"Se hoje fosse ontem"

     Se hoje fosse ontem não teríamos saído do passado. não conheceríamos o presente e nem viveríamos o futuro. Vegetaríamos.
     A Prefeitura ainda estaria funcionando no início da Rua Dr. João Tobias, a famosa Rua das Cabras. O Grupo Escolar "Barão de Serra Negra" voltaria a ser nossa única casa de ensino, não teríamos ginásio e colégio. Nossas ruas seriam molhadas com a carroça d'água, inexisteria asfalto.
     Água não seria tratada e nem haveria relógio para a respectiva leitura mensal. As ligações telefônicas voltariam a depender do Centro Telefônico. A ligação com Piracicaba ainda seria pela Estrada do Taquaral, enfrentando os morros do Serapião e do Sabão, enormes barreiras nos dias chuvosos.
     A passagem do boi no laço, com destino a Rua do Matadouro, atrevessando a cidade toda, voltaria à cena. As viagens para São Paulo ou Piracicaba, seriam novamente através de trens. O Cine Theatro Ypiranga voltaria a ser um de nossos poucos pontos de diversão.
     A saudosa estação estaria recebendo os trens cujos apitos, no alto do Zé da Serra, voltariam a orientar nossos horários. O Tancão da Companhia voltaria a fornecer água para as locomotivas e, mesmo sendo proibido, a receber "fregueses" para um mergulho de lavar a alma.
     Os coretos estariam de pé, dando oportunidades à "Banda do Fubá", sob a batuta de Zico Pompeu, emitindo acordes singelos e românticos de que hoje somente os da velhíssima guarda se lembram e têm saudade.
     As patas do jardim de cima voltariam a ser as princesinhas da praça.
     Os engenhos de aguardente e açúcar batido voltariam a ser a parte pesada da nossa indústria, trazendo de volta o puxa-puxa, a garapa, o melado e a rapadura. As farmácias do "Seo" Zico e do Urbano de Oliveira seriam as únicas da cidade. Faríamos nossas compras nos armazéns do Scarassatti, do Barrichello, do Marino, do Cibin, do Piva, do Calil, do Humberto Aulicio, etc.
     Com certeza ouviríamos o ranger do carro de boi de Zé Bueno transportando toras do mato do Pinheiro, tomando todo o leito carroçável da Rua Torta. Abastecimento de madeiras para as oficinas do Civolani e Cortelazzi.
     As coletorias estadual e federal voltariam a ocupar espaços na cidade. Com a inexistência de agências bancárias voltaríamos ao costume de "comprar cheques", nos escritórios do armazém do Barrichello.
     A A.A.Riopedrense voltaria a disputar jogos no campão propiciando o prazer celestial de presenciarmos Chico Civolani, Dito Boi, Dominguito, Renato Aguiar, Natim, Luizinho Calil, Zizzi, Pitta, Armindo, Toninho Furlan e muitos, muitos outros jogadores engendrando e concluindo jogadas memoráveis.
     O fogos de artifício voltariam a agitar o Jeca Leite nas noites de 6 de agosto.
     A porteira da Estação voltaria a separar a cidade em duas metades, segurando um trânsito diminuto. Teríamos de volta a padaria do Guido com o famoso biscoitinho de manteirga.
     Aos domingos, na parte da tarde, na Rua da Raia, corridas de cavalos Pelo rádio "assistiríamos" os jogos de futebol, como se estivéssemos no Pacaembu.
     A Cultural e o Bar Chic voltariam a imperar na Praça Mal. Deodoro, o Jardim de Cima. Os carroceiros voltariam a se reunir na esquina do Pátio, ao lado da loja do Chalita, nas noites dos dias da semana.
     Luizinho Valarin, Lilico, Marcelo Galante, Joca, Zico Barrichello, Nene, Zelão e Mangarito reabririam suas barbearias. Nos sábados de Aleluia teríamos o Judas no pau de sebo. O cartório seria instalado novamente na Travessa Prates e o nosso prefeito seria o professor Luiz Leite.
     Muitos voltariam a buscar água no Cambará para uso próprio. Nas mesas do almoço dos domingos teríamos a volta de uma dupla sensacional que encantou a vida alegre da garotada hoje com 70, 75 anos de idade: a Gengibirra e a Itubaína.
     Sua bênção, Horácio Limongi!
     Os velórios voltariam a ser realizados nas residências dos falecidos.
     As lojas do Aquilino Galante, do Chalita, do Rostão, da Amélia Rosato, do Jacinto Barrichello voltariam a funcionar acomapnhadas pelos bares de Zezinho Bastos, Nato Miori, Zé Gomes, Mesquita, Maneco Rosssa e Atílio Saccaro.
     Ressurgiria uma das maiores fontes de poetas amadores da região: as Festas de Santa Cruz dariam novamente vida aos correios-elegantes no início do mês de maio. A Rua Torta, de Baixo ou Rangel Pestana ficaria em festa com a volta do "shopping" mais importante da "Vila", a loja do Consolmagno.
     Teríamos a santa volta de uma multidão de rio-pedrenses que "residem" no Cemitério Municipal, que contribuiu para um passado glorioso da nossa terra, criando um alicerce que hoje sustenta a cidade moderna e atualizada, motivo de orgulho para todos que têm um coração rio-pedrense.
     As mudanças são necessárias e bem vindas, são a forja o progresso.
     A Rio das Pedras de hoje está muito longe e muito à frente de uma época simples vivida a 70 ou 80 anos atrás. Progrediu, cresceu, deixou de ser a "Vila" a uma distância incomensurável, mas é a Rio das Pedras querida por todas as gerações passadas e atuais, abençoada por Deus.

N.A. Desculpas àqueles que não foram citados.
 

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