"Nosso Rio"
Tijuco Preto é
o nome do nosso único rio, apenas um regato, que atravessa a cidade
em toda a sua extensão; nasce em terras da Fazenda Nova Java (propriedade
da família Coury) onde até hoje existe a primeira e velha
represa que abasteceu a cidade até a primeira metade da década
de cinquenta mais ou menos.
Atravessa a Fazenda
Bom Jardim que foi residência e propriedade do Barão de Serra
Negra, figura de proa na história de Rio das Pedras. Em seguida
suas águas passam pela Fazenda São José, propriedade
da família Delfini até pouco tempo atrás.
A palavra “tijuco”
é de origem tupi, “t’yug”, que significa “podre”, “lama”. Daí
se deduz que a lama desse rio, por ser escura, até mesmo preta,
acabou por determinar o nome do rio, Os portugueses, com certeza, forçaram
sua pronúncia sobre aquela palavra tupi dando a ela o som e a forma
que tem até hoje. Presumivelmente foram eles, os portugueses, que
por aqui aportaram e fundaram a cidade, que deram o nome ao nosso “Amazonas”.
Entre os portugueses
que aqui chegaram, construindo o leito da estrada de ferro (conhecida como
Companhia), encontram-se as famílias Martins e Prates, às
quais pertenciam meu avô e meu bisavô.
A represa velha foi
controlada por muitos anos pela família Aguiar, com destaque para
o senhor Serapião Aguiar e seu filho, Sebastião Aguiar (Bato).
Essa represa perdeu sua notoriedade a partir de 1955/56 quando a água
utilizada pela cidade passou a ser captada junto a outros córregos
que deram origem à nova represa na Fazenda Viegas, utilizada até
os tempos atuais.
Cem metros mais ou
menos abaixo da represa velha havia um pequeno represamento formando uma
bica razoável onde muitos trabalhadores da Fazenda Santa Maria tomavam
o seu banho. Alguns vinte ou trinta metros mais abaixo surgia o “poção”,
“piscina” onde muitos riopedrenses aprenderam a nadar.
A “pocinha” certamente
deve estar nas lembranças de todos aqueles que nadaram no poção.
Ela acompanhou o poção na caminhada à extinção.
Duzentos ou trezentos
metros abaixo surgia o famoso “Tancão da Companhia” água
represada para uso da Estrada de Ferro Sorocabana nas suas locomotivas
a vapor. Essa água vinha do Tancão até a caixa d’água
da Estação através de encanamento implantado e supervisionado
por funcionários da ferrovia.
Nadar no Tancão
era a grande alegria da garotada, apesar de uma proibição
sempre desrespeitada. O Tancão ficava onde hoje a Prefeitura plantou
um grande número de árvores junto ao final da Avenida Ana
Negri Gramani, atrás da Escola Estadual “Professora Maria José
Aguiar Zeppelini”, no Bairro Cambará.
Cem metros após
o Tancão havia uma nascente d’água que desaguava no Rio Tijuco
Preto denominada “Agua do Cambará”, saudosa, famosa e querida, que
acabou criando uma lenda: quem tomasse de sua água um dia voltaria
à cidade. Os de minha idade ou
mais velhos, ao lerem este trecho sentirão
com certeza saudades de uma época sem igual.
Na confluência
das ruas Rangel Pestana, Horácio Limongi e Avenida José Augusto
da Fonseca o Rio Tijuco Preto “some”, pois por uma distância de mais
ou menos cinquenta metros ele fica sob a construção da antiga
Fábrica de Bebidas Limongi. Passa sob uma pequena ponte que era
de uso da família Marino, no trajeto entre o armazém e o
depósito. Logo em seguida passa sob outra ponte, tão
pequena quanto a anterior, construída na Travessa Paschoal Limongi.
O rio sofreu um desvio
quando da construção do sobrado situado no início
da Ladeira José Leite Negreiros. Neste sobrado funcionou o armazém
de Manoel Maria de Andrade. Tempos mais tarde transformou-se em Santa Casa
de Misericórdia, O prédio citado também pertenceu
a Francisco Civolani, lendário goleiro riopedrense. Atualmente serve
de residência e também atende a interesses comerciais. Há
alguns anos trás o rio foi novamente alterado em seu trajeto ocupando
uma terceira calha. Essa mudança deu-se também próxima
ao citado sobrado.
Até 1940 nosso
rio passava sob os trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana por precária
construção, quando então foi entregue para uso daquela
ferrovia um pontilhão que por muitos anos foi orgulho da construção
civil da nossa cidade. Esse pontilhão não existe mais, em
seu lugar foi construído um viaduto que homenageia pessoa invulgar
e bem conceituada em nossa sociedade: Doutor Leonel de Souza.
Desse ponto até
o Bairro do Bom Retiro o rio leva uma vida igual, sem novidades, saudoso
do tempo em que algumas pessoas mariscavam alguns lambaris em seu leito
lerdo e estreito.
Há mais ou
menos setecentos metros além do Bairro Bom Retiro o rio apresentava
sua obra mais famosa, única e admirada por todos os riopedrenses:
o tanque do Bom Jardim. Este também já foi desativado, não
existe mais, é outra obra da qual somente os mais antigos se lembram
e reverenciam.
Desse ponto o rio
segue seu destino, enfrenta novas lutas, mas quando olha para trás
vê que sua passagem por nossa terra não foi em vão,
pois apesar de alguns problemas, ele sempre fez parte da história
da cidade e é único.
N.A.: Rio T'yug, Rio Tijuco Preto, Rio do
Pedro, Rio das "Pêdras, Rio das Pedras
Julho de 2012
118º aniversário da emancipação
política de Rio das Pedras
|