;
Tanto mais te ama, quanto mais te avista
E, antes de ver-te, já te havia amado.
Vou partir, para longe?
Para perto?
Não sei. Longe de ti tudo é deserto,
E todas as distâncias são iguais.
Como eu quisera que na
despedida,
Quando se unissem nossas mãos queridas,
Nunca pudessem desunir- se mais.
CANÇÃO ( Alphonsus de
Guimaraens)
Quando chegaste ; os violoncelos
Que andam no ar cantaram hinos.
Estrelaram-se todos os castelos,
E até nas núvens repicaram sinos.
Foram-se as brancas
horas sem rumo,
Tanto sonhadas! Ainda, ainda
Hoje os meus pobres versos perfumo
Com os beijos santos da tua vinda.
Quando te foste
estalaram cordas
Nos violoncelos e nas harpas...
E anjos disseram: Não mais acordas
Lírio nascido nas escarpas!
Sinos dobraram no céu e
escuto
Dobres eternos na minha ermida.
E os pobres versos ainda enluto
Com os beijos santos da despedida.
Onde existe desprezo, no
entra o ódio; o desprezo induz ao distanciamento para esquecer; o ódio, ao
contrário, deseja a aproximação, para destruir.
( G. Ohnet)
Quando Deus quer
destruir uma coisa encarrega disso a própria coisa. Todas as instituições
perversas deste mundo, acabam pelo suicídio. ( Victor Hugo)
Quando o demônio quer
destruir um homem, tira-lhe primeiro a serenidade. Em seguida o homem destruirá
a si próprio. ( Adágio Popular)
Temei somente a Deus,
mas afastai-vos dos que não temem a Deus.( Sabedoria
Judaica)
Fiz na vida o meu escudo
Desta verdade sagrada:
O nada com Deus é tudo
E tudo sem Deus nada.( Belmiro Braga)
Bem sabemos que existem
ilustres e poderosos ateus. Mas esses, no íntimo, trazidos à verdade pelo
próprio poder, não estão bem certos de serem ateus;para eles é apenas questão
de definição; e de todo, sendo espíritos superiores, não crendo em Deus,
provam-lhe a existência.( Victor Hugo)
Morro adorando a Deus,
amando meus amigos, não odiando meus inimigos e detestando a superstição.( Voltaire)
O espírito de Deus, como
o sol, dá sempre de uma só vez toda a sua luz. O espírito do homem se parece
com a lua pálida, que tem as suas fases, suas ausências, suas voltas, suas
manchas, sua plenitude e sua desaparição.( Victor
Hugo)
...Então eu não creio em
Deus?! Quem te disse isto? Puseste-me na mesma roda dos singulares infelizes
que usam o ateísmo como usam gravatas—por”chic” e para se dar em ares de
sábios... Não! Rezo, sem palavras, o meu grande panteísmo, na perpétua adoração
das coisas, e na minha miserabilíssima e falha ciência sei, sei positivamente,
que existe alguma coisa que não sei.( Euclides
da Cunha)
DEUS ( Casimiro de Abreu)
Eu me lembro! Eu me lembro!—Era
pequeno.
E brincava na praia; o mar bramia,
E, erguendo o dorso altivo, sacudia
A branca espuma para o céu sereno.
Que eu disse à minha mãe
nesse momento:
Que dura orquestra! Que furor insano!
Que pode haver maior do que o oceano
Ou que seja mais forte do que o vento?
Minha mãe a, sorrir,
olhou pros céus
E respondeu: Um ser que nós não vemos,
É maior que o mar que nós tememos,
Mais forte que o tufão, meu filho, é Deus!
A arte vida, vida é
amor, amor é Deus.( Leonardo da Vinci)
A sabedoria não explica
Deus; a bondade prova-o.( A. Dumas)
Nãoo importa que Deus
não esteja ao meu lado. O que espero ardentemente é estar ao lado Dele.( Lincoln)
Sem Deus somos uns
canalhas.( Nelson Rodrigues)
O MELRO ( Guerra Junqueira)
E o velho abade, lívido
de espanto
Exclamou afinal:
Tudo o que existe, é imaculado e é santo!
Há em toda miséria o mesmo pranto
E em todo coração um grito igual.
Deus semeou de almas o universo todo.
Tudo o que vive, ri e canta e chora,
Tudo foi feito com o mesmo lodo,
Purificado com a mesma aurora.
IMORTALIDADE ( Guerra Junqueira)
Oh! crentes, como vós,
no íntimo do peito
Abrigo a mesma crença, guardo o mesmo ideal:
O horizonte é infinito e o olhar humano estreito
Creio que Deus é eterno e que a alma é imortal.
Toda alma é clarão, todo
corpo é lama!
Quando a lama apodrece, o clarão cintila!
Tirai o corpo — fica uma língua de
chama!
Tirai a alma — fica um fragmento de argila!
Sim,creio que depois do
derradeiro sono
Há de haver uma treva, há de haver uma luz,
Para o vício que morre ovante sobre o trono,
Para o santo que expira inerme sobre a cruz.
O dever é um deus que no
admite ateus.( Victor Hugo)
É terrível coisa ser feliz! Muitos, sendo felizes, se esquecem da verdadeira
finalidade da vida, do dever!( Victor
Hugo)
Não concordo com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte o
vosso direito de dizê-lo.( Voltaire)
Conta-se que Disareli,
célebre político inglês de origem judaica, relatava que, para vingar-se de seus
inimigos, escrevia seus nomes em pedaços de papel jogando-os depois no fundo de
uma gaveta. Mais tarde, revendo tais pedaços de papel, muitas vezes tivera a
satisfação de verificar que alguns nomes deviam ser riscados da lista dos
vivos.
Quanto mais um objeto se
distancia dos que o observam menor lhes parece; do mesmo modo quanto mais um
homem se afasta de seus semelhantes, menos admirado e importante vai ficando.( Nietzche)
Nada se diz que não
tenha sido dito antes.( Terêncio)
A natureza deu-nos dois
ouvidos e uma só boca, para nos advertir que se deve mais ouvir do que falar.( Zenão)