12 de setembro de 2006
Entrevistado: Rubens Barrichello, avô do piloto Rubens Barrichello
O avô do Rubinho veio de São Paulo, especialmente para trazer um macacão Ferrari que o piloto Rubinho autografou e doou para arrecadar fundos para o Hospital Franciscano São Vicente de Paulo, que no dia 16 de setembro ás 20 horas irá realizar um jantar beneficente e leilão de artes na Sociedade Cultural Riopedrense, centro de Rio das Pedras. Maiores informações pelo fone 34932343.
No século XIX, ou seja, de 1800 até 1870, ocorria na Europa convulsões sociais.A unificação da Itália em 1870 reunia um povo de múltiplos dialetos. Não havia trabalho, abrigo e alimentos para todos. Representantes dos Estados Unidos, da Argentina e do Brasil, faziam a propaganda para encorajar a mão de obra a imigrar para seus países. O Brasil promovia toda essa propaganda porque, a escravidão do negro estava com os dias contados. Eram usados artifícios que alimentavam sonhos e ilusões de um paraíso nas terras distantes. Foi a única saída para sobreviver, não foi uma fuga, era necessário ter muita coragem para tomar a decisão de deixar a pátria. A primeira grande leva de imigrantes foi destinada às fazendas de lavoura de café no interior do estado paulista. Junto com os espanhóis, os italianos substituíram os negros nas plantações. Com promessa de lote de terra e bons salários, logo os imigrantes começaram a se decepcionar com a realidade que encontravam. Muitos partiram das fazendas para o centro da cidade e começaram a trabalhar nas fábricas e no comércio. A marca desse povo não ficou somente na economia. Os imigrantes italianos influenciaram fortemente os hábitos alimentares nas regiões em que se fixaram. O macarrão, a pizza e o vinho foram rapidamente assimilados e adotados pelo paulista. A seguir alguns números de imigrantes italianos por diversas fontes:
Brasil (italianos e descendentes) = 22.753.000
Fonte: Jornal Ítalo Brasileiro, ano
1, n. 1, 1996, p.8, citando quadro divulgado pelo Ministério das
Relações Exteriores Italiano
Brasil (italianos e descendentes) = 25.000.000
Fonte: Presenza italiana in Brasile. Embaixada
da Itália, 2000
São Paulo (Estado): italianos e descendentes
= 6.000.000
Fonte: Estimativa do Consulado Italiano
Giovanni Barrichello e seus irmãos Giuseppe, Santo e Felício vieram para o Brasil, em 1885, dirigindo-se para a cidade de Rio das Pedras, após terem passado um período em Minas Gerais. A cidade de origem é Riese Pio X, região de Treviso, ao norte da Itália. Giovanni Barrichello, teve os filhos: Luis, Eugênio, Jacob, Laura, Angelina, Santina e José. Jacob era o terceiro filho, com o apelido de “Cheu”, ou “Pio Cheu”, que queria dizer “o mais novo”, porque na família Barrichello aqui no Brasil já havia outro Jacob Barrichello que era mais velho. Para que não houvesse confusão com o mesmo nome é que ficou apelidado como “Pio Cheu”. Ele era casado com Maria Marim Fernandes, que era irmã do Paco, outro morador de Rio das Pedras. Jacob teve os filhos: Alcides, Rubens, Wilson, Leonel e Laura. Rubens é o avô do Rubinho, corredor. O pai do Rubinho também se chama Rubens. Portanto, dizemos: Rubens (avô), Rubão (pai) e Rubinho (filho). Cheu morou em Rio das Pedras durante algum tempo. Ficou viúvo e resolveu ir com os filhos morar no Município de Santa Bárbara D’Oeste, e mais tarde resolveu mudar-se para São Paulo. (Depoimento da família).
Qual é o nome do completo
do senhor?
Rubens Barrichello. Sou avô do Rubinho.
Somos três Rubens! Meu nome é Rubens Barrichello, meu filho
chama-se Rubens Barrichello Júnior, e o Rubinho é Rubens
Barrichello.
O senhor nasceu em Rio das Pedras?
Sim, eu nasci em Rio das Pedras, hoje fui
visitar a casa aonde nasci, que está inteira. Sai de Rio das Pedras
muito cedo, muito novo ainda. Mas lembro-me, que no Moinho do Froner se
levava 5 quilos de milho para retornar com 2 ou 3 quilos de fubá.
Essa moenda existe até hoje. O meu pai era Jacob Barrichello, ele
trabalhava na lavoura. Mudamos para Santa Bárbara D’Oeste, meu pai
comprou um sítio aonde ele trabalhava na lavoura, e de lá
em 1941 fomos para São Paulo. Morávamos na Rua do Gasômetro,
praticamente no centro de São Paulo. Na época tinha ali a
Estação do Norte, mais tarde denominada Estação
Roosevelt. Tinha a famosa “porteira do Brás”, aonde o trem passava.
