Mais que um rei !
                                                                                                   
     Já com setenta e sete anos, Oscar ainda tem ilusões. Solteiro, sozinho, muito calado, sofrido, é um ser humano acima do normal pela bondade, tolerância e colossal paciência. 
     Trabalha muito desde criança e não possui nada. Exerceu muitas funções mas nunca foi chefe ou encarregado.
     Tem um sorriso avassalador; ri com a boca, com os olhos, com o corpo todo, espalhando alegria e paz. Dá atenção e acata a todos da mesma forma, desconhecendo diferenças sociais, religião, cor, etc.
     Foi “achado” embrulhado em roupas simples, magrinho, chorando, e certamente com fome, sob a janela da casa de dona Inês, uma viúva sem filhos e muito pobre.
     Na infância não teve brinquedos, mas nunca reclamou dessa tristeza. Ia à escola descalço; seu lanche era o prato de sopa escolar. Sempre foi bom aluno.
     Sua mãe conversava muito com ele e lhe explicava com dedicação, que as dificuldades da pobreza, mesmo quase total, podiam ser vencidas com muito trabalho, respeito e crença em Deus.  Isso tudo sem considerá-las culpa dos outros.
     Aprendeu a cuidar de plantas e flores, é um jardineiro muito requisitado. Limpa quintais como ninguém. Quando não tem o que fazer varre as praças, a igreja, a escola, com alegria e disposição incomparáveis.
     Possui somente o curso primário.
     Quando perdeu a mãe ,aos dezessete anos, passou a dormir de favor num quartinho nos fundos de um armazém de secos e molhados. Ganhava, também aí, as refeições e um salário pelos serviços prestados. Nunca reclamou  do quartinho, das refeições ou do salário, pelo contrário, até hoje é muito grato  por tudo e sorri quando se lembra dessa época.
     Nunca pensou em namoradas. Suas condições precárias sempre afastaram qualquer hipótese de ser alvo de uma garota.
     Limpa, de graça, os túmulos de famílias pobres. Limpa também as ruelas do cemitério ajudando o coveiro sempre que há um enterro. Serve e atende as pessoas com um bom humor de causar inveja. Graças a Deus sempre teve boa saúde.
     Vive, desde os primeiros meses de vida, na mesma cidade. É conhecido e estimado pela população toda. Com certeza plena, não possui inimigos.
     Há cinqüenta anos visita asilos, orfanatos, escolas, barracos e hospitais.
     Há cinqüenta anos sorri para crianças, adultos e idosos. Muito lembrado e esperado por muitos.
     Há cinqüenta anos é o Papai Noel da cidade.
Natal de 2008
N. A. 1: Papai Noel é alegre, sensível, risonho, educado, respeitador, afável. Pode ser qualquer um de nós em qualquer época do ano. Quando todos formos iguais a Papai Noel, a Terra imitará o Céu.

N. A. 2: Este conto é pura ficção.
 

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