"Só petisca quem arrisca"

     Apostava-se em tudo. Quando ia chover; quantas vezes o trem apitaria, quem chegaria primeiro à igreja (um homem ou uma mulher), quem isso, quem aquilo, e assim por diante. Os valores em jogo eram baixos mas todos participavam. Aoa domingos as apostas eram em muito maior número e, à noite, discutiam-se no jardim da pracinha os mais variados tipos de apostas e seus respectivos ganhadores. De manhã até a noite a cidadezinha vivia e comentava o ambiente das apostas.
    Quando aparecia alguém com mais posses, desejando arriscar seu rico dinheiro, chegava-se ao cúmulo de se formar consórcio de apostadores para enfrentá-lo. Caso o consórcio vencesse não haveria outro comentário por alguns dias, até que aparecesse nova aposta importante que chamasse a atenção da pequena e lúdica população.
     Apostava-se na renda dos jogos, na marcação do primeiro gol, em quem daria início ao jogo, qual time sofreria a aprimeira falta, etc. O futebol era o centro principal das apostas mas apostava-se em quase tudo que fosse possível.
    Havia um senhor na cidade que somente ia ao campo de futebol para apostar qual dos dois clubes entraria primeiro em campo, em seguida voltava para casa, sequer assistia ao jogo.
     O "seo" Pedro, farmacêutico, apostava com seu cunhado, que também trabalhava na farmácia, para ver quem aplicava mais injeções durante o mês. Todas as noites, após cerrar as portas, ambos conferiam seus números de aplicações, colocando o resultado do dia à vista de todos. Muita gente apostava em ambos.
 
     Na semana que antecedia o jogo de futebol entre o time da cidade e o da localidade vizinha, onde havia muita rivalidade e muita gozação, justamente pelas apostas, aconteciam coisas inacreditáveis apostando-se o tempo todo em tudo.
    Sabendo dessa situação toda, na época do grande jogo, chegavam à cidade muitos aventureiros tentando ganhar algum dinheiro naquelas apostas todas.
     O jogo seria no domingo mas já na quinta-feira apareceu um indivíduo todo vestido de preto, estranhao, esquisito, de óculos escuros, muito magro e alto, desafiando toda a população local para uma aposta singular: apostaria com a cidade toda e colocaria num envelope, dentro de uma urna, o resultado daquele jogo antes do mesmo começar.
    Como frequentemente aconteciam resultados fora do normal, 7 X 5, 6 X 3, 4 X 4, etc, toda população se animou e apostou com aquele forasteiro corajoso e muito seguro de si.
     Aberto o envelope, após o jogo, constatou-se que o estranho mas já famoso acertador ganhara a aposta com o resultado de 0 X 0 colocado no envelope, apesar da vitória por 8 X 2 do time visitante.
    Caro leitor, você percebeu porque o forasteiro ganhou? Não? Então leia com redobrada atenção e aposte no seu grande poder de observação!

Junho de 2019

Nota do Autor: Conto da mais pura ficção.
 

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