Terrinha

 I
Minha cidade era pequena e calma,
Era menor que o tempo de um suspiro.
Lá você descansava, lavava a alma;
Ia do Cambará ao Bom Retiro.

 II 
Algumas travessas e trânsito inexistente,
Era percorrida numa andança.
Com amor e sendo persistente,
Em cada esquina uma lembrança.

III
Festas juninas, quadrilhas, fogueiras,
Barracas de sapé, festas do Padroeiro.
Alegrias, tristezas, alguns trancos.
Era vida o ano inteiro.

IV
No esporte, só o futebol.
A política era “fogo no Arraial”.
Na desgraça eram todos amigos;
Virava notícia quem ía à capital.

V
Os trens das dez, das cinco, das quatro
De carga, de gado, de passageiros.
Além de cortarem a cidade ao meio
Enganavam relógios e relojoeiros.

   VI
Algodão, café, fumo, cana,
Tudo era lavoura: indústria não havia.
      Quintais grandes, ruas de terra.
Cidade santa, vida sadia.

    VII
O tempo carregou tudo;
Lento, ligeiro, rápido, de roldão.
Só ficou a  “Terrinha” do Cambará ao Bom Retiro.
Essa tenho presa na palma de minha mão.


10 de julho de 2002 
108º aniversário da emancipação 
política de Rio das Pedras

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