Primeiro Centenário

17 de novembro de 1906! 

     Data de um tempo distante que se completa hoje, fechando o primeiro centenário de um casamento de peninsulares que não imaginavam, nem de leve, o que hoje aqui presenciamos. 
     Vieram para a América na tentativa de descobri-la, baseados na idéia de que Colombo não o fizera por completo. Aqui descobriram o amor. 
     Fizeram a viagem num transporte sem comodidade, falho em recursos, por um espaço de tempo sem limites. Chegaram só Deus sabe como! 
     O casal se conheceu, sentiu a atração natural dos enamorados e, com certeza, sonhou como todos os jovens quando se amam. Assumiu a responsabilidade do casamento dentro de uma seriedade que a época exigia. Um casamento para a eternidade das vidas que ambos viveram. 
     Ao pé da letra, e com todas as letras, uma união sólida que enfrentou tristezas e alegrias, saúde e doenças, fartura e dificuldades. Um casamento duradouro que comemora hoje sua primeira centena de anos. 
     Nós todos aqui presentes comemoramos, com esta festa, um casamento ao qual nenhum de nós assistiu ou testemunhou pessoalmente. Isso seria impossível porque somos frutos diretos ou indiretos desse enlace que é histórico. 
     O casal foi fazendeiro, comerciante e teve onze filhos em Rio das Pedras. Um de seus filhos foi nosso prefeito. Fez parte, com destaque, da sociedade riopedrense. 
     Por isso tudo o casal foi o construtor responsável e, justamente merecedor, do título de família tradicional de nossa terra. 
     Alguns filhos do casal, presentes à festa, são as testemunhas vivas que podem passar historicamente às gerações mais novas as dificuldades, os problemas, as dores, as alegrias, as grandes reuniões e as festas que viveram, rindo e chorando, com muita saudade de uma época rica e feliz. Com toda a certeza sonhou-se um sonho que todas as famílias desejam sonhar. 
     Naturalmente o casal, santa semente da família, não está presente. Já faz parte de outro estágio da vida e não pode receber os nossos cumprimentos; mas, onde quer que se encontre, nós sabemos e sentimos, feliz, sorrindo orgulhosamente, o velho casal de mãos dadas e olhos marejados de gordas lágrimas. Eles nos abraçam e nos cumprimentam, sentindo que a missão foi muito bem cumprida. 

IV Encontro dos Netos
doVô Ernesto e Vó Nina
Rio das Pedras, 18 de novembro de 2006

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