CÍRCULO VICIOSO
Machado de Assis
Bailando
no ar, gemia inquieto vaga-lume:
—
"Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
Que
arde no eterno azul, como uma eterna vela!”
Mas
a estrela, fitando a lua, com ciúme:
—
“Pudesse eu copiar o transparente lume,
Que,
da grega coluna gótica janela,
Contemplou,
suspirosa, a fronte amada e bela!”
Mas
a lua, fitando o sol, com azedume:
—
“Mísera! tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade
imortal, que toda a luz resume!”
Mas
o sol, inclinando a rútila capela:
—
“Pesa-me esta brilhante auréola de nume. - -
Enfara-me
esta azul e desmedida umbela.
Por
que não nasci eu um simples vaga-lume?”