Sempre revoltada, dificilmente algo lhe agradava. Vestia-se simplesmente, não usava pinturas e nem cuidava dos cabelos. Na escola estava sempre sozinha, nem com as professoras trocava algumas palavras. Trabalhava sempre em casa de família como doméstica, sempre morando no emprego, num quartinho simples, sem janela, sem enfeites, um quadro ou uma flor. Seu olhar sempre estava fixo em nada ou dirigido para o chão. Não era morena nem loira. Era pálida. Ninguém conhecia suas preferências. Jamais alguém do sexo oposto havia mostrado interesse por ela. Não ia a festas, bailes ou passeios. Cinema, de vez em quando, muito raramente. Não lia muito bem e sua letra não era conhecida por quase ninguém. Para quem os dias e as noites eram sempre iguais, indefinidamente, não havia esperança de que algo pudesse acontecer de diferente em sua vida, mas aconteceu. Um viúvo, parente de um vizinho de sua patroa, com pouco mais de cinqüenta anos de idade, veio morar na mesma rua e se engraçou com a moça, surgindo daí um interesse mais sincero. O namoro foi esquisito e complicado. Ele, bem mais velho, tinha interesses e objetivos ultrapassados. Ela, apesar de bem mais nova, não falava. Só dava sinais de sim ou não com a cabeça. Quando saíam à rua a passeio o pessoal comentava que “pai e filha” iam à igreja, a um velório ou enterro. O casal dava a impressão de tudo, menos de que estava namorando. O casamento foi simples, apenas as testemunhas, o padre e o juiz. Algumas cervejas, salgadinhos e um bolo que ela mesma preparou. O vestido de noiva foi presente da patroa, simples e comum. Sandálias e um lenço na cabeça. O noivo, nem gravata precisou. Muitos comentários, risos e até piadas sobre aquele casamento. Mudaram-se para a cidade de origem do noivo, quase uma vila e muito distante. Notícias, ninguém mais recebeu deles. Poder-se-ia dizer que morreram,tal o esquecimento a que foram relegados. O primeiro olhar de alegria, o primeiro sorriso que provou a boa qualidade de seus dentes somente aconteceram quando a parteira lhe apresentou o filho pela primeira vez. Malvina, ou Má, como era chamada, fez questão de levar o filho para a antiga patroa batizar. Na cidade, o maior alvoroço quando a nova empregada de sua ex-patroa declarou em alto e bom som, no portão da residência: - Má ! Mãe !?! 13 de maio de 2007
N.A .: Não existe mãe feia, rica,
bonita, pobre,
Dia das Mães ignorante, triste, boa, magra, alegre, gorda; mãe está acima disso tudo... mãe é só mãe. |