Frutos de Natal
Numa véspera
de Natal, ao meio-dia, dois fatos aconteceram quase que simultaneamente
naquela agência bancária. O primeiro foi a queda da árvore
de Natal de cima do balcão, provocada pelo funcionário mais
antigo da agência, o senhor Agenor.
Era estimado por
todos e ninguém o reprovou, mas sim, tentaram reconstruir o melhor
possível o adorno natalino. O gerente, que estava preocupadíssimo
com o seqüestro de seu filho mais velho, de dezenove anos, ocorrido
há mais de dois meses e sem solução, já ia
se levantando para chamar a atenção de seu velho funcionário,
quando o telefone tocou e veio a notícia de que seu filho já
estava em casa são e salvo.
Este segundo fato
provocou tal alegria e algazarra nas dependências do banco que o
próprio gerente nem se lembrou mais da situação anterior.
Caiu nos braços da rapaziada que o aplaudia e o cumprimentava. Nunca
antes uma véspera de Natal tinha sido tão festejada.
Um ano depois, justamente
na véspera de Natal, e coincidentemente ao meio-dia, o senhor Agenor,
recebendo a correspondência e pretendendo cumprimentar o carteiro,
esbarrou na árvore de Natal que estava no mesmo lugar do ano anterior,
provocando novamente a queda do enfeite que, indo ao chão, transformou-se
em pedaços, partes e cacos.
O gerente, que
este ano estava de bem com a vida, e já tomado pelo espírito
natalino, abraçou o senhor Agenor e, juntamente com os outros funcionários,
passou a tentar dar um jeito na famosa e teimosa árvore.
No mesmo instante
entrou pela agência a esposa de um funcionário, trazendo
nas mãos um bilhete de loteria, gritando, rindo e dançando
como uma menina, comunicando a todos que tinham acertado o
primeiro prêmio da loteria de Natal!
Todos os funcionários
do banco, desde os serventes até o gerente, tinham participado da
lista para a compra do bilhete sorteado. Ninguém ficou triste e
muitos puderam trocar de carro, reformar a casa ou, até mesmo, adquirir
alguma propriedade na praia ou no interior.
Depois da euforia
da sorte grande e das festas do fim de ano aquela agência voltou
ao seu ritmo normal, porém alguns funcionários começaram
a comentar a ligação coincidente da queda da árvore
da Natal com alguma boa-nova.
Durante o ano estes
comentários diminuiram, mas em setembro, com a aposentadoria do
senhor Agenor, o assunto voltou à baila e ficou determinado, até
sacramentado, que na véspera de Natal aquele ex-funcionário
estaria convocado para, à mesma hora das vésperas anteriores,
derrubar a já tradicional árvore.
Vinte e quatro de
dezembro, quase na hora do almoço, poucos clientes na agência,
todos se aproximaram da árvore e, parecendo que tudo era sem querer,
o senhor Agenor bateu com o braço na mesma e provocou a queda esperada
por todos: gritos, risos, assobios. Na confusão,
desde o gerente até os guardas, serventes, funcionários,
etc. Fez-se silêncio na certeza de que a boa-nova desse o ar
da graça.
Silêncio total
e frio, esquisita situação. Ninguém dizia nada, o
gerente com o sorriso mais amarelo do mundo observava, parado na porta
do banco, o inspetor geral que chegava para uma visita surpresa.
Estava até assustado com o que presenciara. Nada pôde ser
disfarçado ou escondido.
Foi convidado pelo
gerente para ir até sua sala. Um tempo lerdo transcorreu até
que o gerente voltou, junto com o inspetor, e deu as informações:
todos tinham recebido um bom aumento salarial extra pela produtividade
e pelo bom desempenho durante o ano !
Ano seguinte, véspera
de Natal, mais ou menos meio-dia...
Natal
Dezembro de 2007
N . A .: Diante do infortúnio,
antes
de qualquer exagero
ou desatino,
com paciência aguarde um tempinho.
Além dos infortúnios,
Deus também
criou a bonança. |