COLETÂNEA LITERÁRIA

 

CAPÍTULO 10

 

Mãos – Mar – Mediocridade – Medo – Memória – Mendigos – Mentira –

Miséria – Mocidade – Moradia – Morte – Mulher – Mundo – Música –

Nada – Natal – Necessidade – Nobreza – Nulidade –

Obediência – Ociosidade – Ódio – Olhos

 

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SONETO (Alphonsus de Guimarães)

Mãos que os lírios invejam, mãos eleitas
Para aliviar de Cristo os sofrimentos,
Cujas veias azuis parecem feitas
Da mesma essência astral dos olhos bentos;

Mãos de sonho e de crença, mãos afeitas
A guiar do moribundo os passos lentos,
E em séculos de fé, rosas desfeitas
Em hinos sobre as torres dos conventos.

Mãos a bordar o santo Escapulário
Que revelastes, para quem padece
O inefável consolo do Rosário;

Mãos ungidas no sangue da Coroa
Deixai tombar sobre minh’alma em prece
A bênção que redime e que perdoa!

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 O MAR ( Emilio de Menezes)

Quando, a primeira vez, lhe vi a grandeza
Foi nos tempos da longa meninice
E quedei-me à mudez de quem sentisse
A alma de pasmos e terrores presa.

Depois, na mocidade, a olhá-lo disse:
É moço o mar na força e na beleza!
Mas, ao dia apagado e à noite acesa,
Hoje o sinto entre as brumas da velhice.

Distanciando-se de escarpas e barrancos
Vejo-o morrer-me aos pés, calmo, ao abrigo
Das grandes fúrias e os hostis arrancos.

E ao contemplá-lo assim, tristonho digo
Vendo-lhe a espuma, os meus cabelos brancos:
O velho mar envelheceu comigo!

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Quando uma catástrofe pública ou privada desaba sobre nós, se examinarmos bem por baixo dos escombros que jazem por terra, encontramos, quase sempre, que foi causada por um homem medíocre e obstinado que tinha confiança em si e se admirava. Há pelo mundo muitas dessas pequenas fatalidades cabeçudas que se julgam providências. ( Victor Hugo)

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Quando os sertanejos atravessam a floresta,cantam.
É um meio de se acompanharem, iludindo o medo.( Coelho Netto)

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Uma cabeça sem memória é uma praça sem guarnição. ( Napoleão Bonaparte)

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MENDIGOS
O homem dado às letras deve trazer um lápis na algibeira para escrever os pensamentos logo que lhe ocorram. Os que vêm de improviso são os mais importantes; é portanto necessário cuidar de os reter e conservar, porque raras vezes acodem novamente à idéia.( Francis Bacon)

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Se se dessem esmolas apenas por piedade, todos os mendigos já teriam morrido de fome.( Nietzche)

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 IRMÃO DOS MENDIGOS ( R. Abreu)

Sou irmão dos mendigos. Se não peço
nas ruas por não ser ainda ocasião,
peço a esmola do amor, por isso meço
o sofrimento dos que pedem pão.

À noite, ao frio, quase que enlouqueço:
sinto a geada no pobre coração;
e porque tenho frio, enfim padeço,
vejo em cada mendigo um meu irmão!

Compreendo o horror que a vida encerra...
Da mesma essência fez os homens Deus:
e uns riem e outros choram sobre a terra!

Hei de fazer os vossos prantos meus,
tristes mendigos que a indigência a terra,
pobres que somos à maldição dos céus...

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A mentira é como a desgraça: nunca vem só. ( A. Vigny)

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Mentir é o absoluto do mal. Não é possível mentir pouco. Quem mente, mente toda a mentira. Satã tem dois nomes: chama-se Satã e
chama-se Mentira. ( Victor Hugo)

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Quanta mentira piedosa tem dado consolo às alheias mágoas.( Bastos Tigre)

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Há uma miséria maior do que morrer de fome num deserto: não ter o que comer na Terra da Promissão. ( José Américo de Almeida)

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INDIGÊNCIA ( Antenor Nascimento Filho)

Eu não possuo mais que a roupa que me cobre.
 Mãos limpas. Alma limpa. Exulto por ser pobres.
 Indigência feliz; miséria salutar
de quem mais nada quer que a graça da virtude.
Dei de mim com amor o que pude e não pude
e conheço a aflição de não ter o que dar!

A mocidade é como a primavera,
A alma cheia de flores resplandece,
Crê no bem, ama a vida, sonha e espera
E a desventura facilmente esquece. (Olavo Bilac)

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As moradias são construídas para serem habitadas e não para serem contempladas. ( Bacon)

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RELÓGIO ( Cassiano Ricardo)

Diante de coisa tão doída
conservemo-nos serenos.
Cada minuto de vida
nunca é mais, é sempre menos.
Ser é apenas uma face
do não ser e não do ser
Desde o instante em que se nasce
Já se começa a morrer.

