É privilegiado em vários sentidos e setores. Não é sacrificado pelo som dos martelos do progresso que somem e acabam com o silêncio. Não é perturbado por possíveis confusões criadas por vizinhos; não os tem, é só. O trânsito não o incomoda, está distante e, quando presente, é inócuo. A construção é de qualidade, nunca sofreu reformas, apenas pinturas e alguns remendos de pequena monta. É tradicional pela acolhida que deu à tradicional família Marino por várias décadas. Quantas reuniões de negócios, de entendimentos políticos e de interesse de nossa terra foram realizadas em suas dependências. Habitaram aí quatro prefeitos de nossa terra: Donato Marino, Nicolau Marino, Américo Gumercindo Marino e Waldomiro Domingos Justolin. Festas juninas monumentais, em homenagem a Santo Antônio e São Pedro, abertas ao povo, foram aí realizadas nos anos 50 e ainda hoje são comentadas pelos saudosistas. Presenciou, silenciosa e principescamente, a eclosão da Revolução Constitucionalista, o fim do regime ditatorial de Vargas, o início e o fim da Segunda Grande Guerra Mundial, as campanhas eleitorais em nosso município, a vitória do nosso futebol em 1954, a queda do nosso histórico coreto à Praça Floriano Peixoto, além da retirada dos trilhos e a demolição de inesquecível monumento de nossa terra, a estação da Estrada de Ferro Sorocabana. Por herança tem sido transferido a vários membros da família; hoje pertence a herdeiros da quarta geração. Tradicional e historicamente sempre pertenceu à família Marino. Como quase tudo na vida, enfrenta hoje situação adversa. Está só, não é habitado. Vive de seu orgulho por tudo de social e histórico que vivenciou em épocas passadas. Pode ser vendido e, de forma infeliz, passar a mãos que não conhecem o seu passado, que não têm ligação nenhuma com seu valor tradicional, correndo o risco de ser demolido e varrido de nossa paisagem. Pelo seu porte, o casarão poderia ser a nossa Prefeitura, nosso Museu, nosso Centro de Artes e, até mesmo, um Conservatório. Há, na Chácara Marino, espaço territorial que permitiria a implantação de todo o sistema administrativo municipal de Rio das Pedras. Seria uma forma de mantê-lo vivo, além de homenageá-lo pela sua presença marcante em nossa história. Fica aqui a semente lançada, dando chance aos administradores da cidade, de transformarem o casarão da Chácara Marino numa grande homenagem a todas as famílias estrangeiras que aqui aportaram, desde as últimas décadas do século XIX, lutando pelo progresso da terra das “Pêdras”. |