"Um ciúme do cão !"

      Indivíduo sortudo: bonito, inteligente, simpático e educado. Era o querido das meninas. O bom no futebol. O aluno com as melhores notas. O partido desejado pelas senhoras para suas respectivas filhas. Ainda , por cima, era filho de pai milionário.
     Era amigo colega e companheiro, mas a inveja e a incompreensão da maioria dos rapazes eram maiores que todas as suas qualidades. Do seu namoro com Elza sobrou um amor incontido e sem fim, cada vez maior, ela pelo rapaz. Namoravam desde garotos, nos seus treze e quatorze anos. Após cinco ou seis anos de uma relação apaixonada, surgiu uma série de desentendimentos e ala, para provocar ciúmes, passou a dar atenção a um amigo que sempre a cortejara. Em vez de ciúmes vieram decepção e desencanto. Cada um para o seu lado e ela, arrependida mas inflexível, casou-se mais tarde com o substituto.
     O marido, apaixonado mas incrivelmente ciumento, sentia que não estava sendo correspondido como desejava. Percebeu que o amor da esposa pelo antigo namorado era a causa principal de seu sofrimento. Fazia de tudo para evitar encontros com o rival. Não ia a festas, a jogos, bailes e nem mesmo à igreja. O casal vivia para quatro paredes e mesmo assim nada melhorava.
     A insegurança e o desespero tomaram conta daquele marido que transpirava um ciúme impiedoso, tolhendo completamente a esposa. Ela não saia de casa para nada sem sua companhia. Apenas quando ia em direção à casa dos sogros era vista caminhando sozinha; eram vizinhos de parede e meia. Toda vigilância era utilizada, tanto sobre a esposa como sobre o ex-namorado. Sobre os dois o marido sabia tudo: onde cada um ia, para que iam e assim por diante.
     Os três moravam na mesma cidade, que não era grande, e ficava até seis meses sem se verem. Ela emagrecia, envelhacia, sera triste e sem esperança. Estava seno devorada pelo ciúme do marido. Morreu.
     No velório não foi permitida a entrada do rival; ele apareceu mais para o desencargo de consciência, seu interesse maior e único. Tudo estava na cabeça doentia do marido.
     O caixão não pode ser carregado por nenhum outro homem além dele, de seus irmãos e cunhados e de seu pai. Todos os presentes ficaram até assustados com tal atitude.
     Sua loucura veio à tona quando colocou, junto ao túmulo, um cão de guarda a fim de evitar a aproximação de quem quer que fosse. O ciúme doentio o levou a sofrer gozações de todos os que conheciam. Começou a ter alucinações e sonhos terríveis. A esposa vinha dizer-lhe que, apesar de todo o cuidado, havia sempre um macho sempre perto dela e isso por culpa de seu ciúme insensato. Seus pensamentos, já todos emaranhados, tentavam descobrir quem seria o intruso e que conseguia enganá-lo e ainda mais por sua culpa.
Dois dias antes de morrer ele descobriu quem era o macho: matou o cão de guarda e o substitui por uma cadela.


7 de setembro de 2013
191 aniversário da Independência do Brasil

N. A . : Conto de pura ficção.

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