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O fraco teme a morte; o infeliz a chama; o temerário a provoca e o sensato a espera. ( Benjamin Franklin)

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Morrem os covardes muito antes de morrerem; os bravos provam a morte uma só vez. ( Shakespeare)

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 Se morrer é deixar a iniquidade deste mundo e ir ao reino dos eternos deuses; e ver os heróis e os sábios que injustamente padeceram nesta terra, por que preço se não há de comprar semelhante felicidade? Separemo-nos, pois: eu para morrer, vós para viver. Quem seguirá melhor caminho? Ninguém o sabe, senão Deus. ( Sócrates)

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Os homens temem a morte, como as crianças temem a escuridão. ( F. Bacon)

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SE EU MORRESSE AMANHÃ ( Álvares Azevedo)
 
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã,
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perderia chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! Que céu azul! Que doce n’alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida me devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!

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A morte lembra viagem
Rumo a júbilos distantes,
Para quem paga o pedágio
Do serviço dos semelhantes. ( Francisco Cândido Xavier)

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O homem quando nasce tem os braços estendidos para frente, como se dissesse: “É meu o mundo”. Quando morre os traz ao longo do corpo, como a dizer: “Nada levo deste mundo”. ( Sabedoria Oriental)

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Uma vida inútil é uma morte prematura. ( Goethe)

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ÚLTIMO SONETO ( Álvarez Azevedo)

Já da noite o calor me cobre o rosto,
Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
E devora meu ser mortal desgosto!

Do leito, embalde, no macio encosto,
Tento o sono reter!... Já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece...
Eis o estado em que a mágoa me tem posto!

O adeus, o teu adeus, minha saudade,
Fazem que, insano, do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade.

Dá-me a esperança com que o ser mantive!
Volve ao amante, os olhos, por piedade
Olhos por quem viveu quem já não vive!

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Ao morrer o homem leva apenas aquilo que de bom deixou feito na vida. ( Anônimo)

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Morrer é nada; não viver é que é medonho. ( Victor Hugo)

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 O ÚLTIMO FANTASMA ( Castro Alves)

Quem és tu? Quem és tu, vulto gracioso,
Que te lavas da noite na orvalhada?
Tens a face nas sombras mergulhada...
Sobre as névoas te libras vaporoso...
 
Baixas do céu num vão harmonioso!...
Quem és tu, bela e branca desposada?
Da laranjeira em flor, a flor nevada
Cerca—te a fronte, ó ser misterioso!...

Onde nos vimos nós?... É de outra esfera?
És o ser que eu busquei do sul, ao norte...
Por quem meu peito em sonhos desespera?
 
Quem és tu? Quem és tu? — És minha sorte!
És talvez o ideal que est’alma espera!
És a glória, talvez! Talvez a morte!

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A MORTE PARA OS TRISTES É VENTURA ( Bocage)

Quem se vê maltratado e combalido
Pelas cruéis angústias da indigência;
Quem sofre de inimigos a violência,
Quem geme de tiranos oprimido.

Quem não pode de ultrajado e perseguido
Achar nos céus ou nos mortais clemência;
Quem chora finalmente a dura ausência
De um bem que, para sempre, está perdido.

Folgará de viver quando não passa
Nem um momento em paz, quando a amargura
O coração ele arranca e despedaça?

Ah! só deve agradar-lhe a sepultura,
Que a vida para os tristes é desgraça,
A morte para os tristes é ventura.

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A mulher é flor da civilização. Sem ela a vida seria triste, escura, só de egoismo e luta, sem beleza e sem ternura. Ela é que anima o lar e dá encanto  à sociedade. ( Coelho Netto)

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Passarei por este mundo uma só vez. Assim, todas as gentilezas que possa dispensar a qualquer ser humano, não devem ser adiadas. Devo aproveitar este momento pois, não sei se voltarei a passar por este caminho. ( Sabedoria Oriental)

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A alegria é como a música: quanto mais a comunicamos, mais a temos. ( Anônimo)

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A primeira vez que um homem prestou atenção no canto de um pássaro, ai nasceu a Musica. ( Anônimo)

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A música como arte, é a mais esplêndida de todas; como profissão é detestável; de resto é justo que assim seja: a terra não pode acatar o que pertence ao céu...( Charles Gonoud)

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Quando Deus criou o Homem, deu-lhe a música como linguagem, diferente de todas as outras. Mesmo em seu primarismo, o homem da caverna, curvou-se à glória da música; ela envolveu os corações dos reis e os elevou acima de seus tronos. ( Kalil Gibran)

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Nada vem do nada.( Lucrécio)

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O nada não existe. Não há zero. O próprio zero, como tudo mais,  é alguma coisa. ( Victor Hugo)

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 MENSAGEM DE NATAL ( Autor Desconhecido)

Que você reencontre neste Ano Novo as coisas que ficaram esquecidas no ano que esté findando. A amizade distante, o abraço não dado, o sorriso que não  floresceu em seus lábios.

Neste ano novo encontre coisas mais simples do que as crises do mundo, as guerras e as agressividades; descubra no ar algo superior.

Não se deixe levar somente pela engrenagem da vida; pare um pouco e analise se vale a pena viver sem dar ou receber amor. Não tenha medo de ser você mesmo, respire fundo e olhe o horizonte, transportando-se com a alma e com o coração aberto para esta nova época.