Quantas vezes eu tive que esperar o trem passar para atravessar! Hoje existem
viadutos. Até o bairro Belém era habitado, dali para frente
era ocupado com plantação de caqui. Tinha muito caqui ali.
Era pouco habitada essa área. Hoje lá é uma
região maravilhosa, tenho uma irmã que mora no Tatuapé,
aonde havia essa plantação de caqui!
Qual era a atividade do pai do
senhor em São Paulo?
Após alguns meses que chegamos em São
Paulo ele faleceu. Éramos em cinco irmãos. O mais velho,
o Alcides, sempre teve muito contato com a família Barrichello em
Rio das Pedras. Estou tendo um enorme prazer em estar recebendo esse tratamento
especial, aqui em Rio das Pedras. Estou muito feliz por ter vindo visitá-los!
Meu irmão chefiava a família e fomos em frente. Quando eu
tinha uns 22 a 23 anos de idade comecei no comércio de madeiras,
materiais para construção, e permaneci trabalhando nessa
atividade até me aposentar. Eu tenho hoje (2006), 78 anos e seis
meses! Há pouco tempo fui ao médico, ele disse-me: -Você
tem a disposição do meu pai. Ele faleceu com 96 anos de idade.
Você vai viver até os 96 anos com certeza! Logo depois tive
que ir á outro médico, esse me disse: - Você está
tão bem que irá viver até os 95 anos! Eu “briguei”
com ele. Ele me tirou um ano de vida! (muitos risos).
O senhor gostava de corrida de
carros?
Eu sempre fui contra! Achava que era uma temeridade
o Rubinho com 6 anos de idade entrar em uma pista de kart. Mas depois,
eu vi que era uma realidade. O menino teria futuro, me abracei ao assunto
e dei o meu total apoio, e o Rubinho felizmente despontou.
Com o falecimento de Airton Senna, o Rubinho
passou a ser o nome mais forte da torcida brasileira?
Ele não gosta quando falam assim. Houve
muita cobrança quando o Airton faleceu. O Rubinho deveria ser o
representante da torcida brasileira. Só que ele não poderia
ser! Naquele momento estava em uma escuderia fraca, na época era
a Jordan. Não depende só do piloto. É um complexo
muito grande de fatores. Cobraram muito isso dele! Foi desgastante para
todos. Mas, felizmente pelo seu talento, ele obteve sucesso. Não
se chega a uma Ferrari apenas pelo desejo de entrar na equipe. Quando ele
foi contratado pela Ferrari ele tornou-se muito conhecido.
O senhor chegou a ir até
a Ferrari?
Fui várias vezes! É indescritível
! Só indo e vendo! Uma passagem interessante, ocorreu agora na despedida
do Rubinho. A Ferrari convidou a família para a festa de despedida.
Ele ficou durante 6 anos lá, e é muito querido por todos
os italianos. Foi uma festa maravilhosa! Em Mugello, Schumacher e Rubinho,
mais outros dois carros de corrida na frente, e 47 carros Ferrari de passeio,
uma mais linda do que a outra! Novas, antigas, de todo os tipos. Isso foi
em um sábado. Na segunda-feira fomos á pista para fazer um
passeio na Ferrari. Alargaram uns dois centímetros de cada lado,
colocaram um banco a cada lado do piloto, e convidaram a família
para andar naquele carro. Eu e meu filho fomos os primeiros juntos. O Rubinho
piloto, o pai de um lado e o avô do outro lado. Preocuparam-se muito
comigo, porque eu já tinha 77 anos de idade. Pensavam: “Vai dar
um treco nesse velho aí” (risos).
A que velocidade o senhor andou?
Eu andei a 270 quilômetros por hora.
Os outros, os amigos e meus filhos andaram a 290 quilômetros por
hora e 300 quilômetros por hora com dois amigos dele os quais ele
desejava assustar! É uma pista com uma curva atrás da outra,
fica dentro de Modena. Quando eu entrei a parafernália é
a mesma. O momento de colocar o pneu, o momento de tirar a cobertura do
pneu, dar a partida, de abaixar o carro, tudo igual! Fica-se meio deitado
no carro! A roupa é a mesma. Coloquei a meia, que vem até
o joelho, antifogo, depois uma blusa. Eu tinha que segurar o que parecia
uma pêra (interruptor de luz, com um botão de pressão
no meio), eu tinha que segurar aquilo apertado, caso eu me sentisse mal
e desmaiasse, soltaria e ele teria que parar. Na outra mão um botão
por nos comunicávamos. Aquilo faz um barulho ensurdecedor! Embora
eu estivesse bem protegido. Quando saímos, eu dava risada! Dizia
para ele correr: - Pisa! Pisa! Manda o pau! Eu falava e dava risada! Quando
chegamos ao final, todos estavam apavorados, tinha helicóptero,
ambulância, quando paramos, levantei o dedão e perguntei:
E aí só vamos dar duas voltas? (risos) Só eram duas
voltas para cada um. Depois andaram a minha nora e a minha neta, meus filhos,
e quando acabou o passeio da minha família, foram andar os mecânicos
e os engenheiros. Eles não andam naquele carro. Teve um deles, um
bem calvo, pode observar na televisão quando for assistir a uma
corrida, ele saiu do carro mais branco que um guardanapo! Quando eu desci
disse: - Nunca mais vou criticar um piloto que esteja em último
lugar. Para entrar nesse carro precisa ter talento de sobra! Não
sei como eles conseguem ver! Eu não enxergava a curva, só
sabia quando estava na curva quando aquilo freava violentamente, e acelerava
de novo. O carro atinge 180 quilômetros por hora nos primeiro 100
metros!
