COLETÂNEA LITERÁRIA
CAPÍTULO 8
Jesus – José Américo de Almeida – José – Juramento – Justiça – Juventude –
Kipling – Lar – Ladrão – Lágrimas - Lealdade – Lei – Lembrança – Liberdade –
Lisonja – Livros – Loucura – Luxo – Luz
MADALENA ( Olavo Bilac)
Maria Madalena, Maria de
Tiago e Salomé, compraram aromas, para irem embalsamar a Jesus. Mas, olhando,
viram revolvida a pedra... E Jesus, tendo ressurgido, apareceu primeiramente a Maria Madalena.
Quedaram frio o sangue,
as mulheres chorosas,
Sem cor, sem voz, de espanto e medo. E, de repente
Caíram-lhe das mãos as ânforas piedosas
De bálsamo odoroso e de óleo recendente.
Enfeitou-se o chão de um
perfume dormente,
E o arredor trescalou de essências capitosas,
Como se a terra toda abrisse o seio, e o ambiente
Se enchesse de jasmim, de nardos e de rosas.
E Madalena, muda, ao pé da sepultura,
Tonta da inalação dos cheiros, em delírio,
Viu, que uma forma, no ar divinamente bela,
Vivo eflúvio, vapor
fragrante, alva figura,
Aroma corporal, pairava... Como um lírio,
Num sorriso, Jesus fulgia diante dela.
OS HOMENS ( João Saraiva)
Pobre menino Jesus!
Homens e bois te adoraram,
e, mais tarde, numa cruz,
homens te martirizaram.
Vinte séculos depois,
os homens não melhoraram,
e ainda são mansos os bois.
Pensamentos de José
Américo de Almeida:
a) Pior que furtar é
deixar furtar; são dois crimes em vez de um.
b) O mais tremendo dos
gritos de guerra é o grito da fome.
c) Voltar é uma forma de
renascer. Ninguém se perde na volta.
d) A mais triste das
ruínas é a esperança morta; é o aborto da felicidade.
e) Dominar não é vencer.
Só se vence convencendo.
f) Amo os pobres e amo,
muito mais ainda, os oprimidos.
g) A melhor forma de
abafar os gritos de revolta dos famintos é encher-lhes a boca com alimento;
ninguém grita de boca cheia.
Praia de Tambaú ( José Américo de Almeida)
Andar é tudo que faço
Nesta praia, nesta areia,
e depois olhar meu traço,
até vir a maré cheia...
Já escrevi minha história.
Já fui trunfo, já fui astro...
E hoje a minha trajetória
É simplesmente esse rastro.
JOSÉ ( Carlos Drummond de Andrade)
E agora, José?
A festa acabou,
A luz apagou
O povo sumiu,
a noite esfriou
e agora, José?
e agora, Joaquim?
e agora, você?
Você é que sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
E agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem caminho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
E agora, José?
Sua, doce palavra
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?
com a chave na mão,
quer abrir a porta,
não existe porta,
quer morrer no mar,
mas o mar secou,
que ir para Minas,
Minas não há mais!
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse
se você cansasse
se você morresse...
Mas você não morre,
Você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho do mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope
Você segue, José!
José, para onde?
Não jures. O juramento é
uma arma com que se ameaça a verdade e a sinceridade.( Coelho Neto)
O bom juiz condena o
crime, mas não odeia o criminoso.( Sêneca)
O último grau da perversidade é o de pôr as leis ao serviço da injustiça.( Voltaire)
Um juiz tirânico é mais
e é menos do que um homem; menos porque não tem coração; mais porque tem
gládio. No ano 414 de Roma, Marilius condenou a morte o filho por ter ousado
vencer sem sua ordem. A disciplina violada exigia uma expiação.( Victor Hugo)
A justiça sem a força é
impotente; a força sem a justiça é tirânica. Cumpre, pois, colocar juntas a
força e a justiça e para tanto fazer com que o que é justo seja forte e o que é
forte seja justo.( Pascal)
O mais forte nunca é
suficientemente forte para ser sempre o senhor, a menos que transforme a força
em direito e a obediência em dever.( J.
J. Rousseau)
Ser santo é exceção; ser justo é a regra. Errai, desfalecei, pecai, mas sede
justos.( Victor Hugo)
A juventude é o tempo de estudar a sabedoria, assim como
a velhice é o tempo de praticá-lo.( J.J.