Mas, se você conseguir sentir as coisas belas; livres de interesses materiais, não procure a paz porque ela, mesmo estando na sua frente, você nunca a encontrará.

Descubra neste Natal as coisas boas julgadas muito distantes, mas que estão junto de você, bem ao seu lado.

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MENSAGEM DE NATAL ( Rev. José Borges dos Santos Jr.)

Abra as mãos e deixe as pedras...

Não se assuste, não se apresse, não tenha medo.

De mãos abertas e sem pedras, sem precipitação, espere as coisas clarearem. Não é seguro atirar no escuro, ao acaso, sem verificar porque e a quem se vai ferir.

Ainda que você esteja amparado por um motivo, baseado na ofensa que recebeu ou no prejuízo que lhe causaram, não se apresse a tornar a pegar as pedras.

Os passos da Justiça devem ser como os passos de Deus: lentos para que sejam também seguros e, acima de tudo, longânimos.

Estamos vivendo um período de inquietação mundial, quando as nações se encontram sem rumo certo. Não é com pedras nas mãos que vamos construir um mundo melhor. Mãos abertas para enchê-las das bênçãos do trabalho; do perdão, da generosidade, da justiça e da paz.

Abra as mãos. Não se aventure a ser o primeiro a atirar uma pedra, ainda que seja para ferir com justiça o mais obstinado e frio criminoso. Se lhe agrada ser o primeiro, seja então, no abrir as mãos para tomar nelas a mão do cego, do órfão, do ignorante, do desamparado, do preso e, se você tiver força para tanto, até a mão do desafeto.

De mãos fechadas e com pedras ninguém pode trabalhar, receber, ajudar e abençoar.

Mais alegrias trazem as mãos cansadas, feridas e doloridas, do que as mãos armadas de calhaus e agressividade.

As pedras não são dignas das mãos bondosas e humanas, adestradas para o trabalho, aquecidas para o carinho, fortalecidas para a bondade e justiça.

As suas mãos foram feitas para as flores e os frutos, para o alívio e a cura, para a alegria e a paz.

Desarme-se. Acenda, sem demora, as velas pequeninas de uma árvore de Natal dentro do seu coração, para que as suas mãos se encham de luz e semeiem as alegrias de um Natal cristão.

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A necessidade não conhece leis. (“Necessitas non habet legem”). ( Santo Agostinho)

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O homem nobre é exigente consigo mesmo; o homem vulgar exigente para com os outros. O vulgar no pode fazer-se digno das coisas grandes, mas pode ser reconhecido pelas minúcias.

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O homem comum é exigente com os outros; o homem superior é exigente consigo mesmo. ( Marco Aurélio)

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A noite é repouso geral. Se Deus houvesse dividido o dia em duas partes, uma para o trabalho, outra para o descanso sem afastar o sol do espaço, o homem ambicioso no se entregaria ao sono senão quando se encontrasse prostrado. ( Coelho Netto)

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 ZEROS ( Trilussa)

Eu, para ser sincero,
Não valho grande coisa—
dizia o um ao zero.
Tu, porém, na verdade,
no vales nada; és uma nulidade!

Na ação, no pensamento e em tudo o mais,
és um sujeito ôco, inconcludente;
eu, todavia, se me ponho frente
de seis zeros apenas, teus iguais,
assumo logo enorme projeção:
fico sendo — não sabes? — Um milhão!

É questão de algarismos e parece
que isso que acontece
com todo ditador;
pois ele também deve seu cartaz
aos muitos zeros que lhe vão atrás.

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Saber obedecer é a mais perfeita ciência. ( Frei Gabriel Telez)

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O homem ocioso é como a água parada: corrompe-se. ( Látena)

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O ódio é sempre enorme; um ódio é o ódio todo. O elefante odiado por uma formiga, acha-se em perigo. ( Victor Hugo)

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O OLHAR ( Mendes Martins)

Pelo olhar eu conheço o que padece,
O que a mágoa sem trégua dilacera,
o que a vida detesta e se aborrece -
Da vida, embora em plena primavera.

O que anda pelo mundo da quimera
E o sol da crença, do infinito aquece;
O que não cansa de esperar, e à espera
do desalento a noite não conhece.

Olhos — alguém já disse — espelhos d’alma!...
Pelo olhar eu conheço os que tem calma
E os que imergem da vida no escarcéu.

Os venturosos vão olhando a esmo,
O indiferente, esse olha para si mesmo
E os desgraçados olham para o céu!

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Os meus olhos tem meninas,
Essas meninas tem olhos,
Os olhos dessas meninas,
São as meninas dos meus olhos. ( Adelmar Tavares)

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O olho do homem é assim feito: vê-se nele o seu íntimo. A nossa pupila revela quanta força existe em nós. As consciências mesquinhas piscam; as elevadas lampejam. Se nada brilha sob a pálpebra, por que nada pensa o cérebro. O que ama quer e o que quer refulge.( Victor Hugo)

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