Surpresa !

     Vinte e cinco anos,idade muito boa e alegre para aventuras. Ele estava nessa idade, todo pomposo e fazendo um trabalho de memória, reproduzindo sua vida até ali. Namoradas, tantas que já havia perdido a conta; não se lembrava do nome de muitas delas.
     Morava em São Paulo, cidade onde tudo é possível: encontros com honestas e desonestas, ricas e pobres, inocentes e nem tanto, sempre se divertindo, trocando de nomes e dando endereços falsos. Vida fácil, sem compromissos.
     Boa pinta, nunca lhe faltou companhia para programas; jã não escolhia mais, tanto lira como morena, nova ou madura, nada lhe desagradava. Somente exigia que fosse bonita; tinha bom gosto e muita sorte.
     Gostava de todas como qualquer homem gosta de qualquer mulher, isto é, para um ou dois passeios, logo se desligar e desaparecer. Nada de conhecer a família, nem aceitar convites para almoços familiares. O casamento era a prisão da qual sempre se afastou.
     Tudo foi pensado, também foi dito ao seu parceiro deviagem que seguia para a mesma cidade do interior, para onde nosso amigo se dirigia com a finalidade de visitar sua nova namorada. Um  caso seu, mais uma aventura, mais um programa de fim de semana, pensou o companheiro ao lado.
     Contou também que duas de suas parceiras, como ele as chamava, já haviam praticado o aborto por sua insistência e outras arrumaram grandes problemas familiares, porque os respecivos pais não desejavam aqueles encontros. Sua fama já era conhecida em quase todo o bairro.
     Esse novo caso começou há algum tempo, quando a jovem, loira e bonita, estava a passeio em São Paulo, na casa de parentes. Pela primeira vez ele sentiu uma atração muito forte e verdadeira, conheceu o amor e, mesmo sem perceber se apaixonou; do contrário nunca faria viagem tão longa atrás de uma mulher. Essa viagem seria uma surpresa para ela.
     Isso ele não falou ao parceiro de viagem, senhor Romeu, somente contou vantagens e cenas de muito sexo e amor.
     A viagem durou mais ou menos cinco horas, chegaram à noite, bem tarde. Os dois se despediram sem mesmo trocar nomes ou endereços.
     O parceiro de viagem, um senhor de mais ou menos sessenta anos, ficou completamente desiludido com o que viu e ouviu, ficou pasmo de tanta nulidde, de um caráter tão frágil e desonesto. Sem nada poder fazer, seguiu para o aconchego do lar que havia montado com muito carinho para si, para a esposa e para os filhos.
     Na manhã seguinte, logo após o café, o nosso namorador, bem vestido, penteado, barbeado, perfumado e esperançoso, chegou até o empregado do hotel e pediu informações do endereço daquela que seria sua última bamorada e, com toda certeza, sua esposa. Já não havia lugar em seu pensamento para outras mulheres.
     Para impressionar mais alugou um taxi seguindo para o endereço conforme informações do hotel e do motorista. O bairro era e trabalhadores, as casas simples, alguns bares, farmácias, padarias, sapateiros, como todas as pequenas cidades do interior costumam se apresentar; pouco movimento mas muita ordem.
     Desceu do taxi, pagou, e em seguida ajeitou-se todo. Bateu palmas e, após alguns instantes, viu diante de si, atendendo-o, o parceiro de viagem, o senhor Romeu.
     

Dezembro de 2015
N. do A. : conto da mais pura ficção.
 

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