Rosseau)
Dizia Kipling, que no
fim da sua vida terrena,sentir-se-ia muito feliz, se alguém que tivesse sido
testemunha de seus atos, pudesse tecer comentários a seu respeito, semelhantes
a estes: “Tratou bem a todos. Foi amável com todos. Honrou a todos, não ofendeu
ninguém porque sabia que passaria uma só vez por aqui... Sabendo que a Bondade
é o sal da terra e a luz do mundo, depositou-a nos corações aflitos; escondia
as suas próprias angústias para que ninguém partilhasse de suas mágoas; ao
contrário porém, erguia bem alto, como manda a Bíblia, a candeia de sua
generosidade, a fim de que ela se espalhasse sobre o maior número de pessoas;
repetiu, mil vezes:— bem aventurados os pobres; bem aventurados os que choram;
bem aventurados os que pedem justiça; os limpos de coração; os pacificadores;
os perseguidos
e mil vezes deu a quem pediu; abriu a porta a quem bateu, e ao que o obrigou a
caminhar uma milha, caminhou duas milhas com ele, e ao que com ele pleiteou
para tirar-lhe o vestido, deu também a capa; amou o próximo e perdoou o
inimigo; e honrou pai e mãe, e não blasfemou e teve os olhos bons, e não andou
cuidadoso quanto à vida dos outros, e compreendeu as aves do céu, que nem
semeiam, nem regam, nem ajuntam em celeiros; e adivinhou a onipotência divina,
olhando os lírios do campo, e não julgou para não ser julgado, e deu a face
direita e a face esquerda, e entrou pela porta estreita e caminhou pelo caminho
apertado da honra, e não edificou a sua casa sobre a areia, e não praticou a
iniquidade e foi manso e humilde de coração.”
VOLTA AO LAR ( Luiz Guimarães)
Como a ave que volta ao
ninho antigo,
Depois de um longo e tenebroso inverno,
Eu quis também rever o lar paterno,
O meu primeiro e virginal abrigo.
Entrei. Um gênio
carinhoso e amigo,
O fantasma talvez do amor materno,
Tomou-me às mãos, olhou-me grave e terno,
E, passo a passo, caminhou comigo.
Era esta a sala... (oh! Se me lembro e quanto!)
Em que da luz noturna à claridade,
Minhas irmãs e minha mãe... o pranto
Jorrou-me em ondas...
Resistir quem há de?
Uma ilusão gemia em cada canto,
Chorava em cada canto uma saudade!
Não abandone a lealdade
e a fidelidade, guarde-as sempre bem gravadas no coração. Se você fizer isso,
agradará tanto a Deus, como aos homens. Quando se deitar, não terá medo, e o
seu sono será tranquilo a noite toda. Porque Deus lhe dará segurança e nunca
deixará cair numa armadilha.( Salomão)
As leis são como teias
de aranha; se se é pequeno ou fraco cai-se dentro dela; se se é maior ou mais
forte, rompe-se a teia, e foge-se.( Sólon)
LEGADO (Carlos Drummond de Andrade)
Que lembrança darei ao Pais que deu
Tudo que lembro e sei, tudo quanto senti?
Na noite do sem fim, breve o tempo esqueceu
Minha incerta medalha e a meu nome se ri.
E mereço esperar mais do
que os outros, eu?
Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.
Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu,
a vagar, taciturno, entre o talvez e o se.
Não deixarei de mim
nenhum canto radioso,
uma voz matinal palpitando na bruma
e que arranque de alguém seu mais secreto espinho.
De tudo quanto foi o meu
passo caprichoso
na vida restará, pois o resto se esfuma,
a pedra que havia em meio do caminho.
LIBERDADE ( Bocage)
Liberdade, onde estás?
Quem te demora?
Quem faz que o teu influxo em nós não
caia?
Por que (triste de mim) por que não raia
Já na esfera de Lísia a tua aurora?
Da santa redenção é
vinda a hora
A esta parte do mundo, que desmaia.
Oh! Venha... Oh! Venha e trêmulo descaia
Despotismo feroz, que nos devora!
Eia! Acode ao mortal,
que frio e mudo,
Oculta o pátrio amor, torce a vontade
E em fingir, por temor, empenha estudo.
Movam nossos grilhões
tua piedade;
Nosso númen tu és, e glória e tudo,
Mãe do gênio e prazer, ó Liberdade!
