Pedro Sonhador

I
O caminho era impreciso,
Mal traçado, estreito, penoso.
Incerto, mascarado, deserto.
Tudo era devagar, até doloroso.

II
Não havia companhia, só solidão.
Solidão era a companhia.
O homem cuidava, era campeão,
Sempre vinha, sempre ia.

III
O único som vinha dos cascos.
A música era o seu respirar.
O pó imenso pelo ar subia.
Desejo forte de descansar.

IV
Parava sempre onde outros paravam,
No mesmo lugar, um bar, uma venda,
Perto de um riacho lerdo e preguiçoso
Que emoldurava, com certeza, uma fazenda.

 V
Pedro a todos servia e ouvia.
Notícias, “causos”, vantagens e mentiras.
Comida simples, algum pouso,
Pássaros, do bem-te-vi ao vira-vira.

VI
Ali tudo era dele sem reserva.
A casa, as frutas, a chuva, o calor.
Até o rio era do Pedro,
Pedro da pousada, Pedro Sonhador.

VII
Na vida do Pedro havia estrelas,
Sem certeza, eram duas ou três.
Podiam ser Maria, Isaura, Ângela,
Joana, Clara, Júlia ou Inês.

VIII
Aos poucos, vagarosamente, sem pressa,
Pedro foi passando tudo às herdeiras.
A casa, as frutas, a chuva, o calor,
Mas não ficou sem eira nem beira.

IX
Aquelas estrelas, duas ou três, não sei.
Sem pensar, cresceram mulheres faceiras
Lutando ao lado de Pedro Sonhador.
Eram tudo, eram famosas lavadeiras.

X
Sem nomes, eram muito conhecidas.
Eram filhas do Pedro, eram as “Pêdras”famosas.
Se antes o pai era o ponto de referência,
Agora eram elas, com certeza muito orgulhosas.

 XI 
Tudo corria como sempre, sempre com calma.
As “Pêdras”, pela graça e formosura,
Conquistando elogios e olhares misteriosos, 
Ganhavam também o rio em toda sua largura.

XII
Implacavelmente, o tempo determinou
Que o rio, que antes era do Pedro Sonhador,
Mudasse de “Rio do Pedro”, lerdo e preguiçoso,
Para “Rio das Pêdras”, até hoje a todo vapor. 

10   julho de 2005
                              111º Aniversário da emancipação
política de Rio das Pedras
N.A.: Pedro + Rio do Pedro + Rio das “Pêdras” = Rio das Pedras. Assim surgiu o nome de nossa cidade. Nome único, sem par. De um pedaço de chão que nos seduz e emociona. Aqui nasceram, viveram e morreram milhares de pessoas que proporcionaram fases e épocas memoráveis. Da taverna de Pedro aos dias de hoje, muita água passou pelo riacho onde as “Pêdras” alcançaram fama e prestígio. Tudo mudou, a cidade cresceu, mas a lenda que conta a história do nome da cidade continua viva, sempre contada e muitas vezes repetida. Ao Pedro e às “Pêdras”, de todo o nosso povo, um abraço do tamanho de Rio das Pedras.

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