O Céu em Festa
Grande alvoroço
no céu. Preparativos gerais e específicos de uma grande festa.
A alegria, que sempre existiu, hoje era maior, havia muita felicidade no
ar. Alguém importante iria voltar ao convívio de velhos amigos,
muitos colegas e parentes.
Aqui entre nós
sempre foi muito simples, cordato, prestativo, além de possuir um
bom humor ímpar. A escola da vida deu-lhe diploma de doutor. Não
discutia, e mais ouvia que falava. Não passou por faculdades mas
era lembrado, recebido e comentado por todas as pessoas da nossa cidade,
autoridades ou não.
Seu andar era lento.
Seu olhar, direto. Amava sua cidade e não aceitava toda a mudança
que chegou a ver na rua de seu coração, a Rua Torta.
Ultimamente vivia
muito só, não acreditava no que via. Muitas vezes me disse,
muito triste e preocupado:
- Zizinho, o mundo tá de pernas pro
ar !
Tinha só amigos, todos o respeitavam,
com certeza tornou-se ilustre. Um ilustre riopedrense. Nasceu e morreu
em nossa terra. Foi pintor, vereador, colaborador da nossa imprensa. Sempre
do mesmo jeito, nada o demovia de sua simplicidade, de sua filosofia. Talvez
aí residisse a força de sua grandeza.
Morreu num Domingo,
dia do santo descanso universal. Morreu só, sem dar trabalho a ninguém.
Morreu no quintal de sua casa, onde existiu uma horta, que era um verdadeiro
jardim.
Morrer num jardim
é graça divina. Deus, com certeza, prestou-lhe essa homenagem.
Rio das Pedras ficou
mais triste, mas o céu se engalanou todo para recebê-lo.
Tudo muito iluminado,
claro, limpo. Ramalhetes de flores as mais lindas, uma orquestra divina.
Sorrisos e abraços num amplo salão onde, numa mesa de tamanho
regular, um casal tomava os lugares principais: seus pais, alegres, joviais,
sorridentes, ansiosos por revê-lo.
Entre os convidados,
velhos amigos, muitos colegas e parentes.
Abrem-se as portas
do salão e surge a figura nossa conhecida, num terno cinza claro,
sapatos pretos reluzentes, camisa branca e gravata grená.
Sorriso leve, olhar
manso, distribuindo a todos um exemplar do jornal de sua terra, em edição
extra, trazendo uma única notícia:
“O Vi partiu ! “. |