"Eco...lógico"

   Havia no vilarejo, pequeno e distante, um amor à natureza difícil de se ver. Tudo girava em tomo da preservação dos rios, dos vegetais e dos animais. Os mais velhos iam passando aos jovens os costumes e os conhecimentos que eram assimilados e sempre incrementados de novas técnicas. 
   A localidade era um verdadeiro jardim, as árvores bem tratadas e as flores muito bem cultivadas. Por isso mesmo é que muitas pessoas gostavam de visitá-la durante as férias ou nos feriados. 
   Frutas, hortaliças e legumes eram muito saudáveis, livres de agrotóxicos e de tantas outras medidas modernas que são, em grande parte, prejudiciais à saúde. 
   Realizavam-se festas da uva, da laranja, do abacate e até da banana com grande frequência de turistas e de comerciantes, estes interessados na produção de quaisquer das frutas. Algumas pessoas se especializaram em fazer doces de frutas, licores e pães.     Encontravam-se aí com facilidade ótimos doces de abóbora, laranja, figo, mamão; etc, e muitos licores, todos caseiros e feitos artesanalmente. 
   O doce mais famoso da vila era a bananada. Havia bananeiras por toda a cidade e grande parte da população era especialista na fabricação de tortas, bolos, compotas e licores dessa fruta. 
   As ruas estavam sempre limpas e todas arborizadas. Ninguém jogava nada fora dos latões de lixo, os gramados muito bem cuidados, as praças eram um convite permanente para um descanso, limpas e muito floridas. 
   A seringueira que havia na entrada da vila e que era chamada de “o grande guardasol”, pçlo seu tamanho e pela grande sombra que projetava, era muito bem aproveitada pela população nas tardes quentes e ensolaradas. Muitas festas e feiras eram realizadas sob sua sombra. A árvore e sua pracinha eram muito queridas e respeitadas pelos habitantes do local. 
   O progresso chegou e determinou que por aquela praça deveria passar a estrada que serviria de ligação entre várias cidades da região. 
   Criou-se um clima de revolta pela perda da seringueira e da praça. Muitos se revoltaram e, através de passeatas, comícios, oficios e artigos em jornais, conseguiram chegar até as autoridades que estavam encarregadas de construir a dita estrada. 
    Um plebisciti foi organizado sob a supervisão do juiz de paz e do delegado de polícia. O resultado do mesmo foi de 489 votos a zero contra o fim daquela árvore. 
   Aquela localidade que sempre amou e respeitou a natureza não aceitava um golpe tão grande e infeliz. Compreendeu-se tanto amor e ouviu-se a voz do povo. E por isso que hoje, todos os que passam pela estrada bem próxima à cidade, acham estranho fazer tamanha curva em volta de uma árvore tão grande. 

Setembro de 2011
Nota do Autor: Conto de pura ficção.

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