Terrinha
I
Minha cidade era pequena e calma,
Era menor que o tempo de um suspiro.
Lá você descansava, lavava a
alma;
Ia do Cambará ao Bom Retiro.
II
Algumas travessas e trânsito inexistente,
Era percorrida numa andança.
Com amor e sendo persistente,
Em cada esquina uma lembrança.
III
Festas juninas, quadrilhas, fogueiras,
Barracas de sapé, festas do Padroeiro.
Alegrias, tristezas, alguns trancos.
Era vida o ano inteiro.
IV
No esporte, só o futebol.
A política era “fogo no Arraial”.
Na desgraça eram todos amigos;
Virava notícia quem ía à
capital.
V
Os trens das dez, das cinco, das quatro
De carga, de gado, de passageiros.
Além de cortarem a cidade ao meio
Enganavam relógios e relojoeiros.
VI
Algodão, café, fumo, cana,
Tudo era lavoura: indústria não
havia.
Quintais grandes,
ruas de terra.
Cidade santa, vida sadia.
VII
O tempo carregou tudo;
Lento, ligeiro, rápido, de roldão.
Só ficou a “Terrinha” do Cambará
ao Bom Retiro.
Essa tenho presa na palma de minha mão.