O senhor gosta de velocidade?
Eu estava voltando do sítio, vinha
pela Rodovia Airton Senna, aonde a velocidade máxima é 120
quilômetros por hora, quando um guarda me parou.Eu percebi então
que distraidamente tinha ultrapassado o limite de velocidade permitido.
Ele estava com a fisionomia carregada, pediu meus documentos, ele me disse:
Ah! Só faltava o senhor! Eu já peguei o Rubinho, o pai do
Rubinho, a irmã do Rubinho, só faltava o senhor mesmo! Acabamos
batendo um longo papo, ele queria que eu contasse porque o carro do Rubinho
não anda!
É uma pergunta que fazem
muito?
O Rubinho é o primeiro brasileiro a
sentar em uma Ferrari, ficou seis anos na escuderia, é muito estimado
por todos da Ferrari. Eu levei o Clube São Caetano para jogar bocha
na Europa. Faço parte da Confederação Brasileira de
Bocha, Boliche e Bolão. Fui Campeão Brasileiro de Bocha,
Campeão Paulista. Meu forte é atirar a bola. Também
chamado de atirador, tem o ponteiro, que joga para fazer ponto.Levei a
Seleção Brasileira de Bocha para a Itália e Suíça
a partir de 1983, todo ano nós íamos para a Europa para disputar
bocha. O Brasil e a Argentina estão classificados em terceiro lugar
no mundo, em primeiro lugar está Itália, em segundo a Suíça
. Fomos jogar em Modena, o pai do Pavarotti veio jogar bocha comigo, ele
achava que eu era mais importante do que ele! Eu disse o senhor é
o pai do Pavarotti, eu sou avô do Barrichello! O pai do Pavarotti
foi um cantor lírico, eu tenho gravação dele. O pessoal
do São Caetano queria ver a Ferrari. Era um dia 10 ou 11 de janeiro,
muito frio, chegamos na Ferrari faltavam 15 minutos para abrir a loja e
onde ficam os carros expostos. Disseram que estava fechado. Alguém
foi lá e disse que o avô do Rubinho estava lá. Imediatamente
abriram, entramos e eles fecharam. Todos fotografaram. Ali ficam as lembranças
dos pilotos. O macacão do Rubinho está lá, o boné,
o carro. Depoimento colhido no site oficial do piloto Rubinho Barrichello:
(“Pilotei 6 duros e longos anos pela Ferrari e sou muito grato a eles,
pois a equipe me ajudou a conquistar os dois vice-campeonatos, as nove
vitórias, os 25 segundos lugares e os 21 terceiros lugares, sem
contar as poles e as voltas mais rápidas e os 5 títulos de
construtores que eu ajudei, e muito, a conquistar. Aprendi muito com eles
e com o Schumacher, e saio da Ferrari muito ansioso pelo futuro”. Fonte:
site oficial do piloto Rubens Barrichello).
Qual foi o motivo especial da
vinda do senhor para Rio das Pedras?
A secretária do Rubinho disse-me: Seu
Rubens, o Dr. Lister Barrichello Tosello, presidente da Mesa Provedora
do Hospital São Vicente de Paulo de Rio das Pedras ligou, solicitando
um brinde do Rubinho para ser usado na arrecadação de fundos
para o Hospital. Eu fiquei tão contente! Disse ao meu filho: - Eu
vou levar! E vamos levar um macacão, que irá adquirir um
valor maior! Prontamente ele arrumou um macacão do Rubinho, que
estava de saída de São Paulo para a Europa, para o Grande
Prêmio de Monza. Deu tempo dele autografar o macacão! Eu vim
trazer, porque fiquei contente em poder ajudar. Nota: (Essa vinda do avô
do Rubinho especialmente para entregar o macacão torna essa peça
mais valiosa pela atenção e carinho com que está sendo
doada).
Para qual time de futebol o senhor
torce?
O meu dentista, a cada vez que eu ia lá,
ele começava a falar do Palmeiras certo de que eu era palmeirense.
Eu ficava quieto. Até que um dia eu disse-lhe que era corintiano!
Foi influencia do meu irmão mais velho o Alcides. O Rubinho também
é corintiano.