Sempre alegre e falante, o noivo deixava bem claro que filho, mesmo, só se fosse menino; homem! Nem de leve passava por sua cabeça que poderia vir uma menina, uma mulher como filha. Seria uma grande decepção, pois homem que se preza só tem filho homem. Por ele a raça humana estaria com seus dias contados. O casamento aconteceu com uma bela festa e muitos comentários sobre as idéias machistas do noivo. Este apresentou até mesmo uma lista de nomes masculinos, doze, para seus futuros filhos. Todos seriam José: Zé Paulo, Zé Pedro, Zé Célio, Zé João, Zé Mário, etc, etc, etc... Josefa? Nenhuma! Falava com tanta convicção que parecia até prever o futuro. A noiva, agora esposa, ouvia, olhava, pensava e nada dizia. Amava o marido cegamente. Além do desejo ardente de só ter filhos homens, a qualquer preço, poucos defeitos via nele; tanto ela como as demais pessoas. Temia-se até que ele tivesse algum problema psicológico caso viessem filhas. Apesar de morarem em uma grande cidade, muita gente sabia das idéias familiares daquele homem, tanto é que a primeira gravidez veio e, com ela, apostas, pareceres, palpites, todos querendo acertar: É homem! É mulher! É homem! É mulher! Na maternidade a futura mãe era motivo de atenção de todos. Sempre que aparecia para exames aumentavam as apostas e os comentários. Achava até graça em tanta curiosidade e atenção. Era calma e muito educada, não se aborrecia com tudo aquilo. Apenas ficava pensativa em relação ao marido, que já pagava rodadas de cerveja comemorando a chegada, com toda certeza, do primogênito, do primeiro Zé. Somente uma dúvida: qual seria o segundo nome do primeiro Zé. 1º parto: menino, homem – Zé Paulo. 2º parto: menino, homem – Zé Pedro. 3º parto: Menino, homem – Zé Francisco. 4º parto! 5º parto! 6o ...12º parto! Tudo homem, tudo menino: Zé Célio, Zé João, Zé Mário, etc... Josefa? Nenhuma! |