IPEF NOTÍCIAS 196 - Janeiro/Março de 2009
O Setor Florestal, como não poderia deixar de ser, também está sendo afetado pela atual crise financeira que atinge o mundo todo. À exaustão, lemos que na língua chinesa, um dos significados da palavra “crise” é oportunidade. A primeira impressão,
positiva, é de que a situação desaguará em “melhores dias”, face às modificações que serão necessárias introduzir no modus faciende do nosso dia a dia e do nosso planejamento futuro.

A segunda impressão, negativa, é de que devemos tomar providências salvadoras e indiscriminadas ou aleatórias sem uma análise profunda de onde estamos, e mais importante que isso, o tempo e recursos despendidos no passado para atingirmos o
patamar atual. Assim, a economia necessária vai de “tostão ao milhão”, cavando-se um imenso fosso para o futuro.

Em três segmentos essa prática suicida será de difícil recuperação: desmonte da equipe de recursos humanos, abandono da necessária e imprescindível prática do fomento florestal e interrupção da pesquisa e procura constante dos avanços
tecnológicos.

O desmonte da equipe de recursos humanos, conseguida a duras penas na sua formação, é de uma imprudência exatamente do tamanho da improvisação e da recusa, talvez, de reduzir parte dos lucros da atividade empresarial. Os menos avisados imaginam que a recomposição da equipe pode ser conseguida num passe de mágicas, assim que as “coisas melhorarem”.

No Brasil, o fomento florestal tem uma história de mais de meio século e foi uma atividade notável pelo seu lentíssimo ritmo de crescimento. Levamos 50 anos para convencer nossos proprietários rurais (imediatistas como todos os brasileiros que se prezam) de que “esperar 6 a 7 anos” para termos retorno financeiro da atividade não era nenhum absurdo, comparado com as culturas agrícolas tradicionais.

Cunhamos até expressões mimetizando a economia: “poupança verde”, “poupança florestal” e quejandos. Quando parecia que, finalmente, o fomento iria se consolidar (a exemplo dos micro-proprietários florestais dos países escandinavos) vem a crise e, de roldão, grande parte dos fomentados são abandonados e deixados “na rua da amargura”. Não resta dúvida de que demorará, desta vez, cem anos para recuperar o prestígio do setor florestal e a confiança nele depositada.

Finalmente a pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Dos três segmentos citados, estes parecem-nos, desta vez, os menos afetados pela possibilidade de redimensionamento e rescalonamento das prioridades. A rigor, do ponto de vista histórico, essa área sempre foi a mais afetada pela montagem/desmontagem cíclica. Existia até uma máxima empresarial que dizia “no aperto, primeiro a pesquisa”.

Parece que os tempos mudaram e nossa impressão é de que se trata de preservar e dar continuidade aos aspectos relacionados à pesquisa e desenvolvimento tecnológico que não podem sofrer solução de continuidade. Sem dúvida alguma,
os esforços para atingir as conquistas obtidas não podem ser relegados a segundo plano, sob pena de sofrermos um retrocesso, exatamente naquela área que é nosso diferencial em relação a outros países e que, sem dúvida alguma, deverá colaborar para nos auxiliar a manter nossa liderança e competitividade.

Melhor seria nos atermos a um outro significado da palavra “crise” na língua chinesa: criatividade, sem a qual teremos que refazer novamente todo o caminho e recuperar os progressos alcançados.

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