Não é a ocasião que faz
o ladrão; o provérbio está errado. A forma exata deve ser esta: a ocasião faz o
furto, mas o ladrão já nasce feito.( Machado
de Assis)
Vi que a vida era má e
escrevi estas cartas. Se as leres no meio de um festim, as porás de parte com
enfado, mas buscarás a sua consolação, quando o mundo te fizer chorar.( Albino Forjas Sampaio)
Se chorares por ter
perdido o sol, as lágrimas impedirão que vejas as estrelas.
( Rabindranath Tagore)
Nã há no mundo palavras
tão convincentes nem oradores de tamanha eloquência como as lágrimas.( Lopes de Vega)
À JÚLIA CHORANDO ( Thomas Moore)
Se alguma dor te
atormenta
E por isso choras tanto
Vem a mim, experimenta
Eu farei cessar teu pranto.
Mas, se choras mesmo
quando
Risonha a vida te apraz...
És tão bela assim chorando...
Pedirei que chores mais.
A VIDA ( João de Deus)
Foi-se-me pouco a pouco
amortecendo.
A luz que nesta vida me guiava,
Olhos fitos na qual até contava
Ir os degraus do túmulo descendo.
Em se ela anuviando, em
a não vendo,
Já se me a luz de tudo anuviava;
Despontava ela apenas, despontava
Logo em minha alma a luz que ia perdendo.
Alma gêmea da minha,
ingênua e pura,
Como os anjos do céu (se o não sonharam...)
Quis mostrar-me que o bem, bem pouco dura!
Não sei se me voou, se
m’a levaram,
Nem saiba nunca a minha desventura
Contar aos que inda em vida não choraram.
A lisonja é uma moeda
que circula por culpa dos vaidosos.( La
Rochefaucauld)
A lisonja como a moeda
falsa; prejudica quem a recebe.( Mme.
Woillez)
O corpo é terra. O livro
eternidade. Aqui achamo-nos diante da morte silenciosa. Abramos “Os Sertões” e
teremos a vida com a sua ardência, com o
seu tumulto, com as suas misérias e grandezas.O túmulo é um livro fechado,
encadernado em mármore,cujo texto ainda ninguém decifrou. O livro é esplendor
perene: as letras refulgem e, como diamantes, tanto mais brilham quanto mais as
repule o tempo que é o seu lapidário.( Coelho
Neto)
Casa sem livros, corpo
sem alma.( Cícero)
O livro é um mudo que
fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive.( Padre Antonio Vieira)
O LIVRO ( Castro Alves)
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O Livro caindo n’alma
É germe que faz a palma,
É chuva que faz o mar.
São justamente os livros
que não lemos que mais nos comprometem.( Victor
Hugo)
Nos livros encontramos a
síntese de todas experiências humanas. Podemos usá-las ou desprezá-las à vontade.
Quando as utilizamos, porém, compartilhamos a coragem e a resistêcia dos
aventureiros, os pensamentos dos sábios, a fantasia dos poetas e os arroubos
dos apaixonados, e, alguns de nós, o êxtase dos santos.( Sir Basil Blackwell)
A alteração e a emenda
não convém a obras da natureza, desta, que devem brotar de um fato único e
conservar a sua forma primitiva. Produzida a obra
não a corrijam, não a retoquem. Publicado o livro, reconhecido e proclamado o
sexo da obra, viril ou não, soltando o primeiro vagido, nascida a criança
nada há a fazer-lhe; pertence ao ar e ao sol: deixem-na viver ou morrer. Não
acrescentem capítulos a um livro mau. É incompleto? Deveriam completá-lo
quando o engendraram... O drama nasceu coxo? Creiam nisto: não tentem dissimular
o aleijão com uma perna de pau.( Victor
Hugo)
ISMÁLIA ( Alphonsus de
Guimarães)
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu uma lua no mar.
No sonho em que se
perdeu,
Banhou-e toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar.
E no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas par voar,
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe
Ruflaram de par em par
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
O luxo arruina o rico e
agrava a miséria dos pobres.( Denis Diderot)
O excesso de luz é mais
impenetrável do que a treva mais densa. Ninguém consegue fitar o sol de frente,
sem risco de tornar-se cego.( Coelho Neto)
Tudo vem à luz do dia
até mesmo no fim do dia, e tudo transparecerá ainda mais, mesmo quando os dias
tiverem terminado.( W. Churchill)
A luz contém sempre em
si a fraternidade. Mesmo atrás da nuvem que nos cerca de sombra, há a estrela
que nos envia a luz.( Victor Hugo)
Se deres as costas à luz
nada mais verás que a tua própria sombra.( Zalhind
Piatigórsky)