"Castigo Milionário"
Família rica, numerosa, materialista, desunida. O casal de velhos veio da Polônia e conseguiu, através de muito trabalho e vários bons negócios, amealhar fortuna considerável.
Com idade avançada, já passando dos oitenta anos os dois, viam e ouviam seus filhos e netos discutindo diuturnamente o destino da grande herança. Faziam planos que assustariam os maiores esbanjadores da época. Tinham passado várias vezes pela experiência triste de ouvir comentários cínicos sobre a”danada” da boa saúde de que ambos gozavam; chegaram a sentir em alguns momentos que desejavam logo suas mortes.
Vários netos não estudavam nem trabalhavam, pensando em viver com o produto do trabalho dos avós, incentivados nesse comportamento pelos próprios pais. Planos eram feitos com facilidade e rapidez, todos baseados em luxo, grandes viagens e festas pomposas. Sobre aplicações em setores produtivos que criassem novos empregos, lucros, mais trabalho e progresso, não se ouvia nada. Ninguém pensava em perder tempo com essas ideias. Para quê? Se a herança permitiria uma vida bela e gostosa sem preocupações.
O casal recebia constantes visitas de filhos e netos que vinham para bajular e agradar, ficando todos, sempre, para almoços, jantares e reuniões festivas, até por vários dias. Traziam amigos e conhecidos para mostrar o que possuiriam em bens e como viveriam após o recebimento da herança.
Algumas fazendas, vários prédios e muitas ações que geravam lucros enormes constituíam a dita herança. Tanto dinheiro, e nenhum amor, nenhuma consideração. Era uma família sem alma.
Movido pelo comportamento mercenário de filhos e netos, o casal já havia feito vários testamentos alterando, anulando, acrescentando ou diminuindo itens e mais itens. Sempre havia reconsiderações a fazer, criando momentos de dissabor para quem havia trabalhado tanto, passando agora por uma velhice ingrata.
Sentindo que faltava pouço tempo de vida, o casal de velhos resolveu fazer uma viagem por várias cidades, visitando tudo que fosse possível. Depois de várias semanas voltaram e discutiram, os dois, marido e mulher, todo o trabalho para juntar tamanha riqueza surgindo daí uma ideia genial. Mais uma vez o escrivão do cartório e seus advogados foram chamados para um novo testamento.
Os familiares, curiosos e interesseiros, permaneciam distantes daquelas decisões mas próximos de uma existência certamente farta e luxuosa. Os velhos caíram doentes e pouco mais de dois meses foi o suficiente para que partissem desta para uma melhor. Primeiro a velha e, apenas com quatro dias de diferença, o marido seguiu-lhe os passos.
A expectativa pela leitura do testamento uniu e reuniu a família de cento e oito membros. Planos e mais planos, tapinhas nas costas uns dos outros, sorrisos fixos nas faces, mãos se esfregando, até que o tabelião os reuniu em uma grande sala e declarou:
- Tudo ficou para todos. Vocês é que deverão providenciar a divisão dos bens.
N.A.: Conto de pura ficção ......................................................................................Março de 2013 |